quarta-feira, 15 de abril de 2020

Os Beresford - Mister Brown (Emilio Van Der Zuiden)

Tuppence Cowley e Thomas Beresford conheceram-se em circunstâncias delicadas durante a Primeira Guerra Mundial e é também em circunstâncias delicadas - agora financeiras - que se reencontram. Mas, desse encontro casual, nasce uma ideia ousada: tornarem-se no tipo de aventureiros que, pela quantia certa, realizam certas tarefas que as pessoas normais não estão dispostas a levar a cabo. Não esperam é que o seu primeiro caso seja ao serviço das autoridades britânicas. Durante a guerra, uma sobrevivente do naufrágio do Lusitania desapareceu com documentos comprometedores. E agora não são apenas as autoridades que a procuram, mas também uma misteriosa organização cujas intenções são bem menos inofensivas. Cabe, pois, a Tuppence e Thomas descobrir o paradeiro da desaparecida Jane Fish e desvendar a identidade do misterioso Mister Brown.
Um dos aspectos interessantes de ler estas adaptações sem conhecer previamente o original é que todas as surpresas da história - e é, afinal de contas, um mistério - são efectivamente novas. Tudo o é, aliás, desde as personagens à intriga, passando também pelas relações pessoais. E é algo de curioso que, nesta história relativamente breve, há espaço para um pouco de tudo: intriga política, um naufrágio, raciocínio dedutivo, descobertas feitas por acaso e uma surpreendente abundância de amor.
Também o encadeamento visual é particularmente interessante, com os grandes planos do Lusitania a contrastar com os quadros mais pequenos e os tons mais sombrios dos cenários mais... conspiradores. E até um passeio um tanto ou quanto labiríntico em que informação também labiríntica é partilhada. Tudo isto resulta num equilíbrio eficaz entre um texto que é, apesar de tudo, relativamente extenso, mas em que parte das revelações e das surpresas vem também dos contrastes visuais que vão surgindo.
Sendo um livro relativamente breve, é natural que alguns desenvolvimentos decorram com certa rapidez, o que deixa uma vaga impressão de que talvez houvesse um pouco mais a dizer sobre certos pontos. Ainda assim, tendo em conta as linhas essenciais da história, faz sentido que esses aspectos sejam deixados numa certa ambiguidade - refiro-me sobretudo a Jane Fish e aos seus anos de ausência. E a verdade é que os elementos essenciais estão todos lá.
O que fica é, portanto, a impressão de uma leitura relativamente leve, mas muito intrigante e cheia de surpresas. Completa em si mesma, lê-se perfeitamente sem qualquer conhecimento da história que lhe deu origem. E uma coisa é certa: Thomas Beresford e Tuppence Cowley dificilmente poderiam gerar uma melhor primeira impressão.

Autor: Emilio Van Der Zuiden
Origem: Recebido para crítica

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