terça-feira, 21 de abril de 2020

Y - O Último Homem: Mãe Terra (Brian K. Vaughan, Pia Guerra, Goran Sudzuka e José Marzán Jr.)

Passaram quatro anos desde que um misterioso acontecimento eliminou todos os homens do planeta. Bem, quase todos. E as respostas parecem finalmente estar um pouco mais perto. Yorick, Ampersand e as suas improváveis companheiras estão agora na China, em busca da mãe da doutora Allison e de um conjunto de respostas que talvez abram caminho à reposição do equilíbrio. Mas o passado de Allison voltou para a assombrar e uma antiga rivalidade familiar traz várias das muito procuradas respostas... que não serão certamente as mais desejadas. O fim está próximo... ou, pelo menos, o fim do mistério. Mas o caminho de Yorick ainda não acabou. E o mistério do desaparecimento dos homens não é o único a precisar de respostas.
Parece ser um traço comum (e delicioso, diga-se de passagem) às séries de Brian K. Vaughan esta capacidade de, após muitos volumes e uma profunda familiaridade com as personagens, acrescentar, ainda assim, sempre algo de novo. Nesta série, paira sobretudo o grande porquê - porque desapareceram os homens? - mas há muito mais para além desse grande mistério. E as grandes revelações deste livro sobre a família de Allison, associadas ao já habitual ritmo de acção constante, cheio de movimento e do habitual sentido de humor de Yorick, conferem-lhe uma profundidade emocional mais intensa, que vem acrescentar impacto a uma história que é já toda ela cheia de surpresas.
Outro aspecto característico desta série é a oscilação entre diferentes percursos. Pode ser Yorick o protagonista, mas está muito longe de ser a única personagem relevante. E; além de acrescentar um poderoso contraste visual, pois os cenários distintos permitem uma variação de tons e de expressões que acrescenta à experiência visual um contexto mais vasto, esta divisão entre diferentes caminhos vai insinuando redes de ligação e de contacto que, de contornos ainda esbatidos, prometem grandes revelações para o volume final. E, claro, tal como não é a única personagem relevante, Yorick não é o único a despertar uma forte sensação de empatia. E se isto era expectável das personagens que vêm do início, não deixa de ser também uma grande surpresa a entrada em cena de figuras aparentemente secundárias, mas igualmente capazes de despertar emoções intensas.
Mas por algum motivo é Yorick o protagonista e há um aspecto que nunca deixa de se destacar: o seu estranho - e estranhamente delicioso - sentido de humor. Menos evidente do que noutros volumes, até porque a situação tem vindo a crescer em gravidade, manifesta-se, ainda assim, nos momentos certos (e momentos certos não quer dizer momentos seguros, entenda-se). Além disso, há toda uma expressividade nas expressões de Yorick (e das outras personagens também, mas neste caso é ele que interessa) que faz com que essas observações peculiares ganhem um outro impacto. Como se no-las dissesse directamente.
É o penúltimo volume e revelações não faltam. Mas tem, sobretudo, a mesma força, a mesma envolvência e o mesmo equilíbrio eficaz entre movimento e expectativa, entre acção e mistério, entre humor e emoção. E, claro, as mesmas personagens fortes numa corrida em busca da verdade que se afigura já inevitavelmente surpreendente. Se vale a pena continuar a seguir esta série? Oh, sem dúvida alguma.

Autores: Brian K. Vaughan, Pia Guerra, Goran Sudzuka e José Marzán Jr. 
Origem: Aquisição pessoal

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