segunda-feira, 15 de julho de 2013

Sete Minutos (Lara Morgado)

Considerado um génio pelos poucos que o conhecem, Raul, respeitado médico numa clínica de fertilidade, é também um indivíduo bastante difícil de tolerar. Fechado, arrogante e com uma vida social quase nula, parece ser incapaz de empatia ou compaixão. Mas a sua vida está prestes a mudar. Ao descobrir, nos procedimentos do seu trabalho, um novo elemento na célula fecundada, Raul entra, sem saber exactamente como, em contacto com as almas ainda por nascer. E estas têm uma revelação para ele e uma missão para lhe confiar. É que essas almas não querem nascer e só ele pode fazer com que tal aconteça. Mas a que preço? E será possível a uma alma existir, efectivamente, sem um corpo?
O que primeiro cativa para este livro é, sem dúvida, a premissa. O estilo de escrita é, no essencial, bastante directo e sem grandes descrições, o que leva a que os elementos mais interessantes do enredo - de contextualização, de funcionamento dos chamados venturos, do próprio desenvolvimento das personagens - sejam revelados de forma bastante gradual. Assim, o que primeiro chama a atenção é precisamente essa ideia base, primeiro, da existência de um espaço reservado à alma, depois, da vontade das próprias almas.
Também o potencial das personagens se vai revelando de forma gradual. Raul não é propriamente um protagonista que desperte empatia. Muito pelo contrário, na fase inicial da narrativa, consegue ser bastante detestável. Ainda assim, a evolução da sua descoberta conduz a uma mudança no seu comportamento e se, no princípio da história, não é fácil sentir por Raul seja o que for de bom, já a fase final surpreende pela emotividade, pela empatia e, sim, pela tal compaixão que parecia impossível.
Ainda um outro aspecto importante é, claro, toda a reflexão em torno do sentido da vida e da existência de algo antes ou depois dela. Neste aspecto, a perspectiva desenvolvida é tudo menos optimista, ainda que o seu lado mais negativo seja, em grande medida, redimido pelos acontecimentos finais. Há, ainda assim, muito em que pensar, e a vastíssima complexidade do tema repercute-se nas personagens, que evoluem de uma indiferença total a uma complexidade marcante, particularmente presente na intensidade do final.
Este é, pois, um livro que, partindo de um início cativante quanto baste, cresce em força com a evolução do enredo, para culminar num final tão intenso e marcante como o impacto das inevitáveis questões que coloca. Um livro surpreendente, portanto. Muito bom.

1 comentário:

  1. Olá Carla
    Adorei a tua opinião sobre o livro, estive com ele na mão na semana passada mas estava na dúvida se valeria a pena. Agora estou rendida, completamente.
    Boas leituras!

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