domingo, 16 de novembro de 2014

O Demónio na Cidade Branca (Erik Larson)

Corre o ano de 1893. Depois de inúmeros desafios e tribulações, a Feira Mundial de Chicago está pronta a abrir às multidões que espera receber. Ao seu público, promete maravilhas nunca antes vistas, num cenário de esplendor arquitectónico nascido das mentes dos melhores e orientada pelo génio e pela determinação de Daniel Burnham. Bem perto, uma outra mente usa todos os seus recursos para um fim bem diferente. Carismático e misterioso, o doutor H.H. Holmes dispôs de todos os seus meios, incluindo uma abundante falta de escrúpulos, para construir um hotel à altura dos seus desígnios sombrios. Por entre o caos e a euforia, poucos se apercebem dos desaparecimentos. Até ao dia em que, por fim, tudo termina...
Se há um ponto forte que sobressai, em particular, da leitura deste livro - que tem, de facto, qualidades em abundância - é que, não sendo, de forma alguma ficção, lê-se, ainda assim, como um romance. O autor tem o cuidado de alertar os seus leitores para o facto de este livro ser, efectivamente, não-ficção, e as sólidas bases com que constrói a obra, com fontes minuciosamente enumeradas, confirmam bem esse facto, mas, ainda assim, a forma como o autor narra os acontecimentos confere à leitura a fluidez e a envolvência de um thriller. E de um dos bons.
Tendo isto em vista, a estrutura do livro e a voz com que o autor expõe o seu conhecimento são, inevitavelmente, aspectos que se destacam. A estrutura, porque, ao alternar entre o sonho de Burnham (e o seu percurso até o tornar real), o pesadelo de Holmes (com o seu meticuloso plano) e ainda a breve mas estranha história do angustiado Prendergast, o autor cria uma perspectiva mais vasta de tudo o que se passa, ao mesmo tempo que mantém viva a curiosidade em saber mais sobre cada uma das partes. A voz do autor, porque com a sua cativante fluidez, apresenta os factos com a envolvência de quem conta uma história. Tudo é real e os detalhes são mais que muitos e, ainda assim, nunca se perde o fascínio que prende a atenção do leitor.
E, falando nos detalhes, importa referir o também grande ponto forte que, ao longo de toda a leitura, nos lembra de que este livro não é um romance. Trata-se, claro, da vastíssima quantidade de informação que vai sendo apresentada, quer sobre os muitos elementos envolvidos na construção da Feira, quer do contexto económico e social, quer ainda, mais tarde, do percurso dos protagonistas através do tempo. Há todo um mundo de conhecimento para assimilar neste livro e isso exige tempo e concentração. Mas a envolvência da escrita torna a viagem agradável e o muito que o tema tem de fascinante faz com que o percurso seja amplamente compensador.
Muitíssimo interessante e de leitura cativante, este é, portanto, um livro que, bem longe da ficção, traça, com a mesma envolvência de um romance, o retrato de dois mundos contidos na mesma cidade. Fascinante no conteúdo e brilhantemente escrito... Muito bom.

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