sábado, 29 de novembro de 2014

O Solar da Torre (Ana Margarida Valente)

Com uma suposta tragédia como base da sua lenda, o solar sempre despertou a curiosidade dos habitantes da vila. E agora, com a chegada dos seus novos habitantes, a vontade de saber mais é ainda maior. Andrash e Ashena, com as suas sobrinhas Maria-Luísa e Dolores, despertam a curiosidade de todos, em primeiro lugar, por serem caras novas num lugar pequeno, e depois pelo empenho que põem em trazer de volta a antiga glória do solar. Mas o que poucos sabem é que eles são uma família com um segredo. Vivos há bem mais tempo que o de uma normal vida humana, fazem parte de um mundo para lá do conhecimento da maioria dos humanos. Mas o que ninguém espera, nem eles, é que essa diferença não chegue para criar barreiras à amizade... ou a algo mais.
Bastante cativante e com uma história que pega nos elementos mais conhecidos do sobrenatural, para lhe acrescentar algo de diferente, este é um livro com bastantes pontos fortes e algumas fragilidades. Os pontos fortes estão na história e no contexto que lhe serve de base. Os fracos no que é deixado por dizer e nos problemas que sobressaem em termos de escrita. Mas vamos por partes.
Em termos de contexto, o mais interessante é que, tendo uma família de vampiros como ponto central, há uma interessante evolução na forma como a sua presença é desenvolvida. Primeiro, há o mistério, associado a uma certa impressão de perigo, mas cedo as personagens revelam uma natureza bastante diferente, já que as suas capacidades sobrenaturais estão associadas a uma consciência bastante definida. Assim, é interessante notar que, entre vampiros e outros sobrenaturais, simples humanos e até uns quantos animais da zona, as ligações que se estabelecem não se fundamentam na natureza das personagens, mas na sua individualidade.
Ora, tendo isto em conta, o outro ponto forte está nas relações que resultam deste equilíbrio. Há um lado sobrenatural bem definido, e disso é prova o desenvolvimento do passado de Maria-Luísa, mas as ligações e os acontecimentos prendem-se tanto com o real e o quotidiano como com os acontecimentos invulgares. E assim, mais que de poderes inexplicáveis ou mistérios a desvendar, a história faz-se da consolidação de afectos e de amizades e da resolução de um problema com origens bem mais mundanas.
Quanto às fragilidades, a primeira prende-se com alguns pontos que são deixados por explorar, nomeadamente no que diz respeito a Thomas, mas também relativamente às possibilidades deixadas pelas revelações finais. Não é que falte alguma informação essencial à linha central da história, mas ficam, ainda assim, muitas perguntas em aberto, para as quais teria sido interessante obter algumas respostas.
O outro ponto fraco - e mais difícil de ignorar -  prende-se com algumas evidentes falhas a nível ortográfico. Há um ritmo agradável na forma como as ideias são apresentadas, mas o que, normalmente, seria uma narrativa fluída, sofre, inevitavelmente, com os frequentes erros ortográficos. O que é pena, porque uma revisão atenta facilmente resolveria a questão.
O que fica, portanto, desta leitura, é a impressão de uma história cativante, com muitas e boas ideias e um bom equilíbrio entre humano e sobrenatural. Características que, felizmente, compensam a quebra de ritmo causada pelas fragilidades de escrita, e que deixam antever bastante potencial para futuras obras. Tudo somado, uma leitura interessante.

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