sábado, 22 de novembro de 2014

O Meu Nome É... (Alastair Campbell)

Com uma infância conturbada e uma personalidade sempre menos empática que a da irmã, Hannah nunca se sentiu completamente feliz com a sua vida. Mas estava longe de imaginar que o álcool, o amigo que procurava para a fazer sentir-se bem, seria o caminho para uma infelicidade maior, para si e para todos o que tinha por próximos. É através dos olhos destes que a sua história é contada, desde os primeiros dias de vida e até ao ponto de viragem final, numa luta que nunca é fácil para nenhum dos intervenientes... mas que pode ser, a cada novo desenvolvimento, uma grande lição.
Um dos primeiros elementos a chamar a atenção para este livro é a forma como a narrativa está estruturada. Em termos de escrita, o registo é o habitual no autor, pausado e relativamente introspectivo, com tanta atenção ao que se passa na cabeça das personagens como ao que está a acontecer. Mas o elemento surpreendente é que, apesar de esta ser a história de Hannah, não é a sua voz que conta a história e, na verdade, só chegamos a ouvir Hannah no momento final. Tudo é narrado na primeira pessoa, sim, mas das perspectivas das diferentes pessoas que, de alguma forma, interagiram com a protagonista: pais, amigos, profissionais de saúde, autoridades... Todos têm algo a dizer sobre Hannah e é através dos olhos dele que a sua história toma forma. Uma forma que, curiosamente, em nada distancia a caracterização da protagonista, mas antes reforça a sua complexidade, já que é vista de todas as perspectivas possíveis.
Outro grande ponto forte dos vários que tornam esta leitura marcante é a forma como o autor transmite a sua mensagem - e é uma mensagem importantíssima - sem nunca cair num registo moralista ou em tons de dissertação. O problema do álcool, bem como mais umas quantas questões que, no caso de Hannah, lhe estão associadas, é sempre o grande tema no centro da narrativa, mas, e apesar da necessidade de desenvolver as grandes questões - o que alimenta o vício, as consequências, a necessidade de procurar ajuda - , a mensagem é sempre transmitida mais pelo exemplo do que por palavras. O percurso de Hannah fala, melhor que qualquer sermão, de todas as questões relevantes. E a forma como esta jornada afecta os vários narradores da história reforça bem a relevância de todo o assunto.
Ainda um outro aspecto que importa referir é que, das perspectivas das múltiplas personagens, surge uma percepção mais ampla, não só do carácter de Hannah, mas também das suas relações. Isto é particularmente interessante quando temos personagens em aparente desacordo, ou com ideias bastante diferentes, porque permite ver mudanças para lá de Hannah. No caso dos Harper, em particular, há toda uma série de ideias e alguns preconceitos que são abalados pela entrada de Hannah nas suas vidas. E, também por isso, mas, acima de tudo, pelos elos que se vão estabelecendo, há um lado emocional que surge de forma ténue, mas que se intensifica ao longo da narrativa, criando laços de proximidade que culminam num final impressionante.
Com um tema complexo e um lado muito sombrio, esta não é propriamente uma leitura fácil. Mas, sempre interessante, muito bem conseguido na sua abordagem à questão do alcoolismo e com uma protagonista complexa e empática, é, sim, um livro que chama a atenção, que marca sempre um pouco mais e que, no fim, fica na memória. Muito bom.

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