Nascida na Alemanha em 1919, Sofia Stern fugiu para o Brasil quando a guerra estava prestes a começar e nunca mais de lá saiu. Agora, a memória começa a falhar-lhe - ou a trazer-lhe fantasmas do passado - e, preocupado com ela, o neto decide investigar. Mas as respostas que encontra são tudo menos as esperas e um telefonema de uma juíza alemã leva-o a convencer a avó a voltar ao lugar onde cresceu. Lá, esperam-na a história de uma amiga perdida, os restos de de um amor inacabado... e uma verdade difícil de confessar.
Oscilando entre diferentes vozes e períodos temporais distintos, este é um livro que cativa, em primeiro lugar, pela aura de mistério. Há todo um segredo escondido no passado de Sofia Stern e a forma como a história se desenrola, evocando diferentes momentos do seu percurso ao mesmo tempo que vai mantendo em suspenso as respostas para as grandes perguntas, mantém sempre viva a curiosidade em saber o que vem a seguir. Além disso, se Sofia é um enigma, é-o pelas acções e pelos segredos que guarda e, assim sendo, a relativa simplicidade com que tudo é contado acaba por criar um contraste interessante entre a simples fluidez da escrita e as complexidades imprevistas da história.
Claro que, embora esta seja uma história particular, são inevitáveis as considerações gerais, tendo em conta o período em que decorre. E também neste aspecto emerge o mesmo contraste: por um lado, tudo é contado com a máxima simplicidade, focando-se nas personagens principais e contextualizando à medida que vai sendo necessário. Por outro, é do próprio percurso que emergem as perguntas centrais, com a delicada posição de Sofia a enfatizar o tipo de atrocidades cometidas na época em que a história decorre.
Mas voltando ao mistério. Ou mistérios, pois, na verdade, há vários elos entrelaçados ao longo desta história: Hugo, Klara, a própria Sofia, a delicada situação do processo judicial. De tudo surgem perguntas e até mesmo de cada resposta dada. E é aqui que surgem alguns sentimentos ambíguos, pois, se a grande resposta é efectivamente dada - e dificilmente poderia sê-lo de forma mais intensa - ficam, ainda assim, várias questões em aberto, algumas delas deixando uma certa sensação de insatisfação, pois há na história quem merecesse um final um pouco diferente. Não deixa de fazer um certo sentido, ainda assim - ou não fosse aquele um tempo de perdidos e desaparecidos para sempre.
A impressão que fica é, portanto, a de uma história de aparente simplicidade, mas de relações complexas e grandes mistérios revelados. Cativante, intrigante e surpreendente, um livro que é, acima de tudo, a história das suas personagens, mas nunca esquecendo o contexto em que se movem. Gostei.
Título: As Duas Vidas de Sofia Stern
Autor: Ronaldo Wrobel
Origem: Recebido para crítica
Nascida Lisboa Portugal em 1942, Carlos emigrei para Alemanha para fugir ao regime de Salazar, e para não ser mobilizado novamente para a guerra colonial. e nunca mais de lá sai. Foi em Berlim; na TU Berlin: Technische Universität Berlin, eu trabalhei aqui e foram os estudantes de Berlim que me coraram os meus traumas de guerra. As famílias dos meus filhos são alemãs. Gostei de ler suas historias de vida. Cada ser humano tem a sua historia. Todas as historias de vida são, história particular. Eu gostei todo o seu blogo. Beijão
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