De amor e sombra, de tempos mutáveis, dos grandes que partiram e das mágoas que ficaram. De tudo isto e mais se compõem estes sonetos. Sonetos que todos conhecemos, quanto mais não seja dos anos passados na escola a dissecar e interpretar e dividir em sílabas métricas, tentando, ao mesmo tempo, assimilar a estrutura e absorver o sentido dos versos. Mas talvez seja precisamente por isso que é tão interessante este regresso: passados uns bons anos dessa análise estrita e exaustiva, ler os sonetos pelo que são, assimilando simplesmente a harmonia das palavras e a força da mensagem subjacente, transmitem à leitura um renovado impacto - e, talvez, a descoberta de um lado ainda mais cativante para esta poesia.
E o mais cativante é precisamente que o passar dos anos - ou dos séculos - nada retirou da relevância dos poemas. O sentimento subjacente continua tão presente como o ritmo estruturado dos versos. A visão do amor intangível e insuportável, do amor atormentado que move o mundo à desgraça, é algo de intemporal e, assim sendo, é incrivelmente fácil entrar (ou reentrar) na aura destes poemas e reconhecer a dor e a ânsia e o amor imorredouro do sujeito poético. E, quando se trata de poemas sobejamente conhecidos (e, mais uma vez, exaustivamente dissecados) esta sensação simultânea de familiaridade e de novidade não deixa de ser algo de particularmente impressionante.
Escusado será dizer que são essenciais - o tal tempo de dissecação na escola encarregou-se de vincar essa ideia. Mas é interessante reparar que, numa nova leitura mais livre, essa natureza sai talvez ainda um pouco mais vincada. Também estes sonetos foram parte do que me despertou para a poesia, mas ao lê-los agora de um ponto de vista estritamente pessoal (sem pensar em sílabas nem em análises para exames futuros) a naturalidade da forma e a intensidade do conteúdo tornam-se ainda mais evidentes. A arte e a beleza continuam lá - e é também isso que torna este regresso tão marcante.
E é precisamente essa a impressão que fica desta leitura: a de um regresso marcante a uma poesia já conhecida, agora com um olhar mais aberto e um maior impacto para a verdadeira profundidade dos sentimentos nela contidos. Belíssimos, marcantes e intemporais, vale sempre muito a pena regressar a estes sonetos.
Título: Sonetos
Autor: Luís de Camões
Origem: Aquisição pessoal
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