Dez anos depois do massacre no Chalé dos Pinheiros, Quincy Carpenter, a única sobrevivente, julga ter, tanto quanto possível, uma vida normal. Mas a relativa estabilidade da sua vida está prestes a ser abalada. Primeiro, chega a notícia de que Lisa Milner, também ela única sobrevivente de um massacre e alguém que, em tempos, a tentou ajudar, terá cometido suicídio. E depois surge-lhe à porta a terceira Última Vítima. Samantha Boyd vem com a intenção de conhecer Quincy - e, acima de tudo, de descobrir se é verdade que ela não se lembra do que aconteceu. E, incapaz de compreender as verdadeiras intenções de Sam, mas guiada por um conhecimento de que há algo de errado a acontecer, Quincy dá por si a fazer o que nunca fez - e a voltar inexoravelmente ao passado que nunca desejou recordar...
Narrado em grande parte pela voz de Quincy - embora com as ocasionais interrupções para uma viagem ao passado esquecido - este é um livro que prende, em primeiro lugar, pela intensidade. Intensidade na forma como dá voz aos pensamentos da protagonista, intensidade no choque entre o passado tenebroso e as tentativas mais um menos falhadas de o superar e, acima de tudo, intensidade numa teia de acontecimentos em que cada revelação abre espaço a novas perguntas e todos os acontecimentos constituem uma escalada de emoção que culmina num final poderosíssimo.
Ora, o resultado de toda esta intensidade é... viciante, para dizer o mínimo. É absurdamente fácil entrar na cabeça de Quincy e acompanhar o seu percurso rumo ao passado. Sentir-lhe a relutância, a confusão, a perplexidade, a fúria. Compreender-lhe a vontade de agir ou a impotência face às acções dos que a rodeiam. E, à medida que as verdadeiras intenções - ou os segredos longamente guardados - vão surgindo à superfície, também os acontecimentos ganham um novo impacto. Junte-se a isto a fortíssima aura de mistério que tudo cobre - mistério sobre o que aconteceu no Chalé dos Pinheiros E sobre as verdadeiras intenções de Samantha - e o resultado é um livro quase impossível de largar.
Mas há mais. Há a capacidade de construir um enredo onde história e personagens escondem elementos complexos, mas onde há um instinto praticamente irresistível de descobrir o que acontece a seguir. Há também o contraste entre a Quincy vulnerável do passado e a Quincy do presente que, pese embora as circunstâncias, se tornou alguém diferente. E há ainda o delicado equilíbrio entre elementos profundamente sinistros, rasgos de relativa emotividade e até mesmo um pequeno toque de leveza (principalmente na fase inicial) a contrastar com os tais segredos sombrios enterrados (ou não) bem fundo no passado.
E as páginas voam com uma naturalidade tal que dá vontade de parar o mundo para continuar a ler mais um bocadinho. E, no fim, fica-se com a impressão de uma aventura impressionante e perigosa, cheia de segredos e de surpresas e de revelações. E com vontade de ler mais, mas também com a muito satisfatória sensação de que tudo termina exactamente como devia.
Intenso, explosivo, cheio de surpresas e de mistérios, mas, acima de tudo, com um olhar deveras impressionante sobre os tipos de monstros escondidos na mente de cada um, eis, pois, um livro a não perder para quem gosta de enredos sombrios e de histórias - e personagens - conturbadas. Brilhante em todos os aspectos, um livro que recomendo incondicionalmente. Leiam, sim?
Título: Vidas Finais
Autor: Riley Sager
Origem: Recebido para crítica
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