O mundo está em ruínas e a única forma de sobreviver parece ter sido entregar todo o poder nas mãos de uns poucos que assumiram o controlo de tudo e ditam todas as regras - do que cada um pode comer aos sítios onde têm de viver. Mas claro que Juliette não sabe grande coisa sobre isto, pois passou os últimos meses fechada num asilo para proteger os outros do seu toque, que, inexplicavelmente, é capaz de matar. Mas o seu isolamento parece ter chegado ao fim, com a chegada de um rapaz à sua cela. Juliette lembra-se de Adam dos tempos em que tinha uma vida, ainda que ele pareça não a reconhecer. Mas o ténue conforto da sua presença traz consigo um grande perigoso: aproximar-se dela pode ser letal para Adam. Abrir o seu coração ao seu novo companheiro pode acabar de destruir o coração de Juliette. E o mundo da sua cela está prestes a expandir-se de formas inesperadas.
O primeiro aspecto a chamar a atenção neste livro terá inevitavelmente de ser a escrita. Narrado pela voz da protagonista, reflecte também o seu hábito de rasurar partes do que escreve no seu bloco de notas, além de adoptar um registo que parece fluir ao ritmo dos seus pensamentos. Assim, sobressai sobretudo a forma como a história se divide entre um ritmo de acção frenética e uma imersão total nos pensamentos de Juliette, que reflecte tanto os seus momentos de introspecção como a confusão que a invade perante as grandes revelações. Sobressai a diferença, em suma, na forma como a história é contada - diferença que reflecte a diferença da própria protagonista.
Destaca-se também que, não sendo um livro particularmente pequeno, são tantas as coisas a acontecer e as revelações a virem à superfície que facilmente poderia ter sido ainda mais extenso. Claro que parte da razão para as muitas perguntas sem resposta que ficam no fim deste primeiro volume tem a ver com o facto de a história ser contada da perspectiva de Juliette - e o que a protagonista não sabe, também o leitor não pode saber. E, se é verdade que alguns momentos parecem progredir de forma ligeiramente apressada (nomeadamente no que toca à relação entre Juliette e Adam), também o é que as circunstâncias não são propriamente normais, o que talvez justifique uma evolução mais rápida.
É também certo que a história vive muito dos momentos de acção e das grandes surpresas, entrelaçadas com uma grande dose de emoção. Mas importa ainda realçar que, ao longo desta história muito pessoal dos protagonistas, há também espaço para alguma reflexão: sobre o mundo, e as consequências de descurar os sinais de calamidade; sobre o que acontece quando o poder se torna autoritário; e sobre o sempre actual medo da diferença e a forma como se lida com ela. São elementos que surgem naturalmente e de forma discreta ao longo do enredo - mas não deixam de estar presentes e de lhe conferir maior profundidade.
Tudo somado, o que fica é a imagem de uma leitura empolgante, cheia de acção e de grandes relevações, mas também com um fundo emocional particularmente marcante. Um início promissor para uma história que, com tantas perguntas ainda por responder, só pode prometer ainda mais surpresas e mais emoções para o que se seguirá.
Título: Intocável
Autora: Tahereh Mafi
Origem: Recebido para crítica
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