domingo, 4 de abril de 2021

O Homem Mais Feliz do Mundo (Eddie Jaku)

Eddie Jaku nasceu em 1920, no seio de uma família judaica alemã. Tinha uma vida normal e um grande orgulho em ser alemão. Depois, o impensável aconteceu. O ódio chegou ao poder e não tardou a manifestar-se de formas atrozes. Inicialmente, sob uma identidade falsa, Eddie conseguiu manter uma relativa normalidade e completar a sua educação. Mas um inocente regresso a casa acabou por deitar tudo a perder. Detido, espancado, privado da sua identidade e da fé na humanidade, começava assim o seu contacto com o mais sinistro lado dos seres humanos. E, ainda assim, sobreviveu. E, após ter carregado em silêncio o fardo da sua experiência, decidiu finalmente contar a sua história.
É difícil não se ficar impressionado com a história de alguém que, após ter vivido horrores, diz ser o homem mais feliz do mundo. E é também incrivelmente admirável. Aos cem anos, Eddie conta a sua história com uma precisão aterradora, mas também no tom de um amigo que quer partilhar algo connosco e que aquilo que aconteceu nos acompanhe e ensine algo. É um tom positivo, quase alegre (no que diz respeito à sua vida posterior), capaz de nos lembrar do que verdadeiramente importa, do que persiste apesar do caos e do horror. E é por isso que a mensagem que fica não é de tristeza, mas de esperança. E é também por isso que este livro é tão marcante.
É também impressionante a forma como o autor conjuga esta aparente leveza - definida, talvez, pela escrita simples e pelo registo conciso com que narra os aspectos mais negros, num contraste com as mensagens positivas que conseguiu tirar dessas situações e que o mantiveram vivo - com uma descrição que não poupa pormenores quanto à brutalidade vivida. É assim que deve ser, para que, nos estranhos tempos que vivemos, em que o ódio parece estar novamente a ganhar fôlego, ninguém se atreva a esquecer das consequências da última vez. E, ainda assim, há um equilíbrio poderoso: a crueldade no seu máximo expoente contrasta com lições que, nas nossas vidas bem mais leves, não deixam de ser igualmente válidas: a importância dos gestos de bondade, da família, da amizade, da esperança. E se são válidas no pior dos cenários... são-o também nas pequenas coisas.
É uma voz simples, directa, mas de uma expressividade tremenda. E, numa história como esta, é simplesmente impossível não admirar a clareza com que se recordam experiências tão indescritivelmente difíceis, sem esbater o impacto duradouro das consequências, mas tentando sempre ver o bom da vida e das pessoas. É admirável, de facto, e um enorme apelo à reflexão sobre a fé no ser humano e a capacidade de não odiar - mesmo quando o ódio é contra monstros e parece justificar-se.
Não chega às duzentas páginas, mas abrange uma vida inteira, uma história aterradora e uma mensagem de vida simplesmente notável. E tudo isso - voz, percurso, mensagem - contribui para fazer deste livro uma leitura imprescindível. Para aprender. Para reflectir. Para nunca esquecer.

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