quinta-feira, 8 de abril de 2021

O Oposto de Sempre (Justin A. Reynolds)

Jack King sabe que a sua vida é um cliché: eternamente apaixonado pela melhor amiga, que namora com o seu outro melhor amigo. Sabe que a sua vida é uma sucessão de quases e habituou-se a isso. Mas tudo muda quando, numa festa, conhece Kate, uma rapariga cativante, com um sentido de humor muito parecido com o seu e com quem se identifica praticamente de imediato. Seguem-se os melhores dias da sua vida, até que, súbita e inesperadamente, Kate morre. E, ainda incapaz de descobrir sequer como conseguir lidar com a sua perda, Jack sofre um acidente que o projecta... directamente para o passado e para a forma como tudo começou. Sem saber como nem porquê, Jack vê-se com uma nova oportunidade das mãos. Mas o que pode fazer de diferente? E que consequências terá isso para as outras pessoas que são importantes para ele?

Contado pela voz do protagonista e transbordante das suas emoções, este é um livro que marca, em primeiro lugar, pela intensidade emocional. Jack está ainda naquela fase indescritível em que tudo é possível, todas as coisas boas são brilhantes e todas as tragédias são o fim do mundo. Só que, no caso dele... bem, há uma boa medida de fim do mundo envolvido. Assim, é particularmente marcante a forma como o autor consegue gerar proximidade tanto nas pequenas coisas (como a partilha de um simples gesto de companheirismo entre amigos ou de afecto entre familiares), como nas grandes (como as sucessivas corridas de Jack contra o tempo. É uma história emotiva, que, por ter também sempre algo de memorável a acontecer, é também emocionante. E, assim, é impossível não querer continuar a ler para descobrir quais serão as próximas decisões de Jack.
É também uma história que aborda vários temas sérios, desde a doença de Kate à forma como o preconceito acaba por estar na origens de várias situações dramáticas. E, ainda assim, há sempre uma certa leveza, resultante de um equilíbrio eficaz entre os momentos mais dramáticos e os deliciosos rasgos de humor que vão surgindo pelo caminho. Além disso, há afecto genuíno nas relações entre estas personagens, e esse afecto transborda também, de certa forma, para o leitor. É quase como acompanhar Jack nas suas viagens pelo tempo. E torcer, sempre, para que a próxima vez corra melhor.
Importa, por fim, olhar um pouco para o final, que pode não ser, pelo menos em linhas gerais, o mais surpreendente - afinal, no que toca à situação central, só há duas alternativas - mas não deixa de ser o culminar de muitas pequenas surpresas. Além disso, numa história onde as relações parecem, por vezes, um pouco vacilantes, a forma como tudo termina não pode deixar de ser particularmente satisfatória.
Leve, mas cheia de emoção; dramática, mas com um sentido de humor encantador; simples nas suas linhas gerais, mas carregadinha de pequenas surpresas: assim é esta história de amor para além do tempo... e também de amizade, de afecto e do que nos torna humanos. Prende da primeira à última página e nunca deixa de emocionar. E, assim sendo, a soma das partes só pode ser uma: um livro muito bom.

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