domingo, 11 de abril de 2021

Segredo Mortal (Bruno M. Franco)

Uma inundação massiva, e estranhamente localizada, que deixa para trás centenas de cadáveres e cuja única explicação possível parece estar nas alterações climáticas. Um crime macabro, cujo autor deixou para trás um puzzle construído com as partes do corpo de múltiplas vítimas. Um rapaz com uma vida normal, que se vê subitamente catapultado para uma fuga para limpar o nome e salvar a vida. E, a unir tudo isto, uma dupla de investigadores com laivos de génio, mas também com vulnerabilidades suspeitas. Qual é, afinal, o Segredo Mortal que une todos estes elementos? E que perigos mortais reserva aos envolvidos?

A principal característica a destacar-se deste livro e a única que, a partir de determinada altura, é fácil de deduzir, é o facto de nesta aventura nada seguir pelo caminho mais fácil ou previsível. Ninguém é o que parece. Os planos nunca seguem o rumo previsto. E, à medida que o enredo se adensa e a necessidade de agir antes que seja tarde se vai tornando mais imperiosa, também a leitura se torna mais e mais viciante, ao ponto de, na fase final, ser impossível largar o livro.
Não há muito que se possa dizer sobre o enredo propriamente dito sem estragar algumas das surpresas. Existem, ainda assim, alguns elementos que importa salientar. Primeiro, o cruzamento entre o que são inicialmente vários casos distintos e também entre os vários pontos de vista das diferentes personagens, o que contribui para intensificar o mistério e também as grandes revelações. Depois, a mistura entre elementos de investigação policial pura e dura e outros que quase parecem saídos de um romance de ficção científica, o que torna a história mais complexa. E, finalmente, o intrigante equilíbrio entre o desenvolvimento dos acontecimentos centrais e os elementos da vida pessoal das personagens, que torna tudo mais emocionante.
O que me leva às personagens propriamente ditas e a outra construção particularmente eficaz. Na fase inicial, parece ser relativamente fácil identificar heróis e vilões, mas a entrada em cena de novas personagens faz com que essa fronteira se vá esbatendo. Além disso, mesmo nas personagens que são nitidamente os heróis há uma certa ambiguidade que as humaniza. Isto é particularmente evidente em Leonardo, cuja personalidade às vezes irascível contrasta com os seus momentos de vulnerabilidade, e que é tão perfeitamente capaz de cativar como de irritar. E, quanto à situação de Carlos, esta ambiguidade é ainda mais delicada, pois as suas circunstâncias estão em constante alteração e há novas revelações à espreita capazes de darem a tudo uma perspectiva diferente.
Também sobre o fim não há muito que se possa dizer sem estragar a surpresa. Excepto isto: que, além de surpreendente, ganha um maior impacto por não ser límpido e perfeito, tal como o não são os protagonistas. Afinal, todos os acontecimentos passados têm de ter as suas consequências. E o autor consegue encontrar um bom equilíbrio para esta situação delicada.
Intensa, viciante e cheia de surpresas, trata-se, pois, de uma história intrincada quanto baste, mas onde tudo acaba por fazer sentido no final. E é também uma história de crimes imperfeitos, cometidos e investigados por gente extraordinária, mas com as medidas certas de vulnerabilidade a identificá-los como pessoas normais. Imparável e empolgante, um livro longo, mas impossível de largar.

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