quinta-feira, 22 de abril de 2021

Procura-se Lucky Luke (Matthieu Bonhomme)

Procura-se Lucky Luke. Vivo. É essa a indicação que parece ter-se espalhado por toda a parte. E a recompensa pela sua captura não é nada pequena, o que significa que não faltam interessados. Desde velhos inimigos a jovens empreendedoras, Luke vê-se subitamente obrigado a seguir por sendas ainda mais solitárias a fim de evitar a perseguição por um sem fim de adversários. Só que, como bom herói, não pode ver uma donzela em perigo, e muito menos três. Assim, ao cruzar-se com três belas mulheres em circunstâncias delicadas, sente-se obrigado a acompanhá-las até ao seu destino, protegendo-as, tanto quanto possível, dos perigos. Só que nem elas são apenas donzelas indefesas, nem a delicada situação de Luke é exactamente o que parece. E a explicação virá de onde menos se espera...
Sendo protagonizada por uma figura sobejamente conhecida, para não dizer mesmo intemporal, não é propriamente uma surpresa a facilidade com que se entra nesta nova aventura. Basta a familiaridade da personagem, associada à peculiaridade das suas circunstâncias, para querer saber o que causou essa situação e, principalmente, como será que Luke se vai livrar dela. E, se juntarmos a isto a expectável sucessão de reviravoltas, momentos de acção e... bem, tiros em abundância, o resultado é, no mínimo, muito interessante.
Há, ainda assim, dois aspectos específicos que importa salientar (e que ganham outro sentido após a leitura da entrevista incluída no final do livro): a presença de velhos inimigos, que cria ligações com outras aventuras e (para quem não as leu ainda) a vontade de as conhecer; e o duplo sentido da avidez com que as diferentes personagens querem deitar a mão a Lucky Luke. São dois aspectos curiosos que, além de acrescentarem intensidade à história, estão na base de alguns dos momentos mais interessantes de todo o enredo.
Quanto à linha do enredo propriamente dita, é aparentemente simples (até porque é uma leitura relativamente breve), mas esconde toda uma abundância de momentos memoráveis, tanto a nível de desenvolvimento das personagens, com rasgos de humor deliciosos a envolver a "palhinha" de Luke, como do próprio enredo, com a forma como tudo termina a ter um inesperado impacto emocional.
Finalmente, importa referir também dois pontos ao nível do aspecto visual: o movimento, que é particularmente interessante na forma como equilibra uma certa convergência de múltiplos adversários para o mesmo ponto; e a cor, sobretudo na forma como dá vida aos cenários desérticos e contribui também para pôr em ordem os momentos com mais potencial para confusão (nomeadamente, a já referida convergência de adversários).
Não é preciso conhecer profundamente a história de Lucky Luke para desfrutar desta aventura. Mas se, como eu, ainda conhecerem poucas das deambulações deste cowboy solitário, acreditem... vão ficar com vontade de as conhecer a todas. E esse é apenas um dos mais interessantes efeitos secundários desta leitura breve, mas muito empolgante e surpreendente.

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