terça-feira, 5 de outubro de 2021

Criminal - Livro Cinco (Ed Brubaker e Sean Phillips)

Verão de 1988. Teeg Lawless está de volta a casa após uma libertação algo conturbada da prisão. E o primeiro passo é resolver os problemas que o filho lhe arranjou, planeando um assalto que lhe permita recuperar o dinheiro da fiança. Mas esse verão está destinado a ser mais do que apenas mais uma sucessão de dias normais numa vida de crime. Pela primeira vez, Teeg descobriu o amor. Só que não é o tipo de amor que torna as pessoas melhores, é o tipo de amor que as torna mais arrojadas. Capazes de tudo para conquistar a vida por que anseiam. E, enquanto o plano vai ganhando vida, também o filho de Teeg começa a formar o seu caminho. Igualmente conturbado, igualmente dúbio. Igualmente aberto para a tragédia.
Parte do que torna esta série tão interessante, e algo que se mantém vivo desde o primeiro volume, é a capacidade de gera empatia por personagens que são... bem, criminosos. Grande parte das figuras que povoam esta série têm algum tipo de ato duvidoso no seu passado, e a grande maioria mantém exatamente o mesmo rumo no presente. O que impressiona é, por isso, a forma como esse modo de vida é explorado, em histórias que não são - nem pretendem ser - de redenção, mas que exploram as facetas de um mundo de violência e ganância que pode parecer, da perspetiva de algumas personagens, sedutor, mas cuja verdadeira essência é a impossibilidade de lhe escapar.
Este volume específico leva esta perspetiva a uma nova profundidade, ao contar uma história mais longa e em que os laços entre personagens são explorados mais a fundo, com o passado de várias delas a ganhar uma forma mais nítida. Teeg Lawless é aqui uma presença mais óbvia, com um percurso mais aprofundado, e o mesmo acontece com Ricky, um dos filhos. Além de um maior envolvimento emocional, toda esta história reflete a inevitabilidade da vida das personagens, pois coloca as duas gerações em contraste, revelando os laços disfuncionais que os unem e como o caminho de uns é quase hereditariamente transmitido aos outros.
Mantêm-se essencialmente as mesmas caraterísticas dos volumes anteriores, ainda que exploradas de forma mais extensa: a ambiguidade moral, o equilíbrio entre violência e desolação, a brutalidade de um mundo onde simplesmente não há inocentes e a forma como palavra e imagem realçam de forma igualmente poderosa estas mesmas caraterísticas. Não faltam diálogos notáveis e expressões inesquecíveis. E é também isso que torna a leitura tão empolgante - mesmo nas partes em que não é fácil gostar das personagens.
Feito em partes iguais de crueldade e emoção, eis, pois, um livro que corresponde na perfeição ao que se espera desta série: intenso, surpreendente, moral e emocionalmente ambíguo e sempre impossível de largar. Não desilude, em suma. Mas isso era mesmo a única coisa que já era de esperar.

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