quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Umbigo do Mundo, Vol. 1 - Alma Mãe (Penim Loureiro e Carlos Silva)

O mundo transformou-se. Ignorados os avisos da natureza, instalou-se a deterioração e a decadência. Mantém-se, ainda que com uma estrutura mais vincada, a divisão entre norte e sul e o fosso entre ricos e pobres, mas elevado agora a um nível de vida ou morte. E é neste mundo de poder e de ruínas que a misteriosa Alma se move. Ninguém sabe muito bem as suas origens, mas tudo indica que é mais velha do que aparenta. E o que começa por ser apenas um roubo desperta interesses perigosos para a sua singularidade. E o perigo torna-se mais vasto... e mais próximo.
Mais do que a história propriamente dita, ainda que também ela tenha muito de interessante, o primeiro ponto a captar a atenção neste livro é visual. Visual e omnipresente, pois uma das grandes forças está nos cenários, na construção de um mundo feito de singularidades, mas também de paralelismos, e onde é fácil intuir muitas referências, desde um espírito como que greco-romano a elementos aparentemente templários. É curioso, aliás, que sejam os cenários que mais ficam na retina, tendo em conta que também não faltam movimento e expressividade na ação. E, que entre os grandes momentos de ação e as pequenas pérolas emotivas, seja a paisagem aquilo que mais sobressai.
Olhando agora para o enredo, há sobretudo dois aspetos a destacar, importando, ainda assim, referir primeiro um outro: que, sendo um primeiro volume, ficam necessariamente perguntas sem resposta. Muitas perguntas. Perguntas que fazem sentido, não só em termos de continuidade, pois a história termina num ponto de abertura para múltiplas possibilidades, mas também de passado. É que a linha temporal parece ser tudo menos linear - o que significa que estas perguntas sem reposta sobre passado e futuro prometem muito de bom para o que se seguirá.
Passando, então, aos dois aspetos que sobressaem. Um deles é, obviamente, a construção do mundo e das suas regras, já refletido na vasta paisagem visual, mas também muito presente na construção das diferentes forças em movimento, e na forma como refletem com aterradora precisão certas facetas do nosso próprio mundo. O outro é o equilíbrio entre ação e emoção que, numa história que é apenas o início, e onde muito fica em suspenso, gera um interesse quase imediato pelas personagens e pelo que lhes acontece.
Altamente promissor e também muito cativante: assim se pode descrever, pois, este primeiro contacto com o Umbigo do Mundo. Uma viagem visualmente fascinante, mas também cheia de intensidade e de expressão. Recomenda-se, em suma. E mal posso esperar para ver o que vem a seguir.



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