sábado, 2 de outubro de 2021

Hinton Hollow Death Trip (Will Carver)

Hinton Hollow é o tipo de pequena povoação onde toda a gente se conhece. Há um forte espírito de comunidade e as pessoas partilham dos mesmos valores, esperanças e ideais. Ou será que não? Tudo parece tranquilo, mas a chegada do filho pródigo implica a aparição de uma presença diferente. Há uma tempestade a formar-se. O mal está a espreita – da mais literal das formas. E, quando a morte começa a alastrar e segredos sombrios começam a vir à tona, os mais vulneráveis transformam-se em vítimas… e ninguém está a salvo do mal dentro de cada um.
Existem, de longe, demasiadas qualidades neste livro para as descrever a todas, sobretudo porque algumas delas não podem ser referidas sem estragar algumas surpresas. Narrada pelo próprio Mal – sim, com maiúscula – esta história mistura tantos elementos diferentes, e com um tão delicado equilíbrio, que é simplesmente impossível encaixá-la num único género. A profissão do protagonista e os múltiplos homicídios ao longo da história definem-na como uma espécie de policial, mas diferente de todos os outros, incluindo os volumes anteriores desta série. O elemento sobrenatural – já disse que a história é contada pelo Mal? – confere-lhe uma aura de horror, mas o verdadeiro horror está longe de vir do sobrenatural e as repercussões e ramificações dos diferentes tipos de mal presentes neste livro são simplesmente avassaladoras.
É também uma história de equilíbrio, o que significa que os contrastes e equilíbrios ao longo do livro se tornam ainda mais impressionantes. O equilíbrio entre bem e mal, obviamente, mas também entre local e forasteiro, criança e adulto, honesto e mentiroso. Entre o que julgamos que sabemos e a verdade plena e inabalável. Nada é o que parece nesta história. Nem ninguém. Cada novo desenvolvimento é uma surpresa avassaladora. E nada é a preto e branco, o que talvez possa ser surpreendente numa história sobre o mal. Tudo é complexo, ambíguo, intrincado. Como a própria vida.
E há ainda uma outra qualidade particularmente impressionante: a voz. A ideia de dar uma voz e uma personalidade ao Mal é, por si só, algo de brilhante. Mas dar-lhe uma voz tão fascinante e viciante, e um tal dom para contar histórias, é absolutamente glorioso. Os heróis tornam-se vítimas, as vítimas tornam-se vilões, a inocência dá lugar às trevas – e tudo isso acontece através desta voz. Tão próxima que quase podemos tocar-lhe. Vê-la. Senti-la a falar nas nossas próprias cabeças.
Uma voz singular, um fascinante conjunto de personagens e uma história avassaladora, indescritível, inesquecível. Assim é esta estranha viagem a Hinton Hollow e às mentes dos seus habitantes. Brilhante, assustadora, incrível. Gloriosa.

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