sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Os Crimes do ABC (Frédéric Brémaud e Alberto Zanon)

Hercule Poirot tem uma certa reputação no que toca a resolver crimes bizarros, o que significa que o seu nome é sobejamente conhecido. Assim, quando recebe uma carta anónima a anunciar um crime e a desafiá-lo a resolver o mistério, a interpretação inicial, tanto de Poirot como da polícia, é de que se trata de um lunático qualquer à procura de fama. Mas eis que o crime acontece mesmo - e é apenas o primeiro. Então, todos começam a levar o caso a sério... e Poirot vê-se novamente obrigado a pôr as suas celulazinhas cinzentas a funcionar.
Uma das primeiras coisas que importa dizer sobre este livro é comum às várias adaptações até agora: que, quer seja o primeiro contacto com a história ou quer se conheça já toda a intriga - e, inevitavelmente, nesse caso, a identidade do assassino - a leitura é igualmente cativante. Este caso foi, para mim, um primeiro contacto, o que significa um desconhecimento total sobre a identidade do criminoso. E, deste ponto de vista, a fidelidade ao original é um elemento desconhecido, mas uma coisa é certa: o mistério mantém-se mesmo até ao fim.
Olhemos então para a história da perspetiva de quem acaba de a descobrir pela primeira vez. E, desta perspetiva, sobressaem dois aspetos: a intensidade do mistério, com a tensão da corrida contra o tempo, as falsas pistas e a sensação de impotência que, a espaços, quase parece transbordar das páginas; e o equilíbrio entre diálogo e imagem, em que a expressividade das personagens parece dar tantas pistas para o caso como os indícios que vão sendo revelados. Além disso, este mesmo equilíbrio tem um impacto particularmente marcante se olharmos para a figura do misterioso ABC, pois a sua posição singular parece ganhar mais vida nas expressões que lhe são conferidas.
Em jeito de conclusão, e olhando novamente para o conjunto das diferentes adaptações, fica ainda uma última impressão curiosa: a de que, em cada livro, o traço sugere personagens um pouco diferentes (mesmo quando os protagonistas são os mesmos), mas uma aura facilmente reconhecível. As feições e os cenários podem assumir diferentes formas, mas a alma que lhe serve de base é a mesma. E é perfeitamente percetível.
Intrigante, intenso e expressivo: assim é, em suma, este desafio às celulazinhas cinzentas de um dos detetives mais famosos do mundo. E, com as suas expressões eloquentes, o contraste entre ambientes e a capacidade de gerar proximidade em poucas palavras (ou imagens), é também uma leitura memorável em todos os aspetos.

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