Michael Stirling nunca teve problemas em assumir o papel de libertino, ainda que com algumas regras bem definidas. Mas o que ninguém sabe é que esse papel lhe serve de máscara para esconder um sentimento que nunca poderá admitir: ama a mulher do primo, do primo que é para si mais que um irmão. E nunca a poderá ter. Ou pelo menos é isso que pensa, até que a tragédia se abate sobre John, deixando a Michael o título de conde - e a incapacidade de assumir o papel de John e de dar a Francesca o apoio de que ela precisa. A alternativa é fugir, mesmo sabendo que um dia terá de voltar. Mas o tempo passa e, apesar de toda a esperança de que, no seu regresso, as coisas sejam diferentes, a verdade é que o sentimento é mais forte que nunca. E com Francesca finalmente disposta a pôr de parte o luto, a oportunidade que Michael nunca ousou ponderar pode estar mais perto do que imagina...
Apesar de centrados no romance entre um casal protagonista, um dos aspectos especialmente cativantes desta série é que em todos os livros há, em maior ou menor grau, um vislumbre da - muito unida e um tanto caricata - vida familiar dos Bridgerton. Este livro não é excepção e, ainda que os momentos familiares sejam bastante mais discretos que noutros volumes, há, de facto, momentos bastante divertidos na interacção de Francesca - e do próprio Michael - com a família Bridgerton, o que proporciona alguns dos mais cativantes momentos de humor.
Mas, e como habitual, é o romance o centro do enredo e, neste aspecto, sobressaem dois elementos. O primeiro é o desenvolvimento da vida de Francesca com o primeiro marido, que não só reflecte desde logo a dificuldade da condição de Michael, mas também apresenta a base de algumas das dúvidas que atormentam os protagonistas ao longo do enredo. O outro é a revelação gradual de uma relação que - nem sempre avançando pelas melhores razões - acaba por surgir como estranhamente adequada, pois, entre as discussões, a provocação e, claro, a sensualidade, há entre Michael e Francesca uma genuína amizade que, mais que empalavras, se reflecte em acções. E é talvez essa amizade que faz com que o romance entre ambos acabe por parecer - apesar das peripécias mais peculiares - bastante natural.
Depois, há, claro, a forma como a autora constrói a história, equilibrando momentos de grande emotividade com situações divertidas, episódios de grande tensão e gestos inesperadamente românticos. É esta mistura das medidas certas de humor, paixão, emoção e sensualidade que torna esta história - como todas as desta série, aliás - tão cativante. Bem como a própria escrita, é claro, que num registo fluído e leve, se adapta na perfeição ao espírito do momento e aos traços mais vincados das personalidades mais relevantes.
Leve e envolvente, divertido nos momentos certos e também capaz de emocionar, este é, pois, mais um livro à altura das expectativas geradas pelos anteriores. Cativante, com personagens fortes e um enredo em que o romance pode ser a força dominante, mas está longe de ser a única, um livro muito bom.
Título: A Bela e o Vilão
Autora: Julia Quinn
Origem: Recebido para crítica
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