Ao chegar a casa, Abigail Campano depara-se com uma visão do inferno: o cadáver de uma adolescente morta e o seu provável assassino ferido e de faca na mão. Vendo-se numa situação de vida ou morte, a única reacção que resta a Abigail é lutar. Mas o resultado, que julga ser a morte do assassino da filha, não é assim tão claro. Quando as conclusões óbvias se revelam erradas, Will Trent é chamado a tomar conta do caso. Mas a parceira que lhe é mais ou menos imposta não é propriamente uma admiradora sua. E, entre a necessidade de esconder as suas vulnerabilidades e a corrida contra o tempo que resulta dos - verdadeiros - indícios, Will tem tanto em mãos que precisará de todas as suas forças para resolver o caso.
Um dos aspectos mais impressionantes deste livro - à semelhança do que acontece no anterior Tríptico - é a forma como a autora equilibra a história de um caso muito específico com o percurso pessoal e conturbado do protagonista da série, construindo uma história que é, em si mesma independente, mas que, criando laços com o passado e com o que se seguirá, dá forma a um todo mais complexo.
Isto é particularmente marcante tendo em conta que o próprio caso é também bastante complexo, tendo relações profundas com a realidade do próprio Will. A pessoa que Will é e a vida que conheceu tornam-se particularmente relevantes tendo em conta o caso em mãos. Há óbvias semelhanças entre alguns dos protagonistas do caso e o próprio Will Trent, além de relações do passado que, de forma mais ou menos óbvia, têm também alguma influência. Tudo isto faz com que as duas facetas do enredo - o caso de Emma Campano e a forma como Will Trent vive o caso em função da sua história - se complementem na perfeição, dando forma a um enredo intrigante, complexo e muito, muito marcante.
Mas, pegando nestas duas facetas complementares do enredo, importa-se referir que ambas têm, em si mesmas, matéria mais que suficiente para impressionar. O caso, pelas reviravoltas surpreendentes, pelo que os acontecimentos têm de perturbador, pela forma como a autora apresenta não só os acontecimentos, mas todas as repercussões que estes terão nos intervenientes, seja qual for o desfecho. E a história de Will pelos novos desenvolvimentos, pela forma como essa história o faz avançar e, claro, pela impressionante complexidade com que a sua personalidade vai sendo desenvolvida.
Porque, se o caso é, em si mesmo, muitíssimo interessante, Will é a alma da história. Atormentado, peculiar, com vulnerabilidades tão profundas que o marcam em todos os aspectos da sua vida, e, apesar disso, com uma capacidade de funcionar que contrasta com a sua ocasional falta de confiança, Will é uma personagem complexa, estranha, por vezes, mas com quem é incrivelmente fácil estabelecer empatia. E ver essa personalidade - no que tem de forte como no que tem de estranhamente frágil - a interligar-se de forma tão profunda com o mistério que tem para resolver cria uma situação tão intensa e intrigante que é impossível não querer saber mais.
Eis, pois, um livro brilhante. Intenso no desenvolvimento da intriga, marcante no tão cuidadosamente construído aspecto emocional, impressionante na construção das personagens e na forma como os acontecimentos nelas se repercutem, surpreendente a cada nova revelação. Um livro cheio de qualidades, em suma. E que, por todos os motivos e mais alguns, não posso deixar de recomendar. Brilhante.
Título: Fraturado
Autora: Karin Slaughter
Origem: Recebido para crítica
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