terça-feira, 12 de junho de 2018

The Call - A Invasão (Peadar O'Guilin)

Nessa e Anto sobreviveram à Terra Cinzenta e julgavam ter cumprido a sua parte. Mas as coisas estão longe de ter terminado. Agora, quando pensavam ter pela frente uma vida juntos, vêem-se novamente separados. Nessa, acusada de traição, pois nunca poderia ter sobrevivido sozinha na sua condição, é levada para interrogatório antes de ser enviada de volta à Terra Cinzenta. E Anto é enviado para junto de um grupo de combatentes - quanto mais não seja, para o manter na ignorância do que está a acontecer a Nessa. Entretanto, os Sídhe não desistiram da sua ambição de reconquista. E uma promessa cumprida pode anular uma promessa desfeita, permitindo-lhes tomar finalmente posse da terra que julgam ter-lhes sido roubada...
Tal como aconteceu com o primeiro volume, um dos aspectos mais marcantes deste livro é o vincado contraste entre a relativa simplicidade da escrita, com o seu estilo directo a ajustar-se à juventude das personagens, e o intrincado lado sombrio da história. Aqui, os Sídhe são tudo menos fadas bondosas e o que são capazes de fazer está na base de várias descrições macabras e perturbadoras ao longo do livro. E, claro, em resposta à crueldade, também a Nação responde com crueldade, o que cria uma situação intensa, em que os fins justificam os meios e a justiça passa para um muito distante segundo plano.
Também a evolução do enredo tem muito de intrigante. Se já no primeiro livro a sobrevivência era o essencial, aqui passa a ser quase a única regra. E se ,por um lado, isso dilui alguma empatia - há personagens de que é pura e simplesmente impossível gostar - , por outro, confere à história um maior dramatismo. Tal como o Chamado, é também uma corrida contra o tempo a acção das personagens neste livro. Mas com consequências bastante mais vastas e, como tal, com muito menos limites morais. 
E, como se não bastassem as acções dos Sídhe para conferir à história um registo bastante negro, também a posição dos protagonistas se torna cada vez mais desesperada, o que, além de ser, por si só, uma surpresa, pois desde cedo se percebe que não haverá finais limpos e muito menos perdas mínimas, reforça o impacto dos grandes gestos, pois há uma estranha nobreza no sacrifício quando já tudo se perdeu. 
Intenso, surpreendente e inesperadamente (ainda mais) negro, trata-se, pois, de uma notável mistura de continuidade e evolução relativamente ao primeiro volume. E, ainda que deixando para trás algumas questões em aberto, de uma conclusão mais que adequada para um enredo que nunca poderia ter um fim fácil. Uma boa história, sem dúvida, de um autor para continuar a acompanhar.

Autor: Peadar O'Guilin
Origem: Recebido para crítica

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