Os ingredientes são claros - mas os dois cozinheiros têm ideias bastante diferentes para o seu objectivo de cozinhar uma criança. Para o primeiro, a intenção é o mais literal possível. Já o segundo vê as coisas de forma bastante mais metafórica. E se um tempera com sal e ervas, o outro tempera com outro tipo de ingredientes, mais interiores. Mas afinal vão cozinhar uma criança ou não? Bem... talvez.
Uma das primeiras coisas a chamar a atenção para este livro será - naturalmente - o título. Afinal, isto de cozinhar uma criança parece coisa de bruxas ou de outras entidades de quem se dizia que comiam criancinhas. Pois não é disso que se trata, mas não deixa de ser um diálogo muito interessante, em que o cozinheiro que pretende literalmente cozinhar crianças e o que opta pelo sentido mais metafórico defendem também visões muito distintas do mundo.
É precisamente esta visão que torna este livro apelativo não só para os mais novos, mas para leitores de todas as idades. Afinal, a ideia de "cozinhar" crianças no sentido de fazer deles adultos conformados não está assim tão distante da nossa realidade, pois não? Mais do que a história, que é, afinal, bastante sucinta, sobressai, por isso, uma mensagem positiva: a da necessidade de cozinhar mentes criativas, em vez de mentes resignadas.
E, claro, impõe-se falar das ilustrações, que, não sendo um acompanhamento preciso da conversa, conseguem, ainda assim, acrescentar algo de novo à leitura. Primeiro, pela beleza da ilustração em si. Depois, pelo contraste entre os ingredientes normais (que ganham aqui uma nova forma) e, bem... os ingredientes de eleição do Cozinheiro 1.
Lê-se num instante, mas conteúdo não lhe falta. E, além de uma leitura cativante e com uma mensagem muito pertinente, é também um livro bonito para folhear e descobrir. A impressão global é, por isso, muito positiva, de uma leitura que vale a pena apresentar aos mais pequenos... e não só.
Título: Como Cozinhar uma Criança
Autor: Afonso Cruz
Origem: Recebido para crítica
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