quarta-feira, 20 de março de 2019

Um Mundo sem Fim - Volume II (Ken Follett)

A mudança paira sobre o mundo, inevitável. E, por mais que os mais conservadores tentem opor-se, Kingsbridge não é excepção. Mas, para cada novo objectivo erguem-se novos protestos, e a sombra da peste paira sobre o país, ceifando vidas sem olhar a classes, deixando campos e negócios ao abandono e obrigando a medidas drásticas. É neste cenário que as vidas de Caris, Merthin, Ralph e Gwenda prosseguem, sempre no fio da navalha, entre os sonhos que persistem em alimentar e as batalhas constantes contra o que parecem ser intrigas incessantes e poderes inabaláveis. Mas a mudança é a única verdadeira constante - e o passar do tempo e dos perigos faz com que tudo ganhe novas formas. 
Parte do que torna este extenso livro tão marcante (porque, afinal, este é apenas o segundo volume e muito aconteceu já no interior) é a forma como a história parece abranger vidas inteiras, traçando para as suas personagens não só um contexto de mudança global, mas também um percurso de mudança e crescimento para cada uma das personagens. Ninguém chega ao fim da história tal como era no princípio. Pelo caminho, houve obstáculos, perdas, medos, batalhas perdidas e pequenas grandes vitórias. Crescimento, em suma. E isto é particularmente interessante porque, além de dar origem a história sempre intensa e cativante, apesar da sua extensão, permite ver as mutações que a vida opera sobre cada uma das diferentes personalidades envolvidas.
Tal como no primeiro volume (e como, aliás, seria de esperar), uma das grandes qualidades é a capacidade de despertar emoções fortes: há momentos de perigo, ameaças terríveis, a sempre pesada sombra da peste, relações que florescem, se quebram e voltam a renascer e vidas que, após demasiadas intrigas, acabam por receber mais do que o que esperavam por recompensa. De tudo isto, nascem momentos belíssimos, rasgos de emoção profunda, bem como momentos de tensão e de perigo. Até porque há um outro aspecto importante nestas personagens: as que não são fáceis de amar, são fáceis de odiar.
É um caminho longo, onde muitas vidas e histórias se cruzam. Talvez por isso não surpreenda que, embora todos os aspectos encontrem algum tipo de resolução, nenhuma delas seja propriamente perfeita. Aliás, na vida raramente o são. E, sendo certo que em casos como o de Philemon, fica até o desejo de uma queda um pouco mais dramática, faz sentido que as coisas terminem da forma como o fazem. Afinal, nem sempre são os heróis que vencem. E entre o desejado e o necessário, o caminho das personagens acaba por convergir nos destinos mais adequados.
Extensa e complexa, mas também intensa e repleta de momentos marcantes, trata-se, em suma, de uma leitura que exige o seu tempo, mas que merece cada segundo. Pois, com as suas personagens notáveis, o seu enredo cheio de mudanças e o seu mundo tão vasto como a vista da torre da catedral, nunca deixa de cativar e de surpreender. E fica na memória, claro, pelas emoções, pela história e, principalmente, pelas personagens. Muito bom.

Autor: Ken Follett
Origem: Aquisição pessoal

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