Acacia Santos tem no seu trabalho no Hotel Victoire a âncora que lhe dá um mínimo de estabilidade, bem como a forma de se manter o mais longe possível do seu passado. Mas a relativa tranquilidade do seu mundo está prestes a desabar. Tudo começa com a entrada em cena do irascível Pierre Breckman, um homem de gostos exigentes e temperamento difícil a quem Acacia deve receber com a máxima das atenções. Mas o que começa por ser uma colisão de feitios cedo se torna em algo mais intenso e perigoso. Os meandros do mundo de Breckman - nome falso de Nicholas Cassirer - põem o posto de trabalho de Acacia em perigo. E, ao tentar remediar o mal feito, Nicholas acaba por dar início a uma aproximação a que nenhum dos dois conseguirá resistir.
Um dos aspectos característicos dos livros deste autor, e uma das suas grandes qualidades, é a construção de personagens fortes, mas com rasgos de vulnerabilidade, com passados sombrios e percursos difíceis, e que protagonizam uma história que é, acima de tudo, de amor, mas que envolve também uma certa medida de perigos, intriga e tensão. Este livro não é de todo excepção. Aliás, o equilíbrio entre o romance entre os protagonistas e as situações de perigo e acção torna-se particularmente eficaz tendo em consideração o meio em que ambas as personagens se movem.
Tanto Nicholas como Acacia são personagens complexas, moldadas por um passado de sofrimento e que carregam os seus fantasmas aos ombros. Não são, porém, o tipo de personagem que desperta apenas simples empatia. Nicholas, aliás, na sua persona de Pierre Breckman, consegue ser bastante pretensioso, o que faz com que a vinda à superfície da sua verdadeira natureza adquira um impacto maior. E quanto a Acacia, a história de toda uma vida a fugir fez dela uma figura reservada e desconfiada, o que acaba por dar também esse grande impacto às suas revelações.
Quanto à história em si, tem múltiplas facetas, a começar desde logo pelo passado oculto dos protagonistas, mas marcando essencialmente por dois aspectos em colisão: de um lado, um amor crescente, intenso, mas que se desenvolve de forma gradual e realista, pois acompanha um percurso de descoberta mútua; do outro, uma sucessão de intrigas envolvendo roubos de arte, tráfico de armas, ataques, raptos e operações de resgate. Dois mundos diferentes? Talvez. Mas a verdade é que encaixam na perfeição.
E é talvez deste mesmo equilíbrio que surge o derradeiro ponto forte, manifesto tanto na história como na voz com que esta é contada. Há rasgos de emoção maravilhosos ao longo desta história, frases genuinamente marcantes. E há também um ligeiro contraponto de humor, que, além de tornar a relação entre as personagens mais reais, cria um contraste fascinante entre as pequenas cumplicidades que vão nascendo e um sentimento que - pelo menos para as personagens - parece capaz de queimar o mundo.
Das personagens ao enredo, passando pela beleza da escrita e pela sempre impressionante mistura de sentimentos que consegue evocar, trata-se, pois, de um livro notável. Daqueles em que parece que caminhamos com as personagens e sentimos um pouco do impacto de cada um dos seus passos. Cheio de amor, de sombra e de beleza, um livro brilhante em todas as suas facetas. E, por isso mesmo, um favorito incondicional.
Título: O Homem de Fato Preto
Autor: Sylvain Reynard
Origem: Recebido para crítica
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