Nanette O'Hare é uma rapariga aparentemente normal, a estrela da sua equipa de futebol e razoavelmente integrada, apesar das horas de almoço passadas na sala do seu professor favorito. Mas tudo muda quando este professor lhe oferece um livro obscuro e depois se oferece para lhe apresentar o autor. O livro muda a forma de pensar de Nanette e o seu contacto com Booker, o autor, leva-a a conhecer Alex Redmer, um rapaz que partilha a mesma paixão pelo livro, mas cujo comportamento também a assusta um pouco. Nanette e Alex descobrem-se mutuamente, mas a visão libertadora que inicialmente encontraram no livro cedo começa a trazer consequências mais duras. E, mais uma vez, Nanette vê-se obrigada a questionar as suas escolhas e a opção de pertencer ou não a um mundo onde a diferença é factor de exclusão.
Um dos aspectos mais notáveis deste livro é o facto de ser inesperadamente duro. É uma história de adolescentes - de descoberta, de planos, de amor adolescente -, mas é, acima de tudo, uma história de escolhas e consequência. E surpreende, por isso, não só a dureza dessas mesmas consequências, mas principalmente a forma como se repercutem nas personagens, tornando-as mais ambíguas, mais difíceis de entender, mas também mais complexas, vulneráveis e intrigantes.
Há também como que um quebrar gradual da inocência ao longo de todo o percurso. Alex e Nanette começam o seu caminho empolgados pela descoberta de um amor comum, pela possibilidade de olhar o mundo de uma nova maneira e de deixarem a sua marca. O caminho, porém, acaba por ser muito mais árduo e ambíguo, deixando-os à mercê de um isolamento auto-imposto e de convenções que não assim tão fáceis de derrubar. O resultado é que as personagens se tornam talvez um pouco mais amargas e a história vai adquirindo um registo mais sombrio, à medida que as esperanças vão dando lugar a uma visão mais dura - e também mais lúcida - do mundo e dos que nele habitam.
Tudo se torna, então, inesperado. Nem o rumo da história se encaminha para a previsível descoberta do amor e da liberdade, nem as personagens encontram um futuro perfeito. Cedo se torna evidente que isso nunca seria possível. Há, aliás, um contraste interessante neste evoluir do enredo: a escrita do autor acompanha a evolução das personagens, oscilando entre o registo mais directo e simples da voz de Nanette inicial e a terceira pessoa de uma personagem que descobriu facetas mais negras, tornando-se assim mais distante e escondendo-se sob as suas máscaras. Escrita e enredo atingem assim um equilíbrio particularmente marcante, mesmo nos momentos em que não é fácil compreender e simpatizar com as personagens.
À semelhança do livro de Booker, trata-se pois de um "hino à nobre arte de desistir": uma história sobre o que nos faz pertencer ao meio que nos rodeia e as consequências de se ser diferente, mesmo com as melhores das intenções. Cativante, surpreendente e com uma escrita particularmente eficaz, pode não gerar uma empatia perfeita, mas deixa, sem dúvida alguma, a sua marca.
Título: As Coisas Mais Delicadas
Autor: Matthew Quick
Origem: Recebido para crítica
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