Erin e Mark têm tudo para ser felizes. Prestes a casar, decidem que está também na altura de começarem a pensar em ter um filho. Mas eis que tudo começa a mudar. Primeiro, Mark perde o emprego, o que obriga a uma alteração dramática nos planos para o casamento. E a lua de mel, o único luxo que decidiram manter, leva-os a uma decisão irreparável. Durante a sua estadia em Bora Bora, descobrem algo estranho na água. Algo capaz de mudar as suas vidas, desde que consigam guardar em segredo aquilo com que se depararam. Mas decidir manter esse segredo abre também caminho a uma sucessão de perigos, capazes de comprometer não só a sua já frágil união enquanto casal, mas também as suas vidas...
Provavelmente o aspecto mais notável deste livro é que, embora não sendo particularmente emotivo, até porque as personagens são bastante ambíguas no que toca à empatia, há, ainda assim, uma sensação de perigo quase palpável. Cedo se torna evidente que a relação entre os protagonistas está longe de ser perfeita, mas há, ao longo de todo o enredo, um ténue fio entre proximidade e diferença, e isso faz com que seja impossível prever que resolução haverá para cada um dos vários problemas que Erin e Mark têm em mãos.
Esta aura de risco e de mistério torna a leitura estranhamente viciante. Não é propriamente um livro de ritmo compulsivo. O registo é relativamente pausado, havendo amplo espaço para análises pessoais, para as questões com que Erin se confronta na realização do seu documentário e para a visão dos múltiplos problemas de uma vida a dois. E, no entanto, há uma sombra que paira constantemente sobre as personagens. Primeiro, o desemprego de Mark cria uma situação de tensão. Depois, a descoberta em Bora Bora acrescenta um novo elemento de risco, parecendo unir os protagonistas nos seus planos e decisões. E a partir daí... Bem, a partir daí a intensidade vai crescendo, as reviravoltas sucedem-se e o que inicialmente era um avanço gradual abre caminho a um pico de intensidade e a um final particularmente marcante.
Tendo isto em vista, a ambiguidade das personagens acaba por fazer todo o sentido, pois, além de brincar com as emoções do leitor, deixando em aberto o verdadeiro papel de cada uma delas, ajusta-se na perfeição a uma situação de perigo e de consequente adaptação. Erin é apenas uma pessoa normal - até que se vê perante a necessidade de tomar decisões impossíveis. Mark... bem, Mark é cheio de surpresas. E se os desenvolvimentos - bem como as decisões tomadas - fazem com que este casal seja tudo menos um duo de personagens modelo, também é certo que o facto de não o serem torna tudo muito mais interessante.
Intrigante desde o início e sempre cativante, apesar do início um pouco mais pausado, trata-se, pois, de um livro que se vai entranhando aos poucos, à medida que história e personagens revelam gradualmente o seu verdadeiro potencial. Misterioso e surpreendente, um livro que vale a pena descobrir.
Título: Há Algo Estranho na Água
Autora: Catherine Steadman
Origem: Recebido para crítica
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