Às vezes, parece que a vida é uma correria constante. Da agitação do trabalho a uma vida pessoal que parece ter de corresponder cada vez mais a uma expectativa idealizada, não necessariamente por nós. E o que devia ser um milagre quotidiano torna-se um fardo a carregar. Talvez nem todos os problemas se resolvam internamente, mas olhar para o interior, para o que realmente queremos, para os sonhos, para o caminho a percorrer, pode abrir caminho a uma visão mais simples e fortalecedora. É essa a visão deste livro, que, através dos seus pequenos textos, não aponta caminhos infalíveis, mas sim a via da auto-reflexão.
Surge, por vezes, neste género de livros, a tendência para uma de duas coisas: ou uma visão demasiado fácil, de basta querer para conseguir e só não consegue quem não quer; ou um caminho demasiado estrito, de regras invioláveis cujo incumprimento resultará em desastre. Felizmente, este livro não segue nenhuma destas vias. A linha fulcral é uma e uma só: olhar mais para o que somos, para o que queremos, para o que nos torna melhores, e agir em função disso. O resto é uma visão pessoal, da qual podemos tirar muito material para reflexão, tomando depois as nossas próprias decisões.
É também um livro que não se cinge a uma crença específica, centrando-se mais na percepção da própria natureza de cada um e partindo daí para a transmissão das várias mensagens positivas. Claro que há aspectos que, à primeira vista, poderão evocar a tal sensação de que a realidade não é assim tão simples: afinal, nem todos os problemas dependem apenas de nós. Não deixa, ainda assim, de haver muito de bom a retirar desta visão optimista e empenhada. Talvez não seja a solução para todos os problemas - nem pretende sê-lo, diga-se - mas é certamente um belo motivador para os enfrentar com mais coragem.
E importa ainda referir a que acaba por ser a qualidade mais marcante desta leitura: a escrita. Num registo intimista, pessoal, de quem conta a sua própria experiência, partindo dela para transpor potenciais conselhos e possibilidades, abre portas ao delicado equilíbrio entre a sua visão específica e pessoal e a visão que cada leitor poderá construir a partir destes temas. Há, além disso, um ritmo nas palavras - e na própria estrutura do livro - que torna a leitura mais fluida, mais cativante, conferindo a cada texto um toque de quase poesia que o torna mais memorável.
Não é um daqueles livros de auto-ajuda que prometem milagres - e ainda bem. Pois, com a sua visão pessoal, a abundância de material para reflexão e a escrita cativante e harmoniosa a remeter para a simplicidade ideal, é mais um caminho do que um destino. E principalmente uma inspiração.
Título: Se Sentes, Não Hesites
Autor: Manuel Clemente
Origem: Recebido para crítica
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