1939. Um misterioso homem de fato vermelho chega a Nova Iorque em busca de Ben Koch, que não cumpriu um pacto. Que pacto é esse é um mistério, mas o forasteiro está disposto a esperar que Ben apareça... ou que os acontecimentos se precipitem. Pois Ben já teve vários nomes, uma relação delicada com o partido comunista e uma participação na Guerra Civil Espanhola. E, ao longo desse caminho, ganhou motivos para se querer vingar...
Há algo de estranhamente fascinante na forma como, partindo de um ambiente quase de história policial, este livro se projecta para algo de completamente diferente. O estranho misterioso insinua-se inicialmente como um inimigo, talvez um cobrador, mas a sua verdadeira natureza - revelada apenas no final - é verdadeiramente surpreendente. E quanto a Ben, todo o seu percurso é feito de surpresas, desde aquilo que o move aos objectivos que persegue, passando pelas sombras do passado - tanto as reveladas como as que ficam em aberto.
Também particularmente notável é o registo conferido à história, com monólogos interiores quase poéticos, discursos exaltados e um conjunto de acções vincadamente expressas na arte a coexistir num equilíbrio delicado. Há uma estranha poesia nas palavras, que contrasta não só com a brutalidade de certas circunstâncias, mas principalmente com os tons sombrios - evocativos de uma vida clandestina - rasgados pela enigmática presença do homem de vermelho.
Mas, olhando ainda uma vez mais para a história, há ainda uma outra faceta que importa destacar: a forma como temas mais amplos como a Guerra Civil Espanhola e as aspirações revolucionárias dos movimentos clandestinos servem de pano de fundo a uma história que é, acima de tudo, pessoal. Passado e presente giram em torno de Ben Koch, e o facto de haver um contexto mais vasto no seu percurso só contribui para tornar mais intensa a sua demanda de vingança. Bem como, claro, a derradeira e surpreendente revelação.
O que fica, uma vez terminada a leitura, é a imagem de um livro breve, mas ao mesmo tempo vastíssimo, com uma história pessoal, mas que abrange um cenário muito mais amplo, e uma sucessão de surpresas narradas com a intimidade de um percurso pessoal, mas, acima de tudo, com uma imagem que se destaca das sombras. Marcante em todos os aspectos, um livro que não posso deixar de recomendar.
Título: As Serpentes Cegas
Autores: Felipe Hernández Cava e Bartolomé Seguí
Origem: Recebido para crítica
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