O Império Galáctico perdura há milénios, mas alguém ousou finalmente prever-lhe o fim. E fê-lo recorrendo a avançados métodos científicos, além de apresentar um plano para reduzir ao mínimo o período de barbárie. Hari Seldon tem uma visão: construir uma Fundação dedicada a coligir todo o conhecimento do Império e a lidar com as sucessivas crises que virão, preparando o caminho para um Segundo Império Galáctico. Mas há quem veja as suas profecias como traição e o seu ambicioso plano pode muito bem ver-se reduzido a uma escolha entre morte e exílio.
Um dos aspectos mais surpreendentes deste livro é que, embora seja composto por cinco histórias maioritariamente independentes, abrangendo diferentes protagonistas, períodos e crises, há entre elas uma ligação tão sólida que é difícil não o ler como um romance. Mais do que qualquer personagem, a verdadeira protagonista parece ser a Fundação e, nesse sentido, é apenas natural que cada história, surgindo embora como um todo completo, pareça mais um capítulo de uma história maior. E, sendo certo que este registo faz com que fique uma sensação de curiosidade insatisfeita relativamente ao percurso individual das personagens - afinal, cada uma das crises justificaria um romance completo -, também o é que o essencial está bem presente e que esta fusão de histórias cria uma visão mais vasta do futuro enquanto entidade (relativamente) previsível.
Também surpreendente é a forma como os grandes acontecimentos são abordados: há julgamentos, conspirações, guerras inteiras a serem travadas. No entanto, muitos destes grandes momentos parecem decorrer em segundo plano. E se o primeiro aspecto a surpreender é precisamente a ausência destes grandes picos de acção, surpreende também a forma como esta ausência parece encaixar estranhamente no registo da narrativa. Não é preciso ver as coisas em primeira mão para saber que aconteceram: estão lá as personagens para as relatar. Além do mais, esta forma de contar as coisas tem ainda o condão de realçar a perspectiva global, mostrando planos e movimentos como meras jogadas numa espécie de xadrez cósmico.
Claro que, sendo este livro apenas o início, não é propriamente uma surpresa que fiquem muitas perguntas sem resposta. O mais interessante, porém, e que, tal como cada uma das histórias parece encerrar uma fase do todo mais amplo, também este livro parece terminar no ponto mais adequado, onde mais um ciclo se encerra, abrindo passagem a novas mudanças... e a novos protagonistas.
O que fica é, pois, esta intrigante impressão de uma aventura intergaláctica, que, mais que de combates e intrigas, se faz dos ciclos e movimentos do tempo - e das armas dadas aos homens para combater a mudança. Cativante, intrigante e surpreendente, uma boa leitura.
Título: Fundação
Autor: Isaac Asimov
Origem: Aquisição pessoal
Sem comentários:
Enviar um comentário