Após a misteriosa morte do seu tio-avô, um eminente professor, Francis Thurston dá por si na posse de uma vastidão de documentos contendo o conhecimento do seu antepassado. Destes, os mais sinistros dizem respeito a um misterioso culto, dedicado à adoração de uma terrível criatura. O grande Cthulhu, adormecido há séculos na sua tenebrosa cidade, aguarda as circunstâncias adequadas a que os seus fiéis o possam despertar. Então, caíra sobre o mundo espalhando horror e loucura. E, a julgar pelos documentos do falecido professor Angell, os fiéis estão bem vivos e dedicados à causa...
Sendo a narrativa do despertar de um monstro que se tornou já lendário e intemporal, talvez seja importante começar por falar do conto propriamente dito, embora seja o seu enquadramento em tudo o resto o que torna este livro tão deslumbrante. E o conto é notável em si mesmo, com o seu registo quase documental, de alguém que seguiu pistas e estudos passados para se deparar com uma descoberta tão fulgurante quanto aterradora. Não é Francis o verdadeiro protagonista, embora seja o narrador. O protagonista é Cthulhu, e a influência exercida sobre os protagonistas dos vários casos que dão forma a este conto. E este registo de alguém que colige informação, guardando-a para uma memória futura que, na verdade, não deseja alcançar, cria, ao mesmo tempo, a distância de uma suposta imparcialidade e um horror maior, pois escapa entre esta intenção de distância.
É, pois, em si uma história memorável. Mas este livro eleva-a a algo mais. As ilustrações são brilhantes, reflectindo na perfeição a aura de mistério do conto e a sensação de um horror palpável, mas misterioso e difícil de identificar que se sente ao longo de quase todo o enredo. Os tons escuros, com rasgos de fogo, fazem sobressair o mistério, bem como o negrume associado ao deus que serve de cerne a toda esta história. É que, enquanto divindade, Cthulhu não é propriamente o tipo de deus que promete algo de bom aos seus adoradores. É morte e loucura devoradoras - abertas a todos por igual.
E há ainda o formato propriamente dito: trata-se de um livro grande, o que faz com que seja possível contemplar as ilustrações com todo o pormenor. Além disso, o enquadramento do texto cria também um equilíbrio eficaz, pois surge como que cercado pelas imagens. É impossível ler e não ver, o que torna a leitura muito mais viva.
Belíssimo nas ilustrações, notável no novo equilíbrio que estas conferem ao texto e impressionante na intensidade que confere ao horror presente na história, trata-se, pois, de um livro deslumbrante em todos os aspectos. Uma esplêndida obra para começar a conhecer os contos de Lovecraft - e um livro imperdível para os que já são fãs.
Título: O Despertar de Cthulhu
Autores: H. P. Lovecraft e François Baranger
Origem: Recebido para crítica
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