Trinta e três dias após uma eleição que trouxe aos crentes novas esperanças, o Papa Mateus I é encontrado morto no seu quarto. Diz o Vaticano que de causas naturais, que foi encontrado com um livro nas mãos e com um sorriso nos lábios. Mas as incongruências não tardam a vir à tona e o que parecia uma explicação fácil torna-se numa certeza bem mais sombria: o Vaticano está a mentir. É este mesmo cenário que leva Diana Santos Silva a reatar o contacto com um misterioso pirata informático que parece ter informações vindas das mais altas instâncias. Só que Diana pode ser perspicaz em muitos aspectos, mas também comete erros. E eis que, mais uma vez, Afonso Catalão se vê arrastado para o meio de um cenário de crime e mistério. Mateus I não morreu de causas naturais e o enigmático Pedro parece ser quem tem as melhores informações. Informações de que Afonso precisa agora para limpar o seu nome...
Há algo de absurdamente irresistível no equilíbrio praticamente perfeito de surpresa e familiaridade que se sente ao começar a ler um novo livro deste autor. Surpresa porque cada novo enredo, cada nova reviravolta, nos leva por caminhos nunca imaginados, traçando teias de intrigas nos corredores do poder, conspirações pessoais e de âmbito global e deixando ainda espaço para os acasos, coincidências e ironias do destino. Familiaridade pelas personagens que estão já tão próximas (é impossível não sentir pelo menos um bocadinho face à irresistível inclinação do Afonso para se meter em sarilhos, mesmo sem saber), pelo impacto emocional dos momentos mais pessoais e pela forma como a história destas figuras se entrelaça num enredo de âmbito muito mais global. E, assim, há uma sensação que surge desde cedo e que nunca desaparece: a de regressar a um lugar onde já fomos felizes, mas onde há sempre novos e labirínticos caminhos para percorrer.
São tantas e tão poderosas as surpresas ao longo do percurso que é difícil abordar elementos específicos sem correr o risco de revelar demasiado, mas bastam as qualidades gerais para que a leitura valha a pena. A escrita directa, que enfatiza a acção e vai acrescentando a abundante informação de contexto ao ritmo que vai sendo necessária, torna o ritmo da leitura viciante, e o mesmo acontece com o misto de momentos de leveza, tensão, intriga e emoção. A mistura de novas personagens com outras já conhecidas, bem como a alternância entre diferentes percursos, aumenta a complexidade sem nunca perder a fluidez que tanto contribui para que seja extremamente difícil interromper a leitura. E os sentimentos fortes (positivos e negativos) gerados pelas diferentes personagens criam um vínculo emocional mais forte, não só pelo muito de marcante que contêm, mas pelas pequenas surpresas e referências pessoais espalhadas ao longo do texto.
E, claro, há um toquezinho discreto, mas que é particularmente agradável para quem já leu outros livros do autor - as referências passadas. Sendo a história totalmente independente, não deixam, ainda assim, de ser marcantes as referências a elementos do passado de Afonso. E não só, porque há umas quantas menções a um autor português de policiais (com quem uma das personagens parece não simpatizar lá muito) que transportam esta história para um mundo mais perto de nós. Afinal, é possível que conheçamos também este autor...
Com um equilíbrio notável entre intrigas globais e percursos pessoais e uma sucessão de surpresas e reviravoltas que nos conduz sempre a novas e impressionantes revelações, eis, pois, mais um livro que corresponde inteiramente às expectativas. Intenso e viciante, emotivo quanto baste e empolgante em todos os momentos, cativa desde as primeiras frases e fica na memória bem depois de atingido o muito impressionante fim. Se recomendo? Mas claro que recomendo. É imperdível.
Título: A Morte do Papa
Autor: Nuno Nepomuceno
Origem: Recebido para crítica
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