2041. O mundo sofreu uma massiva digitalização, o que significa que depende da tecnologia para tudo. E eis que, de repente, um bug inexplicável e catastrófico apaga completamente os dados de todo o planeta. O resultado é um recuo de décadas... e o caos. E é no meio deste caos que outro tipo de bug se manifesta. O grupo de astronautas enviado a Marte sofreu um ataque também inexplicável, do qual ficou um único sobrevivente. Kameron Obb está vivo quando todos os outros morreram, mas tem um alienígena infiltrado no corpo. E na mente... toda a informação que desapareceu do mundo.
No que toca a cenários catastróficos e suas consequências, dificilmente se poderia pedir uma história mais eficaz. O poder da tecnologia na vida das personagens e o caos resultante da sua retirada conseguem, além de proporcionar um cenário particularmente impressionante para esta história, gerar uma quase imediata reflexão sobre a dependência tecnologia - e as possíveis consequências de um desaparecimento fulminante. E, ao juntar a este bug tecnológico o mistério de uma entidade invasora e da transposição do conhecimento de um mundo inteiro para um único homem - tornando-o, assim, no mais cobiçado e ameaçado de todos -, o resultado é um cenário global tão complexo como fascinante.
Também particularmente poderoso é o equilíbrio entre a história - e o potencial, pois importa lembrar que este é apenas o primeiro volume - da catástrofe global e os percursos pessoais das diferentes personagens. Em menos de cem páginas, este primeiro livro explora as repercussões globais do caos em diferentes cidades, o impacto da ausência do protagonista na vida da família e as movimentações das diferentes potências mundiais. E, como se isso não bastasse, vai tecendo relações perigosas, que vão de uma obsessão quase macabra ao leve florescer do que pode vir a ser companheirismo... ou mais.
Há ainda um outro equilíbrio a salientar, este eminentemente visual. Sendo um livro grande, permite um olhar mais atento aos pormenores da arte e suas particularidades, da expressão de um olhar de choque à nitidez onírica e assustadora de um certo pesadelo, sem esquecer o aspecto geral sombrio e quase nublado que retrata na perfeição a ideia de um mundo em caos. E, claro, há o movimento e a forma como surge em rasgos quase explosivos, num contraste particularmente eficaz com a quase serenidade dos momentos mais estáticos e que reforça a urgência das circunstâncias dramáticas em que todo este mundo se encontra.
Sombrio nos tons, intenso na acção, complexo no cenário construído... e muito, muito viciante na trama que começa a tecer-se: assim é esta história de dois tipos diferentes de bugs e de um futuro menos digital do que o esperado. Uma história cheia de intensidade e de surpresas, e que deixa uma vontade enorme de ler o mais rápido possível o Livro 2.
Título: Bug - Livro 1
Autor: Enki Bilal
Origem: Recebido para crítica
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