segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Ilusão (ou o que quiserem), Luísa Costa Gomes

Jorge é um actor sem objectivos completamente definidos. Dobragens, anúncios, figuração... Todos os trabalhos que aparecerem são aceites. Teresa, a sua mulher, é professora e obcecada com a pedagogia. À medida que ambos se envolvem mais e mais nos seus projectos, contudo, a sua já estranha relação vai decaindo numa situação completamente diferente.
Este é um daqueles livros em que é bastante difícil expressar por palavras a opinião que deixa. Primeiro, a escrita da autora é fantástica, criando situações complexas sem que os leitores se percam. Apresenta-nos, além de uma história bastante peculiar, vários momentos de reflexão muito interessantes, que acabam por conduzir também o leitor à introspecção. E as circunstâncias da história, alternando entre o quotidiano e o surreal, deixam na mente do leitor uma memória que não é completamente clara, mas que não pode ser afastada.
Depois, os personagens. Desde as estranhas obsessões do casal protagonista, às pequenas peculiaridades como Deirdre, a esposa de Jorge no Second Life ou a estranha ligação entre membros de um grupo de teatro que não se entendem entre si, existe toda uma variedade de carácter e caracterização de personagens, criando um mundo complexo por dentro do mundo real.
Talvez não seja, às vezes, um livro fácil de ler. Existem alguns momentos em que, na mudança de capítulo, ficamos sem saber o que aconteceu exactamente, porque esses factos só nos são explicados mais à frente. A criatividade desta história, contudo, bem como a forma como a autora, partindo do teatro, cria uma verdadeira ligação da história à arte da representação (em público, como na vida privada), fazem deste Ilusão (ou o que quiserem) um livro que vale a pena ler. Gostei muito.

domingo, 29 de novembro de 2009

O Bobo (Christopher Moore)

Pocket é o bobo do rei Lear. Sim, o mesmo rei Lear da peça de Shakespeare. Porque afinal é essa a história que este livro conta. A história de Rei Lear contada da perspectiva do Bobo Negro. E, neste caso, a perspectiva do bobo muda completamente a visão da história.
O primeiro impacto que este livro causa, principalmente a quem (como eu) nunca tenha lido nada do autor, é uma certa estranheza. O autor não tem barreiras nem tabus naquilo que utiliza para fazer humor. Aliás, como ele próprio avisa no início, "esta história é indecente", na medida em que não se abstém de explorar os mais censurados temas para com eles fazer humor. E é porque o autor parte desde o início para um tom completamente surreal que, ao início, é difícil acompanhar e alcançar o conteúdo deste livro.
À medida que a história avança, contudo, e que o que nos pareciam ser simples tiradas de humor um pouco aleatórias começam a ganhar consistência alternando com alguns momentos mais sérios (mas não demasiado, entenda-se) e começando a enquadrar-se no teor da história de traições e conspirações tecidas em volta de Lear. Não se perde, em nada, o tom absurdo da história, mas, à medida que o humor se interliga mais concretamente com a história, tudo começa a fazer sentido e é então que o livro revela todo o seu potencial cómico.
Não é (nem por sombras) um livro para todos os leitores. Não pela linguagem, que é bastante acessível, por vezes até demasiado, mas pela forma como aborda alguns temas e pelo tipo de humor que apresenta. A imensidade de referências sexuais, algumas delas muito estranhas, e a recorrente tendência para o surreal em alguns momentos, afastarão certamente os leitores que estejam à espera de uma obra mais concreta e de mais conteúdo. Para quem procura um livro para divertir e, principalmente, sem tabus, com uma grande dose de absurdo, mas com alguns momentos extremamente bem concebidos, então este será um livro para apreciar.
Balanço final: gostei. Não será uma obra marcante, mas também não me parece que seja esse o objectivo. E, num livro que se pretende cómico, penso que os objectivos foram plenamente cumpridos. É uma óptima leitura para aliviar a tensão ou, simplesmente, para distrair por umas horas. Diverti-me bastante e fiquei com vontade de conhecer mais da obra deste autor.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

De Sol a Sonho - convite

A Guerra é para os Velhos (John Scalzi)

No dia em que completou setenta e cinco anos, John Perry fez duas coisas. Primeiro, visitou pela última vez o túmulo da mulher. Depois, alistou-se no exército. Não se trata, contudo, de um exército comum mas das Forças de Defesa Colonial que, numa guerra interplanetária, protegem os colonos dos ataques de raças alienígenas. E o que parece ser a promessa de uma nova juventude é, na verdade, uma longa batalha a travar.
Não estava a espera de gostar tanto deste livro, principalmente porque não sou particularmente apreciadora de ficção científica. Apesar disso, este foi um livro que me agarrou desde a primeira página. Cativante, com uma escrita elaborada mas acessível e sem perder, apesar de todos os elementos introduzidos, a sua ligação à componente humana.
A Guerra é para os Velhos apresenta todos os elementos que associamos naturalmente à ficção científica: naves espaciais, alienígenas, tecnologia avançada... E, ainda que inicialmente as partes mais explicativas (nomeadamente no que diz respeito à física), possam parecer um pouco confusas, este aspecto não dificulta a compreensão da história. A linguagem é, na verdade, muito clara e, à medida que acompanhamos o percurso de John Perry, e as ligações que estabelece, é-nos, afinal, muito fácil seguir a sua linha de pensamento, acompanhar as suas emoções e sentir, por momentos, o que seria estar numa situação semelhante, ao mesmo tempo que assimilamos, com facilidade, o mundo invulgar e surpreendente que esta história nos apresenta. E não esquecer os esporádicos momentos de humor dispersos pela história, excelentes, divertidos e uma boa forma de libertar a tensão que, inconscientemente, o enredo vai criando sobre o leitor.
Ainda uma nota muito positiva para a tradução de Luís Filipe Silva. Não tendo consultado o original (pelo que não conheço quais seriam as palavras que deram origem à tradução), há algumas opções de palavras que eu achei simplesmente deliciosas (nomeadamente os monhés e o Estupor) e que transmitem em pleno para a nossa língua a aura divertida dos momentos em que se encontram.
Concluindo: vale bem a pena ler este livro, mesmo para quem, como eu, não é particularmente apreciador do género. Quem sabe não muda opiniões? Depois deste livro, eu fiquei com vontade de explorar melhor o que a ficção científica tem para oferecer.

Convite

Planeta edita Reunião Sangrenta (4º volume das Crónicas Vampíricas de L. J. Smith)

Bonnie, a grande amiga de Elena, começa a vê-la em sonhos, a esta transmite-lhe uma mensagem aterradora: uma nova ameaça paira sobre Fell's Church... Elena precisa de Stefan para ajudá-la a combater o Mal. Mas ele não regressará sozinho: o seu irmão Damon virá com ele. São ambos capazes de esquecer a sua inimizade e colaborar para vencer este poderoso adversário? Mais do que isso, aceitarão a escolha de Elena?

Lisa Jane Smith, cujas obras são uma combinação do género paranormal, ficção científica, fantasia e romance, obteve o reconhecimento do público com a série Crónicas Vampíricas, cujo primeiro volume é Despertar.
Publicado nos anos de 1990 e convertido numa referência da literatura juvenil, retoma o clássico tema da luta entre Luz e Sombra, dos seus adorados C.S. Lewis e J.R.R.Tolkien.
Segundo palavras da autora, "queria escrever livros como os deles, onde o Bem enfrenta o Mal e vence. Queria ser Frodo, morto de medo em Mordor, consciente de que o Mal que enfrenta é muito maior e mais poderoso do que ele, e ainda assim é capaz de reunir a coragem necessária para tentar e chegar a ser um herói. Queria transmitir aos jovens que não devem renunciar à esperança."

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Prazer da Noite (Sherrilyn Kenyon)

Kyrian da Trácia, é um Predador da Noite, uma espécie de vampiro que caça as criaturas que, durante a noite, ameaçam a vida e a alma dos humanos. Durante mais de 2000 anos viveu nas sombras, perdido no silêncio da sua missão, incapaz de conhecer o amor devido às marcas de um passado de tormento. Quando conhece Amanda Devereaux, contudo, os seus sentimentos e a sua forma de vida vão seguir um rumo completamente diferente, principalmente a partir do momento em que descobre que é atrás de Amanda que Desiderius, o seu inimigo, anda.
Neste segundo livro da série Predador da Noite, Sherrilyn Kenyon revela-nos a verdadeira dimensão da sua imaginação, um mundo que apenas começamos a vislumbrar no volume anterior. E, com uma escrita simples e acessível, mas com um ritmo completamente viciante, e um sentido de humor fantástico, a autora apresenta-nos um livro simplesmente irresistível para os fãs do romance paranormal.
Os pontos altos deste livro, como já o eram no volume anterior, são a profunda ligação emocional que se estabelece com os protagonistas, a forma como a autora quase nos empurra para dentro da história e nos faz sentir as sombras e a dor milenares traçadas no passado dos seus heróis e a forma como intercala momentos profundamente comoventes com situações divertidas.
Trata-se de um livro com propensão para o romance, pelo que, como tende a acontecer nestes livros, há um ou outro momento em que a relação entre Amanda e Kyrian parece ser um pouco forçada no sentido sexual. À parte esse aspecto, Prazer da Noite é um livro delicioso que, apesar da sua simplicidade, consegue entranhar-se na mente do leitor, principalmente dos mais sensíveis à dor e às sombras do passado.
Para mim, Kyrian da Trácia entrou directamente para a minha lista de personagens preferidos. E ainda que este Prazer da Noite possa não ser, em termos estritamente literários, uma obra prima, é, sem dúvida, um excelente livro para descontrair e para esquecer as nossas próprias sombras. Gostei muito.

Novos livros da colecção Oficina dos Sonhos (Porto Editora)

Chegam às livrarias os mais recentes títulos da colecção Oficina dos Sonhos, da Porto Editora: O Cavalinho de Pau do Menino Jesus e outros contos de Natal, de Manuel António Pina, e Contos e Lendas de Portugal e do Mundo, de selecção, adaptação e reconto de João Pedro Mésseder e Isabel Ramalhete, prometem momentos mágicos de leitura no Natal que se aproxima.

Manuel António Pina – um dos melhores poetas portugueses contemporâneos, cronista e voz da nossa literatura infantil – propõe-nos O Cavalinho de Pau do Menino Jesus e outros contos de Natal, um novo livro para crianças, constituído por três contos de temática natalícia. Como sempre acontece na escrita deste autor, a inventividade narrativa, a ironia e o humor, sem deixarem de recorrer à matriz bíblica, jogam com os mitos, desconstroem-nos e humanizam-nos sem rasurarem a magia que lhes é própria. E, assim, propõe aos mais novos e ao público adulto histórias que interpelam, fazem pensar e – não menos importante – emocionam. As ilustrações de Inês do Carmo constituem o complemento ideal destas breves ficções.

Num registo diferente, as histórias tradicionais dão a conhecer, quase sempre, não só a unidade que existe no ser humano mas também a diversidade neste mundo onde vivemos. Contos e Lendas de Portugal e do Mundo pretende levantar um pouco o véu que cobre esta riqueza humana e literária e por isso dá a ler aos mais novos, com surpreendentes ilustrações de Fátima Afonso, uma mão-cheia de contos e lendas tradicionais do nosso país e de outras regiões do Mundo – Angola, Moçambique, Timor, Espanha, França, Alemanha –, a que se juntam histórias do povo cigano e até do mundo árabe. Histórias de encantar e outras para fazer rir, para emocionar e transmitir ensinamentos, seleccionadas e recontadas por João Pedro Mésseder e Isabel Ramalhete.

Fonte: Porto Editora

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Saber Emagrecer (Prof.ª Isabel do Carmo)

Este não é exactamente o tipo de leitura que me costuma atrair, mas, uma vez que o tinha na pilha de livros e tenho alguma curiosidade acerca do que rege uma vida saudável, decidi pegar neste pequeno livro.
Trata-se de um livro bastante completo, falando de tudo um pouco, desde os tipos de dieta, ao exercício físico, e chegando a dar algumas dicas para disciplinar o apetite rebelde. Complementa também esta informação com alguns dados científicos e estatísticos, com uma explicação simples e clara dos mecanismos fisiológicos e com o apagar de velhos mitos acerca do que interfere ou não com o regime de alimentação adequado a cada um.
Abordando de forma simples e precisa os principais aspectos do que tende a ser cada vez mais um problema da sociedade actual - a obesidade - este é um guia que pode ser bastante útil, não só a quem procura perder alguns quilos, mas também para quem procura transformar a sua alimentação num regime mais saudável.

Exposição e livro sobre Luiz Pacheco

As Publicações Dom Quixote inauguram, quinta-feira, dia 26, às 17h30, na Galeria da Biblioteca Nacional, de quem partiu a iniciativa destra mostra, uma exposição dedicada ao escritor Luiz Pacheco, falecido a 5 de Janeiro de 2008. Essa exposição passará para o papel em forma de um catálogo, que reunirá, pela primeira vez, quase todo o material impresso de Pacheco, enquanto autor e editor, e que chegará às livrarias, numa edição da Dom Quixote, no dia 7 de Dezembro. Tratam-se, na verdade, de dois livros num só volume e que terão os seguintes títulos: Luiz Pacheco -1925-2008 - Um Homem Dividido Vale Por Dois e Contraponto-Bibliografia. Com esta obra, o leitor terá acesso a um conjunto de textos inéditos do autor e, também, a várias trocas de correspondência nunca antes publicadas. Depoimentos e testemunhos, entre eles, o de Mário Soares, para além de todo o catálogo da Contraponto, editora fundada pelo próprio Luiz Pacheco, estão também reunidos nesta colectânea.
Recorde-se que a Dom Quixote editou, em 2005, organizado por João Pedro George, o diário de Luiz Pacheco, com o título Diário Remendado, por muitos considerado um trabalho sem precedentes na literatura portuguesa.

Luiz José Machado Gomes Guerreiro Pacheco nasceu em Lisboa a 7 de Maio de 1925. Frequentou o Liceu Camões e a Faculdade de Letras de Lisboa, nunca tendo concluído o curso de Filologia Românica. De 1946 a 1959 foi funcionário da Inspecção dos Espectáculos. Da sua extensa e irregular colaboração em jornais e revistas, iniciada em O Globo e em Afinidades, figuram títulos como Seara Nova, Norte Desportivo, Jornal de Notícias, Diário Ilustrado, Jornal de Letras e Artes, Notícia, Diário Popular, Diário Económico e Público, entre outros. Em 1946 publicou História Antiga e Conhecida, posteriormente levada ao teatro por Mário Cesariny com o título Um Auto Para Jerusalém. Em 1950 criou a Contraponto, a editora de Cadernos de Crítica e Arte e de escritores portugueses como Mário Cesariny de Vasconcelos, António Maria Lisboa, Manuel de Lima, Carlos Wallenstein, Vergílio Ferreira, Herberto Helder e Natália Correia.
Nos últimos anos foram publicados Memorando, Mirabolando (1995), Cartas na Mesa (correspondência, 1996), O Uivo do Coiote (livro de entrevistas, 1996), Prazo de Validade (crónicas do Público, 1998), Isto de Estar Vivo (crónicas do Diário Económico, 2000), Uma Admirável Droga (2001), Mano Forte (correspondência com António José Forte. 2002), Raio de Luar (2003), Figuras, Figurantes e Figurões (2004) e Diário Remendado (2005).

Fonte: Dom Quixote

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Convite - Canta o Galo Gordo

O Homem que Não Tira o Palito da Boca - Convite

O Tempo do Anjo (Anne Rice)

Toby O'Dare é um assassino contratado. Tudo o que sabe sobre aqueles para quem trabalha é o que a sua imaginação quis aceitar: que estão do lado dos bons. Quando, contudo, no final de uma missão, a sua mente ameaça explodir e tende perigosamente para o suicídio, Toby é visitado por um serafim. Malquias, o anjo, precisa dos conhecimentos e da inteligência do assassino para cumprir o trabalho de Deus, trabalho esse que passa por um recuo no tempo e por um salvamento arriscado. Será Toby capaz de cumprir o que lhe é pedido e alcançar a sua redenção?
Anne Rice é, para mim, um nome incontornável. E neste livro, ainda que siga um rumo bem diferente das suas sobejamente conhecidas Crónicas Vampíricas, a beleza da sua escrita está bem presente. O rumo que a história toma, contudo, é bastante diferente do habitual. Em O Tempo do Anjo, a história oscila entre momentos de acção extremamente envolventes, alguns instantes mais emocionais e alguma dissertação sobre os aspectos religiosos envolvidos na história. Será talvez este último elemento a afastar alguns leitores, devido ao tom espiritual que a história adquire nalguns momentos.
Não pretendo com isto dizer que o livro seja mau. Muito pelo contrário. Conotações religiosas à parte, temos uma personagem complexa, ainda que não chegue ao nível dos mais famosos Lestat e Louis, uma história profunda e um passado atormentado, tudo elementos capazes de levar o leitor a ligar-se à história que tem em mãos. Além disso, a forma como o enredo é descrito chama o leitor, principalmente a partir do momento em que a história recua até à época medieval, altura em que a forma como a autora transmite a tensão dos momentos torna a leitura simplesmente irresistível.
Aspectos menos bons... A já referida espiritualidade que poderá parecer excessiva ao leitor meno interessado no tema, e a forma quase distante como nos é contado, pela voz de Malquias, o passado do protagonista. Toby teve um período de crescimento terrível, mas, através da voz do serafim, a impressão que é deixada é que há uma estranha distância do aspecto emocional desse passado.
Concluindo: não tendo a complexa profundidade das Crónicas Vampíricas, este é, ainda assim, um livro que vale a pena ler. A escrita de Rice continua cativante e bela e, ainda que alguns aspectos tenham ficado pouco explorados, o resultado final é claramente positivo. Por aqui, fico à espera de ler mais destes Cânticos do Serafim.

Se Fosse um Intervalo - Convite

sábado, 21 de novembro de 2009

A Canção do Dragão (Anne McCaffrey)

Este é o livro que dá início a uma nova trilogia no mundo de Pern. Aqui, conhecemos a história de Menolly, uma rapariga nascida no Domínio do Mar e que, contrariamente ao habitual, tem uma aptidão musical acima da média. O senhor do domínio, contudo, acha que os dotes da sua filha são uma vergonha e tenta afastá-la de todas as possibilidades de avançar na música. Até que um dia Menolly decide partir, encontrando no mundo exterior, sob a forma de uma ninhada de lagartos de fogo, o primeiro passo em direcção ao futuro.
A escrita de Anne McCaffrey dispensa apresentações. No seu estilo claro e acessível, tem o dom de nos transportar directamente para o interior da sua história. E se este livro, por se centrar mais na história de Menolly, perde, em parte, a dimensão quase épica dos volumes anteriores, não deixa por isso de ser uma obra cativante. Menolly é uma personagem corajosa e lutadora, mas, ao mesmo tempo, as suas inseguranças dão-lhe uma inocência terna e, nesse ponto, é possível estabelecer com a protagonista uma ligação. Além disso, e tendo em conta que a acção deste livro se situa num ponto anterior ao final da trilogia anterior, temos a possibilidade de ver, de um ponto de vista diferente, alguns dos acontecimentos que marcaram, por exemplo, a história do livro O Dragão Branco.
Bastante mais breve que os anteriores (cerca de 200 páginas), este livro não perde por essa redução de tamanho, uma vez que tudo o que é necessário está presente e nada que não faça falta foi introduzido. Assim, A Canção do Dragão é um livro que se lê quase compulsivamente da primeira à última página. E pode não ser o melhor que já vimos no mundo de Pern (o meu preferido continua a ser A Demanda do Dragão), mas não deixa de ser muito bom.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Lançamento de "Vamos Cantar os Clássicos"

Catarina Molder e Danuta Wojciechowska estarão na Fábrica das Artes no Centro Cultural de Belém, amanhã, dia 21 de Novembro (sábado), às 15.30 horas, para apresentar o livro/CD, editado pela Caminho, Vamos Cantar os Clássicos.
Para todos cantarem os clássicos, Catarina Molder e Francisco Sassetti interpretarão algumas das canções do CD.
Sobre o livro/CD Vamos Cantar os Clássicos
Canções de grandes compositores eruditos como Schubert, Schumann, Brahms, Mahler, Fauré, Poulenc, mas também canções portuguesas de Fernando Lopes-Graça, Alexandre Delgado ou Eurico Carrapatoso, canções brasileiras e o musical americano com sabor a jazz para maravilharem e entrarem no repertório dos pequenos de todas as idades. Ao som das canções, ficam também as suas histórias, os seus segredos e os seus compositores. Algumas canções já com mais de duzentos anos, mas que parecem acabadinhas de compor, outras mais recentes – mas todas cantadas em português.
Grande música para grandes ouvintes e pequenos cantores.

Fonte: Caminho

Paraíso Inabitado (Ana María Matute)

"Nasci quando os meus pais já não se amavam." É assim que começa a história de Adriana, uma criança que se sente deslocada no mundo real e que, por isso, divaga para as suas próprias fantasias numa tentativa de encontrar o seu lugar. A fantasia, contudo, depressa lhe conquista alguns problemas, passando a ser vista por muitos como uma menina "má". Mas tudo o que Adri procura, na verdade, é a essência da sua própria identidade, ainda que nem tudo sejam rosas no seu mundo.
Terno e inocente, mas ao mesmo tempo complexo e profundo, este livro mostra, em toda a sua glória, a arte da Ana María Matute. Sem renunciar à complexidade e à beleza da sua escrita, às reflexões muitas vezes necessárias, a autora dá-nos o ponto de vista ingénuo e, por vezes, distorcido da criança que era Adriana. E, numa viagem pelas memórias, pelas ligações emocionais que a criança estabeleceu, pela efémera magia do seu mundo... e também pela tragédia que sempre se esconde atrás dos sonhos, Paraíso Inabitado apresenta-nos um mundo muito pessoal, que estabelece desde cedo uma ligação emocional com o leitor, através das esperanças e desilusões da pequena protagonista.
O aspecto mais bem conseguido desta obra não poderá deixar de ser o equilíbrio que a autora estabelece entre narrativa, descrição e também poesia. Porque a forma como Adriana (e com ela o leitor) divaga entre o sonho e a realidade nunca deixa de ter algo de poético e de mágico, mesmo quando tudo parece estar esquecido no passado.
Fácil de ler e envolvente na história que nos transmite, este é um livro de imensa profundidade. E a sua história emotiva, a sua escrita soberba e a beleza quase inefável das suas personagens tornam Paraíso Inabitado numa leitura inesquecível. Muito bom.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Sugestões de Natal da Editorial Presença

Planeta edita "O Crepúsculo de Avalon", de Anna Elliott

Ela é uma sacerdotisa, uma contadora de histórias, uma guerreira e uma rainha sem trono. Nas sombras da Bretanha do rei Artur, uma mulher conhece a verdade que poderia salvar um reino das mãos de um tirano...
Ressentimentos antigos, velhas feridas, e a busca pelo poder imperam na corte da rainha recém-viúva Isolda. Mal passou uma geração após a queda de Camelot, e Isolda chora o seu marido morto, o rei Constantino, um homem que ela sabe em segredo ter sido assassinado pelo perverso lorde Marche - o homem que acabou de assumir o título de Rei Supremo. Embora as suas aptidções enquanto curandeira sejam reconhecidas por todo o reino, no seguimento da morte de Constantino surgem acusações de feitiçaria e bruxaria.
Um dos poucos aliados de Isolda é Tristão, um prisioneiro com um passado solitário e conturbado. Nem saxão nem bretão, Tristão não é atingido pelos esquemas políticos, rumores e acusações que rodeiam a bela rainha. Juntos escapam, e enquanto o seu companheirismo muda de amizade para amor, têm de encontrar uma maneira de provar o que sabem ser a verdade - que as manobras de Marche ameaçam não só as suas vidas mas a soberania do reino britânico.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Contos / Poemas Escolhidos (Fernando Pinto do Amaral)

Memórias do passado e reflexos do presente. São estas as imagens que as duas componentes deste pequeno livro nos transmitem, através da sua escrita fluída e acessível, mas mágica na sua harmonia.
Os poemas que fazem parte desta selecção, retirados de diversos livros, reflectem essa diversidade na forma como as diferentes temáticas são abordadas. Alguns dos poemas adquirem um tom mais lírico, enquanto que outros parecem ser uma pequena narrativa em verso e outros a descrição poética de um qualquer ambiente. E esta selecção tão diversa contém, pois, poemas capazes de agradar aos diferentes leitores, quer pela harmonia das suas descrições, quer pelo pendor emocional de outros poemas, quer até pela sua variação na estrutura.
É, ainda assim, nos contos que se nota o melhor da escrita de Fernando Pinto do Amaral. Os temas são diversos, desde as relações amorosas, às imagens incompreensíveis e ao temor ante um futuro inevitável. A escrita é envolvente, emotiva, e os sentimentos estão em equilíbrio com o ritmo da narração.
Não direi que este se tornou um dos meus livros preferidos, em parte porque alguns dos temas abordados não me chamaram a atenção. Não deixa, contudo, de ser uma obra de qualidade inegável, com alguns contos muito interessantes (recomendo em particular "A Última Noite do Mundo"). Não será um livro que cative todos os seus leitores. Ainda assim, a beleza da sua escrita faz com que a leitura valha a pena.

Planeta edita "O Mapa do Tempo", de Félix J. Palma

Londres, 1896. Inúmeros inventos convencem o homem de que a ciência é capaz de conseguir o impossível, como o demonstra o aparecimento da empresa Viagens Temporais Murray, que abre as suas portas disposta a tornar realidade o sonho mais cobiçado da humanidade: viajar no tempo, um anseio que o escritor H. G. Wells tinha despertado um ano antes com o seu romance A Máquina do Tempo.
De repente, o homem do século XIX tem a possibilidade de viajar até ao ano 2000, e é o que faz Claire haggerty, que vive uma história de amor através do tempo com um homem do futuro. Mas nem todos querem ver o amanhã. Andrew Harrington pretende viajar até ao passado, a 1888, para salvar a sua amada de Jack, o estripador. E o próprio H. G. Wells entrentará os riscos das viagens temporais quando um misterioso viajante chegar à sua época com a intenção de assassiná-lo e roubar-lhe a autoria de um romance, obrigando-o a empreender uma desesperada fuga através dos séculos. Mas que acontece se alterarmos o passado? É possível reescrever a História?
Em O Mapa do Tempo, Premio Ateneo de Sevilla, Félix J. Palma tece uma fantasia histórica tão imaginativa como trepidante, uma história cheia de amor e aventuras que presta homenagem aos começos da ficção científica e transporta o leitor até à Londres vitoriana, na sua própria viagem no tempo.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Antagonista edita "Odinismo e Cristianismo no Terceiro Reich"

"O Partido defende o ponto de vista de um cristianismo positivo”(Ponto 24 do programa do NSDAP).

Há mais de cinquenta anos a esta parte, muitos quiseram ver no nacional-socialismo uma manifestação do paganismo dos antigos Germanos. Ora, é um facto que os adeptos do paganismo, partidários de uma fé orgânica, tolerante e aberta, foram perseguidos no regime hitleriano, que, em contrapartida, se apoiava em poderosas forças cristãs. É esta atitude complexa do regime nazi face, por um lado, ao paganismo e, por outro, às Igrejas cristãs que esta obra pretende explorar. Com este documento abordamos e esclarecemos um ponto importante da História, talvez não numa abordagem definitiva, iniciando um debate enriquecedor.

Antigo combatente da Legião Estrangeira francesa, posteriormente funcionário da alta administração britânica, John Yeowell, foi uma das figuras mestras da renovação contemporânea da Tradição nórdica. Em 1973, fundou a Odinist for the Restoration of the Odinic Rite que se tornará, em 1982, na Odinic Rite propriamente dita, um dos principais grupos do ressurgimento espiritual nórdico no mundo.

Além da obra integral de Yeowell, este volume contém ainda contributos de Alain de Benoist, Henri Lichtenberger e Detlev Baumann.

Preço: 8€
Formato: 20/13
Páginas: 74

Fonte: Antagonista editora

Ynari dá origem a peça musical

Estória de mil gotas de sonho para ensemble e contador
Adaptação de Ynari, a Menina das Cinco Tranças

O livro Ynari, a Menina das Cinco Tranças, com texto de Ondjaki e ilustrações de Danuta Wojciechowska (Editorial Caminho), deu origem a peça musical de Jean-François Lézé, apresentada pela Academia de Música de Viana do Castelo.
O espectáculo Estória de mil gotas de sonho para ensemble e contador tem estreia marcada para amanhã, com a presença de Ondjaki, em duas sessões que se realizam às 15.30 e 18.00 horas, no Teatro Municipal Sá de Miranda, em Viana do Castelo.

Música: Jean-François Lézé
Daniel Martinho: contador
Javier Viceiro, direcção musical

Espectáculos
– Teatro Municipal Sá de Miranda – Viana do Castelo
18 Novembro – 15.30h e 18.00 horas
Encontro Pós-Concerto com Ondjaki e Jean-François Lézé
(Espectáculo destinado a escolas)
– Teatro Diogo Bernardes – Ponte de Lima
24 de Novembro – 14.30 horas
– Auditório do Centro Cultural de Paredes de Coura
26 de Novembro – 14.30 horas

Fonte: Caminho

A Sacerdotisa dos Penhascos - novo livro de Sandra Carvalho a 3 de Dezembro

Saga das Pedras Mágicas - A Sacerdotisa dos Penhascos
Sandra Carvalho
Páginas: 416
Colecção: Via Láctea Nº 80
PREÇO COM IVA: 17,50€
Data de Publicação: 3 de Dezembro 2009
Os Guardiães das Lágrimas do Sol e da Lua vivem finalmente em plena união. Dos seus amores nasceram Halvard e Kelda, os gémeos sobre quem pairam profecias grandiosas e temíveis. Halvard está nas mãos de Sigarr, o Mestre da Arte Obscura, que espera treiná-lo para ser o Guardião do Conhecimento Absoluto, e usar o imenso poder deste em seu proveito. Kelda, no topo da mais alta fraga da Ilha dos Penhascos, entrega o seu corpo dorido e o espírito destroçado à violência da tempestade, enquanto as palavras da sua melhor amiga Oriana lhe ressoam aos ouvidos qual maldição: «Hás-de acabar sozinha e devorada pelo mal como o teu irmão!» Como poderá lutar contra as forças negras do destino, se todos aqueles que ama lhe viram as costas? Será capaz de provar que os pais estavam enganados acerca da sua índole perversa? E resgatar Halvard do jugo dos Feiticeiros, cumprir os desígnios da Pedra do Tempo e salvar a sua própria alma? Ou estará condenada a ceder ao apelo da Arte Obscura que pulsa no seu sangue e a tombar no abismo?

Sandra Carvalho é uma jovem descendente de pescadores nascida «numa rua antiga virada para o mar». Tem vindo a afirmar-se como uma das escritoras de maior sucesso na literatura fantástica portuguesa. A sua Saga das Pedras Mágicas, publicada pela Presença, desperta um interesse crescente e entusiástico entre os apreciadores do género e os seus inúmeros fãs. Até ao momento saíram já A Última Feiticeira, O Guerreiro Lobo, Lágrimas do Sol e da Lua, O Círculo do Medo e Os Três Reinos. A Sacerdotisa dos Penhascos é o novo e muito aguardado volume que dá continuação à Saga.

Aliança das Trevas (Anne Bishop)

Theran Grayhaven é o último descendente de Jared e Lia. Dois anos depois da onda de poder que destruiu os Sangue corruptos, Dena Nehele precisa de uma rainha e, para isso, Theran pede um favor a Daemon Sadi. O que ele não sabe é que, quando Sadi interfere, toda a família SaDiablo fica interessado no assunto. E Theran vai ter muito de que prestar contas quando Sadi e Jaenelle apresentam Cassidy como rainha para a Corte de Dena Nehele.
Este é, provavelmente, um dos livros melhor concebidos da minha autora preferida. O mundo das Jóias Negras é todo um universo de escuridão e sensualidade, mas também de nobreza, amor, fidelidade e, acima de tudo, amizade (familiar e não só). Com a escrita acessível, mas requintada e sensual a que Anne Bishop já nos habituou, a autora apresenta-nos uma das suas melhores histórias, quase ao nível da trilogia das Jóias Negras. Neste livro, os momentos comoventes, a forma como a história se desenvolve, profundamente emocional, mas ao mesmo tempo sensual, complexa e envolvente e as personagens que tão bem conhecemos reveladas nos seus mais profundos segredos fazem deste livro uma obra imperdível.
Pontos altos desta obra (como de quase todos os livros da autora) continuam a ser a relação de Saetan SaDiablo com os seus dois filhos. Neste livro, ficamos a saber muito mais sobre eles, principalmente sobre Daemon e Saetan, e existem ao longo do livro vários momentos capazes de levar às lágrimas o leitor mais sensível. É, pois, um livro que cria ligações com os seus leitores e, para quem segue a obra da autora desde o início, é um belo regresso ao universo que tão bem conhecemos.
É sempre um prazer ler uma nova obra de Anne Bishop. E se os livros menos bem conseguidos da autora não deixam de ser muito bons, então este é, para mim, uma das suas melhores criações. Aliança das Trevas tornou-se, sem dúvida, um dos meus livros preferidos, e não posso deixar de recomendar. Muito, muito bom.

Convite - Vamos Cantar os Clássicos

Histórias de Canções - Chico Buarque, de Wagner Homem chega às livrarias a 30 de Novembro

Histórias de Canções, como o próprio nome o indica, fala-nos das circunstâncias em que foram compostas e trabalhadas as músicas do compositor brasileiro. Trata-se, no fundo, de uma compilação de episódios, uns alegres e divertidos outros nem tanto, que, por assim dizer, escancaram a intimidade do popular cantor durante o seu processo criativo. Através deles, o leitor poderá ficar a conhecer quem foi a musa inspiradora de canções como Beatriz, Carolina ou Cecília. As letras das músicas e a correspondência trocada, entre outros, com Vinicius de Morais, durante o período em que ambos trabalharam juntos na célebre música Valsinha, também constam deste volume. No total, são 26 capítulos que abragem o período compreendido entre 1964 e 2008.
Sobre o autor
Wagner Homem conheceu Chico Buarque em 1989, quando com ele colaborou no livro Chico Buarque Letra e Música, editado pela Companhia das Letras, e tornou-se, recentemente, o responsável pelo site oficial do compositor - www.chicobuarque.com.br.
A ideia de escrever um livro sobre os bastidores da criação buarquiana nasceu de inúmeros pedidos dos fãs do artista, ávidos por conhecer as histórias por detrás das músicas.
Wagner Homem nasceu em Catanduva, São Paulo, em 1951. Segundo o próprio, é "deformado" em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Além do site de Chico Buarque, fez também o da cantora Maria Bethânia e do escritor Mario Prata.

Fonte: Dom Quixote

Sonho sem Fim - convite

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Sabores de África: uma novidade Porto Editora

Sabores de África é uma obra com receitas que misturam as culturas africanas e a portuguesa. É um livro de sabores lusófonos, com assinatura de Conceição Santos.
A apresentação tem lugar em Lisboa, no El Corte Inglés, a 2 de Dezembro, às 19:00.

Em 128 páginas coloridas, as receitas dividem-se por cinco países: Cabo Verde, Guiné-Bissau, S. Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique. Em relação a cada um deles são apresentados os principais pratos, agrupados em: Entradas, sopas e acompanhamentos, Peixes e mariscos, Carnes e, por fim, Doces. São dezenas de receitas altamente convidativas: do Arroz pintado ao Inhame frito, passando pela Moqueca de galinha e pela Cachupa de peixe, e terminando no Diongo de banana.
Por ter vivido em África, a autora ficou a amar «os cheiros, as cores, as gentes» – aspectos culturais, que, ao contrário dos paladares, não são fáceis de transmitir. «Essa é a razão da existência deste livro», assinala Conceição Santos.
Sabores de África apresenta-se como uma obra apetitosa e irresistível, na qual, de país para país,
os ingredientes e a forma de confecção variam, ainda que sempre sem perder o inconfundível toque africano.

Conceição Santos nasceu em 1953, em Cristelo Covo, Valença, mas cresceu em Lisboa. Quando casou mudou-se para Angola, onde trabalhou como professora primária numa pequena vila chamada Matala. Mais tarde regressou a Portugal e encontra-se radicada no Alentejo.

Um Bom Escritor é um Escritor Morto - convite

O Canto do Galo - convite



Morrer é só não ser visto - convite

O Elefante Diferente - convite

Convite

domingo, 15 de novembro de 2009

Coração Débil (Fiódor Dostoiévski)

Vássia Chumkov é um jovem que se deixa dominar demasiado pelas suas emoções. Quando anuncia ao seu amigo Arkadíi o seu iminente casamento, não sabe que está a dar o seu primeiro passo em direcção à loucura e à ruína de todos os seus planos. E tudo porque o seu coração é frágil, e a sua mente é vulnerável aos medos inspirados pelo seu perturbado estado emocional.
Este pequeno livro é uma bela história sobre a natureza humana. O que começa como um momento feliz cedo desce ao ambiente obscuro e perturbado que o autor nos habituou a esperar dos seus protagonistas. O constante tom emocional, numa história que nos falha de expectativas e gratidão e do que a excessiva preocupação com o que ainda não aconteceu pode perturbar até o mais feliz dos mortais, tornam este Coração Débil numa pequena preciosidade. Junte-se-lhe a escrita magistral de Dostoiévski, já em plena mestria nesta que é uma das suas primeiras obras e temos um livro fascinante.
Sendo tão pequeno, este é um livro que não mergulha tão profundamente nas perturbações da mente como as mais conhecidas obras do autor. Ainda assim, a sua visão do mundo está bem presente neste livro e, nas poucas páginas que o constitui, é clara a capacidade de perturbar o leitor. E é principalmente por este elemento, de uma história que se entranha quase involuntariamente na sua pequena maravilha, que não posso deixar de recomendar esta obra. Excelente

Curar (David Servan-Schreiber)

Devo dizer, antes de mais nada, que este não é um dos habituais livros de auto-ajuda. Apesar do título completo "Curar o stress, a ansiedade e a depressão sem medicamentos nem psicanálise" quase sugerir que todas as soluções se podem encontrar aqui, este livro segue um sistema algo diferente do habitual.
Escrito por um psiquiatra, esta é uma obra que se centra, em grande parte, nos conceitos médicos e nas experiências e casos clínicos que passaram pela experiência do autor ou de outros médicos cujos estudos teve oportunidade de conhecer. Ainda assim, e apesar de, nos primeiros capítulos, a imensidade dos termos médicos e científicos se revelar como um pouco confusa, quando o autor passa das novas técnicas médicas para elementos como a alimentação, o exercício físico e até as relações pessoais, o livro toma um rumo diferente e a verdade é que, independentemente de termos ou não um problema, este é um livro que tem muito para ensinar.
Por último, e a ter em conta, este livro apresenta uma exaustiva lista das fontes em que se baseou, revelando-se, portanto, cientificamente, assim como clinicamente apresentado, o que faz com que Curar seja mais que um manual de auto-ajuda ou uma tese sobre a psicologia e a inteligência emocional, mas a mistura mais eficaz de ambos.

sábado, 14 de novembro de 2009

Um Leão Chamado Christian (Anthony Bourke e John Rendall)

Esta é a história de Christian, um leão nascido em Inglaterra, criado por dois australiano e que regressou à vida selvagem no Quénia. E, contada pela voz dos seus proprietários, é inevitável que esta seja uma história comovente.
Desde a algo insólita situação de uma cria de leão numa pequena jaula num grande armazém comercial, ao seus primeiros meses de vida e de afecto numa loja curiosamente chamada Sophistocat e até às necessárias despedidas quando, à medida que Christian se aproxima da idade adulta, os seus proprietários vêem surgir a possibilidade de devolver o seu leão ao meio natural, este é todo ele um livro terno e comovente. Sabemos que estamos a falar do rei da selva, de um animal de uma força portentosa, mas não podemos deixar de sorrir ante as ternas peripécias do pequeno leão na sua relação com John e Ace.
Além disso, Um Leão Chamado Christian tem também muito que ensinar, tanto acerca do comportamento dos grandes felinos, como dos projectos criados e desenvolvidos para os proteger, para os devolver à liberdade e ao meio onde pertencem. E quem viu o vídeo no YouTube entende que um animal também cria relações afectivas, mas que, ainda assim, precisa do seu próprio meio para se desenvolver em pleno.
É, pois, um livro que é essencialmente uma história tocante, mas também com muito a ensinar. E é por isso que é impossível deixar de recomendar este livro aos amantes dos animais.

Novidades Fronteira do Caos para Novembro

Título: Papel a Mais
Subtítulo: Papéis de um livreiro com inéditos de escritores
Autor: Resendes Ventura
Editora: Esfera do Caos Editores
Colecção: Esfera das Letras (5)
Número de páginas: 312
PVP: 22,40 euros

Sinopse
Este livro oferece-nos, simultaneamente, ensaio e literatura.
Ensaio, porque o livreiro Manuel Medeiros decidiu dizer o que pensa acerca da situação actual do mercado do livro, sem deixar de falar das políticas de incentivo à leitura e dos diversos agentes que fazem desta actividade um negócio e ou uma paixão. A sua experiência de largas dezenas de anos ― convivendo com autores, editores e distribuidores ― é assim posta ao serviço de uma reflexão que ao correr da pena vai descobrindo feridas e apontando caminhos.
Literatura, porque o escritor Resendes Ventura (afinal, o livreiro Manuel Medeiros) publica nesta obra uma extensa colectânea de folhas em prosa e poesia, fazendo-se aliás acompanhar por notáveis companheiros de escrita que fizeram questão de participar, com textos que nunca lemos, homenageando o autor.

INCLUI TEXTOS INÉDITOS DOS ESCRITORES
MATILDE ROSA ARAÚJO | SILVA DUARTE | URBANO TAVARES RODRIGUES | TERESA RITA LOPES | ONÉSIMO TEOTÓNIO ALMEIDA | EDUÍNO DE JESUS | URBANO BETTENCOURT | LUÍSA DUCLA SOARES | MARIA ALBERTA MENÉRES | AVELINO DE SOUSA | MARIA DE LOURDES BELCHIOR | FAUSTO LOPO DE CARVALHO | SEBASTIÃO DA GAMA.

Sobre o Autor
Resendes Ventura é o nome literário de Manuel Pereira Medeiros, que o criou para a sua escrita quando em 1968 saiu dos Açores, onde assinava como Manuel Pereira. Nasceu a 14 de Janeiro de 1936 na freguesia de Água Retorta, concelho de Povoação, na ilha de São Miguel, e reside em Setúbal desde 1970, onde continua a trabalhar na livraria que fundou, a Culsete, um dos pólos culturais relevantes da cidade.
Tem escrito inúmeros artigos, dispersos por jornais e revistas, e tem colaborado com diversas estações de rádio onde já manteve rubricas sobre livros. É autor de prefácios, textos de divulgação e alguns de polémica, num exercício consciente de cidadania.
Tem diversas obras publicadas e está representado nas seguintes antologias: Antologia Poética dos Açores (Angra do Heroísmo, 1979), Setúbal Terra de Poetas e Cantadores (Setúbal, 2001), A Serra da Arrábida na Poesia Portuguesa (Setúbal, 2002).

Título: Uma Espécie de Sentido
Autor: João Pedro Duarte
Editora: Esfera do Caos Editores
Colecção: Esfera Contemporânea (16)
Número de páginas: 104
PVP: 12,90 euros

Sinopse
Uma profecia humorística sobre uma sociedade matriarcal no século XXII.
Depois da epidemia da gripe, da destruição da camada de ozono e das doenças psicológicas mortais, surge a esterilidade masculina a ameaçar a raça humana. As mulheres desta Era estão nos lugares de poder e, mais habilitadas e resistentes, são obrigadas a salvar a humanidade sozinhas.
Miriam, médica, e David, faxineiro, cruzam-se no laboratório que mantém em cativeiro o último casal fértil. O romance promete e continua no Clube dos Corações Partidos. Mas o rapto do recém-nascido por um pedófilo desencadeia uma reviravolta no destino da História!
Será que chegaram os dias do Apocalipse, ou os heróis descobrirão o sentido da vida na nossa espécie?

Sobre o Autor
João Pedro Duarte nasceu pouco depois do 25 de Abril de 1974. Este é o seu segundo livro publicado, depois de “A Casa do Sonho Pagão”. Licenciado em Psicologia na área Clínica, guarda na sua memória as sábias palavras de um grande amigo e colega: “O JP, que é mais humilde que o Freud, não só admite que tem dificuldade em compreender as mulheres, como confessa também que os homens lhe fazem alguma confusão!” Apesar de profissional na área das novas tecnologias, reside contra todas as previsões na Lisboa histórica, rodeado por igrejas, ruínas românticas e tradições populares. Apaixonado por teatro e cinema, trabalha todos os dias para inovar e para se reinventar, e também para concretizar o sonho de ver as suas obras encenadas. Já decidiu que, na pior das hipóteses, vai ser feliz.

Título: Ambiente: Uma Questão de Ética
Autora: Maria José Varandas
Editora: Esfera do Caos Editores
Colecção: Gulbenkian Ambiente (2)
Número de páginas: 112
PVP: 13,90 euros

Sinopse
A aldeia global em que vivemos oferece-nos, quase todos os dias, o espectáculo trágico de um imparável cortejo de múltiplas catástrofes. Ainda assim, a desflorestação prossegue, a erosão dos solos aumenta, o ar e as águas apresentam níveis de poluição crescentes, a biodiversidade diminui dia após dia, o número de espécies extintas ou em vias de extinção engrossa dramaticamente, as alterações climáticas induzidas pela pressão antropogénica colocam em risco a vida na Terra.
O que este livro procura mostrar é que a crise ecológica é, em essência, uma crise de valores que afecta o modo com o Homem se relaciona com o seu mundo natural. Neste sentido, defende-se que a crise ambiental é também, por isso, a crise do humano, procurando mostrar que o respeito e a consideração por essa terra que dá a vida, é condição fundamental para o respeito e para o equilíbrio do ser humano consigo mesmo. A ameaça global interpela-nos para a urgência de repensar a nossa relação com o mundo natural e de recolocar noutros termos o pensar e o agir, de acordo com os valores do respeito, sabedoria, prudência e responsabilidade.

Sobre a Autora
Maria José Varandas. Licenciada em Filosofia e Mestre em Filosofia da Natureza e do Ambiente. Investigadora do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa (ética e valores). Vice-Presidente da Sociedade de Ética Ambiental. Publicou diversos artigos em revistas e obras colectivas na área da «ética, cidadania e ambiente». Autora das seguintes obras: O Valor do Mundo Natural (2003); Vida: propriedade do Organismo ou do Planeta? (2004); Éticas e Políticas Ambientais (2004, com Cristina Beckert); Gaia: Para uma aliança com a Terra (2009).

Título: A Paisagem de Terras do Demo
Autora: Ana Isabel Queiroz
Editora: Esfera do Caos Editores
Colecção: Gulbenkian Ambiente (4)
Número de páginas: 160
PVP: 14,90 euros
Sinopse
A paisagem é uma realidade complexa e dinâmica que resulta das diferentes características do espaço biofísico, da evolução natural dos sistemas ecológicos e das alterações que o Homem lhe introduziu ao longo da História. A combinação destes factores gera a sua diversidade.
A paisagem, que se apresenta como um mosaico de usos do solo, é também um mosaico de ideias, objectivos, práticas e vivências de quotidianos anteriores, assimilados na cultura local. Entre as serras da Nave e da Lapa, num território designado Terras do Demo por Aquilino Ribeiro, encontramos um itinerário de reflexão sobre a paisagem local, em que a obra do mestre é charneira e catalisador.
Através da sua paisagem literária chegam-nos memórias de diferentes épocas e de diferentes histórias de vida que parece indispensável conhecer, compreender e considerar para o ordenamento do território.
Este livro mostra-nos como a Literatura pode ser uma fonte de informação sobre as paisagens do passado e um elemento a ter em conta na protecção e valorização da paisagem actual.

Sobre a Autora
Ana Isabel Queiroz. Licenciada em Biologia (Universidade de Lisboa), Mestre em Etologia (ISPA) e Doutorada em Arquitectura Paisagista (Universidade do Porto). Investigadora do Instituto de Estudos de Literatura Tradicional da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Autora do livro Zoo-histórias de Portugal (Gradiva, 1992). O seu interesse pela expressão criativa, mormente pela que encontra a sua matéria-prima nas palavras, anda a par com o seu interesse pela Natureza.

Novidades Esfera do Caos

TÍTULO: O Benfica como Religião
SUBTÍTULO: Um olhar sobre as origens, os símbolos e a
mística
AUTOR: José Jacinto Pereira
EDITORA: Esfera do Caos Editores
COLECÇÃO: «Sem Colecção» (9)
NÚMERO DE PÁGINAS: 72
PVP: 11,50 euros

SINOPSE
Neste livro, a pesquisa realizada pelo autor mostra-nos que muitas das opções que marcam a vida dos adeptos do Sport Lisboa e Benfica ― no vocabulário, nos símbolos, nas atitudes e na postura ―, são, de forma indelével, opções de cariz religioso. Pela mão do autor e através da ideia de mística somos levados a perceber por que razão o Benfica deixou de ser um simples clube: é um culto para milhões de pessoas em todo o mundo.
“Não há nenhum clube no mundo que possua mística igual à do Benfica.” Bela Guttmann

SOBRE O AUTOR
José Jacinto Pereira, naturalmente, é benfiquista. Adicionalmente, é licenciado em Ciência das Religiões pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Este livro resulta dos seus trabalhos de investigação.

TÍTULO: De Adão a Newton
SUBTÍTULO: Uma História das maçãs
AUTOR: Paulo Mendes Pinto
EDITORA: Esfera do Caos Editores
COLECÇÃO: «Sem Colecção» (8)
NÚMERO DE PÁGINAS: 96
PVP: 13,80 euros

SINOPSE
Das coisas mais sérias às mais divertidas, as maçãs são um dos tópicos fortes da nossa cultura.
Falamos na maçã de Adão, pensamos no coitado do Newton debaixo da macieira e vemos como, num mesmo símbolo, temos o que de mais sério a humanidade criou, a ideia de pecado, e o ridículo do acaso que muitas vezes resulta na mais espantosa descoberta científica.
Este livro é isso mesmo: o espanto perante a variedade de significados que uma «maçã» pode ter.
Estamos, de facto, perante um símbolo que atravessa a nossa cultura. Do Génesis bíblico ao Pomo da discórdia que conduz à guerra de Tróia, passando pelo atirador Guilherme Tell, pela maçã da Branca de Neve, pelo sortudo do Newton e terminando na marca de computadores, elas, as maçãs, estão em todo o lado!

SOBRE O AUTOR
Paulo Mendes Pinto. Doutorado em História e Cultura Pré-Clássica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Especialista em mitologia e religiões antigas. Professor e Director da Licenciatura em Ciência das Religiões na Universidade Lusófona. Tem trabalhado na área das relações entre a religião, a cidadania e as instituições democráticas. Director da Revista Lusófona de Ciência das Religiões e investigador da Cátedra de Estudos Sefarditas «Alberto Benveniste» da Universidade de Lisboa. Publicou, entre outros, os seguintes livros: Itinerários de Fé: Locais sagrados das religiosidades (Inapa, 2005); A Verdadeira História de Maria Madalena (Casa das Letras, 2006, com Maria Julieta Mendes Dias); O Massacre dos Judeus: Lisboa 19 de Abril de 1506 (Alêtheia, 2007, com Susana Bastos Mateus); Conhecimento de Deus (Quasi, 2008).

TÍTULO: Código Pedagógico dos Jesuítas
SUBTÍTULO: Ratio Studiorum da Companhia de Jesus
AUTORA DA VERSÃO PORTUGUESA: Margarida Miranda
EDITORA: Esfera do Caos Editores
COLECÇÃO: Ciências da Cultura (1)
NÚMERO DE PÁGINAS: 296
PVP: 21,80 euros
DATA DE PUBLICAÇÃO: Outubro de 2009

SINOPSE
A Ratio Studiorum, que agora se publica em edição bilingue (português-latim) e com capítulos contextualizadores e explicativos, é considerada a bíblia pedagógica dos Jesuítas e o segredo do seu extraordinário sucesso no plano da formação. Esta obra, traduzida nas mais diversas línguas onde a Companhia de Jesus instalou a sua rede multinacional de colégios, desde o Brasil até ao Extremo-Oriente, influenciou a revolução educativa da época moderna com a marca dos Jesuítas até aos nossos dias.
É um documento absolutamente incontornável da História da Educação e ainda hoje, apesar das actualizações a que foi sujeita em relação à sua versão original de 1599, continua a ser uma referência paradigmática sempre revisitada por todos aqueles que se interessam e se dedicam à educação.

SOBRE A AUTORA DA VERSÃO PORTUGUESA
Margarida Miranda é Professora de Estudos Clássicos da Universidade de Coimbra e especialista no estudo dos textos da história pedagógica da Companhia de Jesus. São considerados uma referência os seus trabalhos sobre a utilização que os Jesuítas faziam do teatro para fins educativos. É ainda uma reconhecida tradutora de textos neolatinos, sendo especialista na tradução de documentos dos séculos XVI e XVII.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A Lenda de Sigurd e Gudrún (J.R.R. Tolkien)

A mitologia nórdica é muito rica, e uma fonte sem fim de inspiração. Também J.R.R. Tolkien, em tempos, decidiu escrever a sua versão da maior das lendas nórdicas. E é o resultado dessa ideia que nos é apresentado nesse livro, sob a forma dos dois lais que constituem A Lenda de Sigurd e Gudrún.
Em primeiro lugar, é de referir que, este livro, editado por Christopher Tolkien, apresenta, para além dos dois poemas, uma série de notas e comentários que pretendem contextualizar o poema no âmbito da literatura nórdica. Este aspecto não é necessariamente uma fragilidade no livro, mas pode, por vezes, tornar o livro um pouco cansativo. São tantos os termos e os nomes desconhecidos que, para um leitor não muito familiarizado com o tema, as notas introdutórias e o próprio comentário aos poemas, podem levar a uma desorientação na leitura. São notas, ainda assim, que nos permitem compreender em pleno o que está contido nos poemas e que, apesar de exigirem um certo esforço, permitem uma apreciação mais completa da obra.
Passando aos lais em si. Tolkien é um nome que dispensa elogios. A qualidade da sua obra é sobejamente conhecido pelas suas obras situadas na Terra Média. Ainda assim, e num registo bem diferente, os dois lais apresentam-nos uma forma de mestria muito particular. Nota-se o trabalho e o conhecimento necessários para recriar a lenda, seguindo a estrutura tradicional, mas reflectindo a sua própria voz. Pena que, inevitavelmente, parte do ritmo e da estrutura se perdem com a tradução (situação perfeitamente normal), mas, ainda assim, e isto leva-nos de volta à introdução, os comentários de Christopher Tolkien permitem-nos um vislumbre do que seria a arte do poema na língua original.
Em jeito de conclusão... É provável que este livro não agrade a todos os fãs de Tolkien. Sendo as notas e comentários quase tão extensos como os poemas em si, este é um livro que, muitas vezes, surge quase como uma dissertação sobre a literatura nórdica. E é esse aspecto que leva a que A Lenda de Sigurd e Gudrún não seja uma leitura capaz de cativar todos os leitores. É uma obra diferente, com a qual há muito a aprender, mas que exige um certo esforço. Ainda assim, a qualidade é inegável e é sempre interessante mergulhar nas origens do mundo que serviu como uma das bases para a grande obra de Tolkien.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Novidades Nova Vega para Novembro

William C. Carter, o aclamado biógrafo de Proust, retrata as aventuras e desventuras do escritor francês da adolescência à idade adulta, evocando as próprias observações sensíveis, inteligentes e não raras vezes desiludidas de Proust sobre o amor e a sexualidade, através das suas cartas por vezes surpreendentemente explícitas. Proust é retratado como um homem dolorosamente dividido entre o medo constante da exposição pública da sua homossexualidade e a necessidade de encontrar e expressar o amor. Ao contar a história dos amores e desamores de Proust, William C. Carter demonstra também como as expe-riências amorosas do escritor se tornaram temas centrais do seu romance Em Busca do Tempo Perdido.

Neste romance transgeracional, vencedor da última edição do California Book Award, Adam Mansbach plasma três gerações através de um épico familiar que se desenrola com a história do século XX e a contemporaneidade do século XXI como pano de fundo. Posicionado pela crítica na linhagem de Bernard Malamud, Saul Bellow e Philip Roth, Mansbach alia ao romance judeu a experiência contemporânea e a percepção da hibridação cultural. Tristan Brodsky, escritor directamente saído do Bronx da Era da Depressão, é um daqueles génios judeus que deixam uma marca indelével na cultura americana, enquanto sufoca a sua mulher, uma poeta com segredos bem guardados; Nina Hricek, uma jovem e enérgica fotógrafa checa, evade-se do outro lado da Cortina de Ferro com um grupo de músicos negros para se encontrar de novo encurralada, desta feita num caso amoroso condenado; e Tris Freedman, neto de Tristan e amante de Nina, um artista graffiti e revolucionário desancorado, canibaliza a história da sua família para alimentar a sua musa. As suas histórias convergem e a sobrevivência de cada um implica o sacrifício do outro.

Escrito em “lisboeta”, A Borboleta na Gaiola recria, ao estilo do realismo cinematográfico, um certo território citadino: o microcosmos da esquerda no ano que antecede a Revolução, que se arrasta pela noite numa forma peculiar de querer gostar da vida e de fazer a mudança.
Vistosa, como a borboleta, esta gente não produz, porém, um único som que incomode verdadeiramente o poder. Isso é para os pássaros canoros, os autênticos revolucionários, que estão ausentes deste romance. Todavia, acaba também privada de voo.
Publicado pela primeira vez em 1984, e adaptado ao cinema pelo próprio autor, ressurge agora por ele revisitado, mantendo uma actualidade desconcertante.

Agraciado este ano com a Medalha Jorge Amado da União Brasileira da Escritores, Miguel Barbosa explora, neste seu último livro de poesia, as relações de atracção, acusação, compreensão, perplexidade, perdão entre Deus e o Homem. E também a razão desse diálogo, serpenteante, sinuoso, apaixonado – o absurdo do que é, do que se faz, do que se diz.
O absurdo do que existe, do que está aí. A divindade surge, assim, comoventemente humanizada, a dialogar com o homem, a desejar a sua aprovação, como que a desculpar-se da imperfeição, do absurdo, do erro.

Drácula, o Morto-Vivo (Dacre Stoker e Ian Holt)

Vinte e cinco anos passados desde o final da história de Bram Stoker, voltamos a encontrar os heróis da sua obra. Jonathan e Mina Harker, perdidos num casamento amargurado. O seu filho, Quincey, dividido entre os seus sonhos e a vontade do pai. Arthur Holmwood, escondido na sombra das suas memórias. Jack Seward, quase louco, perdido no delírio da morfina. E Abraham Van Helsing,, reduzido a um velho com medo da morte. E é nestas circunstâncias que o passado volta às suas vidas, quando estranhos acontecimentos começam a surgir, levando a pensar na presença do vampiro que, muitos anos antes, mudou as suas vidas.
Interessante a forma como esta sequela foi escrita. Desde o início, é quase palpável a aura do Drácula original, mas, por outro lado, as diferenças são múltiplas. Este é um livro em que a acção é uma constante, sem grandes momentos parados, e onde os eventos se sucedem a um ritmo viciante. Por outro lado, este ritmo não prejudica nem a criação dos ambientes nem a caracterização das personagens, criando, muitas vezes, um laço emocional entre as personagens e o leitor.
O que me leva ao aspecto que mais me fascinou neste livro. Contrariamente ao que acontece na obra de Bram Stoker, o príncipe Drácula que nos é apresentado não surge como o vilão cruel e sanguinário, mas como uma espécie de anti-herói, culpado, de facto, de muitos crimes, mas não isento de consciência. Além disso, a presença de outras personagens históricas, como a condessa Érzebet Bathory ou o próprio Bram Stoker, bem como a ligação dos eventos aos crimes de Jack, o Estripador, dão ao enredo uma nova envolvência, bem como uma aura de mistério policial que não deixa de se enquadrar no espírito da obra.
Por último, de realçar as notas finais dos autores que, para além de nos mostrarem o trabalho e o cuidado colocados na criação deste livro, mostram também a vontade por detrás da obra: o desejo de recriar e de devolver ao Drácula de Bram Stoker o merecido lugar na história.
Este é, pois, um livro que não posso deixar de recomendar. Com uma escrita soberba e um enredo magnífico, fará as delícias de todos os apreciadores de vampiros, e em particular dos que preferem o vampiro clássico. Uma obra inesquecível e, provavelmente, um dos melhores livros que li este ano. Magistral.