terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Balanço de 2013

E assim termina mais um ano. Com um pouco menos de leitura - mas, mesmo assim, 295 é um bom número, não é? - mas com muito boas leituras. E, como habitual, é tempo de olhar para trás, fazer um balanço de tudo e recordar o que de mais memorável surgiu nestes doze meses. No que me diz respeito - e em leituras, claro - foram estes dez.


Complexo, mas sempre cativante, este livro correspondeu inteiramente às altas expectativas que me criou a leitura de A Passagem. Impressionante, tanto no percurso individual de cada personagem como na perspectiva global, é um livro volumoso, que exige o seu tempo, mas que é amplamente compensador.


A conclusão perfeita para uma saga maravilhosa - já que, deste mundo, há ainda outros livros para descobrir. É neste mundo que vivem algumas das minhas personagens favoritas, a história é absolutamente impressionante e a escrita tem momentos verdadeiramente belos. Jacqueline Carey já é uma das minhas autoras preferidas e, por isso, este livro tinha de estar aqui.


Sequela do Wolf Hall, tem exactamente os mesmos pontos fortes e a vantagem de história, personagens e estilo de escrita serem já familiares. Muitíssimo bem escrito, com uma voz memorável e uma história sempre interessante, correspondeu plenamente ao que esperava e acabou por ser, também, uma das melhores leituras do ano 


Perturbador no mundo que apresenta e na facilidade com que este é instituído, este foi um livro que me impressionou tanto pela história da protagonista como pelo sistema em que se enquadra. E impressiona também pela fluidez - na escrita e na forma como tudo é narrado - com que a história é desenvolvida, transmitindo com toda a clareza o sentimento de opressão, mas sem que a narrativa se torne densa ou cansativa.


Depois da surpresa que foi, no passado, ler Pequena Abelha, este foi o ano de descobrir os outros livros de Chris Cleave. E o primeiro a surgir é este Menina de Ouro, história comovente, emocionalmente impressionante e com a maravilhosa forma de contar histórias que parece ser característica do autor. Um livro de deixar o coração apertado, mas um sorriso nos lábios. E uma história belíssima.


Um mistério a resolver, e uma forma inesperada de lhe dar voz, conjugados com uma visão de afecto familiar e dos sacrifícios que esse amor inspira. É esta a base deste livro, também ele contado numa voz muito própria, com um enredo cheio de surpresas e momentos de uma intensidade impressionante. Também de uma autora que pretendo seguir, tinha de estar aqui.


Mais um livro do Chris Cleave, não tão impressionante como Menina de Ouro, talvez porque as circunstâncias da protagonista não facilitam tanto a empatia, mas, ainda assim, com os mesmos pontos fortes a tornar a leitura marcante. Maravilhosamente escrito, mas num registo mais sombrio e perturbador, é um livro que marca de forma diferente. Mas que marca, mesmo assim.


Primeiro livro de uma série com um potencial riquíssimo, este livro surpreendeu-me pela forma como conjuga elementos de diferentes géneros numa mistura complexa, mas simplesmente viciante. As personagens são cativantes, a construção do mundo também e a forma como a autora desenvolve os diferentes elementos mantém sempre viva a curiosidade em saber mais. Uma bela surpresa e um início impressionante.


Surpresa! Ou... não. Afinal, estranho seria não haver um livro desta senhora na minha lista. A Casa de Gaian, último livro da trilogia Os Pilares do Mundo, pode não ter o impacto de um livro das Jóias Negras, mas tem, apesar disso, tudo o que procuro. Boas personagens, um sistema interessante, emoção, acção e humor nas medidas certas e momentos que ficam na memória. Tinha mesmo de aparecer nesta lista.


E, para terminar em beleza, um livro de histórias de terror para os mais novos... e não só. Uma edição apelativa, com histórias muito cativantes e um elo de ligação muito bem conseguido, é um livro que conjuga leveza, mistério e uma certa melancolia nas medidas certas. E que recomendo, pois claro.

Houve muitas outras boas leituras, para além destas, mas foram estes, sem dúvida, os que mais marcaram. Quanto ao ano que se segue, não vou definir objectivos muito estritos. Apenas a meta de ler o mais possível e a esperança de descobrir ainda mais boas leituras. Ah, e claro, de continuar por aqui para partilhar as minhas impressões.

Até muito em breve e um feliz 2014!

Portadores e Pendentes: Apenas o Início (Erica Seidi)

Filha de empresários, Tiana está habituada às constantes mudanças de casa e de escola. Mas a nova mudança vai alterar o rumo da sua vida. O plano é que Tiana passe um ano na casa da tia e que continue os seus estudos normais, mas a tia ouve-a cantar e convence-a a entrar antes para uma escola de artes. Uma escola que é tudo menos normal. Sob o aspecto aparentemente inofensivo da comunidade de Portadores, esconde-se um poder e uma missão. E Tiana ainda agora chegou mas já tem um lugar entre eles. E, por isso, um destino que implica uma luta a travar.
Bastante longo e, tal como o título indica, apenas o início de algo maior, este é um livro que tem principalmente dois pontos fortes. O primeiro é uma ideia base interessante, com a associação à música e às musas a despertar curiosidade para a evolução da história. O outro diz também respeito às ideias, mas de momentos específicos, situações ocasionais que, surpreendendo ou cativando, mantêm o interesse em saber o que irá acontecer a seguir. O potencial está lá, portanto, e basta para despertar a vontade de ler.
Mas, infelizmente, há também algumas fragilidades evidentes. E a mais óbvia é a necessidade de uma revisão muito mais atenta. Erros ortográficos e frases confusas, incompletas ou mal construídas surgem de forma recorrente ao longo de todo o livro, o que, inevitavelmente, dificulta a leitura. Mesmo numa fase avançada, em que a história se torna mais envolvente, o aparecimento destes erros quebra o ritmo, o que os torna difíceis de ignorar.
O outro ponto fraco é alguma desorganização na construção das personagens e do enredo. Há episódios que se repetem e situações que parecem contradizer o comportamento anterior das personagens. Além disso, e principalmente na fase inicial, há uma demora em interacções entre as personagens que não contribuem assim tanto para a evolução do enredo, enquanto que as situações mais complexas parecem ser aceitadas com demasiada facilidade.
Ainda uma última nota para a forma como o livro termina, a meio de uma frase. Na fase final, o enredo conseguiu tornar-se bastante mais interessante, talvez devido a um aumento na intensidade da acção. Mas é difícil evitar a sensação de algo em falta, quando o próprio final parece ser um corte aleatório no texto.
A impressão que fica de tudo isto é a de uma história feita de boas ideias, e com um certo potencial, mas que perde por alguns aspectos da concretização e pela falta de uma revisão mais cuidada. Não foi uma leitura penosa, apesar de tudo. Mas poderia ter sido algo de muito mais cativante.

domingo, 29 de dezembro de 2013

The Mammoth Book of Paranormal Romance 2

Vampiros e lobisomens são apenas alguns dos elementos mais conhecidos do mundo sobrenatural. E, entre as criaturas mais familiares e outras que surgem como provável, há uma base inesgotável para todo o tipo de histórias. Histórias como as deste livro, que, tal como Trisha Telep, a editora, conta na sua introdução, acabou por ficar com menos contos do que o previsto, devido a excessos no entusiasmo - e na contagem e palavras. Esta breve e divertida confissão tem, aliás, o efeito acrescido de despertar a curiosidade, tanto para os contos do livro, como para os que acabaram por ficar de fora. Mas passemos aos contos.
Em To Hell With Love, de Jackie Kessler, uma bruxa acorre em auxílio da irmã, para a descobrir prisioneira de um feitiço que não lhe estava destinado. Intrigante desde o início e com uma interessante caracterização, quer no que diz respeito a poderes e feitiços, quer na peculiar ligação entre as irmãs, este conto sobressai pela boa construção da relação entre os protagonistas, com os assuntos inacabados entre ambos a tornarem as coisas mais interessantes. De ritmo pausado, mas com um bom equilíbrio entre romance e acção, deixa a impressão de algumas questões por explicar, o que identifica esta história como parte de um mundo mais vasto.
Princes of Dominion, de Ava Gray, conta a história da paixão proibida entre um anjo e uma humana. O ponto de união entre os protagonistas surge de forma um pouco abrupta, sem prelúdios nem explicações, mas abre muitas questões quanto ao futuro de ambos, o que torna o enredo interessante. Interessantes também são as regras dos sistemas a que pertencem tanto Rei como Camael. De tudo isto, resulta uma leitura agradável, com a inocência de Camael a surgir como particularmente cativante. Também com muitas questões em aberto, parece ser o início de uma história maior.
Segue-se Spirit of the Prairie, de Shirley Damsgaard. Aqui, uma jornalista ambiciosa é enviada à inauguração de um centro cultural, mas encontra-se frente a frente com as barreiras de todo um outro nível de cultura. Pausado, mas intrigante, cativa, em primeiro lugar, pela empatia gerada pelo ambiente familiar da protagonista. O elemento sobrenatural do enredo surge apenas numa fase já bastante avançada, enfatizando primeiro os preconceitos e diferenças culturais. Ainda um outro ponto interessante é o ambiente de intriga criado em torno do centro cultural, nesta história em que não há grande romance, mas em que há muito de cativante na relação entre os protagonistas.
The Demon's Secret, de Nathalie Gray, apresenta um caçador de segredos, cuja linhagem remonta ao início dos tempos. Cativante desde o início, com a personalidade carismática, mas algo atormentada, de Cain a despertar empatia para com as suas circunstâncias, este conto surpreende também pelo bom desenvolvimento da caracterização do Ingerno. Interessante, ainda que não completamente novo, tem muita acção e relativamente pouco romance, mas um agradável toque de emoção nas reacções do protagonista à manipulação, ao engano e até à redenção. Muito bom.
Em Marine Biology, Gail Carriger conta a história de um lobisomem com uma carreira profissional invulgar e de como o seu caminho se cruza com o de duas sereias em missão. Cativante, com um enredo interessante e uma boa abordagem a questões de preconceito e identidade, exagera um pouco nalguns aspectos da caracterização. Um pouco distante, podia também ter sido mais desenvolvida a parte da investigação, comparativamente ao romance. Ainda assim, uma leitura agradável e envolvente.
Zola´s Pride, de Moira Rogers, fala de uma filha renegada que descobre que a morte da mãe deixou os seus em sarilhos, e que só ela - na indesejada companhia de alguém do seu passado - pode tentar resolver as coisas. Também uma história cativante, com uma agradável aura de mistério na relação entre os protagonistas e uma base interessante relativamente ao sobrenatural, centra-se mais no romance que nos restantes aspectos do enredo, o que faz com que algumas partes da história pareçam um pouco apressadas. Interessante e envolvente, apesar disso.
Em In Dreams, de Elissa Wilds, uma viagem astral abre caminho à redescoberta do amor. Pausado, um pouco introspectivo, mas intrigante, ainda que com um pouco de estranheza à mistura, acaba por ser um conto cativante e uma leitura agradável, apesar das situações mais caricatas.
Segue-se The Gauntlet, de Karen Chance, história da improvável aliança entre uma bruxa e um vampiro e de magias opostas em luta pelo poder. Um ambiente sombrio e uma muito interessante conjugação de elementos sobrenaturais despertam, desde cedo, a curiosidade para a história, ao mesmo tempo que a situação delicada da protagonista facilita a empatia. O ritmo é de acção frenética, ao ponto de algumas explicações se perderem no rumo dos acontecimentos. Perde-se um pouco por essa falta de respostas. Mas a história não deixa de ser interessante e tem alguns momentos especialmente bons.
Um fim-de-semana romântico que não corre muito bem serve de base a The Getaway, de Sonya Bateman. Os pontos fortes desta história são os protagonistas, cativantes e com uma relação interessante, tornada mais intensa por uma certa impressão de estranheza, em tudo adequada às circunstâncias das personagens e que cria um ambiente de mistério e uma certa tensão. Intenso, cativa também pela forma como desenvolve o lado sobrenatural e pelo final inesperado.
Mr Sandman, de Sherri Browning Erwin, conta como uma mulher encontra, literalmente, o homem dos seus sonhos. Leve e descontraído, um pouco caricato na forma como os protagonistas se cruzam, cativa principalmente pela relação entre os protagonistas e surpreende pela forma como aplica na perfeição os traços geralmente atribuídos aos deuses gregos. Um pouco apressado, por vezes, mas, de resto, uma boa leitura.
Da organização das almas na vida depois da morte, e de como um romance pode resultar do encontro  entre dois elementos do sistema, se define The Sin-Eater's Promise, de Michele Hauf. Particularmente interessante na construção do sistema, mas também na relação entre os protagonistas, diferentes como são as suas naturezas, este é um conto que, apesar do ritmo relativamente pausado, nunca deixa de ser uma leitura intrigante. E uma boa história.
Em Fragile Magic, de Sharon Ashwood, o sobrenatural tornou-se moda e até há gárgulas como animais de estimação, mas nem todos estão interessados na abundância de magia que se vive. Muito interessante na relação entre a protagonista e a sua gárgula e na forma como se torna dona preocupada, ainda que relutante, este conto marca também pelo muito bom equilíbrio entre acção e humor, para o qual contribui também a personalidade carismática do protagonista masculino. Bem conseguida também a evolução da leveza inicial para um crescendo de tensão que culmina num final intenso. Muito bom.
NightDrake, de Lara Adrian, conta a história de uma conhecida mercenária e de como uma entrega especial vai abalar os seus princípios. Narrado na primeira pessoa, a protagonista apresenta uma voz intrigante e a sua perspectiva dos dilemas que vive está bem explorada. Já o romance surge de forma um pouco apressada, mas, apesar das questões deixadas em aberto, o conto acaba por se manter cativante, quer pela justificação que constrói para o sobrenatural, quer pela forma como esta se relaciona com os protagonistas.
Em The Sons of Ra, de Helen Scott Taylor, um artefacto de origem misteriosa volta a juntar um casal, separado há muito por razões igualmente misteriosas.Um pouco distante, do ponto de vista emocional, talvez devido à personalidade algo apagada  da protagonista, os pontos fortes deste conto residem na escrita agradável e na surpreendente construção de alguns elementos sobrenaturais. Ainda assim, a relação entre os protagonistas é um pouco forçada e a atitude geral relativamente às mulheres um pouco desagradável, pelo que acabam por ser a ideia interessante e alguns momentos bons a salvar a história.
Eve of Warfare, de S.J. Day, conta a história de uma caçadora de demónios ao serviço dos anjos e de uma intervenção inesperada das hierarquias superiores, na tentativa de corrigir um erro. Cativante, em primeiro lugar, pelo sistema, mas também pelo registo leve e, ao mesmo tempo, misterioso, este conto é, claramente, parte de uma série maior, pelo que parece, por vezes, faltar alguma informação relevante, principalmente sobre as relações das personagens. Não deixa de ser, ainda assim, uma leitura envolvente, com uma boa medida de acções e uma teia de relações estranhamente cativante.
Uma hierarquia de híbridos sobrenaturais e uma recém-chegada salva pela sua própria ingenuidade definem a trama de The Majestic, de Seressia Glass. De ritmo pausado, mas intrigante, surpreende, acima de tudo, neste conto, a peculiaridade dos seus elementos sobrenaturais. Uma história envolvente, com personagens interessantes, apresenta-se aqui um sistema cheio de potencial, ainda que nem todo tenha sido explorado.
Por último, em Answer the Wicked, de Kim Lenox, um idoso recebe um visitante inesperado e a vida da enfermeira que cuida dele começa a mudar. Pausado e sombrio, cativa pela aura de mistério e pela facilidade em sentir empatia relativamente à protagonista. Um conto envolvente e surpreendente, ainda que ambíguo nalgumas partes. E muito bom.
Da leitura deste conjunto, fica a impressão global de uma leitura agradável, com algumas histórias memoráveis e quase todas cativantes, com diversas abordagens ao sobrenatural, romance quanto baste e mais ou menos acção. Uma boa forma de descobrir novos autores - e reencontrar alguns já conhecidos  - e, no geral, uma boa leitura. Gostei.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

A Promessa (Lesley Pearse)

Depois de todas as sombras do seu passado, Belle deixou as tribulações para trás e construiu uma vida feliz com Jimmy. Mas, depois de dois anos de felicidade, a harmonia está prestes a chegar ao fim. Com o início da guerra, os perigos voltam a ensombrar as suas vidas. Jimmy sente-se na obrigação de alistar-se, mesmo apesar da gravidez de Belle. E, pouco depois, a perda do bebé leva a própria Belle a querer fazer algo pelos muitos que lutam e sofrem nas linhas da frente. Muitos são os que tombam e os que regressam irreconhecíveis. E, além dos perigos e do medo, a sombra do passado ameaça voltar. Aconteça o que acontecer, a vida de Belle não voltará a ser a mesma. Mas é possível que o destino esteja à espera...
Sendo este livro a continuação da história iniciada em Sonhos Proibidos, muitas das personagens e das respectivas histórias são já conhecidas. Aliás, ainda que o essencial da história seja facilmente perceptível sem ter lido o livro anterior, há uma continuidade e uma base de caracterização que vêm de trás e que é bom conhecer para apreciar bem esta história. Tendo isto em conta, um dos pontos fortes deste livro é a quase imediata sensação de proximidade relativamente às personagens. Neste aspecto, é claramente Belle quem sobressai, com a sua história marcada pelas dificuldades a definir-lhe uma personalidade geralmente forte, ainda que com algumas vulnerabilidades.
Ora, sendo Belle a protagonista do livro, é também ela o centro de quase todos os acontecimentos. Mas não só. Há outras personagens que, de presença mais ou menos discreta, conseguem ser tão ou mais cativantes. Na verdade, muitos dos melhores momentos do livro envolvem Miranda Forbes-Alton ou Vera Reid, duas figuras que, nos seus momentos de destaque, se revelam como particularmente cativantes. 
Esta intervenção marcante de personagens mais ou menos secundárias tem também a vantagem de equilibrar a sensação de alguma distância que, por vezes, se sente na narração de certas situações. Toda a história de Belle é pautada por dificuldades e, assim sendo, há vários momentos de maior emotividade. Mas, neste segundo livro, os perigos e problemas dispersam-se entre a guerra, um amor silenciado e um jornalista de ética duvidosa, e o equilíbrio de todos estes elementos acaba por fazer com que alguns não tenham o impacto que poderiam ter.
Ainda assim, a história nunca deixa de ser interessante. Para isso contribui também o retrato do contexto da época, sempre de um ponto de vista pessoal e da perspectiva de Belle, mas bastante claro, e com algumas reflexões bastante pertinentes. A forma como Belle e Jimmy vivem a guerra enquadra a sua história numa perspectiva mais vasta, ao mesmo tempo que tece algumas considerações especialmente pertinentes sobre o contexto.
Envolvente e de leitura agradável, A Promessa segue, pois, na senda do livro anterior, retomando a história de uma protagonista cativante e enquadrando-a num contexto de mudança. Uma boa leitura, portanto.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A Casa de Gaian (Anne Bishop)

Consumido pelo ódio que sente pelas bruxas e por qualquer forma de poder mágico, o Inquisidor-Mor não se deterá até que toda a magia seja extirpada de Sylvalan. Mas, depois de demasiado tempo de separação - e de demasiadas ligações esquecidas - Fae, bruxas e humanos vêem-se obrigados a lutar por um objectivo comum. Não é uma união que os deixe confortáveis. Já não se conhecem bem e sabem que o poder da Casa da Gaian apenas é controlado pelos valores dos que o detêm. Mas não há alternativas. E os caminhos de tantos que até então se cruzaram convergem agora para uma batalha final... que trará perda e morte e justiça e vingança. E que poderá, talvez, mudar a forma do mundo.
Volume final de uma história que, no seu decurso, apresentou muitas personagens, ambientes e situações marcantes, A Casa de Gaian fecha em beleza uma história que é tanto da luta global entre os Inquisidores e o mundo que pretendem controlar como das batalhas e vivências pessoais das suas personagens. E, como vem sendo habitual nos livros desta autora, são, mais uma vez, as personagens o maior de todos os pontos fortes deste livro. Complexas e cativantes, surpreendem tanto pelas peculiaridades da sua natureza como por aquilo que as humaniza. Ante grandes decisões e situações de perigo, revelam o máximo das suas forças, expondo também as vulnerabilidades no que são perante os que amam. E, destas personalidades carismáticas, surgem momentos de grande emotividade, acções e formas de pensar para com as quais é fácil criar empatia e, de tudo isto, uma familiaridade que as torna próximas, que torna fácil sentir por elas - e viver com elas.
Mas nem só das personagens vive esta história. Há todo um mundo, desenvolvido ao longo da trilogia, com particularidades que o definem e uma vastidão de elementos que, fundindo diferentes ambientes com a forma de viver daqueles que os habitam, tornam mais vasto o decorrer do enredo. Muito já foi dito sobre este mundo nos livros anteriores, mas mais é revelado neste volume final. E os novos desenvolvimentos, quer a nível do poder presente, quer dos que dele dispõe, colocam certos elementos da história sob uma nova perspectiva.
Quanto ao enredo propriamente dito, domina, como seria de esperar, o crescendo de planos e acções no sentido do derradeiro confronto. Mas há mais que isso. Há histórias particulares de cada uma das várias personagens que foram surgindo ao longo do enredo e que agora encontram uma conclusão, mais ou menos ligada à da grande batalha. E, de todos esses pequenos - mas relevantes - momentos, resulta uma história mais vasta, a dos sacrifícios feitos em nome de algo maior, seja a sobrevivência de um mundo, seja a preservação de alguém amado. Também disto resultam os tais momentos emotivos e a tal sensação de proximidade que torna a história tão marcante.
E é assim, pois, que termina esta história de grandes e de pequenas batalhas, de conquistas pessoais e da defesa do que verdadeiramente importa. Marcante e surpreendente, A Casa de Gaian encerra da melhor forma a história do seu mundo e das suas personagens. E fica na memória, bem depois de terminada a leitura.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Feliz Natal!



Um pouco de sonho e um pouco mais de esperança. Um objectivo a atingir e a força para caminhar na sua direcção. A luz dos pequenos gestos de ternura e a infinita magia de um abraço. Que este Natal seja rico nas pequenas grandes coisas - nas que verdadeiramente importam - e que o ano que virá traga sempre algo de bom para descobrir a cada novo dia.

Um feliz Natal a todos os que por aqui passam e que o ano de 2014 seja feito de momentos fantásticos!

Todo o Meu Ser (Anna Funder)

Com a subida de Hitler ao poder, todos os que contrariam a sua ideologia vêem-se, de súbito, convertidos em proscritos. É que o acontece com Ruth, Hans, Dora e Ernst Toller, o Grande Toller, como a intrépida Dora se lhe refere. Forçados ao exílio, recusam-se, ainda assim, a deixar morrer os ideais que defendem e a aceitar a brutalidade que ameaça tomar posse da Alemanha. Os meios são escassos e os inimigos estão por todo o lado. O que podem fazer é agir na clandestinidade, tentar levar as suas ideias o mais longe possível e tentar proteger os que partilham da sua missão. Mas o exílio não significa segurança e há entre os refugiados quem esteja disposto a mudar de lado, se for isso o que mais lhe convém...
Narrado na primeira pessoa pelas vozes de Ruth e Toller, o que primeiro surpreende nesta história é que, mesmo tendo ambos um papel fundamental no rumo dos acontecimentos, não cabe a nenhum deles o verdadeiro papel de protagonista. A história e também a deles - a das suas ideias, a da luta a que se dedicam - mas a verdade é que no centro de tudo está Dora, a corajosa e determinada adversária do regime, a que tudo fará para levar a verdade ao mundo. 
Mas Dora, sendo vista pelos olhos dos dois narradores, não é uma figura que, desde logo, se torne familiar. Primeiro, é o mistério, já que a história é contada a partir das memórias de Ruth e Toller e, como tal, desvelada de forma gradual. Depois, revela-se a sua intervenção, mais intensa e marcante à medida que também as circunstâncias se tornam mais dramáticas. E é numa fase já bastante avançada do enredo que o verdadeiro impacto de tudo se revela, com as verdadeiras faces de todos - pessoas, instituições, partidos - a surgirem no papel que desempenham nos grandes momentos. Momentos da história do mundo - e da história de Dora.
Considerando todos os elementos que a constituem, desde a multiplicidade de personagens relevantes à caracterização gradual de personalidades e de contexto, sem esquecer, claro, a complexidade inerente a qualquer abordagem à época em que tudo decorre, é inevitável que o ritmo do enredo seja relativamente pausado. Para isso contribui também um certo tom de distância, perceptível principalmente na fase inicial, já que se dissolve à medida que o cenário se torna mais sombrio. Esta distância atenua-se, ainda assim, com o avolumar das dificuldades e o aprofundar das relações entre as personagens, abrindo caminho para momentos de grande intensidade e um final profundamente marcante.
O que fica, então, deste livro, é a impressão de uma leitura que, não sendo propriamente compulsiva, acaba por cativar pelo crescendo de emoção e de complexidade com que personagens e história são desenvolvidas. Um bom livro, em suma, com um final memorável.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Os Nomes do Frio (Helena Filas Afonso)

Histórias de uma certa nostalgia, de uma vaga ambiguidade, mas cruzadas por certeiros laivos de contemplação do real. Assim são os contos deste pequeno livro. Contos que, diferentes entre si, têm em comum uma escrita cativante, uma certa peculiaridade e um equilíbrio entre o dito e o insinuado que acaba por os gravar na memória do leitor. Mas vamos por partes.
A Fotografia apresenta um funeral e um retrato do morto. Muito breve, mas escrito num registo muito particular, é, ao mesmo tempo, um registo algo próximo do acontecimento e do seu protagonista e um olhar através da perspectiva dos curiosos.
Também muito breve, As Caudas do Bicho introduz um episódio das muito invulgares relações entre um superior e o seu subordinado. Cativante quanto baste, certeiro na observação de certos traços do "mundo dos negócios", perde um pouco pela ambiguidade que deixa, afinal, uma certa impressão de estranheza.
Mal-Amada, outro conto breve e também algo ambíguo, descreve o que parece ser uma tentativa de sedução. Deixando a impressão de algo que poderia ter sido mais vasto, cativa, ainda assim, pela fluidez da escrita.
As Meninas de Ivan Vasquez, história dos amores de um homem através do tempo, cativa, em primeiro lugar, pela voz do narrador/protagonista e pela forma ora entusiástica, ora nostálgica como descreve as suas paixões. Sobressai também uma fluidez de escrita que confere ao texto um ritmo muito peculiar. Tão peculiar, de resto, como as circunstâncias da história propriamente dita.
Segue-se Aqui Não Mora Ninguém, história de dois bancos de jardim de localização pouco comum, e dos seus respectivos frequentadores. Também aqui sobressai uma forma de escrita muito particular, de ritmo cativante e com expressões invulgares. Cativa, também, o contraste e a simetria entre as figuras principais do conto.
O Medo dos Távoras, breve relato da conturbada ligação de um homem às mulheres da sua vida, cativa, mais uma vez, pelo invulgar, quer da situação, quer da forma como esta é narrada. Tudo é explicado de forma muito sucinta e, ainda assim, fica a impressão de que não lhe falta nada. Um conto muito breve, mas completo.
A estranha relação entre um homem e uma mulher serve de base a Coisa Nossa, um conto feito de fragmentos de uma vida comum, e de pensamentos tão estranhos como surpreendentes. Cativante, ainda que pareça ser deliberadamente ambíguo, marca principalmente pela forma como está construído.
Tibério Cisco conta a história da evolução de um rapaz. Muito simples, resumindo os factos ao essencial, cativa pelo ritmo e pelo retrato sucinto do seu protagonista.
Segue-se O Bem-intencionado, história de um sucesso tardio e das  tribulações da criação de um mundo melhor. Bastante surreal, mas com uma fluidez estranhamente cativante, confunde e fascina, ao mesmo tempo, pelas suas ambiguidades.
Das rotinas agitadas da cidade e do contraste com meios mais tranquilos trata O Conquistador da Paz, conto divagativo, um tanto ambíguo, mas cativante quanto baste e, como seria de esperar, bem escrito.
Azar é, no fundo, a clássica história dos azares da vida, na forma da mulher grávida antes do casamento e de todos os problemas associados a esta situação. Um bom retrato de uma forma de pensar que ainda prevalece em alguns meios e um conto que, narrado na habitual forma sucinta, consegue marcar pela intensidade que confere ao essencial.
Por último, Cinco Passos atravessa gestos e rotinas num breve fragmento do que parece ser uma forma de existir. Vago, ambíguo, deixa, ao mesmo tempo, uma sensação de estranheza e a impressão de uma contemplação bem conseguida do interior do protagonista/narrador.
Da leitura destes contos, e da sua conjugação como unidade, a impressão que fica é a de um livro peculiar, repleto de estranheza e de fascínio, sucinto nas palavras, mas complexo no que elas representam. Um bom livro, pois. Um muito bom livro.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Oscar Wilde e o Jogo da Morte (Gyles Brandreth)

Reunido com os seus amigos para um jantar festivo, Oscar Wilde decide dar início a um jogo. A ideia é simples: todos os convivas devem escrever o nome de alguém que gostariam de matar. Depois, caberá aos outros descobrir quem escolheu que vítima e porquê. Mas o que pretendia ser um jogo inconsequente acaba por se tornar uma situação perigosa quando, nos dias seguintes, as vítimas nomeadas começam a aparecer mortas. Sentindo-se parcialmente responsável pelo que está a suceder - e também ameaçado, já que o seu nome consta da lista de vítimas - Oscar sente-se na obrigação de seguir as pistas e, tal como o Sherlock Holmes do seu amigo Arthur Conan Doyle, desvendar o mistério.
Tendo como premissa a resolução de um mistério algo improvável - como é, aliás, característico desta série - este é um livro que cativa, em primeiro lugar, pela forma como o seu protagonista assume uma nova faceta - a de detective - sem descurar as características que lhe são normalmente atribuídas. Ao imaginar Oscar Wilde como detective amador, o autor constrói-lhe um papel invulgar, associando-o a uma capacidade dedutiva particularmente interessante - e com paralelismos muito bem estabelecidos relativamente às capacidades de Sherlock Holmes - sem perder de vista os outros aspectos da sua personalidade. Oscar Wilde, o autor e esteta, está tão presente neste mistério como a sua faceta de detective. A conjugação das duas é, aliás, um dos grandes pontos fortes deste livro.
Mas, se a força do protagonista é um elemento crucial, outros há que contribuem para fazer deste livro uma leitura viciante. Em torno de Oscar, circulam figuras excêntricas, improváveis, infames - e outras absolutamente respeitáveis. Isto contribui, desde logo, para criar um muito agradável ambiente, com situações caricatas quanto baste, mas também com uma muito boa base de contextualização da época. Mas há também muito de interessante na natureza individual destas figuras, desde a constante amizade de Robert, o narrador, à estranha obsessão de Charles Brookfield, sem esquecer a reserva de Arthur Conan Doyle. Há toda uma diversidade de personagens, todas elas interessantes e bem desenvolvidas, que gravitam em torno da história de Oscar - e da sua capacidade de resolução de mistério - mas sem perder as suas respectivas identidades e histórias.
E depois há o mistério. Intrigante desde o início, com a peculiaridade do jogo da morte a abrir caminho para uma situação complexa e intensa - até pelo facto de Oscar ser uma das potenciais vítimas, o caminho para o desvendar do mistério evolui pausadamente, mas sempre através de revelações interessantes, para culminar num final particularmente bom. É fácil alimentar suspeitas, já que várias personagens têm possíveis motivos e oportunidades, mas a forma como tudo se resolve é bastante inesperada, o que acaba por encerrar em beleza esta história sempre cativante.
Intrigante e envolvente, Oscar Wilde e o Jogo da Morte apresenta, pois, uma história de crime e mistério, com personagens tão cativantes quanto peculiares e um enredo cheio de surpresas. Muito bom.

Novidades Planeta para Janeiro

Simon Hawkins, duque de Trent, está habituado aos escândalos.
Os rumores e insinuações caíram sobre a Casa de Trent durante décadas, e Simon teve de limpar o nome de família. 
Vive por um rigoroso código de honra, mas quando tem de investigar o desaparecimento da mãe, o ilustre duque vai também encontrar a tentação, pois depara-se com a única mulher que amou que também é última mulher que devia desejar. 
Sarah Osborne passou a vida a sonhar com o toque de Simon. Mas os duques não se interessam por criadas. 
Sarah acredita que, o beijo roubado despertou uma paixão que pode ser a sua ruína. Mas ao começarem um romance proibido, surgem inimigos dispostos a destruir o duque e tudo o que ele ama. 
Simon vê-se preso numa teia de chantagem e, enfrenta uma escolha angustiante: sacrificar o futuro da família ou partir o coração de Sara.

Se não sabe por onde começar, este é o livro de que precisa. 
Aqui está descrita a viagem pela parte mais percorrida e mais acessível do Caminho Português de Santiago. 
Comece no Norte de Portugal e vá até Santiago. 
Reserve uma semana das suas férias e viva uma experiência única que o vai mudar por dentro e por fora – e fazer acreditar mais nas suas próprias capacidades de vencer obstáculos e barreiras que lhe parecem intransponíveis. 
Fausta Cardoso Pereira tem uma vida «absolutamente normal», com uma carreira profissional e sem qualquer preparação física, mas com um dom de escrita muito especial e conta as suas motivações e aventuras para fazer o Caminho de Santiago duas vezes, de duas maneiras: primeiro de bicicleta, depois a pé. 
Uma voz de alguém que não faz o Caminho por motivos religiosos, desportivos ou turísticos mas que acredita – e nos faz acreditar – que: 
«o Caminho de Santiago é de todos os que o querem fazer», independentemente das motivações e das religiões de cada um. 
Um Caminho de descoberta e libertação espiritual contado por quem a viveu.
Para chegar ao fim do Caminho, o mais importante é fechar a porta de casa, ultrapassar a dependência dos gadgets, voltar a funcionar de uma forma mais ou menos medieval, seguindo setas e procurando indicações aqui e ali. 
No fim de tudo, corpo e espírito despem-se da aceleração do dia a dia, e aceitam naturalmente o que corre, e o que não corre como planeado. 
No futuro, outros Caminhos se seguirão.

A autora, uma especialista em anjos, mostra-nos como aproveitar cada momento para encontrar a paz e a felicidade, através destes seres que nos acompanham e guiam durante toda a vida.
Maria Elvira Pombo ensina-nos ainda como comunicar com os anjos, sem precisarmos de possuir qualquer dom. Todos podemos dialogar comestes seres de luz.
As respostas podem chegar através dos sonhos, da nossa intuição, ou dos sinais que se apresentam como coincidências ou pela meditação. 
Com muito poucos relatos, a primeira parte do livro explica as técnicas da comunicação com os anjos. Na segunda, ficamos a conhecer asleis universais da energia, que na linguagem dos anjos se chama magia. 
Estas leis são ferramentas espirituais práticas, profundas e poderosas que nos guiam para alcançarmos êxito e aproveitarmos cada momento davida.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Antes que Chova (João Nunes)

De amor e de saudade, e todas as experiências e emoções entre ambos. Desta matéria são feitos os poemas deste pequeno, mas muito interessante livro. E interessante, acima de tudo, por apresentar uma voz muito própria, definida por um contraste peculiar entre o que é a narração pura e dura das coisas e a complexidade das ideias e sentimentos que lhes estão subjacentes.
Esta particularidade é algo constante em todos os poemas do livro, sejam os mais extensos, sejam os que não passam da devidamente realçada terceira linha. É uma impressão peculiar, feita de frases directas, de exposições claras, que criam uma impressão de aparente simplicidade, mas que, ao conjugar-se num todo, acabam por revelar uma mais vasta complexidade. As emoções por detrás das palavras simples, as ideias, as próprias imagens, são algo de muito maior do que o que é contido numa frase. E assim, de uma forma de escrita que, à primeira vista, nada tem de elaborado e rebuscado, surgem poemas verdadeiramente memoráveis.
Um outro aspecto que sobressai deste livro é um muito bom equilíbrio a nível de unidade temática. Cada um dos poemas é um todo em si mesmo, e, tendo isto em vista, a diversidade de perspectivas - do amor, do quotidiano, da partida, da morte - torna o conjunto abrangente o suficiente para que a leitura nunca se torne repetitiva. Mas, desta multiplicidade de questões, surge também um sentido de unidade, concretizada num registo muito pessoal, definindo a identidade do sujeito poético através das emoções e da voz com que as explora. Há uma perspectiva global a retirar da totalidade do livro, que é, no fundo, a soma do que se retira de cada poema, e daquilo que os une na forma de um todo maior. Um equilíbrio delicado, em suma, mas muito bem constituído.
É um livro breve, este Antes que Chova. Mas é também, com uma identidade bem definida e uma forma muito própria de moldar imagens e afectos num registo que facilmente fica na memória, um conjunto de surpreendente complexidade, equilibrado e completo, em cada poema e no todo. Muito bom, em suma.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Os Doze (Justin Cronin)

A libertação dos virais, como resultado de um projecto governamental que correu mal, despoletou o caos. À medida que o vírus se espalha, deixando mortos - e novos virais - no seu rasto, os últimos resistentes lutam pela sobrevivência. Lila prende-se no seu próprio mundo para lidar com a devastação. Kittridge procura refúgio, levando consigo os que encontra no caminho. Grey, sem memórias do que aconteceu, busca apenas uma fuga, apesar da voz que fala dentro de si. Numa corrida contra o tempo, todos tentam lidar, tanto quanto possível, com a calamidade e sobreviver. Mas há algo mais que caos na acção dos virais. E a passagem do tempo, com os novos acontecimentos, revela os contornos de uma mente com uma intenção maior.
Depois da intensidade e da complexidade de A Passagem, as expectativas para este livro eram as mais elevadas. E a verdade é que Os Doze supera-as em todos os aspectos, mantendo todos os pontos fortes e acrescentando ainda novos desenvolvimentos, num livro que talvez ainda mais complexo que o anterior, apresenta também mais de tudo o resto: mais surpresas, mais emotividade, mais acção. E também, e acima de tudo, um contexto cada vez mais vasto e cada vez mais fascinante, em que cada nova revelação abre portas a uma nova perspectiva - e a novos e surpreendentes acontecimentos.
O que vinha de A passagem, quer de explicações, quer de acontecimentos e de personagens, é agora complementado com novos elementos. O autor recua, até, aos primórdios da propagação do vírus, para apresentar novas personagens, ligando-as com todo o sistema já conhecido. Esta conjugação vem acrescentar complexidade ao enredo, ao mesmo tempo que lhe aumenta o impacto, já que as novas personagens são tão capazes de gerar empatia como as anteriores e o equilíbrio entre ambas, entre o novo e o familiar, torna a história bem mais intensa. Além disso, os saltos na linha temporal permitem ainda adensar o mistério, levantando novas perguntas para cada resposta dada e revelando novas ligações entre personagens e acontecimentos.
No centro de tudo isto, há dois pilares que se distinguem. De um lado, Amy, a Rapariga de Nenhures, do outro Os Doze e o fascinante ciclo da sua existência. Mas há um elo de ligação. Aqui, talvez mais que em todos os restantes momentos - e há, de facto, momentos impressionantes em abundância - sobressai a sempre constante, ainda que sempre mutável, presença de uma personagem que, presente, mas discreta, desde o início, acaba por ser fundamental na evolução do enredo.
Escusado será dizer que ficam ainda perguntas sem resposta. Das muitas personagens importantes nesta narrativa, e de tudo o que há de marcante nas suas histórias, surge uma perspectiva global que é, ainda, muito mais vasta do que foi revelado. Ainda assim, há uma espécie de final para este segundo livro. Um futuro a considerar, é certo, mas mais como uma nova fase do percurso, depois de completa a fase que foi contada. Este equilíbrio, quase que de portas que se encerram para que outras se possam abrir, é ainda um outro ponto forte neste muito interessante livro.
Com um sistema vastíssimo e uma história complexa, mas também com personagens marcantes e um enredo riquíssimo em momentos intensos, este é, pois, um livro que corresponde em pleno às expectativas, elevando-as ainda mais para o volume final. Impressionante em todos os aspectos, um livro que recomendo sem reservas.

Para mais informações sobre o livro Os Doze, clique aqui.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Novidade Europa-América

Título: A Queda de Artur
Autor: J. R. R. Tolkien
Colecção: Obras de J. R. R. Tolkien
Preço: 22.25€
Pp.: 248

Inédito em Portugal
Edição organizada por Christopher Tolkien
Versão Bilingue

A Queda de Artur, a única incursão de J. R. R. Tolkien nas lendas do rei Artur da Bretanha, pode muito bem ser vista como a sua mais delicada e hábil aventura na métrica aliterativa do inglês antigo, tendo concedido à sua interpretação inovadora das antigas narrativas uma sensação penetrante da natureza grave e determinista de tudo o que é contado: da expedição ultramarina de Artur até às distantes terras pagãs, da fuga de Guinevere de Camelot, do regresso de Artur à Bretanha e da grande batalha naval, no retrato do traidor Mordred, nas dúvidas atormentadas de Lancelot no seu castelo francês.
Infelizmente, A Queda de Artur foi um dos seus vários poemas longos inacabados. Há evidências que terá começado a escrevê-lo no início dos anos 30 do século passado e estaria num estado suficientemente avançado para que o enviasse a um amigo perspicaz, que o leu com grande entusiasmo no final de 1934, e o incentivou a concluí-lo com urgência: «Tem mesmo de o terminar!» Contudo, foi em vão. Tolkien abandonou-o, em data desconhecida, ainda que alguns indícios apontem para 1937, o ano de publicação de O Hobbit e das primeiras incursões em O Senhor dos Anéis. Anos mais tarde, numa carta de 1955, disse que «esperava terminar um longo poema sobre A Queda de Artur», mas esse dia nunca chegou.
Associadas ao texto do poema, existem, contudo, várias páginas manuscritas; uma grande quantidade de rascunhos e experiências em verso, nas quais a estranha evolução da estrutura do poema é revelada, juntamente com sinopses narrativas e notas deveras significativas, ainda que desesperantes. Nestas últimas, é possível discernir associações claras, ainda que misteriosas, do fim de Artur com O Silmarillion e a amarga conclusão do amor de Lancelot e Guinevere, que nunca chegou a ser escrito.

J. R. R. Tolkien nasceu a 3 de Janeiro de 1892 em Bloemfontein. Depois de ter servido na Primeira Guerra Mundial, Tolkien abraçou uma distinta carreira académica e foi reconhecido como um dos melhores filólogos do mundo. No entanto, é mais conhecido como o criador da Terra Média e autor das clássicas e extraordinárias obras de ficção como O Hobbit, O Senhor dos Anéis e O Silmarillion. As suas obras foram traduzidas para mais de 60 línguas e venderam milhões de exemplares em todo o mundo. Foi premiado com um CBE e um grau honorário de Doutor em Letras pela Universidade de Oxford, em 1972. Faleceu em 1973, com 81 anos.

Christopher Tolkien nasceu a 21 de Novembro de 1924 e é o terceiro filho de J. R. R. Tolkien. Nomeado por Tolkien como seu executor literário, tem-se dedicado, desde a morte do pai, em 1973, à edição dos escritos não publicados, nomeadamente O Silmarillion e as colecções intituladas Contos Inacabados de Númenor e da Terra Média e The History of Middle-earth (A História da Terra Média). Ele e a esposa vivem em Baillie, França, desde 1975.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Absolution (Susannah Sandlin)

Mirren Kincaid foi criado para ser um guerreiro e mercenário. Quando o transformaram em vampiro, a única mudança foi na identidade dos seus empregadores. Mas isso foi antes de ele perceber que nenhuma das pessoas que ele era enviado para matar era mais culpada que os que o enviavam. Foi nesse ponto que decidiu fingir a própria morte para se afastar do papel de executor do Tribunal. O problema é que eles querem-no de volta. Mirren encontrou em Penton e no seu peculiar grupo de vampiros, a paz possível, mas o Tribunal não está disposto a permitir a sua situação. Mathias Ludlam, um dos seus membros, consegue capturá-lo, tanto para defesa do interesse do Tribunal como do seu próprio. E, ao encontrar uma humana com poderes psíquicos – poderes que não consegue quebrar – ele espera poder usá-la para quebrar o controlo de Mirren, levando-o a matar. Mas Glory Cummings não é tão fraca como a julga. E Mirren, o vampiro sem coração, está prestes a descobrir que não a pode deixar para trás.
Um dos pontos mais interessantes deste livro está no ambiente onde tudo decorre. Sendo o segundo livro da série, é natural que haja alguma informação em falta para quem, como eu, não tiver lido o primeiro. Mas há também mais que o suficiente para ficar a conhecer bem este mundo. É uma história de vampiros e, por isso, tem muito em comum com os vampiros de outros livros, mas tem também bastantes particularidades. E essas têm muito de interessante. Todo o conceito do sistema de Penton, por oposição a um Tribunal movido pelo poder, levanta várias questões interessantes, a começar, desde logo, pela influência dos poderosos, idêntica no mundo sobrenatural e no humano. Além disso, a ligação entre vampiros e humanos, tal como desenvolvida em Penton, é uma ideia muito interessante e muito bem desenvolvida.
Além do sistema, há a inevitável mistura de romance e acção. Grande parte da história envolve Mirren e Glory, e a relação entre ambos, sendo de esperar, por isso, uma boa medida de romance a surgir. Neste aspecto, sobressai a forma como as suas personalidades se complementam, diferentes em muitos aspectos, mas ligadas por passados difíceis e uma natureza inerentemente boa. Há os expectáveis momentos de estranheza, é claro, mas o rumo dos acontecimentos leva a uma evolução na relação e um crescimento que abre caminho para vários momentos intensos.
E é aqui que importa realçar os momentos de acção. Ainda que a relação entre os protagonistas seja, na maioria do enredo, o foco, Penton tem inimigos poderosos. Isto implica batalhas a travar, algumas pessoais, outras por uma razão mais vasta. Significa também que outras personagens, além dos protagonistas, terão um papel a desempenhar. Também isto contribui para o muito bom equilíbrio entre o romance e acção presentes ao longo do enredo.
Tendo em conta tudo isto, o que este livro apresenta é, em suma, um muito interessante sistema, que serve de base a uma boa história, de ritmo intenso e com um conjunto de personagens muito interessantes. Um livro viciante e, definitivamente, uma série a acompanhar.

sábado, 14 de dezembro de 2013

Billy Budd, Marinheiro (Herman Melville)

Recrutado à força para servir num navio de guerra, Billy Budd chama as atenções de todos, pela inocente cordialidade, mas principalmente pela inesperada beleza. Mas nem todos o acham agradável. Claggart,o mestre-de-armas, parece ter razões - ainda que, talvez, só suas - para antecipar com o jovem marinheiro. E, ainda que Billy não o veja, a sua história está destinada a acabar mal, quando o ressentimento abrir caminho à intriga e à tragédia. 
Sendo uma história bastante breve, uma das coisas que primeiro surpreendem neste pequeno livro é o registo divagativo. Ainda que Billy seja o centro da história, há uma demora em explicar contextos, em caracterizar o ambiente global e os traços individuais - físicos e psicológicos - de umas quantas personagens. Ora, esta informação é relevante, pelo menos nalguns aspectos, mas acaba por conferir à narrativa um ritmo bastante pausado. Dificilmente será, portanto, uma leitura viciante.
Mas é, apesar disso, um livro muito interessante. Ainda que certos aspectos da história surjam a partir de uma perspectiva algo distante, a tragédia de Billy levanta algumas questões relevantes, desde a falibilidade do julgamento humano ou a prevalência (ou não) da disciplina sobre a justiça. Além disso, e mesmo que parte das motivações sejam deixadas por explicar, o contraste entre o comportamento dúbio de Claggart e a inocência quase infinita do jovem Billy impressionam, pelo muito que têm de diferente - e de complementar.
E há ainda um outro ponto a sobressair da forma como esta história está escrita. É que, de entre a divagação e a exposição de contexto e história, surge também o impacto de algumas frases particularmente marcantes, e de um poema final que confere à história a emoção que, por vezes, lhe falta na narração de alguns episódios.
De tudo isto, fica a ideia de uma história breve e aparentemente simples, de ritmo pausado, mas impressionante nalguns aspectos, e cativante, apesar de algumas ambiguidades. Uma leitura interessante, portanto.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Cidadão Orson Welles (Maria Helena Ventura)

Yasmina viu-o por acaso e não pôde resistir a segui-lo. Trazia consigo uma história cheia de sofrimento e a esperança de conseguir uma nova vida, sem saber bem como. E tudo mudou, de facto, com o gesto de coragem que a levou à bater à porta do grande Orson Welles. Com ele, viria a viver uma história de amor atribulada, feita de segredos, de momentos e de saúde. Feita corajosa pelo próprio passado, aprenderia a confortar com carinho as desilusões do seu grande amor. E amor - e um grande tesouro - guardaria para sempre consigo.
Narrado na primeira pessoa pela voz da protagonista, este é um livro que se, define, essencialmente como uma história de amor. Bastante breve, tem nas suas figuras centrais a base de toda a narrativa e, partindo daí, é natural que seja o romance o que mais marca nesta história. Mas é precisamente a forma como este romance é contado o que primeiro cativa nesta leitura. É que o afecto e o desejo transparecem mais das palavras e dos pequenos gestos, que propriamente de acções. Fica, então, uma certa ambiguidade, algo que é deixado à imaginação do leitor, e que, curiosamente, acaba por tornar a história mais interessante.
Também interessante é a escrita, com laivos de poesia e, ao mesmo tempo, sem grandes elaborações descritivas, adapta-se ao registo de recordação saudosa que parece transparecer de toda a narrativa. É fácil imaginar a voz que conta a história como a da mulher que recorda um amor, com todos os belos momentos e as situações complicadas a ele associados. Junte-se a isto uma bem conseguida caracterização das personalidades, com os retratos que a autora traça para Orson e Yasmina a completarem-se da melhor forma, e o resultado é uma leitura sempre envolvente.
Fica, de alguns momentos, a sensação de que algo se perde pela brevidade. Ainda que centrada no romance entre os protagonistas, esta é também uma história em que o passado de Yasmina é particularmente relevante. É neste aspecto que fica a impressão de que mais haveria a dizer, quer na contextualização desse mesmo passado, quer até em situações que, surgindo ao longo da narrativa, são tratadas de forma muito breve. Não são, ainda assim, aspectos essenciais, ainda que fosse interessante saber mais sobre o assunto, e a brevidade com que são referidos nada retira ao que é, afinal, o foco do enredo: a história da relação entre Yasmina Salouadji e Orson Welles.
Envolvente, com uma base factual muito interessante e uma escrita que apresenta ao leitor o melhor da história e dos seus protagonistas, este é, pois, um livro que, apesar da sua brevidade, cativa, surpreende e, nalguns pequenos momentos, chega a comover. Uma boa leitura, em suma.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Sensibilidade e Bom Senso (Jane Austen)

Inesperadamente privadas, pelo meio-irmão, dos meios a que estavam habituadas, a senhora Dashwood e as suas três filhas vêem-se obrigadas a partir para uma residência mais modesta em Devonshire. Facilmente se enquadram na vida social do seu novo ambiente, mas, para as duas irmãs mais velhas, a situação traz complicações imprevistas, tão diferentes como as suas respectivas personalidades. Elinor, a mais sensata, sofre com resignação a perda de Edward Ferrars, por quem sentia afecto, mas cuja família a olha com desdém. Marianne, emotiva e impulsiva, cedo se descobre enlevada por John Willoughby, aparentemente perfeito em todos os aspectos, mas de intenções dúbias. E, entre a agitação de uma vida social que vive mais de aparências que de acções, as duas irmãs encontrarão destinos bem diferentes na inconstância das suas vidas. Suportadas, ainda assim, pelo afecto que as une.
Bastante centrado na caracterização do ambiente e da sociedade da época, mas até do que na história pessoal das protagonistas, dificilmente se poderá considerar este livro como uma leitura leve ou compulsiva. Bastante descritivo, quer a nível de hábitos, quer de locais, quer ainda de relações e de conversas, o enredo evolui a um ritmo muito pausado. Além disso, ainda que seja fácil reconhecer em Marianne e Elinor as protagonistas, nem sempre a história delas surge como o centro da narrativa. Principalmente na fase inicial, há uma dispersão entre diferentes figuras, ambientes e hábitos sociais, o que, associado à extensa caracterização de outras personagens mais ou menos relevantes, torna a leitura um pouco cansativa.
Com o evoluir do enredo, a leitura torna-se mais interessante. Primeiro, porque, assimiladas as muitas e longamente descritas particularidades da sociedade e das personagens, é, agora, mais fácil reconhecer o que as define individualmente. Mas, e principalmente, porque as protagonistas ganham destaque, e porque a sua história evolui não só num sentido de maior compreensão pessoal, mas para elementos de maior intensidade emocional. Toda a situação em torno dos romances de ambas as irmãs, ainda que sempre referida com a expectável ambiguidade, cresce num sentido de um maior drama, de situações de maior intensidade. E, em resultado disto, de maior empatia.
A partir deste ponto, as personagens tornam-se mais próximas e a leitura bastante mais fluída. E é também a partir daqui que se revela o mais interessante das personagens. É que, definidas desde o início por algumas características, e depois postas em causa por algumas acções, tudo muda com algumas grandes revelações e um ou outro pequeno gesto. No final, a impressão que fica é a de um crescimento das personagens - e, nalguns casos, da redenção possível. E acaba por ser esse percurso o que mais marca.
O que fica deste livro é, assim, em primeiro lugar, um longo e completo retrato da sociedade que apresenta, e depois a impressão de uma história que, um pouco dispersa a princípio, acaba por cativar, pelas suas protagonistas, e por surpreender, nos seus melhores momentos. Interessante, pois.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Encantamento (Alice Hoffman)

Tudo começou com a fogueira que consumiu os livros proibidos. Naquele tempo, Estrella era uma jovem inocente, acreditava no poder da amizade e pouco sabia de quem realmente era. Mas as perseguições estavam prestes a começar. E a propagação do ódio entre as gentes do lugar trouxe também a descoberta de uma identidade e de um primeiro amor - e uma traição que lhe custaria tudo.
Narrado na primeira pessoa e com uma história relativamente breve, este é um livro que marca principalmente por dois aspectos: o impacto emocional e o equilíbrio. O equilíbrio, porque, sendo uma história bastante curta, nunca fica a sensação de que as coisas sejam contadas de forma apressada, mas antes com a simplicidade algo inocente que se associa à personalidade e ao grau de conhecimento da protagonista. E o impacto emocional, porque, através desse mesmo olhar inocente, é possível ver, primeiro, afecto e esperança, depois dor, medo e desgosto, e tudo isto é transmitido ao leitor.
A voz de Estrella é a voz de alguém muito jovem, pouco mais que uma criança. E isso impressiona, porque o que nos é contado pela voz dela é uma história que é também de crueldade. Aqui reside, aliás, outra das forças deste livro. É que, por detrás da aparente simplicidade, surge um olhar muito perspicaz à crueldade humana, e isso reflecte-se tanto nas perseguições aos cristãos-novos como no comportamento de Catalina e no papel que esta tem a desempenhar na vida da sua amiga.
Nem todas as questões encontram uma resposta e nem todos os culpados são punidos - ou não fosse a base histórica deste livro um bom exemplo de quantas vezes sucedeu precisamente o contrário. Ainda assim, esta ambiguidade acaba por surgir nos aspectos mais adequados, dando a certos intervenientes do enredo apenas a importância que realmente merecem. Acaba por ser, no fundo, uma discreta forma de justiça poética.
Feita de simplicidade e de inocência, e, talvez por isso, com um olhar muito certeiro à capacidade dos homens para a crueldade, esta é, por isso, uma história que, apesar da sua brevidade, cativa, comove e fica na memória. Recomendo, pois.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Os Livros do Final da Tua Vida (Will Schwalbe)

Quando a mãe de Will foi diagnosticada com um cancro em fase terminal, ambos se aperceberam de que iriam passar muito tempo em salas de espera e tratamentos. Para ocupar o tempo - e talvez para falar, de uma forma diferente, das coisas verdadeiramente importantes - decidem trocar impressões sobre aquilo que estão a ler. Formam, assim, uma espécie de clube de leitura de apenas dois membros. E, através da passagem do tempo rumo ao fim da jornada, descobrem-se através das palavras e, na companhia dos livros, conseguem dizer e fazer tudo o que é preciso.
Tendo em conta a história na base deste livro, não será nenhuma surpresa que este seja um livro triste. É-o, de facto. O autor fala com bastante detalhe da doença da mãe, do que é viver esse percurso, das conversas tidas com ela e dos momentos partilhados. Isto inclui dias bons, afectos partilhados e pequenos milagres, mas inclui também todas as dificuldades ao longo do percurso. As consequências da doença e dos tratamentos, as dificuldades e as dúvidas, a simples consciência, até, da mortalidade, tudo isto está presente. Há, pois, tristeza. É inevitável. E essa tristeza sente-se também na voz do autor, na forma como, olhando o passado, conta a história dos seus últimos dias com a mãe.
Mas não há só tristeza. Há também os tais dias bons e os pequenos milagres. Há a história de uma mulher forte e de um percurso de vida que apela à reflexão sobre o que realmente importa na vida. E isto surge tanto na história dos seus últimos dias, com um retrato maravilhoso - ainda que necessariamente perturbador - dos afectos e das relações familiares, e de como estes evoluem perante a perda, mas no trabalho de uma vida dedicada aos necessitados. De tudo isto, surge uma mensagem muito positiva, e a forma como o autor a transmite, oferecendo percepções e emoções ao leitor, é também algo de muito marcante.
E depois há os livros. Uma das coisas mais interessantes de se ler um livro sobre livros é, além de encontrar pontos de vista comuns, a possibilidade de descobrir novas leituras. Também nesse aspecto este é um livro muito interessante. Muitos livros são referidos neste livro, apresentados de forma sucinta, mas de uma perspectiva próxima e com impressões pessoais, ficando, naturalmente, alguma curiosidade - ou bastante vontade - de ler alguns deles. E, quanto ao ponto de vista do autor sobre a importância dos livros e da leitura, é fácil descobrir pontos comuns, o que, desde logo, cria uma impressão de maior proximidade.
Emotivo e bastante pessoal, este não é apenas um livro sobre livros, tal como não é apenas um livro sobre a morte. É também a história de uma vida e de algumas paixões e afectos - por livros, por lugares e por pessoas. E, no fundo, é porque tudo isto se cruza e se completa, que acaba por ser, também, uma leitura memorável, este livro que é algo triste, mas muito bom.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Fotografias Lentas do Diabo na Cama (António Costa Silva e Nicolau Santos)

Duas vozes diferentes, para dois registos diferentes, mas com pontos em comum e um tom que é tanto de quem olha para dentro como de quem observa o mundo. É isto que, acima de tudo, se retém deste livro de poesia em que dois autores, de estilos diferentes, mas com pontos comuns em temas e em imagens, se juntam numa interessante complementaridade. Porque é, no fundo, de complementaridade que se trata, já que qualquer das partes podia ser lida por si só, e formaria um livro completo, mas a soma de ambas cria um equilíbrio muito bom.
Sendo este um livro de dois autores, e em que os poemas de um e de outro estão claramente identificados, é difícil resistir a procurar diferenças e semelhanças. As diferenças são evidentes. António Costa Silva apresenta um registo mais sóbrio, mais sombrio, às vezes, também mais livre na formulação das ideias. A este registo contrapõe-se uma poesia mais leve, quase divertida por vezes, assente também no ritmo e na rima, com um toque de humor e de aprendizagem, a de Nicolau Santos. Muito diferentes, portanto. E, contudo, complementares, já que, por vezes, num deles surge a inesperada leveza, noutro a surpreendente solenidade. É fácil reconhecer identidades individuais, mas também algo de bom que resulta de surgirem em conjunto. É essa, talvez, uma das grandes forças deste livro.
Mas há também diferenças de registo dentro dos poemas de cada autor e, como seria de esperar, alguns que cativam mais que outros. No que me diz respeito, sobressaem os mais extensos e mais sérios, os que realçam um lado mais sombrio - da sociedade ou da identidade pessoal. Mas a verdade é que todos têm algo de cativante, seja numa imagem mais longamente explorada, ou na brevidade de uma ideia, da qual mais poderia dizer, mas de que o essencial fica na memória. Esta diversidade de assuntos e de registos acaba por ser também um ponto forte, já que diferentes poemas apelarão a diferentes leitores.
Diversidade e equilíbrio na complementaridade são, portanto, os aspectos que sobressaem desta leitura. De um livro que, a duas vozes e dois registos, percorre um olhar ao mundo e a si mesmo numa interessante variedade de imagens e de tons. Gostei.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A Vida de Jesus (Raul Correia e Carlos Alberto Santos)

Do nascimento, até à morte e ressurreição, a história da vida de Jesus de Nazaré será, seguramente, conhecida de muitos. Dos milagres, da mensagem, dos princípios da fé. E, claro, do sofrimento e da morte. E, depois, do ressurgir. Este livro é também a narrativa dessa tão conhecida história, contada num registo mais simples, mas muito próximo ao da Bíblia, e complementado pela clareza - e pela beleza - das ilustrações.
O que primeiro cativa para este livro é a beleza da edição. Com abundantes ilustrações a complementar o texto, este é, desde logo, um livro bonito, e o aspecto visual apela à leitura. Mas este equilíbrio entre texto e ilustração tem ainda um outro efeito interessante. É que sendo a narração bastante simples e sucinta, a ilustração contribui para tornar mais claro aquilo que está a ser contado. Texto e imagem conjugam-se para formar um todo maior.
Relativamente à história propriamente dita, não há muito a dizer. É amplamente conhecida e segue essencialmente a narrativa dos evangelhos. Assim, o ponto forte é a simplicidade, já que os pontos centrais são realçados e a leitura torna-se mais leve, mais fácil de detectar no seu essencial. Além disso, surgem, ocasionalmente, pequenos momentos de informação ou comentário complementar, o que permite uma perspectiva mais pessoal.
Tudo é narrado de forma muito sucinta. Resumidos ao seu essencial, alguns episódios deixam a impressão de mais haver a explorar - talvez por a narrativa bíblica ter servido já de base a tantas adaptações e recriações. Ainda assim, e uma vez que parece, de facto, que o objectivo é realçar o essencial - a história e a mensagem - a forma como esta história é narrada cumpre, de facto, esse propósito.
Ainda um outro aspecto cativante neste livro é que, na sua forma directa de contar a história - sem grandes demoras em análise de significados - , não exige necessariamente uma medida de fé. É possível apreciar a história e reconhecer os pontos positivos da mensagem, independentemente de se ser crente ou não. E retirar de toda esta narrativa o que mais marca, em acontecimentos e em pensamentos, considerando a divindade, ou não.
Tudo somado, o que fica é a impressão de um livro bonito, escrito de forma simples e cativante e, portanto, de uma boa leitura para conhecer - ou revisitar - essa história já tão conhecida e tantas vezes contada. Gostei, portanto.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O Hobbit - relançamento com nova capa

Título: O Hobbit
Autor: J. R. R. Tolkien
Colecção: Contemporânea
Preço: 22.75€
Pp.: 264

O prelúdio d’ O Senhor dos Anéis
A obra que inspirou a adaptação cinematográfica de Peter Jackson

Esta é a história da aventura de um Baggins, que deu consigo a fazer e a dizer coisas completamente impensáveis…
Bilbo Baggins é um hobbit que desfruta de uma vida confortável e sem qualquer ambição. Ele raramente se aventura em viagens, não indo mais longe do que até à dispensa de sua casa, no Fundo do Saco. Mas este conforto será perturbado por Gandalf, o feiticeiro, e por um grupo de treze anões, que num belo dia chegam para o levar numa viagem «de ida e volta». Eles têm um plano para pilhar o espantoso tesouro de Smaug, o Magnífico, um dragão enorme e extremamente perigoso.
Encontros inesperados com elfos, gnomos e aranhas gigantes, um dragão que fala, e ainda a presença involuntária na Batalha dos Cinco Exércitos, são apenas algumas das experiências por que Bilbo passará.
O Hobbit é o prelúdio de O Senhor dos Anéis e já vendeu milhões de cópias desde a sua publicação, em 1937. É claramente um dos livros mais amados e influentes do século XX.

«Uma obra-prima incomparável», The Times