sexta-feira, 31 de maio de 2013

80 Dias - A Cor da Tentação (Vina Jackson)

Summer Zahova parece estar destinada ao sucesso. Sob a orientação de Simón, o novo maestro da orquestra a que pertence, novos caminhos se abrem no percurso da sua carreira, e a vida em Nova Iorque afigura-se-lhe promissora. Também a sua relação com Dominik parece satisfatória, ainda que pontuada por algumas dúvidas quanto à forma de lidar com os seus desejos mais invulgares. Ainda assim, um obstáculo está prestes a desaparecer. Dominik concorreu a uma bolsa e, caso a consiga, passará também vários meses em Nova Iorque. O problema é que essa proximidade leva a questões mais profundas e a vontade de mergulhar mais profundamente no que apela aos seus desejos cria segredos entre ambos. Talvez a ligação que os une possa resultar numa relação mais forte... mas durante quanto tempo?
Seguindo no mesmo registo do primeiro volume desta série, também a história deste livro é centrada, em grande medida, no erotismo e no aspecto físico das relações. No centro, estão os mesmos protagonistas, e a relação entre ambos parece, em alguns aspectos, ter evoluído. Ainda assim, a ligação entre Summer e Dominik é apenas parte de uma história que se foca essencialmente em questões e experiências de sexualidade alternativa e que, por isso, coloca os seus protagonistas - e outras personagens - em situações invulgares.
Tendo isto - e tudo o que aconteceu no livro anterior - em conta, não há, neste livro, o que se espera, à partida, da clássica história de amor entre duas personagens. Tudo é bastante diferente, ficando, aliás, por vezes a impressão de que mais haveria a desenvolver, para lá da atracção física e dos desejos mais secretos dos protagonistas. Apesar disso, há bastante de interessante neste livro, desde a tentativa de explorar diferentes experiências a nível do mundo do sadomasoquismo e da dominação à construção do percurso de Summer a nível de carreira musical, passando ainda pelos planos da investigação de Dominik e pelas intervenções um pouco sinistras de Victor.
Victor acrescenta, aliás, um particularmente curioso toque de intriga ao enredo, com a sua intervenção a desempenhar um papel fulcral nas mudanças operadas sobre a relação entre os protagonistas. Intriga que, com muito ainda por resolver, introduz algumas possibilidades interessantes para o que poderá vir a suceder no próximo livro.
80 Dias - A Cor da Tentação é, portanto, um livro que se foca, principalmente, no erotismo, mas que, de forma envolvente e num estilo de escrita agradável, conjuga este elemento dominante com um toque de intriga e um pouco - mas peculiar quanto baste - de romance. Uma leitura interessante, em suma.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Confissões de uma Suspeita de Assassínio (James Patterson)

Os Angel nunca foram uma família normal. Maud e Malcolm sempre exigiram o máximo aos seus filhos e nunca foram propriamente expressivos nas emoções, mas a relação entre todos manteve-se pacífica, apesar de tudo. Mas aproxima-se uma mudança radical na vida de Tandy Angel e dos seus irmãos. Subitamente, a polícia bate-lhes à porta e Tandy descobre, da pior maneira, que os pais estão mortos no quarto. E que ela e os irmãos são os principais suspeitos. A única solução parece ser seguir as pistas e investigar o crime de que é acusada. Mas, à medida que segue novas possibilidades, Tandy descobre muito mais que a identidade de um culpado. Descobre os segredos mais profundos da família... e a forma como estes ditaram a sua própria natureza.
Narrado na primeira pessoa por uma protagonista jovem, este livro chama a atenção, em primeiro lugar, pela conjugação entre o mistério em torno do crime a uma vida familiar bastante disfuncional, mas não inteiramente caótica. Estes dois elementos criam um interessante contraste, ao mesmo tempo que se complementam, contribuindo ainda para colocar a protagonista e os irmãos no topo da lista de suspeitos. Esta questão, de quem é o responsável das mortes e se é realmente um dos irmãos, surge desde os primeiros capítulos e permanece presente até ao final, sendo uma de várias razões para que este livro viciante.
Também o ritmo do enredo contribui para fazer deste livro uma leitura compulsiva. A habitual escrita directa e os capítulos curtos conjugam-se com um enredo em que há sempre alguma coisa a acontecer, seja uma nova acção por parte da polícia, seja um novo segredo a ser revelado. Além disso, de todo este mistério - do das mortes e do da estranha gestão familiar dos Angel - surgem várias possibilidades interessantes, quer no que diz respeito às experiências de Malcolm, quer nos mistérios do passado dos quatro irmãos.
Há, também, várias perguntas sem resposta, como seria de esperar, sendo este o primeiro volume de uma nova série. De todas estas questões em aberto, fica, por vezes, a impressão de que alguns aspectos poderiam ter sido mais desenvolvidos já neste início de história, mas também um bom conjunto de possibilidades para o que poderá ocorrer a seguir. A curiosidade em saber o que vem depois é, por isso, muita, já que, ainda que o mistério central seja desvendado, fica ainda muito para explorar no mundo dos Angel.
Intrigante e agradável, esta é, pois, uma história que, mesmo sem dar todas as respostas, cativa pela conjugação de uma vida familiar bizarra com um mistério que precisa de ser resolvido. Uma leitura viciante e interessante, e um início muito promissor. Gostei.

Novidade Porto Editora

Em 1986, um crime brutal abalou a vida dos habitantes de Hancock Park: Melissa Landy, de doze anos, foi raptada e brutalmente assassinada, e o seu corpo atirado para uma lixeira. Vinte e quatro anos depois, o caso regressa à barra dos tribunais, sob o olhar atento dos meios de comunicação social. Jason Jessup, o suposto infanticida, tem em seu poder uma prova de ADN capaz de o ilibar do crime. Porém, o advogado Mickey Haller, conhecido pelas suas defesas vitoriosas, aceita agora uma nova missão: trabalhar pela primeira vez com o gabinete do procurador do Ministério Público para provar a culpa de Jessup. Com a ajuda do detective Bosch e da ex-mulher, a destemida Maggie McPherson, Haller terá então de superar um advogado de defesa hábil na manipulação dos meios de comunicação social, um réu ardiloso e uma testemunha relutante em depor ao fim de tantos anos. E o jogo torna-se cada vez mais perigoso à medida que a família de Haller e a de Bosch se vêem transformadas em peças de xadrez num tabuleiro fatal.

Admirado por Stephen King e com 50 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, Michael Connelly é um dos nomes incontornáveis da literatura policial moderna e uma presença constante nos tops de vendas mundiais. Autor da série de livros protagonizados pelo detetive Harry Bosch, alguns dos quais já adaptados ao cinema, está traduzido em 36 línguas e recebeu alguns dos mais importantes prémios literários, quer nos Estados Unidos, quer em diversos países estrangeiros. No catálogo da Porto Editora figura já O Veredicto, outro livro protagonizado pelo advogado Mickey Haller e o famoso detective Bosch.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Novidade Porto Editora


Desde o início da sua carreira literária, o território do relato fantástico é tão natural a Carlos Fuentes como respirar. Este livro (que dá seguimento a Contos Naturais, já publicado pela Porto Editora) inclui os seguintes contos: «Tlactocatzine, do Jardim de Flandres», «Pela Boca dos Deuses», «Litania da Orquídea», «A Boneca Rainha», «O Robô Sacramentado», «Um Fantasma Tropical» e «Pantera em Jazz». E ainda «Aura», provavelmente o mais famoso de todos os textos que Carlos Fuentes assinou.

Carlos Fuentes (1928–2012) é autor de uma vasta obra, que inclui romances, contos, teatro e ensaio, e um dos principais expoentes da narrativa latino-americana. Ao longo da sua carreira recebeu numerosos prémios, entre eles o Prémio Cervantes (1987) e o Prémio Príncipe das Astúrias (1994). Em 2003 foi condecorado com a Legião de Honra pelo governo francês e em 2008 recebeu a Grã-Cruz da Ordem de Isabel, a Católica. Na Porto Editora, tem já publicados Adão no Éden e Contos Naturais, primeira parte deste díptico de narrativas breves.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Escondida (P.C. Cast e Kristin Cast)

Finalmente, a verdade sobre Neferet foi revelada, mas isso não significa que ela se tenha tornado menos perigosa. O seu poder continua a ser vasto e as suas intenções as piores. A missão de Zoey ainda não acabou e, mais uma vez, as atenções da sua inimiga voltam-se para os que lhe são mais próximos. Mas, enquanto o seu grupo de amigos e aliados sofre algumas alterações, também algumas presenças improváveis se juntam ao lado certo. O combate contra a Escuridão é interminável... mas pode também revelar a Luz em corações insuspeitos...
Chegados ao décimo volume de uma série, não há muito de novo que se possa dizer sem entrar em pormenores específicos da história. Há elementos que se mantêm constantes e figuras que evoluem. Do início, mantêm-se a escrita bastante simples e o ritmo cativante, bem como os elementos essenciais do mundo da Casa da Noite. 
Mas muito é diferente, se considerarmos a história desde o primeiro livro e grande parte dessa diferença vem das mudanças sofridas por algumas personagens. Aliados de sempre tomam novas atitudes e inimigos declarados mudam de facção. E há, em tudo isto, histórias de redenção e de descoberta interessantes, ainda que nem todas sejam exploradas ao pormenor. Fica, aliás, a impressão de que mais haveria a dizer sobre estas mudanças, que, cativantes como são da forma como são apresentadas, poderiam ter ainda maior força se fossem mais justificadas em acções.
Um outro elemento que se manteve relativamente constante, mas que ganha destaque por o panorama geral ser mais sombrio a cada novo volume, é o toque de humor e de descontracção que surge por entre as situações mais dramáticas. Muitas das personagens são adolescentes e espera-se que ajam como tal, mas, tendo em conta o ambiente de tensão e o sempre inevitável peso da missão de salvar o mundo, é particularmente refrescante ver os traços de humor e de quase normalidade nas pequenas discussões.
Continua a haver muito em aberto, o que, aliados a elementos, que inevitavelmente, se repetem (como a realização dos círculos), deixa, ocasionalmente, uma sensação de dispersão, como se, por vezes, todos os avanços conquistados acabassem por deixar a história no mesmo ponto em que tudo começou. Ainda assim, cada situação tem algo de cativante e há, inclusive, alguns momentos mais emotivos que ficam na memória. A leitura nunca deixa de ser agradável, mesmo nas situações mais previsíveis.
Considerando tudo isto, a impressão que fica é a de um livro ao mesmo nível dos anteriores, com os seus momentos mais previsíveis e algumas questões ainda por responder, mas também com uma história envolvente e agradável, pontuada por alguns momentos particularmente intensos. Gostei, portanto.

Novidade Planeta


No coração de Calcutá esconde-se um obscuro mistério....
Um comboio em chamas atravessa a cidade. 
Um espectro de fogo semeia o terror nas sombras da noite. 
Mas isso não é mais do que o princípio. 
Numa noite obscura, um tenente inglês luta para salvar a vida a dois bebés de uma ameaça impensável. 
Apesar das insuportáveis chuvas da monção e do terror que o assedia a cada esquina, o jovem britânico consegue pô-los a salvo, mas que preço irá pagar? 
A perda da sua vida. Anos mais tarde, na véspera de fazer dezasseis anos, Ben, Sheere e os amigos terão de enfrentar o mais terrível e mortífero mistério da história da cidade dos palácios.

Carlos Ruiz Zafón nasceu em Barcelona, em 1964, e é um dos autores 
mais lidos e reconhecidos em todo o mundo. Inicia a sua carreira literária em 1993 com O Príncipe da Neblina (Prémio Edebé), a que se seguem O Palácio da Meia-Noite, As Luzes de Setembro e Marina. 
Em 2001 é publicado o seu primeiro grande romance, A Sombra do Vento, que se transforma num fenómeno literário internacional. Com O Jogo de Anjo (2008) regressa ao universo de O Cemitério dos Livros Esquecidos, que continua em O Prisioneiro do Céu. 
As suas obras foram traduzidas em mais de quarenta línguas e conquistaram vários prémios e milhões de leitores no mundo inteiro. 

Novidades Europa-América


Título: O Irmão de Sangue
Autores: Eric Giacometti e Jacques Ravenne
Colecção: Contemporânea
Preço: 21.90€
Pp.: 440

Siga as aventuras do comissário Antoine Marcas.
À semelhança de Ritual da Sombra, Irmão de Sangue é um thriller cheio de suspense que introduz os leitores nos meandros da maçonaria e estabelece um paralelo histórico com as mais modernas investigações.
Paris, 1355. Um homem é queimado vivo na praça pública. O copista Nicolas Flamel assiste, nauseado, a esta execução. Mas o horror está apenas a começar, pois aquele que se tornará num célebre alquimista está, neste momento, à beira de mergulhar nas terríveis revelações de um livro secreto, interdito.
Paris, 2007, sede da Obediência Maçónica. O comissário mação Antoine Marcas descobre dois crimes rituais cometidos por um dos seus, a quem chamam «o irmão de sangue». Uma mensagem vinda do Além põe rapidamente o comissário na pista de um velho segredo, relacionado com o mistério do ouro puro.
De Paris a Nova Iorque, assistimos a uma corrida contra o tempo entre o assassino em série e o polícia, articulada em torno de dois lugares altamente simbólicos: a Estátua da Liberdade e a Torre Eiffel.
Entretanto, escondido nas sombras e vigiando o desenrolar dos acontecimentos está o grupo Aurora, uma organização secreta constituída por personalidades da alta finança, cujo objectivo é o controlo absoluto do ouro…

Jacques Ravenne e Eric Giacometti, autores de vários thrillers maçónicos best-sellers, tecem de novo uma intriga fascinante, que arrasta os seus leitores pelos meandros do tempo…

Título: Grandes Esperanças
Autor: Charles Dickens
Colecção: Clássicos
Preço: 17.67 €
Pp.: 464

Um clássico intemporal!
Publicado pela primeira vez em 1860/61, Grandes Esperanças é um dos romances mais sérios de Charles Dickens. É impossível escapar ao poder de sedução desta obra poderosa e violenta — de onde não estão ausentes nem a sátira nem o humor. Tal como num romance policial, o mistério apodera-se da nossa atenção e a revelação da sua verdade psicológica e moral mantém-nos em suspenso até ao derradeiro momento. Hipnotizados pela voz de Pip e guiados pela sua memória, vamos desvendando o segredo das suas «grandes esperanças» e testemunhando o encontro de um homem consigo próprio.
Esta nova adaptação cinematográfica de Mike Newell, conta nos principais com Ralph Fiennes, Helena Bonhan Carter, Jeremy Irvine e Holliday Granger, entre outros.
Leia o livro. Veja o Filme.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

As Primeiras Cinco Páginas (Noah Lukeman)

Noah Lukeman é agente literário. Está, por isso, habilitado a, depois de ter lido inúmeros originais, enumerar os erros recorrentes com que se cruza, e aqueles que mais frequentemente o levam a rejeitar um original. É esse seu conhecimento que é reunido neste livro, num conjunto de sugestões interessantes e claras sobre como melhorar um texto de modo a superar essas prováveis razões de rejeição.
O que primeiro cativa neste livro é a postura do autor. Admitindo, desde o início, a subjectividade da arte, o autor reconhece não haver métodos nem verdades universais, mas antes várias perspectivas e um equilíbrio entre técnica e inspiração. E nem as técnicas são consensuais. Esta admissão de uma diversidade de pontos de vista torna mais fácil acompanhar as ideias do autor, porque não são expostas como pretensões a uma verdade universal, mas antes como aquilo que são: um conjunto de conselhos úteis, fruto de uma longa experiência no mundo literário.
Mas passando às ideias propriamente ditas. É provável que, pelo menos para alguém que escreva há algum tempo, muitas delas não sejam algo de novo. Além disso, há, inevitavelmente, alguns pontos de discordância (mais uma vez, tal como o autor previu na introdução). São, ainda assim, ideias úteis e a forma como são expostas, com brevidade, mas também com clareza, e acompanhadas por exemplos fáceis de compreender, torna mais fácil assimilar os problemas que o autor reconhece em cada situação.
Ainda um outro aspecto interessante é que o autor não foge ao seu papel de agente literário, apresentando os problemas - e também as soluções - da forma como alguém da sua profissão os vê. Também isto cria uma percepção diferente das circunstâncias, até porque o autor recorre várias vezes à sua experiência - e a alguns exemplos - para contextualizar uma ideia.
Por último, importa referir o tom agradável e descontraído com que o autor constrói apresenta as suas ideias, desenvolvendo-as como conselhos e pontos de vista que são, e não como verdades invioláveis que é imperioso seguir. Este tom leve, quase coloquial, torna mais fácil seguir as ideias e assimilar o essencial. E também torna a leitura mais cativante, o que, num livro sobre escrita, acaba por também ser algo a considerar.
A soma de tudo isto resulta num livro útil, pelos conselhos e pela experiência pessoal do autor, e também cativante, pelo tom agradável em que as ideias são apresentadas. Sem verdades universais, mas reconhecendo a diversidade, um livro muito interessante e cheio de boas ideias. Muito bom.

Novidade Quetzal


Um aprendiz de alfaiate tornado ensaísta de reduzida fama e menor proveito: Harry Heels. «Ao contrário de Conradin, nenhuma força externa veio em seu auxílio. A sua divindade, a identidade de Harry Heels, criara-a ele sozinho, Heels pela alcunha que lhe tinham posto na escola – tinha o tique de estar a sempre a bater com o calcanhar no chão durante as aulas, impaciente – e Harry, por lhe achar uma certa graça masculina.»
Dois irmãos, gémeos idênticos, enlutados e enfadados: «No Verão, viajavam com os pais: para Lisboa, onde conheceram Dinis Machado; para Bruxelas (…); para o Norte de Inglaterra, onde fumaram uma ganza nas traseiras de um pub, não muito longe da casa de W.G. Sebald, com cuja viúva os pais se encontraram. Depois, sem estação definida, começaram a viajar sozinhos.»
Três assassinos que atravessam fronteiras sem nunca deixarem de regressar a casa: «Da última vez que atravessaram a fronteira, ao chegarem à outra Lima, Bruno observou o céu carregado, considerando-o auspicioso, e ele e Luis concordaram; colheram dessa vez oito vidas, como se os favorecesse a fúria dos elementos.»
De uma maturidade literária verdadeiramente excepcional, Cinerama Peruana desenvolve e articula estes três universos através de um tema comum: o do discípulo que ultrapassa o mestre.

Rodrigo Magalhães nasceu em 1975. É livreiro. Vive em Lisboa.

domingo, 26 de maio de 2013

Sob o Fogo e a Lua (Pedro Canário)

Quando tinha apenas seis anos, o seu clã foi dizimado, deixando-o como único sobrevivente. Naquele dia, a sua infância morreu e, sozinho nos bosques com o seu desejo de vingança, cresceu para se tornar num homem e num mito. Vinte anos depois, muitos falam do Carrasco, mercenário de capacidades inigualáveis, disponível apenas para aqueles capazes de pagar o seu preço. E há uma guerra que se avizinha e que pode ser a oportunidade de que ele precisa para encontrar o alvo da sua vingança. Um novo contrato parece estar à sua espera, mas o papel que ele tem a desempenhar na guerra pode ter um preço demasiado alto também para ele.
Com vários pontos marcantes, mas também com algumas fragilidades, este é um livro que deixa sentimentos ambíguos. Não propriamente a respeito da história, que, enquanto primeiro volume de uma história maior, deixa, naturalmente, várias perguntas em aberto, mas à forma como esta é desenvolvida - e, particularmente, a nível de escrita. Mas vamos por partes.
Grande parte do enredo deste primeiro volume gira em torno de uma guerra e, por isso, as descrições das batalhas são inevitáveis. São, também, o elemento dominante, o que, curiosamente, acaba por tornar o ritmo da leitura mais lento, já que a história pessoal do protagonista - que é, de facto, um dos aspectos mais cativantes - acaba por passar para segundo plano. Há, ainda assim, momentos bastante intensos no desenrolar das batalhas, e que acabam para contribuir para manter o interesse da história.
O mais marcante, ainda assim, está na história das personagens. História sobre a qual parece, por vezes, mais a dizer, mas que apresenta, ainda assim, vários momentos interessantes. Tanto o Carrasco como Damask são personagens interessantes, cada um invulgar da sua própria forma, e a evolução da relação entre ambos, com os seus dons peculiares e os sinais do passado a condicionar tudo o que acontece, estão na base de vários momentos muito bons (entre os quais, claro, a inevitável resolução da questão da vingança).
Também relativamente ao ambiente fica a impressão de que mais haveria a dizer. Há, ao longo do enredo, várias referências a tempos e a lugares que pretendem introduzir um contexto, mas nem sempre esse contexto se reflecte no que é descrito, ficando a impressão de uma certa ambiguidade, tanto de tempo como de cenário. Não faltam elementos essenciais ao desenrolar da história, e o enredo não deixa de cativar tal como é, mas fica a impressão que um maior desenvolvimento do contexto podia dar à história uma maior força.
Apesar de tudo, o principal problema acaba por estar na escrita, ou, mais concretamente, na falta de uma revisão mais atenta. As falhas não são tantas que prejudiquem em demasia o ritmo da leitura, mas há, ainda assim, gralhas e lapsos na construção do texto que, por serem fáceis de detectar, acabam por criar uma distracção relativamente à narração da história.
Tendo em conta tudo isto, a impressão que fica é a de uma ideia interessante e de uma história que, apesar de alguns aspectos a melhorar, acaba por ser cativante, mesmo apesar das suas fragilidades. Uma boa história, em suma, e agradável quanto baste.

sábado, 25 de maio de 2013

Morte na Aldeia (Caroline Graham)

Badger's Drift é uma pequena comunidade, com todas as características habituais desse tipo de ambiente. Pouco acontece, todos se conhecem e praticamente tudo se sabe. Ou então imagina-se. Mas a tranquilidade da aldeia é abalada quando o que se presumiu ser uma morte natural acaba por se revelar um homicídio. O inspector-chefe Barnaby é chamado a investigar e o caso cedo se revela mais complexo do que imaginara. Para um lugar tão pequeno, Badger's Drift tem segredos em abundância. E a morte da velha Miss Simpson pode não ser o único crime para investigar...
Parte do que torna este livro tão cativante é a forma como a autora consegue caracterizar na perfeição o ambiente de uma comunidade pequena. Desde os inevitáveis mexericos, à curiosidade insaciável quando algo de novo acontece, passando pela ligação entre pessoas que se conhecem de toda a vida e pelas figuras peculiares, o cenário apresentado neste livro é completo e facilmente identificável, nas suas muitas peculiaridades. É fácil imaginar o ambiente em que decorre a história, porque todos os traços característicos de um meio pequeno estão presentes, e isto contribui em muito para tornar o enredo mais real.
Partindo deste cenário característico, as peculiaridades estendem-se também às personagens. Quase todos têm algo que os individualiza, seja um traço de personalidade caricato ou uma história particularmente marcante. É isto, aliás, que os torna interessantes, e que alimenta a aura de mistério que, num enredo de ritmo relativamente pausado, vai crescendo à medida que cada pista ou testemunho contraditório abre caminho para novas revelações.
Quanto à investigação propriamente dita, acaba por se reflectir nos acontecimentos o tal ambiente característico dos meios pequenos. Assim, Barnaby depende em muito da confirmação de álibis - e das mentiras que vai desvendando - e das descobertas e impressões partilhadas pelos membros mais... observadores... da comunidade. Há, portanto, mais mistério que acção, mas, entre conversas informais e interrogatórios efectivos, muitos segredos vão sendo revelados, estendendo-se muito para além dos crimes a investigar. Além disso, estes novos segredos implicam novas possibilidades, o que permite manter o mistério até ao fim.
A fazer lembrar, por vezes, os romances de Agatha Christie, Morte na Aldeia apresenta uma história intrigante e envolvente, com personagens interessantes em todas as suas peculiaridades e um cenário muito bem construído. Misterioso e surpreendente, um policial a não perder.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Dignidade (Donna Hicks)

O reconhecimento de um valor intrínseco, de algo que nos é inerente é que merece ser respeitado, da dignidade, em suma, é uma necessidade universal. Mas basta um comportamento condescendente ou uma atitude agressiva para que a dignidade de alguém seja posta em causa. Muitos conflitos - globais ou interpessoais - surgem quando a dignidade de um dos elementos, ou de ambos, é violada. Neste livro, a autora apresenta os pontos essenciais de uma vida com dignidade e as acções que mais frequentemente abalam a dignidade do outro. A partir daqui, a autora analisa situações, breves exemplos de conflitos em relações, em ambiente de trabalho ou até a nível internacional, para uma melhor compreensão do que é, afinal, a dignidade - e das formas de moldar comportamentos de modo a que esta seja respeitada.
Escrito num registo acessível e com uma mensagem que, a cada exemplo, vai sendo reforçada, este é um livro que se centra, essencialmente, no desenvolvimento de um conceito e na forma como este existe no mundo real. É um livro que apresenta sugestões para lidar com certas situações humilhantes, em que a tão referida dignidade é abalada, mas que, acima dessas orientações, cativa pela perspectiva global que a autora apresenta para a forma como a dignidade de cada um - e as formas como esta é abalada - condiciona todo o tipo de relações. É fácil deduzir os efeitos de alguns dos comportamentos referidos pela autora, mas o que surpreende é a forma como essas acções, por vezes inconscientes, acabam por ter uma importância crucial. E em todos os tipos de circunstâncias.
Através dos exemplos, a autora expõe as suas teorias, conjugando-as também com ideias de outros autores. O resultado global é muito interessante e também muito fácil de assimilar. Cada um tem diferentes experiências ao longo de vida, mas é fácil criar empatia para com muitas das situações relatadas. Fica, é certo, nalguns casos, a impressão de que a mensagem sairia reforçada se o exemplo fosse mais desenvolvido (narrado como uma história completa, em vez de surgir como fragmento de uma situação). Ainda assim, o essencial está lá, e a mensagem é claríssima.
A impressão que fica deste livro é, por isso, a de uma leitura cativante e com uma mensagem importante sobre a qual reflectir, além de algumas ideias úteis para encarar a vida - e a vida com dignidade - de uma perspectiva mais racional. Um livro interessante, em suma. Gostei.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

A Volta ao Mundo em 80 Dias (Michael Palin)

Mais de um século depois da viagem de Phileas Fogg, e com a desvantagem acrescida de ser um indivíduo bem real, Michael Palin propôs-se percorrer o mesmo trajecto da personagem ficcional e, dentro dos referidos oitenta dias, fazer uma viagem de circum-navegação. Este livro é o relato da sua aventura, passo a passo, dia a dia, com todas as peculiaridades e tribulações experimentadas.
Apesar de se tratar, essencialmente, de um livro sobre viagens, o que primeiro chama a atenção neste livro não diz respeito ao percurso do autor, mas ao próprio autor. Michael Palin é um dos elementos dos Monty Python, o que, desde logo, cria algumas expectativas. Expectativas essas que são cumpridas já que, apesar de toda a viagem ser narrada num tom relativamente sério, há, também, uma agradável impressão de leveza, pontuada por um ocasional toque de humor. Assim, um dos aspectos mais interessantes deste livro acaba por ser precisamente a forma como a aventura é narrada, mais até que os acontecimentos propriamente ditos.
Um outro aspecto que cedo se torna evidente é o ritmo frenético da viagem. Não fica, por isso, um retrato particularmente completo dos países incluídos no percurso, até porque o limite temporal acaba por impor uma boa medida de correria e a necessidade de passar grande parte do tempo a viajar entre lugares. Há, ainda assim, o suficiente para assimilar as diferenças culturais. E, sendo estas vividas pelo próprio autor e, portanto, narradas de uma perspectiva muito pessoal, as circunstâncias tornam-se bem mais interessantes.
O foco da narrativa acaba por estar essencialmente no percurso do autor. Mas há ainda um outro ponto interessante neste percurso: as pessoas. Desde os companheiros de aventura às figuras mais caricatas com quem o autor se cruzou ao longo da sua aventura, há personalidades peculiares e uma mensagem global - e muito positiva - que sobressai: a de que parte do que torna a viagem real está nas pessoas ligadas a essa viagem.
Tendo tudo isto em conta, não se pode considerar que este livro seja um retrato completo dos lugares visitados na frenética volta ao mundo aqui descrita. Também não parece ser esse o objectivo. O que fica é o relato muito próprio de um percurso que, com todas as atribulações, acaba por reflectir o essencial. De tudo isto, resulta uma leitura leve e agradável. E também muito interessante.

Novidade Bertrand


«A guerra tentou matar-nos na primavera.» Assim começa este poderosíssimo relato de amizade e perda. Em Al Tafar, no Iraque, o soldado Bartle, de vinte e um anos, e o soldado Murphy, de dezoito, agarram-se à vida enquanto o seu pelotão inicia uma batalha sangrenta pela cidade. 
Unidos desde a recruta, altura em que Bartle fez a promessa de trazer Murphy a salvo para casa, são os dois lançados numa guerra para a qual nenhum está preparado. 
Nos infindáveis dias que se seguem, os dois jovens soldados fazem tudo para se protegerem um ao outro das forças que os pressionam de todos os lados: os insurgentes, a fadiga física e o stress mental, produtos de uma situação de perigo constante. Quando a realidade começa a perder os contornos e se transforma num pesadelo, Murphy torna-se cada vez mais desligado do mundo à sua volta e Bartle faz coisas que nunca imaginara vir a fazer. Com uma profunda carga emocional, Pássaros Amarelos é um romance inovador, destinado a transformar-se num clássico. 

Kevin Powers nasceu e cresceu em Richmond, na Virgínia, formou-se na Virginia Commonwealth University e tem um mestrado da Universidade do Texas, em Austin, onde foi Michener Fellow em Poesia. Esteve no Iraque ao serviço do exército dos EUA em 2004 e 2005, onde foi destacado como operador de metralhadora em Mosul e em Tal Afar. Este é o seu primeiro romance.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Insurgente (Veronica Roth)

Tudo correu terrivelmente mal no dia da iniciação. Agora, a facção de Tris está dividida e também ela tem de escolher um lado. Mas as coisas que teve de saber tornaram-na mais fraca e, enquanto procura um caminho para resolver as coisas, Tris sente que a sua própria vontade de viver vacila. Tobias é o seu único porto seguro. Mas há demasiados segredos escondidos e demasiado em jogo em cada escolha. E, quando tanto depende de cada decisão, é possível que nem mesmo a força que os une seja suficiente para que possam prevalecer.
Retomando o fio dos acontecimentos no ponto em que foi interrompido ao fim de Divergente, este segundo livro mantém todas as mesmas características essenciais. O ritmo de acção é intenso, havendo sempre algo a acontecer. Novas revelações são apresentadas para um sistema que, cada vez mais, se encontra em mudança. E todos os planos e intrigas envolvidos, quer nos planos individuais das personagens, quer numa perspectiva mais global, contêm segredos e revelações capazes de surpreender.
O tom da narração, na primeira pessoa e pela voz de Tris, mantém viva uma sensação de proximidade para com a protagonista. Mas, neste livro, essa empatia torna-se mais importante, já que aquilo com que Tris está a lidar, a nível de conflitos interiores, é tão relevante para a sua evolução como o conflito entre facções. Há, no caminho de Tris, muitas dúvidas e muita tristeza, além de outras questões mais complicadas. Mas a forma com a autora as explora, do ponto de vista da protagonista e sempre tendo em conta a forma como esses dilemas se reflectem na situação geral, faz com que seja fácil compreender esses dilemas e permite ao leitor imaginar-se na mesma posição.
Quanto à relação entre Tobias e Tris, há, inevitavelmente, alguns altos e baixos. Mas este lado mais romântico não é o centro e a razão de ser da história, mas apenas parte de um enredo mais vasto. Assim, a ligação entre ambos evolui de forma gradual e sem nunca se sobrepor aos outros elementos da narrativa, contribuindo, assim, para uma maior diversidade de elementos a considerar. E, desta forma, para uma leitura mais cativante.
Também a nível de mudanças no sistema há novos elementos interessantes. A grande maioria das revelações são surpreendentes e o final deixa em aberto grandes possibilidades para o livro seguinte. Mas algo que sobressai do impacto de todas estas revelações - e também de outros momentos mais intensos - e a capacidade de despertar emoções consoante cada circunstância. Do conflito entre facções, surge a necessidade de questionar as decisões mais frias. Do secretismo, a empatia para com os manipulados, e das acções mais cruéis, a inevitável comoção perante uma vítima. Mas também entre as personagens há afectos, que não se resumem a Tris e Tobias, mas que se expandem para todas as personagens, com relações de amor, mas também de companheirismo e amizade a tornar mais genuínos os momentos marcantes.
Rico em desenvolvimentos marcantes, quer nas personagens, quer no contexto em que se movem, trata-se, portanto, de uma leitura que, com a sua conjugação quase perfeita de acção, intriga e emoção, vicia desde as primeiras páginas e nunca perde a envolvência. Emocionante e surpreendente, Insurgente continua, da melhor forma, a muito interessante história iniciada em Divergente. Recomendo sem reservas.

Novidade Porto Editora


Summer Zahova instala-se em Nova Iorque e desfruta a sua nova vida profissional numa importante orquestra. Sob o olhar atento de Simón, o atraente maestro venezuelano, a carreira de Summer desenvolve-se, trazendo-lhe estabilidade. No entanto, uma cidade diferente e o sucesso alcançado trazem-lhe novas tentações e em breve Summer sentir-se-á atraída pelo mundo perigoso e secreto da intriga e do desejo, que ela pensara ter deixado para sempre.
Entretanto, Dominik, o abastado professor universitário, apercebendo-se que a sua vida não faz sentido sem Summer, decide deixar Londres e vai viver para Nova Iorque. Dominik está convencido de que pode proteger Summer do seu lado mais sombrio, não compreendendo que as suas próprias paixões acabam por ser destrutivas para ambos.

Vina Jackson é o pseudónimo de dois reconhecidos escritores que escrevem juntos pela primeira vez. Um é um escritor de sucesso, o outro, escritor com obra publicada, é um profissional da City.

Novidade Asa


Em 1847, na pequena vila de Inhambane, um punhado de famílias esquecidas pela coroa portuguesa luta heroicamente para impor uma nova civilização em território africano.  
Acabado de se ordenar em Lisboa, o jovem padre Joaquim Santa Rita Montanha é enviado para Moçambique com a sagrada missão de prestar apoio espiritual aos europeus e evangelizar os indígenas.
O seu sonho de realizar uma obra que fique para a história depara-se com dificuldades que parecem insuperáveis. Mas, apesar de todos os obstáculos, o padre Montanha nunca desiste dos seus objectivos ambiciosos e, em breve, torna-se o pilar desta pequena sociedade branca rodeada por milhares de guerreiros de tribos hostis.
 Personagem complexa, o padre Montanha é um fervoroso homem de Deus que goza de invulgar prestígio mas não abdica de uma paixão arrebatada pela escrava Leonor, com quem vive um amor proibido.  É, sobretudo, o explorador que não hesita em enfrentar perigos imensos para concretizar uma viagem aos holandeses no interior do sertão e, assim, inaugurar as relações diplomáticas entre o reino de Portugal e os fundadores da futura República Sul-Africana.
Tal como o tenente Montanha, personagem inesquecível do seu anterior romance O Tempo dos Amores Perfeitos, o padre Montanha é antepassado do autor. O Império dos Homens Bons é resultado de uma minuciosa pesquisa sobre a vida deste homem singular e a recriação histórica de uma época de grande romantismo em África. Trata-se de um retrato de época brilhante e de enorme talento.

Com uma década de produção literária recheada de êxitos, Tiago Rebelo é um dos escritores portugueses mais lidos e preferidos pelo público, sendo os seus livros presença habitual nos lugares cimeiros das principais tabelas de vendas nacionais. É autor de grandes sucessos como O Último Ano em Luanda, O Tempo dos Amores Perfeitos e Uma Noite em Nova Iorque. Com títulos disponíveis em diversos países, desde o Brasil a Angola e Moçambique, foi igualmente
editado Itália e Argentina. A par da actividade literária, Tiago Rebelo tem já uma longa carreira de jornalista, sendo actualmente coordenador de informação na CMtv e escrevendo regularmente para o Correio da Manhã.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Uma Paixão Humana (Daniel J. Levitin)

Há melodias que impressionam e que comovem, independentemente do género musical. Mas essas melodias especiais são diferentes de indivíduo para indivíduo. Porquê? Que papel tem a música no desenvolvimento humano? Que reacções desperta na mente? Misturando os principais conceitos da teoria musical e uns quantos estudos realizados a nível da psicologia cognitiva, o autor tenta responder a estas perguntas (e mais algumas), num livro que pretende ser uma aproximação completa, mas perceptível a leigos, das ligações entre a música e o cérebro daqueles que a conhecem, como apreciadores ou como executantes.
Tal como é indicado no livro, esta obra é destinada a leigos, pelo que se supõe uma tentativa de simplificar as coisas. E basta consultar a bibliografia para perceber que o texto poderia, de facto, ser bastante mais longo e complexo. Ainda assim, não se pode dizer que, tal como está, seja uma leitura fácil. Os termos técnicos surgem em abundância e dizem respeito tanto à teoria musical como a conhecimentos de anatomia e fisiologia. Assim, e se houve, de facto, alguma simplificação de ideias de modo a tornar o texto mais acessível, há, ainda assim, uma vastidão de termos que serão pouco familiares a quem não tiver algum conhecimento directo da área. O resultado é, inevitavelmente, uma leitura densa e um pouco cansativa.
Mas é também um livro bastante interessante, já que, superadas as barreiras da linguagem mais técnica, há, no conteúdo propriamente dito, muito para descobrir. As ligações entre música e cérebro, a evolução dos gostos (e as razões para as diferenças individuais) e os factores que condicionam uma maior ou menor capacidade na percepção musical são apenas alguns de muitos elementos a serem considerados ao longo deste texto, em que estudos, artigos e teorias construídos através do tempo são conjugados com a própria investigação do autor, incluindo algumas experiências pessoais. Tudo isto é feito no já referido tom algo denso, e com um vocabulário relativamente elaborado, mas de forma organizada e completa, permitindo ficar com uma ideia geral da informação ou aprofundar conhecimentos já existentes.
Não será, por tudo isto, um livro fácil de seguir, quer pelos inúmeros conceitos apresentados, quer pela linguagem algo elaborada. Mas fica, apesar disso, a impressão de uma abordagem completa e organizada a um tema de inesperadas complexidades, num livro que se revela, no fim de tudo, muito interessante. Gostei, portanto.

Novidade Porto Editora


No Norte da Suécia, no pequeno povoado de Luleå, um jornalista é brutalmente assassinado.
Para a repórter do Correio da Tarde de Estocolmo, Annika Bengtzon, não há qualquer dúvida de que o crime está relacionado com a investigação de um ataque a uma base aérea ocorrido nos anos sessenta. Mas esta será apenas a primeira de uma série de mortes acompanhadas de uma carta manuscrita aos familiares. Contra ordens explícitas do chefe, Annika decide continuar a investigação por sua própria conta e risco, envolvendo-se numa espiral de violência e terrorismo que tem por trás um grupo de seguidores da filosofia Mao que se autodenomina «As Feras».
Chegará o momento em que a jovem repórter será obrigada a rever as suas prioridades de vida. 
Mas não será tarde de mais?

Liza Marklund nasceu nos arredores de Piteå, na Suécia, em 1962. Considerada a grande escritora sueca de policiais da actualidade, Liza Marklund cumpre a tradição escandinava do «romance criminal social», acrescentando uma dimensão cosmopolita e feminina através da protagonista Annika Bengtzon. Os seus livros já ultrapassam os treze milhões de exemplares vendidos e estão disponíveis em trinta línguas.

Novidade Esfera dos Livros


Era preciso esquecer a incerteza, as dúvidas que lhe assolavam o coração. Era rei de Portugal, aclamado pelo povo e estava ali para a batalha definitiva, junto do seu fiel amigo e guerreiro do reino, Nuno Álvares Pereira. Iria vencer, como já haviam vencido outras difíceis batalhas, e afirmar-se para sempre na História de Portugal. João havia intuído os sinais que o destino lhe havia deixado… O jornalista João Fernando Ramos traz-nos, no seu romance estreia, a aventurosa e fascinante história de D. João I, o da Boa-Memória. Nasceu filho bastardo, foi mestre de Avis, mas a força das circunstâncias levaram-no a conjurar contra a regente D. Leonor Teles e o seu secretário galego Conde Andeiro, fiéis subservientes dos interesses do reino vizinho. Era preciso assumir um trono para o qual não estava destinado. Lutar pela independência de um povo contra a ameaça castelhana e afirmar a sua dinastia na História de Portugal. Para isso contava com a ajuda silenciosa de Adelaide, uma mulher misteriosa com o suave cheiro das montanhas… Do feliz casamento com a inglesa D. Filipa de Lencastre nasceu uma geração de filhos que marcou para sempre a história do país. Armados cavaleiros pela mãe moribunda, juntos conquistaram Ceuta, sonharam com novos mundos, conquistaram novas alianças. Foram a Ínclita Geração.
                                                          
João Fernando Ramos - Nasceu na Lousã a 27 de Abril de 1965. É casado e pai de dois filhos, o Diogo e o João Pedro. Filho de professores, cedo começou a descobrir história de encantar nos livros. Fascinou-se com a rádio logo na Escola Secundária Avelar Brotero, em Coimbra passando depois pela RDP-Centro, Rádio Nova e RTP. Apresentou as notícias da manhã, o Bom dia, o Jornal-2, Semana ao Sábado, na RTP2, o Jornal da Tarde na RTP1 e agora o 24 Horas na RTP2. Como repórter esteve entre muitos outros locais em Angola, na Bósnia, Croácia, Albânia, Iraque e Timor Leste. É actualmente editor executivo na RTP. Este é o seu segundo livro. O primeiro foi O Último Dakar em África.

domingo, 19 de maio de 2013

Betânia (Filomena Marona Beja)

Marta cresceu sob a sombra da ditadura. Em casa, a tia defendia opiniões subversivas, que o pai contrariava, sem deixar de a proteger. Dela, esperava-se que continuasse a estudar, mas em Medicina, segundo a vontade do pai. E o seu coração prendia-se a um jovem que era tudo menos o que esperava. Crescendo, Marta escolhia um caminho diferente, e, adulta, depara-se com o quebrar das últimas ilusões. Do rapaz que amou, resta um homem que se tenta impor e que é o contrário de tudo aquilo em que acredita. O mentor está prestes a partir. E, dos elos de maior proximidade, alguns tiveram de fugir para um lugar melhor. Por vezes, Marta pensa nas lições das Irmãs, e nas histórias sobre as mulheres de Betânia, mas sabe que não quer ser como elas.
Contada através de pequenos fragmentos e com uma linha temporal que se define entre avanços e recuos (tal como a memória), esta história evoca, a princípio, uma certa estranheza. A jovem e a adulta, e por vezes até a criança que ouve as lições, confundem-se, o mesmo acontecendo com o tempo preciso em que certas situações decorrem. Ainda assim, esta confusão rapidamente se atenua, uma vez assimiladas as principais peculiaridades da narração.
Passada essa estranheza, a história torna-se muito interessante. Marta, enquanto protagonista, é uma figura forte, condicionada, é certo, pelas normas do seu tempo, mas capaz de as questionar e de tomar as suas próprias decisões, e a forma como lida com as situações mais complicadas é, muitas vezes, marcante. Mas é, também, uma mulher vulnerável, humana na sua intimidade, e as suas fragilidades tornam-na alguém com quem é fácil criar laços. Também os que a rodeiam têm traços de carácter que os definem e, por razões boas ou más, todos ficam, de alguma forma, na memória.
A escrita é, no essencial, bastante simples, centrada nos acontecimentos e sem grandes divagações. Surpreende, por isso, como, num tom tão directo, a autora consegue transmitir tão bem as complexidades das histórias pessoais das suas personagens e também do contexto. Além da história individual da protagonista, há a história de uma época, e ainda as ligações a outros passados: o da Fidalga, em cuja breve história é possível não reconhecer paralelismos, e a das mulheres de Betânia, que tanto condiciona, por vezes, as escolhas de Marta.
Nem tudo é resolvido e encerrado nesta história. Há decisões finais e partidas determinantes, mas fica, mesmo assim, a impressão de que a história das personagens continua. Deste final algo ambíguo fica, por um lado, a curiosidade em saber mais, mas, por outro, a sensação de que a narração é interrompida no momento adequado, deixando ao leitor a escolha de imaginar o futuro depois da decisão. Também isso acaba por fazer com que a leitura fique na memória, pois esse questionar sobre o futuro acaba por ser quase inevitável.
História de uma mulher que poderia ser muitas outras, Betânia é, pois, uma leitura envolvente, com alguns momentos de estranheza, mas também rica em situações marcantes e com personagens tão complexas como a época em que se movem. Um bom livro, em suma.

sábado, 18 de maio de 2013

A Joia das Sete Estrelas (Bram Stoker)

Quando o pai sofre um ataque inexplicável, no interior da sua própria casa, Margaret Trelawny vê-se obrigada a pedir ajuda a um amigo recente. Malcolm Ross, advogado, acorre de imediato, para encontrar um cenário estranho. O pai de Margaret está ferido e inconsciente, mas ninguém sabe, ao certo, o que aconteceu e despertá-lo parece tarefa impossível. Além disso, o quarto onde tudo aconteceu está repleto de antiguidades egípcias, das quais emana um odor capaz de despertar sonolência em alguns dos presentes. O mistério parece inexplicável e as estranhas instruções deixadas por Mr. Trelawny limitam os passos da investigação. Mas só quando, dos estranhos acontecimentos e dos muitos artefactos que povoam o quarto, começa a surgir uma teoria que foge aos limites das leis naturais, começa a surgir uma verdadeira explicação para tudo o que está a suceder. E, com ela, vem uma missão a cumprir.
Narrada na primeira pessoa pela voz de Malcolm Ross esta história parece seguir, a princípio, os clássicos traços de uma história de detectives. A intervenção da Scotland Yard, a procura de pistas para procurar o incidente e, inclusive, a identificação de suspeitos, estão presentes no decurso do enredo. Mas cedo o enredo evolui num sentido diferente e as pequenas pistas que, desde cedo, insinuam um elemento sobrenatural acabam por ganhar destaque e ser os elementos fulcrais à conclusão desta história.
Não surpreende, por isso, que seja este lado sobrenatural um dos elementos mais cativantes neste livro. É na teoria construída em torno de Tera e dos artefactos egípcios que ocultam o seu poder que residem os grandes motivos para a aura de mistério que se sente ao longo de toda a narrativa e é também dela que surgem as grandes revelações. Além disso, a questão dos possíveis poderes da rainha estabelece limites - e quebra-os, por vezes - entre crença e ciência, num cenário em que muito é explicado e muitas possibilidades são levantadas, sem que isso implique necessariamente uma descoberta de todas as respostas.
Apesar de intrigante desde o início, não se trata propriamente de um livro de leitura compulsiva. As longas teorias formuladas pelas várias personagens e as extensas descrições conferem ao enredo um ritmo que é, necessariamente, pausado, já que há tanto de explicação como de acontecimentos. A envolvência mantém-se, ainda assim, e isto sucede principalmente devido ao equilíbrio entre os elementos interessantes dessas longas explicações e a intensidade dos momentos mais reveladores. Momentos estes que, quer pela peculiaridade de algumas personagens, quer pelo impacto de determinadas circunstâncias (sendo de destacar, é claro, o final que, mesmo deixando em aberto algumas questões, é de uma intensidade surpreendente), alimentam a curiosidade em saber sempre mais.
Trata-se, portanto, de uma leitura que, apesar do ritmo lento e da extensa componente descritiva, nunca perde o interesse, com as suas personagens peculiares e a conjugação equilibrada entre elementos de mistério e uma interessante teoria sobrenatural. Intrigante e envolvente, este é, sem dúvida, um livro que vale a pena. Muito bom.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

As Filhas do Graal (Elizabeth Chadwick)

Bridget descende da linhagem da Virgem Maria e de Maria Madalena, e o seu sangue confere-lhe dons especiais. Mas é essa mesma linhagem que a torna um alvo aos olhos da Igreja. Para se proteger e para prestar auxílio, Bridget caminha entre os cátaros, tomando parte do seu modo de vida, ainda que a sua própria fé seja diferente. Mas os tempos são sombrios e uma nova cruzada está prestes a começar, liderada por um homem ambicioso e determinado em pôr um fim à heresia. Para dar continuidade à sua linhagem, Bridget escolhe Raoul de Montvallant, um guerreiro capaz e um homem bom. De uma única noite, nasce a herdeira do sangue de Bridget. Mas a guerra contra os cátaros está longe de se esgotar em poucas batalhas e Raoul e Bridget, bem como os seus descendentes, têm, ainda, um longo caminho a percorrer.
Parte do que torna este livro tão cativante é a forma como a autora conjuga uma caracterização bastante completa do contexto histórico, com todas as informações essenciais a serem apresentadas ao leitor (seja em momentos mais descritivos, seja de forma mais gradual), com um conjunto de personagens que, independentemente do seu papel no contexto global, marcam pelo que são individualmente. Quase todas as personagens, dos protagonistas às figuras secundárias, têm traços que os diferenciam, capazes de despertar amores e ódios, empatia e aversão. 
É fácil, por isso, entrar no ritmo da história e criar elos de identificação com as personagens. Isso leva a que as suas provações se tornem mais próximas, os momentos de dor mais intensos, mais comoventes as situações emotivas. Mas o mesmo que é questionado relativamente às histórias de cada personagem surge também do contexto global. O ódio causado pela intolerância e pelas diferenças de fé, evidente em toda a questão da guerra religiosa, é tão claro nesta história como os ódios pessoais causados pela experiência das personagens. Também isto realça o equilíbrio entre o indivíduo e o todo, uma harmonia que transparece ao longo de todo o livro.
Esta mesma harmonia estende-se à escrita e à forma como a autora constrói a sua história, com medidas certas de acção e contextualização, características e complexidades - tanto de personagens como de circunstâncias - que vão sendo reveladas de forma gradual e uma ligação emocional que transparece também das palavras, como das acções narradas. A história nunca perde a envolvência, contada em palavras belas e num tom de quase proximidade. E isso reforça o impacto de tudo o resto.
Equilibrado em todos os aspectos, com uma história envolvente e personagens fascinantes, este livro conjuga uma boa contextualização histórica com um toque de magia e muita emoção, numa leitura que cativa tanto pelos grandes momentos como pelas pequenas tragédias da história das suas personagens. Um livro marcante, em suma, e que não posso deixar de recomendar.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Completamente Louco (Nils Verd)

Esta é a história de um homem rico, generoso, bastante excêntrico... e bastante louco, também. De um homem que constrói máquinas com o auxílio de um genial urso de peluche, sustenta os sobrinhos e ama-os como se fossem seus filhos, fala com uma estranha mulher na casa ao cimo da colina e tem como entregador de pizzas o próprio Jesus. É uma história de episódios caricatos, com um pouco de místico e alguns momentos surreais. Mas, na estranha loucura de personagens e acontecimentos, é também uma história estranhamente cativante.
Se compararmos este livro com o primeiro do autor, é inevitável reconhecer uma evolução notável. Todos os aspectos que geravam confusão foram, neste livro, resolvidos. Assim, temos uma linha narrativa bem mais definida, personagens centrais facilmente reconhecíveis e um contexto claramente definido. Neste contexto, a mensagem de paz torna-se muito mais clara, o mesmo acontecendo com um elemento místico que, com algumas associações a Vim para Ver-te, se torna agora mais fácil de assimilar, porque está melhor enquadrado numa linha temporal precisa.
Este é, portanto, um livro bem mais envolvente e, também, bastante divertido. Desde a muito estranha vida familiar do protagonista às suas experiências mais absurdas, há toda uma série de momentos bizarros que, intercalados com algumas situações comoventes e um ambiente geral de leveza, mantêm viva a curiosidade em saber o que mais acontecerá na história de tantas personalidades peculiares. Além disso, o protagonista, que é também narrador, tem, nos seus traços de loucura (explicados, gradualmente, ao longo do enredo), uma boa base para que, destas situações caricatas, surja também a sua verdadeira natureza. Natureza que é, no fundo, a de um homem de bom coração e que, mesmo nos momentos mais surreais, transparece nas suas acções.
A nível de escrita, notam-se algumas distracções a nível de revisão, com algumas gralhas a surgirem ao longo do texto. Ainda assim, não são frequentes ao ponto de prejudicarem gravemente a leitura e o tom pessoal, resultante da narração na primeira pessoa, compensa estes pequenos lapsos. Assim, nunca se perde a envolvência da história, nem mesmo nos momentos em que a estranheza é dominante.
Esta é, pois, uma história caricata, feita de episódios estranhos e personalidades excêntricas. Mas é, também, uma história divertida e cativante, com alguns momentos particularmente marcantes e uma mensagem bastante positiva. Uma leitura agradável, portanto. Gostei.

Novidade Porto Editora


Kelsey Hayes jamais poderia imaginar que as férias de verão dos seus dezoito anos lhe trariam experiências tão arrebatadoras. Depois de ter descoberto que Ren, o tigre branco a que tanto se afeiçoara no circo onde trabalhou, era um príncipe indiano e de o ter acompanhado à sua terra natal para o ajudar a quebrar uma maldição secular, regressa a casa, disposta a começar a faculdade e esquecê-lo. Todavia, depressa percebe que não vai ser fácil e, quando Ren é capturado, Kelsey ver-se-á obrigada a regressar à Índia para completar mais uma tarefa imposta por uma profecia antiga e descobrir uma forma de o salvar. Para isso, precisará da ajuda de Kishan, o irmão de Ren. Serão eles capazes de o resgatar e devolver a Ren a sua humanidade?
Depois de A Maldição do Tigre, O Resgate do Tigre leva mais longe uma saga inesquecível, que já conquistou em todo o mundo os fãs da literatura fantástica.

Colleen Houck é licenciada pela Universidade do Arizona e trabalhou durante dezassete anos como intérprete de linguagem gestual. O primeiro livro desta saga, A Maldição do Tigre, que já figura no catálogo da Porto Editora, foi inicialmente publicado em formato electrónico e rapidamente se tornou um êxito de vendas. Os direitos de tradução deste segundo livro foram adquiridos por 21 países e os direitos cinematográficos cedidos à Paramount Pictures.

Novidade Bertrand


Janeiro de 1937: Pequim é uma mistura inebriante de privilégios e escândalos, de bares e casas de ópio, de senhores da guerra e corrupção, de rumores e superstições – mas o final de tudo isto aproxima-se rapidamente.
No elitista Bairro das Legações, os residentes aguardam impacientemente pelo inevitável. As tropas japonesas já ocuparam a Manchúria e preparam-se para rumar a Sul. A ansiedade aumenta a cada dia que passa, quer entre os chineses, quer entre os estrangeiros que se encontram no interior das antigas muralhas da cidade. Numa dessas muralhas, existe uma enorme torre de vigia – assombrada, segundo os locais, por espíritos-raposa, que caçam mortais inocentes – e é aí que, numa noite fria e amarga, é largado o corpo de Pamela Werner, filha de um ex-cônsul britânico na China. Os detalhes da sua morte chocam Pequim. Setenta e cinco anos depois, Paul French retoma as investigações deste caso que nunca foi resolvido pelas autoridades, e dá aos acontecimentos o desfecho que lhes foi negado durante todo este tempo.
Meia-Noite em Pequim é a história verídica e frenética de um homicídio que o fará agarrar-se aos que ama, e é também uma narrativa plena de um tempo passado que marcou o fim de uma era.

Nascido em Londres e educado em Londres e em Glasgow, Paul French viveu e trabalhou, durante muitos 
anos, em Xangai. É um reconhecido analista e comentador de assuntos chineses e é autor de diversos livros, incluindo a biografia do lendário publicitário, jornalista e aventureiro de Xangai, Carl Crow. 

Vencedor do Passatempo Sombras da Noite Branca

Terminado mais um passatempo, desta vez com um total de 95 participações, é tempo de anunciar quem vai receber um exemplar do livro Sombras da Noite Branca.

E o vencedor é...

2. Andreia Reis (Alverca do Ribatejo)

Parabéns e boas leituras!

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Senhor Comandante (Romain Slocombe)

Paul-Jean Husson, escritor, combatente da Primeira Grande Guerra e simpatizante nazi, tem na sua Villa Némesis, o santuário onde constrói os seus livros e onde dedica, através da sua obra, todos os seus esforços à defesa de um nacionalismo ferozmente antissemita. Mas as suas convicções são abaladas, ainda que não da forma expectável, pela entrada de Ilse, esposa do seu filho, na sua vida. Ainda que os seus traços não o revelem, cedo Paul-Jean descobre que a nora tem ascendência judia, facto que o perturba. Ele ama-a, porém, e esse desejo proibido leva-o ao inevitável dilema. Continua a acreditar nas ideias que defende, mas pretende proteger Ilse das consequências. A contradição torna-se inevitável. E só a carta, a carta que é, no fundo, a quase totalidade deste livro, pode revelar as suas convicções e intenções...
Não é difícil adivinhar, conhecendo a ideia que lhe serve de base, que esta nunca será uma leitura fácil. E não propriamente devido à escrita. Na voz que constrói para o narrador, o autor introduz uma certa poesia, bastante descrição e um estilo algo elaborado de narrar as coisas, mas nada há na sua forma de expressão que dificulte a fluidez do texto (que é, aliás, de uma harmonia muito cativante). A dificuldade está, antes, na assimilação das ideias do narrador/protagonista. A perspectiva de Husson sobre os judeus, e as declarações lapidares com que a apresenta, é perturbadora, chocante nos seus momentos mais dramáticos, e dificulta, desde logo, qualquer impressão de empatia. As suas posições estarão, também, na base de vários momentos de tensão, mas particularmente de actos que, impressionantes por todas as razões erradas, contribuem para um final devastador. Tudo isto abala, perturba, e a forma como estas ideias são desenvolvidas, numa carta escrita pelo protagonista, torna-as próximas de uma forma arrepiante.
Há, ainda assim, uma contrapartida em tudo isto. É que as ideias defendidas pelo protagonista reflectem-se em acções atribuídas a outros, o que leva a questões importantes sobre como poderiam tais ideais prosperar de forma tão generalizada, e com consequências tão graves. Além disso, esta perspectiva permite um retrato da época vista pelo "outro lado", o daqueles que acreditavam realmente em tais ideias. 
Para acrescentar ainda um pouco mais de complexidade, surge a história de Ilse e a forma como serve de base a uma crescente duplicidade nos pontos de vista do protagonista. Não é de esperar uma redenção, ou uma mudança total de mentalidade, mas a forma como, de forma algo disfuncional, mas, ainda assim, com toda a intensidade de uma paixão, a presença de Ilse leva a certas acções que conduzem Paul-Jean ao seu cruel (ainda que apenas parcial) despertar, é parte do que torna o final tão poderoso, tão marcante. Tão trágico.
Impressionante retrato de um homem que se ilude a si mesmo, e também história de uma época de ideais e pontos de vista difíceis de assimilar, este é, acima de tudo, um livro que perturba e que apela à reflexão. E acaba por ser daí, dessa perspectiva maior que surge das ilusões de um ideal distorcido, que surge o verdadeiro impacto deste livro.

Novidades Planeta


Na sociedade do período da Regência, espera-se que as mulheres casem jovens, governem a casa e sejam vistas, não ouvidas. 
Mas, por outro lado, estas senhoras dificilmente fazem o que se espera delas… Lady Lillian Bourne não se pode dar ao luxo de se envolver noutro escândalo. 
Ao reentrar na sociedade, após a fuga desastrosa de que foi protagonista quatro anos antes, não tem alternativa senão ser a própria imagem do decoro. 
Mas está convencida de que o destino está a conspirar contra ela, quando, durante uma festa, dá consigo fechada à chave numa biblioteca com um desconhecido enigmático. 
Seria o fim, se caísse em desgraça uma segunda vez... Após os anos que passou em Espanha como espião, Lorde Damien Northfield considera Londres um pouco entediante, até ao seu encontro inesperado com a encantadora, mas mal-afamada, Lily. Após a contrariedade por que passaram, não pode deixar de desejar que o interlúdio com ela tivesse sido tudo menos inocente. 
E quando é contratado para investigar um esquema de chantagem e homicídio que envolve algumas das famílias mais ilustres de Inglaterra, fica radiante ao descobrir que o destino a voltou a colocar no seu caminho, e que ela pode ser a chave para apanhar um assassino implacável…

Emma Wildes cresceu a devorar livros e a escrita nasceu naturalmente. A autora costuma dizer que adora escrever porque adora ler. 
Estudou na Universidade de Illinois é e licenciada em Geologia.Vive em Indiana com o marido e três filhos. 
Foi a autora n.º 1 do Fictionwise, WisRWA Reader’s Choice Award, vencedora na categoria de Romance Histórico em 2006, do Lories Best Published, e em 2007 vencedora do Eppie para o melhor romance erótico.


O verdadeiro amor pode ser esquecido? 
Helena Hamilton é o único Rebento que consegue descer ao Mundo dos Mortos e enfrenta uma tarefa quase impossível. 
Durante a noite vagueia pelo Hades, para tentar deter o ciclo infindável de vingança que amaldiçoou a família. Durante o dia esforça-se por superar a fadiga que lhe consome com rapidez a saúde mental. Sem Lucas a seulado, Helena não tem a certeza de possuir forças para continuar. 
Quando está prestes a atingir o ponto de ruptura, um novo Rebento vem protegê-la dos perigos do Mundo dos Mortos. Mas o tempo está a esgotar-se, um inimigo implacável conspira contra eles e as Fúrias clamam por sangue. 
Quando o mundo grego antigo colide com o mundo mortal, a vida protegida de Helena em Nantucket desliza para o caos. Mas a tarefa mais difícil será esquecer Lucas Delos. 

Josephine Angelini nasceu no Massachusetts e é a mais nova de oito irmãos. Filha de um verdadeiro agricultor, Josie formou-se na Tish School de artes cénicas da Universidade de Nova Iorque, especializando-se nos clássicos. 
Vive em Los Angeles com o marido guionista… e ainda sabe conduzir um tractor. 


Quando Isabelle acordou na sua rede, nas costas do mar de Mazatlán, uma menina selvagem, de cabelo desgrenhado, fitava-a. 
Uma menina que, graças ao carinho, à firmeza e à obstinação de Isabelle, aprenderá a falar, a ler e a escrever; estudará zoologia na universidade, apesar da suspensão da maior parte das cadeiras, e chegará a ser a maior empresária da pesca de atum do planeta, assim como um dos seres vivos mais estranhos e singulares. 
Inapta para certos aspectos intelectuais, em outros campos é um autêntico génio, Karen Nieto, disposta a preservar a vida dos oceanos, mergulha entre os atuns do mar e entre os seres humanos da Terra provocando sorrisos e perplexidades. 
Talvez seja esta a sua virtude mais peculiar: é incapaz de utilizar metáforas ou eufemismos para disfarçar ou ocultar a realidade. 
Autêntica e surpreendente, Karen parece destinada a ficar muito tempo connosco. 

Sabina Berman nasceu na Cidade do México. Tirou dois cursos universitários: Psicologia Clínica e Letras. É dramaturga, escritora, poeta e guionista. A Mulher que Mergulhou no Coração do Mundo é o primeiro romance da autora, e está traduzido em onze idiomas e publicado em 33 países, o que a torna numa das autoras mexicanas de maior projecção deste século e uma das protagonistas da literatura do México. 


O Suplente é um romance com uma carga forte de intervenção cívica que partiu de um caso real – a morte de uma criança atropelada por um automóvel – e que marcou, em Portugal, o surgimento da ACAM – Associação dos Cidadãos Auto-Mobilizados, para lutar pela consciencialização dos automobilistas.
Não se conte por isso a história, para que você leitor/a, tenha um maior prazer ao lê-la. Diremos apenas que se trata de um romance sobre a morte, ou melhor, a perda. Mas assunto tão triste não deixa de nos trazer uma escrita bem-humorada, que tanto fala de uma ida ao futebol como discute a banda sonora de um filme que ainda há pouco vimos. 

Rui Zink nasceu em Lisboa em 1961. É escritor e professor no Departamento de Estudos Portugueses da Universidade Nova de Lisboa. 
Estreou-se como ficcionista em 1986 e desde então publicou mais de duas dezenas de obras, entre ficção, ensaio, literatura para a infância, BD e teatro. 
Alguns dos seus livros encontram-se traduzidos para inglês, alemão, hebraico, japonês, romeno, sérvio, croata e francês. 



Novidade Oficina do Livro


Em 1965, prestes a completar 14 anos, Rosália Araújo foi contratada para servir António de Oliveira Salazar. Durante anos, conheceu a vida doméstica do palacete de São Bento, liderada pela severa dona Maria, e o lado mais privado do Presidente do Conselho, com os seus hábitos, gostos, desgostos e segredos. No momento da sua morte, em 1970 foi a única empregada presente no quarto do ditador.
A Última Criada de Salazar é o relato minucioso da decadência e dos dias do fim do homem que alcançou o poder em 1932 e só o perdeu três décadas mais tarde.

Miguel Carvalho nasceu no Porto em 1970, e é Grande Repórter da revista Visão desde Dezembro de 1999. Em 1989, concluiu o Curso de Radiojornalismo do Centro de Formação de Jornalistas do Porto.
Trabalhou no Diário de Notícias e no semanário O Independente. Recebeu o Prémio Orlando Gonçalves (Jornalismo), em 2008, e o Grande Prémio Gazeta, do Clube dos Jornalistas, em 2009. Publicou os livros Álvaro Cunhal – Íntimo e Pessoal, Dentada em Orelha de Cão, Aqui na Terra e Lúcio Feteira – A História Desconhecida. Algumas das suas reportagens têm merecido referência em títulos como The New York Times, El País, Daily Telegraph, Veja ou O Globo.

terça-feira, 14 de maio de 2013

O Cantar das Vinhas (Vítor Alves Morais)

Diz a lenda que há uma maldição a pesar sobre a família Ribeiro de Castro e Telles. Porque o seu primeiro antepassado ousou cultivar uma vinha em terras malditas, a sua família está destinada a desgraças, até que o último do seu nome desapareça. Mas é só uma lenda, uma história que os empregados contam em momentos de monotonia. Ou assim pensa a família. Mas uma nova geração está prestes a sentir a força da maldição e os sons que se ouvem na noite apenas trarão dor aos membros da família...
Muito breve, mas bastante envolvente, esta é, no essencial, uma história familiar, ainda que cruzada com o elemento de mistério introduzido pela maldição. Tendo em conta a constante presença da lenda, é inevitável que quase todos os acontecimentos mais fortes sejam trágicos, mas há pequenas coisas do quotidiano que complementam esta história, introduzindo um breve relance ao contexto da época. Tudo muito breve, porque a própria história é breve, mas o que é contado é bastante interessante.
A escrita é bastante simples, não havendo grandes descrições e com a contextualização resumida ao essencial. Ainda assim, o tom de mistério, em contraste com a leveza dos momentos em família, torna a leitura envolvente e agradável, sendo que, apesar da simplicidade, os elementos essenciais estão lá.
Mas, se a brevidade contribui para fazer desta história uma leitura leve e descontraída, tem também um efeito negativo e isto diz respeito à forma apressada como tudo acontece. Desde as paixões de Margarida aos acontecimentos resultantes da maldição, tudo é narrado de forma muito sucinta. O mesmo acontece com a caracterização das personagens, limitada ao que é relevante para os principais acontecimentos. Disto resulta a impressão de que tudo nesta história podia ter sido mais desenvolvido, desde a história, que tem um potencial riquíssimo, tanto nas questões familiares como nas relativas à maldição, às próprias personagens, que, interessantes nos seus traços gerais, podiam sê-lo muito mais se as suas complexidades fossem mais exploradas.
Trata-se, pois, de uma história curta e muito simples, que poderia, talvez, ter sido muito maior. Não deixa, ainda assim, e tal como está, de ser uma leitura leve e agradável, com um enredo interessante e alguns momentos particularmente bons. Gostei, portanto.

Novidade Sextante


Em todas as narrativas a casa veste os seus habitantes, domina-os, controla-lhes a vida e, um dia, despede-se deles. Pode parecer que são eles a tomar a decisão de a abandonar, mas na verdade é a casa que os expulsa. Quebram-se os laços antigos de cumplicidade, de confiança, de afeição, de memória. Desmaterializa-se o espírito dos lugares. Apagam-se as luzes, fecham-se as portas. Tudo é varrido pelo fogo e pelo vento. Um amor melancólico definha em cada vida, e nada o vem substituir. A casa simboliza o refúgio do eu mais profundo, a casa é a floresta das almas. A casa é a província, o lugar fechado dos enredos, o cenário breve das vidas, onde tudo tende à decomposição.

Laura Mónica Bessa-Luís Baldaque nasceu no Douro, no lugar de Godim, Peso da Régua, a 13 de maio de 1946, concluiu o curso superior de pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, em 1970, enveredando pela Museologia. Conservadora dos museus municipais do Porto desde 1975, foi nomeada pelo Ministério da Cultura para ocupar o cargo de directora do Museu Nacional de Literatura e posteriormente do Museu Nacional Soares dos Reis. Tem uma vasta obra na pintura de retrato e de paisagem. A escrita surge como a forma natural de unir um pensamento e duas linguagens – pintura e escrita. O Douro é sempre o imaginário inesgotável das suas reflexões e do seu trabalho. Entre outros livros, ilustrou Vento, areia e amoras bravas e Dentes de rato, de Agustina Bessa-Luís, e participou na ilustração do livro Depois de ver, de Pedro Tamen.
Publicou Do outro lado do quadro (Asa, 2000), A folha do limoeiro (Asa, 2005), O olhar do lobo (Campo das Letras, 2003), Pequeno Alberto, o pensador (Babel, 2010), e Contos sombrios (Babel, 2011).

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Destinos Interrompidos (Lissa Price)

Callie tem dezasseis anos e é uma menor não reclamada. No mundo em que vive, onde milhares foram dizimados pela Guerra dos Esporos e a população se divide entre Terminantes (idosos) e Iniciantes (menores), isso significa viver em casas abandonadas, com a comida e a água que conseguirem encontrar e em fuga permanente. Mas Callie não está sozinha. Tem a seu cargo o irmão doente e precisa de obter dinheiro para que ele possa ser convenientemente tratado. A única forma de o conseguir parece ser a Destinos Primordiais, empresa que aluga corpos adolescentes a Terminantes que querem viver novas aventuras. Tudo altamente confidencial e misterioso. Ainda assim, Callie não tem alternativa e acaba por aceitar. Mas o que começa por correr bem revela contornos bem sombrios a partir do momento em que o plano da sua locatária começa a interferir com o sistema... e com a serena inconsciência em que Callie deveria ter permanecido.
Intrigante desde o início e rico em acção e mistério, este é um livro que facilmente se torna viciante. A história, contada do ponto de vista de Callie, situa-se num futuro algo distante e, por isso, num sistema diferente, cujos contornos são apresentados de forma algo ambígua (até porque, ao apresentar o contexto da perspectiva da protagonista, há, inevitavelmente, pormenores que esta não pode conhecer), mas com todos os elementos essenciais para dar à história uma boa base. O secretismo da Destinos Primordiais e o que nela é feito, as regras instituídas depois da guerra e o funcionamento das instituições são aspectos que, mesmo não sendo desenvolvidos ao pormenor, criam um bom contexto para os movimentos de Callie. Além disso, toda a situação evoca a sempre interessante questão das ligações entre riqueza e poder e de onde se traçam os limites do que é tolerável em nome da ambição.
Mas, se o contexto é interessante, o centro da história é, claro, a protagonista. Callie surge como uma jovem forte, mas com as suas vulnerabilidades, que é colocada perante escolhas difíceis e, ao mesmo tempo, numa corrida pela sobrevivência. A acção, ocupa, por isso, grande parte do enredo, ainda que também os momentos emotivos e a intriga associada às intenções da Destinos Primordiais contribuam para tornar a leitura cativante. O mais interessante, ainda assim, está na forma como, apesar de todas as mudanças ao longo da história, os momentos mais fortes acabam de surgir das situações mais inesperadas. O mistério do Velho, por exemplo, além de deixar em aberto muitas possibilidades para o que se seguirá, cria alguns momentos particularmente intensos, sendo dele que resulta grande parte do impacto final.
Tudo é visto do ponto de vista de Callie, pelo que as restantes personagens têm, inevitavelmente, uma caracterização menos desenvolvida. Há, ainda assim, quanto baste para as conhecer, e figuras como Helena, Tyler e, claro, o Velho, conseguem despertar sentimentos fortes, até pela forma como influenciam a protagonista e a forma como, a cada revelação, a sua perspectiva se altera.
Viciante e intrigante, este é, portanto, um livro que cativa e surpreende, tanto pelo percurso da protagonista como por certos traços do sistema, que abrem caminho para um enredo rico em acção e mistério, mas com o toque certo de emoção. Uma óptima estreia, em suma. Muito bom.