segunda-feira, 30 de abril de 2018

Os Vampiros do Norte (João Carlos Pinto)

Trigo Roxo (TR) é o inspector da PJ mais famoso e eficiente de todos os tempos - tão eficiente, de facto, que basta a menção do seu nome para fazer com que os mais temíveis criminosos se entreguem voluntariamente à justiça. Mas TR pode ter nas mãos o caso mais difícil da sua grandiosa carreira. Tudo começa com um vampiro que parece andar a deixar um rasto de cadáveres por onde passa. Mas, ao seguir o rasto desse vampiro, TR depara-se com uma conspiração liderada por uma organização de vampiros alemães que, para preservar o seu lucro e os seus hábitos, não hesitaram em escravizar um grupo de humanos portugueses, que mantém numa quinta da Baviera. TR precisará de mobilizar todos os seus recursos e de cobrar favores passados - na terra, no céu e em outros planetas - para resgatar os seus compatriotas. Mas conseguirá fazê-lo?
Sátira política e social mascarada de história de aventuras, este é um livro que por vezes desperta sentimentos ambíguos. Sendo uma sátira, é apenas expectável um certo exagero e a verdade é que especialmente cativante encontrar as semelhanças entre esta estranha narrativa e a realidade em que vivemos. (Pura coincidência, naturalmente.) Por outro lado, lendo-se, de facto, como uma aventura de vampiros, fica a sensação de que certos episódios são demasiado exagerados - ou demasiado simplistas. Claro que ninguém espera um cenário realista, mas imaginar o tipo de recepção que em toda a parte é dedicada ao protagonista - bem, não é propriamente fácil.
Exageros à parte e assimiladas as muitas particularidades do enredo, a leitura torna-se estranhamente viciante. Podem não ser lá muito realistas, mas as aventuras de TR e companhia não deixam por isso de ser bastante divertidas. Além disso, se voltarmos à questão da sátira política, sobressaem alguns aspectos particularmente vincados - como os Vampiros do Norte e a praga de lobisomens (lóbis para os amigos) que o TR tem de defrontar na Rússia - e estes peculiares paralelismos com a realidade justificam em parte os ocasionais exageros dramáticos.
Ainda olhando para o livro enquanto história de aventuras, é preciso falar sobre o final e a forma como também ele deixa sentimentos ambíguos. Sendo certo que acrescenta um rasgo de imprevisibilidade, perde um pouco por ser demasiado apressado. Além do mais, ficam algumas referências veladas a outras aventuras de TR que não são devidamente contadas, o que deixa também uma sensação de curiosidade insatisfeita. Ainda assim, dramas e aventuras não faltam na curiosa carreira do inspector mais temido de sempre. 
A sensação que fica é, pois, a de entrar numa realidade estranha, mas estranhamente divertida. Peculiar e envolvente, ainda que algo exagerada, uma história de bizarrias com um certo toque de realidade, que deixa alguns pontos por explorar, é certo, mas que não deixa nunca de cativar e de surpreender. Gostei.

Autor: João Carlos Pinto
Origem: Recebido para crítica

domingo, 29 de abril de 2018

The French Girl (Lexie Elliott)

Severine era a rapariga da porta ao lado e, embora nem todos no grupo gostassem dela, acabou por passar muito tempo com eles durante a semana que passaram em França. Tudo acabou com uma grande discussão e com o desaparecimento da francesa, mas nunca mais voltaram a ouvir falar em Severine. Até agora. Passou uma década e o corpo de Severine foi encontrado dentro de um poço. Agora, o grupo de amigos está novamente a ser investigado e, embora pareça não haver provas sólidas a ligar nenhum deles ao caso, o investigador responsável parece ter a sua teoria. Kate, Seb, Tom, Caro e Lara são uma vez mais arrastados para o passado. E, quando Kate dá por si com tudo a perder, começa a questionar o que realmente aconteceu naquela semana.
Narrado da perspectiva de Kate, mas explorando motivos e possibilidades de todos os elementos do grupo, um dos aspectos mais impressionantes neste livro é quão facilmente se torna viciante. Severine e o que lhe aconteceu estão algures no passado, mas, quando o passado regressa, traz consigo uma série de memórias difíceis e de tensões e coisas não totalmente superadas. E assim, é fácil entrar na pele de Kate, compreender as suas dúvidas e suspeitas, mas também as suas ânsias e arrependimentos. E, quando novas revelações começam a emergir e as possíveis explicações começam a vir à superfície, descobrir o que acontece a seguir torna-se quase irresistível e é impossível parar de ler antes do fim.
Ainda que a morte de Severine seja a base desta história, é curioso reparar que alguns dos seus melhores momentos não vêm do caso, mas da rede de tensões e relações que o rodeia. O que aconteceu em França não foi só a morte de Severine, mas também que a verdadeira natureza de algumas das personagens começou a revelar-se. E, ao ver isto de um momento no futuro, tudo se torna fascinante: sentimentos que duraram muito para lá do seu tempo; desconfianças e aversões que se mantiveram durante anos; amizades que perduraram – mas que começam agora a ser abaladas. E há também um aspecto profissional na vida de Kate, e também na de Caro, que dá a situação de ambas uma perspectiva diferente.
Mas voltando às personagens. Embora tenham passado essa semana juntos em França devido às suas ligações comuns, há muitas diferenças entre elas. Algumas geram empatia imediata – a começar obviamente por Kate, mas não só – enquanto outras inspiram uma aversão quase instantânea. E isto torna-se particularmente interessante porque, quando as revelações surgem, também confirmam a validade destes sentimentos, o que pode tornar o final um pouco menos imprevisível, mas torna o caminho muito mais intenso.
E depois há o fim, que surpreende, não pela identidade do culpado, mas pela forma que as revelações assumem – e também pelo contraste entre as falhas do sistema e a espécie de justiça poética que acaba por se manifestar. Não é o final perfeito que as personagens esperavam alcançar – mas, dadas as circunstâncias, é o final mais adequado.
Trata-se, pois, de um livro que tem na base um homicídio, mas que se torna muito mais do que a história da sua investigação. Intenso, viciante e com um grupo de personagens bastante impressionante, cativa desde os primeiros momentos e não para de deixar a sua marca até ao fim. Muito bom.

Título: The French Girl
Autora: Lexie Elliot
Origem: Recebido para crítica

sábado, 28 de abril de 2018

Às Cegas (Josh Malerman)

O mundo tal como era despedaçou-se quando as pessoas começaram a ver algo indescritível e a enlouquecer em resultado disso. Agora, são poucos os sobreviventes e a única protecção possível é a cegueira. Malorie, com dois filhos pequenos e sem mais ninguém por companhia, levou anos a preparar-se para o que precisa de fazer. Isolada em casa, treinou as crianças para ouvir, para estarem atentas a tudo. E agora, tem finalmente de fazer o que nunca julgou possível naquele novo mundo de escuridão: sair de casa, descer o rio e abrir os olhos. É a única esperança que lhe resta - seguir as instruções que lhe foram dadas. Mas lembra-se demasiado bem de tudo aquilo que passou. Será capaz de o fazer, mesmo sabendo que não tem outra hipótese?
Assustador seria uma boa palavra para descrever este livro - e assustador em vários sentidos. Primeiro, pelo cenário que traça, com um mundo onde ver significa loucura e a única forma de sobrevivência é não ver e a inevitável insensibilização que se segue. Há quem sugira cegar crianças, há quem queira fechar a porta a quem procura auxílio, há quem construa teorias e possibilidades para explicar o inexplicável - e esteja disposto a tudo para as pôr à prova. E, no centro de tudo isto, há vidas a vir ao mundo, vidas que lutam por se aguentar, gente que procura fazer o melhor possível em circunstâncias impossíveis. Circunstâncias em que tudo é estranho e perturbador - e que dão forma a um percurso igualmente perturbador e fascinante.
É assustador também pelos sentimentos que provoca. Basta a intensidade do enredo para tornar a leitura viciante, mas há algo de mais profundo subjacente a toda a narrativa. O caminho de Malorie, presente e passado, está pejado de choques e perdas e dúvidas e revelações e cada um deles alimenta um pouco mais a sensação de inevitabilidade que parece pairar sobre todo o enredo. O mundo de antes já não existe. Malorie sabe-o e essa certeza vai sendo confirmada a cada novo desenvolvimento. E com ela vem a sensação opressiva de se estar num mundo inevitavelmente limitado - onde, da vida, se desceu à simples sobrevivência. Vê-lo em Malorie e nas outras personagens é senti-lo também, de certa forma, e isso deixa inevitavelmente a sua marca.
Tudo converge num crescendo de intensidade que é algo de avassalador, culminando num final que, não dando todas as respostas, parece abrir uma nova fase de possibilidades. Muito fica por explicar e, para algumas personagens, o que realmente lhes aconteceu permanece também envolto em mistério. Mas num mundo de cegueira e de loucura, onde não ver é, muitas vezes a única resposta, não saber faz também todo o sentido. E, mais do que curiosidade insatisfeita, fica-se com a sensação de chegar ao mesmo ponto onde Malorie se encontra: num ponto de viragem para algo que talvez possa ser melhor. 
Intenso, viciante, angustiante e perturbador, eis, pois, um livro que apresenta uma realidade diferente - para, a partir dela, virar do avesso o que julgamos constante e real. Fascinante desde a primeira página e memorável em todas as suas facetas, um livro que não posso deixar de recomendar. E que fica na memória... por todas as razões e mais algumas. Muito, muito bom.

Título: Às Cegas
Autor: Josh Malerman
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Submersos (J.M. Ledgard)

Refém de um grupo jihadista e submetido a todo o tipo de maus-tratos, James More tenta manter a sanidade por entre as extremas provações do seu cativeiro na Somália. Muito longe dali, Danielle Flinders, biomatemática, prepara-se para descer as profundezas inexploradas do oceano. Cada um à sua maneira, ambos se preparam para um mergulho mais ou menos definitivo nas trevas. E a memória foge-lhes: foge para um passado fugaz que partilharam e em que se descobriram mutuamente, para um passado que os atraiu um para os outro e revelou pontos comuns - a água e o infinito - que talvez nunca mais possam voltar a ser alcançados...
Estranha e fascinante mistura de momentos angustiantes, descobertas sentimentais, rasgos de introspecção e pura transmissão de conhecimento, este é um livro que, não sendo propriamente de leitura compulsiva, parece manter todas as suas facetas peculiares num equilíbrio delicado. De um lado, a difícil situação de James faz com que cada momento do seu presente seja um abismo de angústias - e, no entanto, surge com o distanciamento necessário a que o contexto mais vasto possa também ser explorado. Do outro lado, Danny e as complexidades do seu trabalho exigem uma série de informações específicas que levam o seu tempo a assimilar. E porém, há uma espécie de convergência que une as partes num todo coeso - um caminho rumo à derradeira submersão, que, embora diferente para ambos os protagonistas, se torna única pelo passado que os uniu.
Apesar da muita informação transmitida, não só de contexto, mas também do percurso individual das personagens, este não é de todo um livro que dê todas as respostas. Fica, aliás, uma grande pergunta em aberto quando se chega ao final. É, por isso, inevitável uma certa sensação de curiosidade insatisfeita, principalmente porque há um certo impacto emocional nalgumas partes da história que nunca é inteiramente mitigado. Mas também faz algum sentido que assim seja, pois o caminho era a descida. O depois - tenha ele a forma que tiver - fica no reino das possibilidades.
Mas importa ainda voltar à escrita para falar da forma como, de tantas e diversas linhas e registos, e de um tão delicado equilíbrio, emerge também uma forma memorável. Oscilando entre tempos e perspectivas, e acrescentando factos passados que, de certa forma, parecem influenciar a vida dos protagonistas, o autor constrói uma narrativa que, além de cativar pelas muitas coisas que narra, marca também pelas várias frases memoráveis. Há quase que poesia em alguns momentos - e, muitas vezes, nos momentos mais inesperados. E essa é também uma das características mais interessantes deste livro.
Leva o seu tempo e não dá todas as respostas, mas, pouco a pouco, grava-se na memória. É esta, no fundo, a alma deste livro que, numa espécie de descida aos abismos, olha para o mundo e para os homens com uma estranha precisão. A imagem que fica não podia, por isso, ser outra que não a de uma envolvente e fascinante leitura.

Título: Submersos
Autor: J.M. Ledgard
Origem: Recebido para crítica

Para mais informações sobre o livro Submersos, clique aqui.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Divulgação: Novidades Topseller

Jane Lowndes é uma jovem solteira de 26 anos que adora ler e que sonha em passar o resto dos seus dias a estudar, a lutar pelos direitos das mulheres e a frequentar salões intelectuais. Contudo, a sua mãe tenta insistentemente convencê-la a casar e a participar em eventos sociais.
Lorde Garrett Upton é um solteirão despreocupado que sobreviveu à guerra e regressou a Londres com o intuito de aproveitar ao máximo a vida. Tal como Jane, não tem qualquer intenção de se casar.
Ambos se conhecem há vários anos, mas não se toleram, estando constantemente a discutir e a provocarem-se. Só que um dia, num baile de máscaras, beijam-se, sem saberem a identidade um do outro. Quando o descobrem, tudo começa a mudar entre eles.
Conseguirá o desejo que sentem um pelo outro superar o sonho de permanecerem independentes e descomprometidos?

Valerie Bowman é uma autora bestseller internacional de romances de época, diferenciados pelos seus diálogos perspicazes, enredos cativantes e heroínas fortes e independentes.
Nasceu em Illinois, nos Estados Unidos, é a mais nova de sete irmãs e cresceu rodeada de romances históricos. É licenciada em Língua e Literatura Inglesa pelo Smith College e escreveu o seu primeiro romance em 2012.
Os seus livros têm sido muito bem recebidos pela crítica e nomeados para reconhecidos prémios literários, entre os quais o RT Reviewers' Choice, para Melhor Romance Histórico de Estreia, e ainda o Kirkus Prize para ficção.

Indochina Francesa, 1952. Nicole Duval tem 18 anos, sangue vietnamita e francês e vive na sombra da sua irmã Sylvie desde a morte da mãe. Daí que a irmã tenha ficado responsável pela gestão do negócio de sedas do pai, e Nicole com a pequena loja de tecidos da família, situada no quarteirão vietnamita de Hanói — uma área a fervilhar com militantes rebeldes que se opõem ao domínio francês.
Convivendo cada vez mais com o povo vietnamita, Nicole desperta para a corrupção e violência do colonialismo. E o seu mundo acaba por desabar ao saber do chocante envolvimento da sua família nas maquinações coloniais.
Num país rasgado pelos contrastes, Nicole conhece Tran, um rebelde vietnamita que a ajuda a escapar aos seus problemas; mas é por Mark, um charmoso empresário americano, que ela se apaixona. Os dois homens são de mundos opostos e Nicole sente-se dividida. Chegará o momento em que ela terá de fazer uma escolha, mas em quem poderá ela confiar quando ninguém é o que parece?
Um romance sobre autodescoberta, rivalidade entre irmãs e um amor que desafia as convenções.

Dinah Jefferies nasceu na Malásia e mudou-se para Inglaterra com nove anos. Estudou na Birmingham School of Art e, mais tarde, na Ulster University, onde se formou em Literatura Inglesa.
Autora bestseller do Sunday Times, colabora com alguns jornais, entre eles o Guardian. Os seus livros estão publicados em 25 países, e este número continua a crescer.
Depois de ter vivido em Itália e em Espanha, regressou a Inglaterra, onde vive com o seu marido e o seu cão, e passa os dias a escrever e a desfrutar dos tempos livres com os netos.

O Bebé que... Fez uma Birra (Rui Zink e Manuel João Ramos)

O bebé está a fazer birra e os pais não sabem porquê. Terá fome? Sono? Alguma coisa o perturbou? Certo é que a choradeira não parece parar e os pais vão trocando ideias - e culpas - entre si. Até que... a resolução surge. Mas será que tem explicação?
Muito breve e muito colorido, o que mais cativa neste pequeno livro infantil é que é não só uma leitura interessante para os mais pequenos - e um bom ponto de partida para analisar as birras e os seus estranhos porquê - mas também uma história capaz de despertar sensações de empatia e familiaridade nos adultos que, por experiência mais ou menos próxima, já tiveram de lidar com uma ou várias birras. A urgência, seguida da procura de explicações e depois, quem sabe, até de um certo passa culpas, é algo de natural e de mais ou menos universal. E esta sensação de reconhecimento torna a descoberta particularmente interessante - mesmo para quem há muito deixou de ser criança.
Outro aspecto interessante - e crucial, aliás - é o elemento visual. Primeiro a cor, claro, que faz sobressair a situação e os próprios sentimentos inspirados pela birra. Mas também a imagem em si, que, acrescentando alguns elementos peculiares - também presentes no texto - à descrição do que pode ser uma birra acrescentam à leitura um agradável toque de poesia e uma imagem bastante criativa do que é, afinal, um momento complicado.
É uma história muito, muito simples, mas é também uma história muito, muito certeira e uma forma divertida e original de contemplar um dos factos da vida: as birras existem, vêm quando menos se esperam e passam... bem, sabe-se lá quando. Fica, por isso, a sugestão desta leitura divertida para os mais pequenos e não só.

Autores: Rui Zink e Manuel João Ramos
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Águas Profundas (Robert Bryndza)

Quando a equipa de mergulhadores que procurava na pedreira de Hayes uma mala de droga encontra, além daquilo que procuravam, o esqueleto de uma criança, Erika Foster sente imediatamente que não vai conseguir tirar aquele caso da cabeça. Em teoria, não lhe compete sequer investigá-lo, mas a identificação da vítima faz daquele caso algo de que ninguém quer realmente tomar conta - e assim Erika consegue o que quer. A vítima é Jessica Collins, desaparecida há vinte e seis anos, e a investigação anterior foi um desastre. Mas a descoberta do esqueleto não basta para trazer as respostas que faltavam e Erika dá por si a enfrentar demasiados suspeitos, uma família devastada e um misterioso adversário disposto a tudo para que o caso não seja resolvido. Quem matou, afinal, Jessica Collins? E porquê?
Um dos primeiros aspectos que importa destacar sobre este livro - e sobre a série como um todo - é o facto de se centrar num caso independente com princípio, meio e fim, ao mesmo tempo que acompanha um núcleo de personagens já conhecidas e o seu percurso gradual de evolução. Assim sendo, qualquer dos livros pode ser lido independentemente sem que se perca o impacto das revelações e descobertas feitas ao longo do caminho. Ainda assim, e isto é o que torna tudo tão interessante, o percurso pessoal de Erika e dos que lhe são mais próximos é também uma estrada de evolução e, por isso, sai reforçada a sensação de que vale muito a pena acompanhar a série desde o início. Primeiro, pelos casos individuais, que valem por si. E também porque Erika (e não só, mas principalmente Erika) revela-se um pouco mais a cada novo livro da série.
Enquanto protagonista, Erika Foster é uma mulher forte numa posição que lhe exige força, mas não isenta de vulnerabilidades. É talvez isso mesmo que a torna tão fascinante, pois, bastante eficaz, principalmente quando as circunstâncias se complicam, mas susceptível ao erro, severa na profissão, mas capaz de rasgos de emoção e de humor inesperados, Erika é, acima de tudo, uma personagem humana e real, tal como o são os que a rodeiam. Competentes ou menos competentes, empáticos ou... bem, não muito agradáveis... uma coisa é certa. Nesta série não há personagens perfeitas - e é também isso que lhe confere tanta intensidade.
Mas passemos ao caso e ao que nele existe que torna a leitura tão cativante. Basta a forma como o livro está escrito, em capítulos relativamente curtos e realçando sempre o mistério e a tensão e o perigo, para despertar a curiosidade em saber mais. E, à medida que o caso evolui, com novos suspeitos, pistas falsas, intervenções duvidosas e novas revelações, essa curiosidade vai sendo alimentada, tornando quase irresistível a vontade de ler mais um capítulo (ou vários) só para descobrir o que aconteceu ou o que aquela personagem sabe ou - finalmente - quem foi realmente o culpado.
No fim, obtêm-se todas as respostas necessárias, mas nunca num final demasiado fácil ou demasiado limpo. Da história de Jessica, fica a verdade e as consequências. Da de Erika... bem, fica a promessa de ainda muito mais para conhecer. E é este potencial - concretizado e prometido - que fica na memória no final da leitura: a sensação de que há ainda muito mais de bom à espera.
Que mais dizer? Que vale muito a pena conhecer Erika Foster, tanto neste livro como nos anteriores. Intenso, viciante e cheio de surpresas, um livro que prende do início ao fim e que deixa as melhores das expectativas para o que virá a seguir. Muito, muito bom. 

Autor: Robert Bryndza
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Suma de Letras

Karen, esteticista de profissão, muda-se de Cartagena para Bogotá em busca de uma vida melhor, mas ao chegar não só consegue trabalho como depiladora n'A Casa da Beleza, como se converte na chave para resolver o mistério da morte de uma das suas clientes - uma jovem rapariga, vestida com o uniforme da escola, que aparece morta no dia a seguir a ter visitado Karen no salão.
Com quem se ia encontrar a cliente de Karen?
Entre conversas íntimas e confissões, Karen acabará por ser a confidente de uma psicanalista, da mulher dum congressista, de uma famosa apresentadora de televisão e de uma mãe desolada que busca justiça num país onde a verdade só pertence àqueles que podem pagar por ela.

Melba Escobar (Cali, 1976) estudou Literatura e finalizou os estudos com uma tese sobre o jornalismo literário. Publicou vários títulos infantis antes de escrever o seu primeiro romance, A Casa da Beleza. Na actualidade vive em Bogotá e é colaboradora habitual dos jornais El Espectador e El País. O seu romance A casa da beleza, eleito um dos melhores livros pelo Prémio de Novela da Colômbia, foi um sucesso de vendas de direitos na Feira do Livro de Londres e será publicado em mais de 16 países.

terça-feira, 24 de abril de 2018

O Assassínio de Cinderela (Mary Higgins Clark e Alafair Burke)

Laurie Moran sabe como ninguém que o sucesso pode ser fugaz e, apesar do êxito do primeiro episódio do seu programa, Sob Suspeita, esse sucesso só durará se encontrar um novo caso à altura. E parece tê-lo encontrado. Susan Dempsey foi morta na noite em que devia ter ido a uma audição em casa de um realizador que viria a tornar-se famoso - e, vinte anos passados, o culpado nunca foi encontrado. A premissa do programa - entrevistar os possíveis suspeitos, obter nova informação, quiçá, até, contribuir para a resolução do caso - encaixa que nem uma luva naquela história. Mas a verdade é que há muitos segredos em torno da morte de Susan Dempsey - e há quem queira que eles não venham à superfície. Laurie está empenhada na descoberta da verdade - mas não está a colocar-se, bem como à sua equipa e à sua família, na mira de um assassino?
Talvez, em parte, por várias das personagens serem já figuras conhecidas (a história de Laurie vem do livro O Azul dos Teus Olhos), mas também devido à forma como a história é contada, num estilo directo e que acompanha os passos das diferentes personagens, há algo neste livro que vicia às primeiras linhas. É fácil entrar no ritmo da narrativa e, à medida que as revelações vão surgindo e os perigos se tornam mais evidentes, é irresistível a vontade de ler mais um capítulo - ou vários - só para saber o que acontece a seguir.
Basta o enredo, pois, para garantir uma leitura praticamente compulsiva, com as suas surpresas e reviravoltas e um crescendo de intensidade que culmina num final particularmente forte. Mas há ainda um outro aspecto que reforça ainda mais este impacto: a construção e o desenvolvimento das personagens. No caso das já conhecidas, cativa principalmente a evolução nas relações, o crescimento (principalmente de Timmy) e a forma como o passado parece funcionar como motivador, no caso de Laurie. Nas novas personagens, surpreende a diversidade de motivações, os segredos e mistérios e a forma como estes moldam a evolução do enredo e, principalmente, a capacidade de - tal como no programa de Laurie, aliás - revelar complexidades insuspeitas sob a imagem inicial do cliché.
Há ainda alguns elementos de contexto que, ainda que desenvolvidos apenas na medida em que servem o cenário global, acrescentam novas perspectivas à história. A existência de uma igreja com segredos a esconder, por um lado, e a de uma empresa cujas origens parecem ser um pouco dúbias, acrescentam possibilidades a um caso já cheio de mistérios. E também isto contribui para alimentar a tal necessidade de respostas que vem reforçar o impacto das revelações finais.
Trata-se, portanto, de um livro que, reconstruindo um caso do passado e trazendo de volta personagens de uma história anterior, reforça o potencial de uma série que tem tudo - mas mesmo tudo - para cativar. Intenso, surpreendente e cheio de revelações, um livro viciante e uma série para continuar a acompanhar. Recomendo.

Autoras: Mary Higgins Clark e Alafair Burke
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Topseller

Uma cidade a recuperar de uma tragédia.
Um pirómano anda à solta em Colmstock, na Austrália. Incendiou o tribunal da cidade, e um rapaz que ficara encurralado no interior do edifício morreu.
Uma jovem aspirante a jornalista à procura de um furo.
Rose Blakey sempre sonhou em ser jornalista, mas todas as candidaturas que envia para os meios de comunicação social são rejeitadas. Tudo o que precisa é de uma história que a faça dar o grande passo da sua vida, e essa história finalmente aparece.
Pequenas bonecas de porcelana cheias de segredos.
Algumas semanas após o incêndio no tribunal, começam a aparecer à porta de certas casas bonecas com rostos idênticos aos das crianças que aí vivem.
A população fica aterrorizada, pois suspeita-se de que um pedófilo possa estar envolvido, e a polícia desvia a sua atenção do incendiário para este caso. Rose começa a escrever artigos sobre o tema, que são publicados num jornal, ganhando uma dimensão cada vez maior à medida que vão sendo divulgadas mensagens do pedófilo. Mas numa cidade em que toda a gente guarda pequenos segredos, a verdade torna-se difícil de encontrar.

Anna Snoekstra nasceu em Camberra, na Austrália, em 1988. Estudou Escrita Criativa e Cinema na Universidade de Melbourne, frequentando posteriormente o curso de Guionismo no Instituto Real de Tecnologia de Melbourne.
Após concluir o ensino superior, Anna Snoekstra começou a escrever guiões para filmes independentes e para peças de teatro, tendo escrito também uma série de contos que foram publicados e premiados.
Actualmente, vive com o marido e o seu gato, dedicando-se à escrita a tempo inteiro.

Kit é a rapariga mais gira da escola. David é um rapaz solitário, incapaz de interagir com os colegas. Ele sabe que é pouco provável que Kit alguma vez repare nele.
Até ao dia em que Kit, cansada das conversas fúteis das amigas, decide almoçar na mesa de David. A química é imediata e os dois passam a partilhar o tempo das refeições. Fruto desta nova e inesperada amizade, David começa a aprender a relacionar-se com os outros, e Kit, ainda a recuperar da trágica e recente morte do pai, encontra o ombro de que precisava.
Kit só conseguirá reaprender a viver se descobrir a causa do acidente do pai e, sabendo disso, David decide ajudá-la. Mas nenhum dos dois está preparado para o mistério que estão prestes a desvendar, e é aí que a sua amizade é posta à prova.

Julie Buxbaum é uma autora bestseller do New York Times. Iniciou a sua carreira profissional como advogada. No entanto, a sua paixão pela escrita e pelas palavras levou-a a abandonar a advocacia para se dedicar a tempo inteiro aos livros.
O seu percurso enquanto escritora conta já com dois romances para adultos e, ainda, com o internacionalmente aclamado Conta-me Três Coisas (ed. Topseller, 2017), o seu primeiro livro para jovens adultos. Vive em Los Angeles com o marido, os dois filhos e um peixe-dourado «imortal». Quando era pequena acreditava que ia crescer e tornar-se a Mulher-Maravilha.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

A Hora Solene (Nuno Nepomuceno)

Julgavam que a Dark Star estava acabada e que tudo se encaminhava para a paz possível, mas basta meia dúzia de acontecimentos cuidadosamente planeados para revelar a dimensão do seu erro. Uma aparente entrega voluntária deixa a Cadmo completamente exposta e, além das baixas causadas, leva à perda de informação preciosa. Entretanto, um homem é deixado a morrer na rua em resultado de uma traição inexplicável. E o mistério continua. Quem são os responsáveis? De que lado estão, afinal, os que pareciam ser aliados fiéis? E, se sobreviver é apenas o início, onde termina a missão? Alguns inimigos morreram. Outros foram capturados. Mas os piores continuam à solta - e não olharão a meios para a concretização dos seus planos.
Tendo em conta o fim do livro anterior, o mínimo que se poderia esperar deste volume final seriam grandes revelações, momentos de altíssima intensidade e uma série de novas possibilidades a emergir da extensão de um percurso aparentemente quase terminado. E é exactamente isso que este livro apresenta - isso e muito mais. Tudo ganha novos contornos. A informação já conhecida ganha uma nova dimensão e cada nova possibilidade abre caminho a grandes momentos de acção, intrigas e planos complexos e meticulosos e um ritmo de intensidade praticamente irresistível. E, claro, sem perder de vista o outro lado: pois, apesar de ser um espião de topo, André Marques-Smith continua a ser uma figura profundamente humana e com uma vida pessoal bastante rica - vida pessoal essa que complementa na perfeição a teia de intrigas em que a sua profissão e natureza o envolveram.
Sobressai, portanto - além, é claro, das muitas reviravoltas sobre as quais não posso dizer muito sem revelar demasiados segredos - acima de tudo o equilíbrio. André, o espião, é eficiente, meticuloso e implacável. André, o alto funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros, é, além de competente, um apoio constante e alguém bastante agradável de se ter por perto. E André, o homem - pura e simplesmente - é um poço de complexidades e de vulnerabilidades que, a cada nova revelação, se torna um pouco mais fascinante. Todas estas facetas fazem parte da sua natureza e o equilíbrio entre as várias partes da sua vida torna o enredo mais amplo, providenciando momentos de grande tensão, mas também de humor e de emoção.
E depois há a escrita, claro, e principalmente a intensidade irresistível com que tudo é narrado, deixando sempre em aberto a tensão que faz querer devorar mais algumas - ou muitas - páginas só para saber o que acontece a seguir. Há em tudo uma muito agradável naturalidade que projecta o leitor para dentro da narrativa e isso confere ao enredo ainda mais intenso, seja nos pontos de máxima tensão, seja nos mais simples e divertidos ou ainda nos rasgos de emotividade que marcam ainda mais por serem sempre surpreendentes.
No fim, quase tudo encaixa no sítio certo. E, se alguns pequenos aspectos parecem passar para segundo plano, também é certo que faz sentido que assim seja, pois, depois de tão longa jornada, não seria realista esperar que não ficassem marcas e silêncios na vida das personagens.
Máxima intensidade e máxima vulnerabilidade: assim se poderia descrever este derradeiro volume de uma história que cativa mesmo desde o início e se abre em mil surpresas até ao fim. Intenso, viciante e cheio de momentos memoráveis, um livro - e uma trilogia - que não posso deixar de recomendar. Muito, muito bom.

Título: A Hora Solene
Autor: Nuno Nepomuceno
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Bertrand

Passado nos anos 70, numa cidade industrial cinzenta e chuvosa, a força policial da zona está concentrada em acabar com um persistente problema de drogas. Duncan, chefe da polícia, é um idealista e visionário, um sonho para a população e um pesadelo para os criminosos. O comércio das drogas é liderado por dois homens, um dos quais, mestre da manipulação chamado Hécate, tem ligações aos poderes mais levados. E pretende usá-las para conseguir escapar ileso.
O seu plano consiste em manipular, de forma consistente e persistente, o inspector Macbeth, um homem já de si susceptível a tendências paranoides e violentas. O que se segue é uma história irresistível de amor e culpa, de ambição política e inveja, que explora os recantos mais negros da natureza humana, assim como as aspirações da mente criminosa.

Jo Nesbø é um dos mais célebres autores de thrillers do mundo. Os seus livros são bestsellers internacionais e estão publicados em mais de 50 línguas, com cerca de 33 milhões de exemplares vendidos.
Antes de se tornar escritor, Nesbo foi jogador de futebol da primeira liga norueguesa, mas uma lesão no joelho impediu-o de prosseguir com o seu sonho. Estudou Economia e formou a banda pop Di derre, que alcançou os tops na Noruega. Mas Nesbo continuou a trabalhar como analista financeiro, apesar do seu sucesso na música. Quando uma editora lhe encomendou um livro de memórias acerca da sua vida de músico «na estrada», ele escreveu, em vez disso, o primeiro livro protagonizado por Harry Hole, O Morcego.

Num futuro próximo, a empresa LoveStar controla todos os aspectos da vida humana, incluindo o amor e a morte. Os seres humanos vivem agora «sem fios», o que dá rédea solta ao consumo, à tecnologia e à ciência. O serviço da REMORSOS permite eliminar dúvidas sobre caminhos que não foram seguidos, os mortos são lançados em foguetões para o espaço, de maneira a poderem regressar à Terra em todo o esplendor e o programa da inLove junta os casais perfeitos.
Ingriði e Sigríður não foram calculados para ficarem juntos, mas estão convictos de que se trata de uma mera formalidade. Mas quando a inLove une Sigríður a outra pessoa, a utopia que criaram começa a desmoronar-se.
Uma visão do futuro em que o marketing e a tecnologia governam o mundo, sem nunca conseguir contudo eliminar definitivamente o amor e a ânsia de viver.

Andri Snær Magnason é um dos escritores mais célebres e admirados da Islândia, autor de poesia, teatro, ficção e não ficção. LoveStar foi «Livro do Ano» dos livreiros islandeses, foi nomeado para o Prémio Literário da Islândia e recebeu o DV Literary Award. Foi ainda seleccionado para o prémio Philip K. Dick. O autor vive em Reiquiavique.

domingo, 22 de abril de 2018

Violeta e Índigo Descobrem Klimt (Isabel Zambujal e Gonçalo Viana)

O Índigo tem um dom especial. Basta uma pincelada sua que se assemelhe a um quadro famoso e, na companhia da sua amiga Violeta, é projectado para a vida do grande pintor que criou essa obra. Desta vez, a inspiração leva-os à vida e aos quadros de Klimt. E há muito para descobrir, como sempre.
Misturando uma aventura cativante, uma boa base de informação para aprender e algumas actividades divertidas, este livro vem confirmar a impressão de que esta colecção é um belo ponto de partida para incentivar os mais novos a descobrir a arte. Não é um livro extenso e, escusado será dizer que certamente a vida do autor justificaria um livro bastante maior, mas é uma boa base e abre caminho à curiosidade em saber mais. Além disso, ao acrescentar à vida do pintor a pequena aventura de Índigo e Violeta, cria-se uma agradável sensação de descoberta comum, como se quem lê estivesse a acompanhar os protagonistas na sua breve e interessante aprendizagem.
Ora, sendo um livro infantil e um livro sobre um pintor famoso, não é propriamente uma surpresa que as imagens sejam tão importantes como o texto em si. Primeiro, a cor desperta curiosidade. Depois, a mesma dualidade entre a história de Klimt e a história dos dois amigos que se manifesta no texto vê-se também nas imagens, com a presença de várias obras do pintor a contrastar com o traçado cativante que ilustra o percurso de Violeta e Índigo. Além de que, claro, as imagens complementam na perfeição o texto, tornando tudo mais nítido e mais colorido.
E depois há o outro aspecto que também parece ser característico desta colecção, que é o acrescentar à história um breve conjunto de actividades que, além de reforçarem a atenção (pois há um pequeno questionário no final do livro) criam uma maior interactividade, tornando ainda mais divertida e agradável a experiência da descoberta.
Fica, por isso, a impressão de um livro simples e agradável e de uma bela forma de despertar desde cedo o interesse pela pintura e pelos grandes pintores. Bonito, colorido e cativante, uma boa leitura.

Título: Violeta e Índigo Descobrem Klimt
Autores: Isabel Zambujal e Gonçalo Viana
Origem: Recebido para crítica

sábado, 21 de abril de 2018

A Volta ao Medo em Oitenta Dias (José Jorge Letria)

A vida de Gustavo sempre se definiu pelo medo: medo das pessoas, medo dos espíritos, medo da morte, dos conflitos, da guerra. Medo de ficar, medo de partir. Medo de tudo. Mas, nascido numa casa onde não se falava de política, Gustavo foi, apesar de tudo, interessando-se pelos subversivos e encontrando um lugar para si num país em mudança. Mas agora os anos passaram e só ficou a memória do que ficou para trás - e o medo, ainda e sempre o medo. Será, talvez, finalmente o momento de ousar?
De uma simplicidade aparente, mas abrangendo praticamente uma vida inteira, este é um livro em que, apesar do contexto delicado em que tudo decorre, é mais a vida interior do protagonista o factor dominante do que propriamente o seu percurso através de um país em mudança. Pelo caminho de Gustavo - como interveniente ou como espectador - passam muitas das grandes dificuldades do seu tempo: o medo da denúncia, o necessário secretismo acerca de certas formas de arte, a iminência de uma partida para a guerra e as possíveis consequências. E este contexto está bem presente em todo a narrativa, mas mais como pano de fundo para o que é afinal o grande problema de Gustavo: o medo constante.
Nem sempre é fácil simpatizar com as personagens, em parte talvez porque algumas delas parecem estar apenas de passagem, mas principalmente por serem vistas da perspectiva de Gustavo. E, claro, há personagens de que é simplesmente impossível gostar - mas, dada a sua posição, isso faz todo o sentido. Ainda assim, e se nem as escolhas do próprio Gustavo são sempre fáceis de entender, há algo no seu percurso - na forma como lida com o medo, fugindo ou ficando, mas raramente enfrentando - que é fácil de identificar. Nunca é fácil fazer escolhas e muito menos quando se tem algo a perder. E, num tempo como o de Gustavo, uma certa dose de medo seria provavelmente uma segurança.
Tudo é contado de forma relativamente sucinta, ficando, em alguns pontos, uma certa vontade insatisfeita de saber mais. Ainda assim, e apesar da relativa brevidade, os elementos essenciais - as emoções, o crescimento, a perspectiva pessoal de um mundo em mudança e, claro, o sempre presente medo - são muito claros e, se nem todas as opções são de molde a inspirar simpatia... bem, a verdade é que não há seres humanos perfeitos.
No fim, fica a sensação de uma viagem aparentemente simples, feita de um protagonista imperfeito, de um contexto difícil e, acima de tudo, de sentimentos fortes. Porque o medo existe, não é? E todos o conhecemos. E é esta proximidade das emoções, ainda que nem sempre das personagens, que fica na memória a guardar o espacinho desta cativante e agradável leitura.

Autor: José Jorge Letria
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 20 de abril de 2018

The Dark Sea War Chronicles - Shark-Killer (Bruno Martins Soares)

Depois de uma missão praticamente suicida, que, apesar do preço elevado, trouxe consigo informações capazes de mudar o rumo da guerra, o mais difícil parece ser agora regressar a casa. O inimigo é letal e praticamente invisível - e, quando a inferioridade numérica se torna evidente, também a sobrevivência começa a aparecer impossível. Mas, apesar de tudo aquilo por que passou, Byl ainda não está disposto a desistir da vida - muito menos agora, que recuperou o que julgava perdido. Mais uma vez, impõem-se decisões loucas e aparentemente suicidas - mas inevitáveis, se quiser ter uma hipótese de sobreviver.
Um dos aspectos mais impressionantes nesta trilogia - e, oh, se ela tem aspectos impressionantes - é a forma como o autor consegue encaixar tanto num volume relativamente breve. Em cerca de cento e cinquenta páginas, há grandes e memoráveis batalhas, decisões de vida e morte, revelações e demónios interiores, momentos de humor, rasgos de emoção e um contexto global tão vasto que quase parece inesgotável. E o melhor disto tudo é que nada parece apressado, nada parece demasiado sintético, nada de crucial é deixado de fora. Há mais para explorar nesse mundo? Com certeza. O potencial é vastíssimo. Mas esta história - a destas personagens específicas - tem tudo, mesmo tudo, na medida certa. E deixem-me que vos diga: é muito difícil parar antes do fim.
E por falar em fim (e não só, porque é algo que tem sido uma constante nesta trilogia), outro dos muitos aspectos memoráveis nesta leitura é que não há resultados - nem percursos, nem pontos de partida - fáceis. Todo o caminho é duro - pelas circunstâncias, pelo conflito, pelas dificuldades e fragilidades pessoais. A vida das personagens é dura, a crueldade está à espreita a cada novo desenvolvimento e a verdade é que ninguém é verdadeiramente poupado. O resultado é uma intensidade quase irresistível, uma proximidade para com o que nos está a ser contado que é praticamente palpável e uma sensação de estar, sentir e viver com as personagens que... bem, nos põe a alma das personagens nas mãos.
Mas falei em crueldade e crueldade não falta no caminho destas personagens - crueldade que as molda e que define as suas escolhas, pensamentos e emoções. E também isso impressiona, pois sentir pontos de vulnerabilidade, de falibilidade, reconhecer que a humanidade das personagens é precisamente aquilo que as torna tão marcantes, mesmo quando tudo à volta é conflito e discórdia e, bem, explosões... é uma estranha espécie de magia a acontecer. É belo, é fascinante. É irresistível.
Que mais dizer então sobre este livro? Que vale cada segundo da viagem, nos momentos mais belos como nos mais difíceis. Que fascina pela complexidade do cenário, mas que se grava a fogo na memória pela complexidade das personagens que o povoam. E que, abrindo as portas para um mundo vastíssimo, deixa ao mesmo tempo a sensação de uma missão mais que cumprida e esta vontade de mais. Sempre, sempre mais. Leiam, porque vale a pena. Muito, muito, muito. Muito mesmo.

Título: The Dark Sea War Chronicles - Shark-Killer
Autor: Bruno Martins Soares
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Topseller

E se a terra fosse o planeta mais absurdo do universo?
O professor Andrew Martin, génio matemático, acaba de descobrir a chave para os maiores mistérios do Universo. Ninguém sabe do salto que isto representará para a Humanidade… excepto seres evoluídos de outro planeta.
Determinados a impedir que esta revelação caia nas mãos de uma espécie tão primitiva quanto os humanos, estes seres enviam um emissário para destruir as provas. E é assim que um alien intruso, completamente alheio aos costumes, chega à Terra. Rapidamente, ele descobre que os humanos são horrendos e têm hábitos ridículos — comida dentro de embalagens, corpos dentro de roupas e indiferença por trás de sorrisos… Esta espécie não faz sentido!
Durante a sua missão, sob a pele e identidade de Andrew Martin, este alien sente-se perdido e odeia todos os terráqueos. Excepto, talvez, Newton, um cão. Contudo, quanto mais se envolve com os que o rodeiam mais fica a perceber de amor, perda, família; e de repente está contagiado: será que afinal há qualquer coisa de extraordinário na imperfeição humana?

Matt Haig foi jornalista, tendo colaborado com o Guardian, o Sunday Times e o Independent. Escreveu o seu primeiro livro em 2004 e, desde então, nunca mais parou. Autor bestseller com obras para adultos e para o público mais jovem, venceu o Blue Peter Book Award, o Smarties Book Prize e foi três vezes finalista do prémio literário Carnegie Medal.
Os seus livros estão traduzidos em mais de 30 línguas. O Guardian considerou a sua escrita «deliciosamente estranha», e o New York Times tem-no como um «escritor de grande talento» capaz de narrativas «divertidas, fascinantes e arrebatadoras».

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Diversidade - A Vida na Terra (Nicola Davies e Emily Sutton)

Quantas espécies existem no mundo? E, dessas, quantas conhecemos? E quantas terão deixado de existir devido à intervenção humana? A diversidade é uma parte fundamental do equilíbrio do planeta e entendê-la é o primeiro passo para cuidar. E esse, então, o tema deste cativante e colorido livro, que permite aprender com toda a clareza - e todo o encanto de uma nova descoberta.
À semelhança do que aconteceu em Minúsculos - O Mundo Invisível dos Micróbios também este livro tem na forma como permite assimilar ideias através da visualização e de um conjunto de explicações simples o seu grande ponto forte. Basta folhear para que a beleza das imagens prenda a atenção e, quando se começa a ler, a informação surge de forma sucinta, mas perfeitamente clara e muito cativante. Surge, pois, naturalmente a ideia sempre actual do aprender brincando - e é muito fácil aprender com este livro.
Tem também a muito relevante qualidade de não só realçar a diversidade das espécies como de apelar a uma certa consciência ecológica, realçando o papel da acção humana na extinção de algumas espécies e apelando ao tal cuidado que é sempre tão essencial. E também isto surge com naturalidade, o que nunca deixa de ser a melhor forma de assimilar ideias e informações.
Importa ainda voltar uma vez mais ao aspecto visual, pois, sendo um livro para os mais novos, a imagem é tão ou mais importante que as palavras. E o aspecto deste livro é encantador. As imagens das diferentes espécies e os cenários cheios de cor fazem deste livro uma viagem à beleza natural do mundo, o que, tendo em conta que o tema é a diversidade e a sua importância, serve também para sublinhar a importância da mensagem. 
No fim, fica uma imagem à semelhança deste livro: uma aprendizagem feita de conhecimento e de cor, de factos e de preocupações e de uma visão do mundo como algo que necessita de ser cuidado. Uma belíssima leitura, portanto, para aprender e despertar consciências desde cedo. Muito bom. 

Autoras: Nicola Davies e Emily Sutton
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 18 de abril de 2018

E Depois Chegaste Tu (Jennifer Weiner)

Jules é uma estudante universitária sem grande vida social e à procura de uma solução que lhe permita ajudar o pai a deixar para trás o vício que o arruinou. Annie ama o marido e os filhos, mas as dificuldades financeiras começam a ser demasiado difíceis de suportar. E Bettina sente-se tudo menos confortável com a nova mulher do pai, India, e com a ideia de eles virem a ter um bebé. Dificilmente poderiam ser mais diferentes mas os seus caminhos estão prestes a cruzar-se irreversivelmente: Jules doou o óvulo, Annie servirá de barriga de aluguer e India deverá ser a mãe. O plano é simples. Mas, quando menos esperam, um acontecimento dramático dá a tudo um rumo completamente diferente. E encontrar uma solução adequada poderá ser tudo menos fácil...
Alternando entre as perspectivas das diferentes personagens e, a partir daí, construindo uma cativante mistura de medos, segredos e pequenos grandes dramas familiares, este é um livro que cativa, acima de tudo, pelo facto de não haver personagens perfeitas. Todas as personagens estão a lutar com alguma espécie de problema, presente ou passado, e isso faz com que a situação que estão a viver nunca pareça demasiado fácil. Além disso, o facto de ser uma história que envolve barrigas de aluguer, mas não estritamente apenas sobre este tema, abre caminho a uma visão muito mais vasta do todo. 
Jules, Annie, India e Bettina. Qualquer uma delas justificaria por si só um romance e, por isso, é inevitável a sensação de que haveria mais história para contar: da relação amorosa de Jules, da história entre Bettina e Darren, até mesmo das relações familiares de Annie ou das mudanças operadas na vida de India. Ainda assim, há um ponto comum que as une a todas e esse ponto comum - o bebé que está para nascer - é também o fio condutor de todo o enredo. Assim, faz sentido que a história termine naquele preciso momento, e também o faz que nem tudo tenha respostas limpas. Afinal, ninguém sabe tudo na vida e nenhuma história acaba verdadeiramente na palavra fim.
Voltando ainda outra vez à imperfeição das personagens, é interessante a forma como esta imperfeição se reflecte nos acontecimentos, motivando momentos de tensão, mas também de ternura, rasgos de fúria e pequenas revelações. Há muitas coisas marcantes a acontecer e só acontecem porque nenhuma das personagens é perfeita e infalível. Porque todas têm espaço para crescer - e crescem, de facto.
No fim, fica esta imagem de evolução e de crescimento, não só de uma vida ainda por chegar, mas principalmente na vida das intervenientes no processo. Uma história bonita, cheia de momentos marcantes e com um grupo de personagens tão memorável nas forças como nas vulnerabilidades. Gostei.

Autora: Jennifer Weiner
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 17 de abril de 2018

A Mulher Culpada (Elle Croft)

Bethany Reston ama o marido, mas nunca soube bem o que queria da sua vida e, quase sem dar por isso, viu-se envolvida num caso amoroso com um cliente, o bilionário Calum Bradley. Não é algo de inconsequente e sente que ama verdadeiramente Calum. Mas também ama o marido e a situação começa a pesar-lhe. E, quando pensa que uma discussão e o consequente afastamento temporário são o maior dos seus problemas, Calum é assassinado numa estação de metro - a mesma onde Bethany se encontrou com ele poucos minutos antes. Bethany não é a responsável pelo crime, mas também não pode propriamente admitir que estava a ter um caso. Principalmente a partir do momento em que começa a receber mensagens ameaçadoras do verdadeiro assassino.
A principal qualidade deste livro é, sem dúvida alguma, a intensidade. Escrito em capítulos relativamente curtos, com um estilo directo em que a acção e a tensão predominam, e com um enredo onde suspeitas, segredos e revelações parecem ocupar um claro papel de protagonismo, é fácil entrar no ritmo da narrativa - e é difícil parar de ler antes do fim. Bethany pode ser inocente, mas tem segredos a esconder. E, quando o verdadeiro assassino entra em cena, com a sua identidade desconhecida e os seus planos de perseguir e incriminar Bethany, é impossível resistir à curiosidade de saber o que acontece a seguir.
Claro que, ao centrar a história na perspectiva de Bethany, a aura de mistério em torno dos restantes aumenta. E, se isto contribui para manter acesa a tal curiosidade em descobrir as respostas, também deixa, por vezes, a sensação de que algumas coisas acontecem demasiado depressa. Teria sido interessante saber um pouco mais sobre a história de Jason ou a posição de Alex relativamente à situação. E a fase final, com a sua derradeira revelação completamente inesperada e uma conclusão... bem, bastante invulgar para este género de livro, talvez pudessem ter ganho ainda mais intensidade se aspectos como o julgamento tivessem sido mais desenvolvidos. 
Há, ainda assim, um outro aspecto que se destaca - a capacidade de transmitir com toda a clareza as motivações das personagens. Claro que, sendo a história vista pelos olhos de Bethany, é ela quem sobressai neste aspecto e a forma como a autora transmite o seu medo, a sua apreensão e também os seus dilemas de consciência aumenta em muito a intensidade do enredo. E, ainda que de forma mais ténue (e parcial, pois surge maioritariamente da perspectiva de Bethany) também para as outras personagens é possível reconhecer forças e vulnerabilidades, traços de carácter e máscaras que se recusam a cair. 
No fim, fica a impressão de uma história que talvez pudesse alongar-se um pouco mais em alguns momentos, mas que basta, tal como é, para cativar do início ao fim. Intenso, misterioso e surpreendente, um livro para devorar de uma assentada. E uma autora a seguir.

Autora: Elle Croft
Origem: Recebido para crítica

domingo, 15 de abril de 2018

A Rapariga Alemã (Armando Lucas Correa)

1939. Apesar dos perigos e da omnipresença das bandeiras vermelhas, brancas e negras, a rua é o único refúgio onde Hannah Rosenthal, de doze anos, ainda encontra alguma alegria. Em casa, os pais mantêm conversas sussurradas e parecem fazer planos que lhe inspiram pouca confiança e só a companhia do amigo Leo, também ele na mesma situação, lhe alegra a vida. Mas os seus dias em Berlim estão contados e a única fuga possível e embarcar no St. Louis, um possante navio que os deverá levar para Cuba - se o governo de lá estiver disposto a aceitá-los. Cuba deveria ser apenas um lugar de passagem, mas, setenta anos depois, Hannah continua lá - e as suas cartas chegam às mãos da última Rosenthal, uma menina de doze anos que não conhece a história da sua família. Hannah e Anna partilham o mesmo nome e o mesmo passado. E é tempo de revelar os segredos que durante tanto tempo perduraram. 
Dividido entre dois momentos diferentes e as perspectivas das duas protagonistas, este é um livro que tem como principais qualidades dois aspectos: a capacidade de alimentar uma certa aura de mistério e um enredo onde não há caminhos fáceis. Quanto aos caminhos fáceis, nunca os poderia haver tendo em conta a época em que parte do enredo decorre e as inevitáveis perdas associadas a um tal percurso. Quanto ao mistério, vive de segredos perpetuados ao longo do tempo: alguns de grande impacto, outros apenas símbolos de uma vida que passou.
Ainda que a história se centre principalmente em Hannah e Anna, com as suas fascinantes histórias e descobertas, a história vive também muito das personagens que as rodeiam. No caso de Hannah, o pai, a mãe, Leo e Julian trazem consigo uma série de enigmas que, à medida que vão sendo desvendados, deixam a sua marca tanto na protagonista como no leitor. No caso de Anna, também o pai e a mãe, mas principalmente a descoberta da tia Hannah e da grande história que tem para contar, traçam o seu percurso de crescimento. E é este crescimento de ambas que torna tudo tão marcante: são pessoas diferentes em tempos diferentes e, no entanto, partilham da mesma inocência e da mesma perda e isso torna particularmente cativantes os seus percursos convergentes.
Claro que há um contexto global mais vasto, que começa, desde logo, na vida em Berlim em 1939 e depois se expande às mudanças graduais, à chegada da guerra, ao tratamento dado aos judeus tanto na Alemanha como a bordo do St. Louis e, depois, às mudanças ocorridas em Cuba. E, ao centrar a história nas duas protagonistas, o autor acaba por deixar alguns aspectos para segundo plano. Leo, o pai de Hannah, o marido de Esperanza, Gustavo, até mesmo Julian - também eles têm em si as bases de uma grande história, que acaba por se revelar apenas parcialmente. Fica por isso uma certa sensação de que mais haveria a dizer sobre qualquer um deles, ainda que também a impressão de que estas revelações veladas e parciais fazem um certo sentido, pois é apenas essa a informação que as protagonistas obtêm. 
Com uma cativante aura de mistério e vários momentos comoventes, no fim, fica a imagem de uma história marcante, sem respostas fáceis, mas repleta de momentos belos e angustiantes. Uma história de vidas de passagem e de um período histórico que, por tudo o que o definiu, nunca será demais voltar a abordar. Vale, pois, muito a pena descobrir este livro. E, com Anna e Hannah, viajar até ao passado.

Autor: Armando Lucas Correa
Origem: Recebido para crítica

sábado, 14 de abril de 2018

Violeta e Índigo Descobrem Michelangelo (Isabel Zambujal e Júlio Vanzeler)

Violeta e Índigo são dois amigos curiosos e sabem que o mundo das artes é uma fonte inesgotável de conhecimento novo. Basta que uma pequena brincadeira traga ao pensamento uma imagem famosa e, sem dar por isso, os dois amigos são transportados para a história da vida do criador. Neste caso, a fascinante e proveitosa vida de Michelangelo, autor de obras tão célebres como o David ou os frescos da Capela Sistina. E há tanto para aprender sobre este pintor...
Um dos aspectos mais cativantes deste pequeno livro é que, ao acrescentar à história da vida de Michelangelo as interessantes figuras de Violeta e Índigo, os autores transpõem para o presente a história passada, tornando tudo mais nítido e fácil de assimilar. Violeta e Índigo vão aprendendo sobre o pintor e as obras - e essa aprendizagem acontece ao mesmo ritmo para o leitor. Ora, a impressão que fica é então a de uma descoberta conjunta, o que, para os jovens que começam a descobrir o (às vezes tão complexo) mundo da arte, torna tudo mais simples e também mais interessante.
Trata-se também de um livro cheio de cor, em que as ilustrações das aventuras dos protagonistas são complementadas com imagens das obras do pintor referido. O que permite, em primeiro lugar, situar as imagens das obras no percurso da vida do seu autor e, em segundo, uma melhor visualização deste percurso. Sem esquecer, é claro, a divertida aventura dos mais modernos mas igualmente cativantes amigos que protagonizam esta série de livros.
E, sendo como é um livro pequeno, há ainda um pequeno espaço para complementar a história com alguns jogos divertidos, o que acrescenta à leitura um toque de interactividade que torna o livro mais interessante. Pois a história em si - e o conhecimento que contém - bastam para que a leitura valha a pena, mas, sendo um livro para os mais novos, este breve conjunto de actividades acrescenta-lhe ainda um pouco mais de encanto.
É uma visão sucinta, naturalmente, até porque as vidas dos grandes pinturas nunca se poderiam resumir em trinta páginas. Mas é, acima de tudo, um belo ponto de partida para interessar os mais novos pelo mundo da arte, mostrando as suas mais interessantes facetas numa aventura leve, cativante e divertida. Tudo somado, fica, como não podia deixar de ser, uma impressão bastante positiva - e uma agradável curiosidade em conhecer os restantes volumes.

Título: Violeta e Índigo Descobrem Michelangelo
Autores: Isabel Zambujal e Júlio Vanzeler
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Bizâncio

A música pode ajudar a ultrapassar conflitos?
Pode ajudar a combater a descriminação?
Para o autor de O Poder da Música, sem dúvida que sim.
Percorrendo treze países diferentes, em cinco continentes, o autor dá-nos a conhecer a história de vida de alguns dos mais espantosos músicos, em locais do mundo improváveis, que lutam contra obstáculos intransponíveis para que se instale a paz e a harmonia em lugares tão difíceis como o campo de refugiados de Shuafat, na Palestina, a Tanzânia, o México, a Irlanda, o Kosovo, entre outros.
Por mais duras e difíceis que sejam as situações é espantoso como sempre se revela, tal como Daniel Barenboim já antes provara, O Poder da Música

O livro não consegue adormecer. Está a tremer, coitadinho!
Assim inicia este livro.
O pequeno ratinho vai acalmando o livro a cada página e podemos acompanhar as alterações na cor das páginas e nas expressões do livro à medida que vai vencendo o medo.
Para crianças a partir dos dois anos de idade, este livro, cartonado, com textos de Cédric Ramadier e ilustrações de Vincent Bourgeau ajuda as crianças a lidar com uma das emoções mais comuns entre os mais pequenos: o medo.

A acção desenrola-se como uma pescaria no gelo.
O Pinguim tenta pescar no seu buraco no gelo, só que o peixe não morde!
A trupe de amigos polares vai-se juntando ao Pinguin e vai tagarelando e dando palpites, irritando-o.
Qual será o mistério?




sexta-feira, 13 de abril de 2018

Desejo Amaldiçoado (Linda Chapman)

Agora que as Amigas Estrela descobriram os seus poderes, tudo parece mais novo e interessante no seu mundo. Mas há alguém a recorrer à magia negra para espalhar tristeza e cabe às amigas impedir que isso aconteça. E, quando uma maré de azar parece abater-se sobre os elementos da equipa de ginástica, não tarda a tornar-se evidente que não é apenas uma coincidência. Maia, Sita, Ionie e Lottie terão de recorrer aos seus poderes para travar a sombra que está a causar todos aqueles problemas. Até porque Lottie é também um dos alvos...
Um dos aspectos mais cativantes dos livros dos Amigos Estrela é que, apesar de se destinar nitidamente a um público mais jovem, tem tudo para cativar todo o tipo de leitores. A história é simples, mas cheia de magia e de surpresas. As personagens têm a inocência da infância, mas também a curiosidade ilimitada e a vontade de descobrir coisas novas características de quem começa a desvendar um mundo mais vasto. E as regras subjacentes - os diferentes tipos de magia, a necessidade de guardar segredo e a interacção com os Animais Estrela - criam uma base cheia de potencial para cada uma destas aventuras. 
Aqui, surge uma ideia que não é propriamente nova: a de que é preciso ter cuidado com o que se deseja. E é a partir deste ponto que nasce uma história cheia de episódios interessantes. Claro que não é difícil adivinhar de que forma as coisas acabarão por terminar, mas a envolvência do percurso é mais do que suficiente para compensar a relativa previsibilidade do destino. Além disso, e embora as linhas entre o bem e o mal estejam claramente definidas, há pequenos aspectos na história que deixam antever perspectivas um pouco mais complexas - a começar, desde logo, pela tal necessidade de manter em segredo os assuntos do Mundo Estrela.
É também uma história de amizade, e do tipo de amizade que cresce e se desenvolve com a passagem do tempo. Neste livro em concreto, Ionie assume um papel mais preponderante, o que, além de acrescentar novas possibilidades ao enredo central, abre caminho a novas relações entre as personagens. E também nisto há uma certa magia - a magia da descoberta dos outros - a acontecer, e uma estranha ternura que transparece tanto no desenrolar da história como nas ilustrações que a acompanham. 
A impressão que fica é, pois, naturalmente positiva. Leve e cativante, uma história de magia e de amizade - principalmente de amizade - em que tudo é possível, bastando para isso acreditar na magia. Um livro bonito, em suma, e uma boa aventura... para os mais novos e não só.

Autora: Linda Chapman
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Guerra e Paz

Entre a realidade e a ficção, um romance sobre um dos maiores flagelos da humanidade – o cancro.
Durante um ano, Luís Pedro Cabral deambulou pelo coração do IPO, Instituto Português de Oncologia, cidade dentro da cidade. Ali, lutam contra a doença esses valorosos soldados, os doentes. As histórias deles entrecruzam-se com a história familiar do autor, pois também a «sua» mulher se viu forçada a travar esta luta, encontrando-se hoje no estádio IV da doença, o mais grave.
Estas são as vidas de personagens reais, de carne e osso, saídas de um sítio em que ninguém quer entrar, mas onde, apesar de tudo, a esperança ainda existe. Um carteirista que já só pensa em se reformar, um luthier cujos violinos encantaram plateias em todo o mundo, um forcado a enfrentar agora a mais vil besta, uma menina obrigada a crescer, uma mulher indomável e um médico perdido.
Que têm em comum? O cancro.

Luís Pedro Cabral. Nasceu em Lisboa, em 1969. É jornalista de formação, tendo começado a sua actividade profissional n’O Independente, praticamente desde a sua fundação, onde permaneceu 12 anos, mais coisa, menos coisa. É, há largos anos, freelancer, colaborador do Expresso e da Visão e editor da agenda cultural de Idanha-a-Nova, um dos seus oásis predilectos. Publicou reportagens em
variadíssimas partes do mundo, em inúmeros jornais e revistas nacionais e internacionais. Tem igualmente vários contos publicados na revista Egoísta. Detesta rebanhos que envolvam pessoas e tiques urbanóides em geral. São muito raras as oportunidades que perde para viajar. Tem três filhas: a Sofia, a Rosa e a Salomé.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Desaparecido (C.L. Taylor)

Passaram seis meses desde que Billy, um adolescente de quinze anos, desapareceu, mas a mãe dele não está disposta a desistir. Naquela noite, Billy saiu de casa zangado com o mundo - e nunca mais voltou a ser visto. O que aconteceu ao certo é uma incógnita. Mas agora, passados seis meses e com a família a desmoronar, a preocupação de Claire transformou-se em obsessão: precisa de respostas. Precisa de saber o que aconteceu ao filho. E, quando o trauma se torna demasiado, a memória começa também a falhar-lhe, levando-a, no entanto, rumo ao confronto do seu maior medo. Billy está vivo ou morto? É o que Claire precisa de descobrir. Mas as respostas que tem à espera no fim da linha podem ser mais duras do que consegue imaginar...
Repleto de reviravoltas e de momentos de grande tensão, este é um livro em que basta meia dúzia de páginas para mergulhar de cabeça no enredo. Os capítulos curtos, a perspectiva próxima e a intensidade de uma história onde nada nem ninguém é o que se espera prendem desde os primeiros instantes e não largam mais até ao fim. 
E, se basta a estrutura do livro para tornar cativante esta leitura, é a construção do enredo e das personagens que torna tudo altamente viciante. O mistério do desaparecimento de Billy traz consigo uma teia de revelações inesperadas e de momentos de grande tensão que, associada às complexidades das relações entre as personagens, torna avassalador todo o percurso. A busca desesperada de Claire por respostas, com as falhas de memória e a angústia resultante da dúvida quanto ao que poderá ter feito nesses períodos, associa-se a um conjunto de relações familiares muito menos sólidas do que à primeira vista seria de esperar e isto, associado ao mistério central do que aconteceu a Billy, confere ao livro uma intensidade irresistível. É preciso saber o que acontece depois. E, acima de tudo, é preciso perceber o que aconteceu.
Ora, isto torna-se ainda mais intenso à medida que as facetas escondidas das várias personagens vão sendo reveladas. Mark, Claire, Jake, Stephen, Kira e o próprio Billy, todos têm segredos que, mais tarde ou mais cedo, acabam por vir à tona. E esta teia de segredos torna-se ainda mais marcante pelo facto de não só abrir caminho a várias revelações surpreendentes como fugir às soluções simples, realçando a ambiguidade de carácter das personagens e invertendo perspectivas que, à primeira vista, surgiam como inabaláveis.
A impressão que fica é, pois, a de uma perspectiva completamente diferente para a habitual história da criança ou adolescente desaparecido. Intenso, surpreendente, viciante e cheio de momentos marcantes, um livro em que nada é o que parece e as revelações não param de surgir até ao fim. Muito bom. 

Título: Desaparecido
Autora: C.L. Taylor
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 10 de abril de 2018

A Bia Está a Crescer (Mònica Peitx e Cristina Losantos)

Crescer pode parecer uma coisa complicada, principalmente quando se chega àquela altura em que o corpo começa a mudar sem que entendamos bem porquê. Mas a verdade é que é tudo natural. Este pequeno livro explica as mudanças que ocorrem durante a puberdade no corpo das meninas e, sem alarmismos nem dramas, mostra como tudo pode ser novo sem deixar de ser normal. 
Pensado para os mais novos e com o claro objectivo de esclarecer relativamente às mudanças que o corpo sofre durante o crescimento, este livro tem na clareza a sua maior qualidade. Sendo um livro pensado para os mais novos, precisa necessariamente de uma certa simplicidade, mas, sendo um assunto tão relevante para quem está a passar por esta fase, não se pode simplificar em demasia. E é este equilíbrio entre acessibilidade e informação que este livro atinge da melhor forma: com as informações necessárias (e, acima de tudo, a ideia de naturalidade), sem se perder em demasiados pormenores, mas também sem deixar de fora nada de essencial.
Além de informativo, é também um livro bonito, com as ilustrações a facilitar a compreensão e também a dar mais vida à leitura. Pois, se é um livro sobre o crescimento, que melhor forma de assimilar o processo do que vendo a sua protagonista a crescer? A Bia das primeiras páginas é diferente da das últimas e a visualização deste crescimento torna tudo mais claro.
Claro que é um livro pensado principalmente para quem está a chegar a esta fase do crescimento, pois são estes quem tem mais dúvidas sobre o assunto. Mas não deixa de ser interessante realçar a facilidade com que tudo é assimilado a partir da breve história da Bia. Ora, isso faz deste livro uma boa forma de aprendizagem e também um bom ponto de partida para os pais que quiserem explicar aos filhos as mudanças da puberdade.
É um livro pequeno, simples, mas muito útil para quem está a crescer. E, de forma cativante e divertida, consegue transmitir a informação essencial para tornar o mais naturais possível as inevitáveis mudanças do crescimento. Muito interessante.

Autoras: Mònica Peitx e Cristina Losantos
Origem: Recebido para crítica