segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

A Grande Magia (Elizabeth Gilbert)

Viver uma vida criativa está, na mente de muitos artistas, associado a uma via de sofrimento. Mas será que tem mesmo de ser assim? Ou será que as ideias estão em todo o lado, à espera apenas de que lhes demos atenção? E terá tudo o que criamos de ser o melhor - ou o mais sério, ou o mais original... - de todos os tempos? Ou toda a criação é legítima? Estas são apenas algumas das perguntas a que, de forma muito pessoal, mas com uma perspectiva muito interessante, Elizabeth Gilbert responde neste seu livro.
Uma das primeiras coisas a cativar neste livro é a forma como a autora o construiu. Com capítulos curtos e num registo bastante pessoal, transmitindo as suas ideias e, através delas, dando conselhos que para ela resultaram, mas sem entrar numa senda de evangelização forçada. Nalguns casos, as ideias da autora são muito vincadas e é perfeitamente natural não concordar com tudo. Mas é precisamente isto - o facto de se poder ter uma perspectiva diferente e, ainda assim, colher da leitura algumas ideias úteis - que faz com que este livro seja interessante. Não é um guia passo a passo. É uma experiência com as ideias - e, ele próprio, um conjunto de ideias.
Também bastante cativante é o facto de a autora construir grande parte do livro com base na sua experiência pessoal. E não só com conselhos que resultaram, mas com histórias do seu próprio percurso e do de pessoas que conheceu. Ora, além de reforçar as ideias por via do exemplo, isto apresenta também uma sucessão de episódios interessantes, o que torna a leitura muito mais divertida.
Claro que o facto de ser pessoal implica também, até certo ponto, uma base nas crenças da autora. E a forma como a autora vê a criatividade tem bastante de espiritual. Não propriamente de religioso, mas implicando, ainda assim, uma certa ideia de divindade que, para quem não partilhar desse tipo de crença, pode criar uma certa distância. Ainda assim, e se é certo que o espiritual está bem presente nas convicções da autora, o facto de se partilhar ou não dessas convicções não retira valor a todo o vasto conjunto de ideias que vão sendo apresentadas. E, mais uma vez, sendo possível não concordar com tudo, há sempre algo de bom a assimilar. 
Da soma de tudo isto, resulta um livro que, pretendendo ser, até certo ponto, um guia para uma vida mais criativa, não cai no erro de apontar linhas inevitáveis, apresentando antes um percurso pessoal a partir do qual é possível a cada um construir o seu próprio caminho. E é isso, principalmente - a vastidão de possibilidades que deixa em aberto - o que mais cativa nesta leitura. Gostei.

Título: A Grande Magia
Autora: Elizabeth Gilbert
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

You Sent Me a Letter (Lucy Dawson)

Sophie Gardener está prestes a chegar ao seu quadragésimo aniversário… e essa vai ser uma data que ela nunca vai esquecer. Tudo começa com a visita de um intruso que lhe invade a casa, a ameaça e à sua família e lhe deixa uma carta, que deverá ler diante de todos os que a amam na sua festa de aniversário. Mas o que diz essa carta? E quem a enviou? Provavelmente, ninguém que lhe queira bem. E Sophie tem as suas suspeitas. Tem uma inimiga – e um segredo que pode comprometer seriamente a sua reputação.
Um dos aspectos mais impressionantes neste livro é a forma como a autora consegue tecer uma história em que nenhuma personagem é propriamente inocente ou boa e, mesmo assim, gerar emoções fortes e um ritmo que mantém viva a vontade de saber mais e mais até ao fim. Parte disso vem da aura de mistério que rodeia o enredo. Arranca imediatamente no cerne da acção e, a partir daí, as surpresas nunca param. Quem fez o quê, porquê, quais são as verdadeiras intenções daquelas pessoas. Tudo pode ser questionado e tudo é inesperado. E tudo conduz a um crescendo de intensidade que culmina num final muito surpreendente.
Também a escrita é bastante impressionante. A história é contada pela voz de Sophie e, assim, todos os seus sentimentos e dúvidas estão sempre muito presentes. Mas a forma como tudo ganha vida – emoções, medos, reacções ao que está a acontecer, mas também os segredos, os acontecimentos do passado e a sua ligação à situação em causa – é tão vívida e intensa que é quase impossível parar de ler.
Ficam algumas perguntas sem resposta, principalmente quanto à situação de Marc e Claudine. Mas a verdade é que o foco principal da história está em Sophie e no seu segredo e, assim, é também surpreendentemente adequado que algumas das consequências da situação fiquem, de alguma forma, por revelar. Porque a própria Sophie ainda não as consegue imaginar.
Intenso, inesperado, brilhantemente escrito e com um enredo viciante, este é, pois, um livro que surpreende desde o início e que nos mantém na cabeça da protagonista até aos últimos momentos. Sem dúvida que recomendo.

Título: You Sent Me a Letter
Autora: Lucy Dawson
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Convite


Divulgação: Reedição de Dom Dinis - A Quem Chamaram o Lavrador em e-book

Dom Dinis, o Lavrador ou o Poeta?
Há ainda quem lhe chame o Trovador. E, no entanto, para fazermos justiça ao sexto rei de Portugal, teríamos de ir mais longe. Podíamos chamar-lhe o Legislador, o Reformador, ou até o Defensor, tanto ele fez pela defesa e delimitação das fronteiras do reino, apesar de não ter sido um rei propriamente guerreiro.
Dom Dinis não foi, porém, apenas o homem público. Dele se diz que, não se furtando a amores adúlteros, muito fez sofrer a rainha com quem esteve casado durante cerca de quarenta e quatro anos, uma rainha que foi canonizada. E, apesar de ter ficado na história como um rei justo e culto, debateu-se numa guerra civil contra o seu próprio filho e herdeiro, uma guerra que massacrou o reino português e amargurou os últimos cinco anos de vida do monarca, talvez até lhe tenha acelerado a morte.

Cristina Torrão nasceu a 16 de Julho de 1965, em Castelo de Paiva. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Ingleses e Alemães) pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Em Julho de 2007 venceu a segunda edição do Concurso Literário “O meu 1º Best-Seller”, levado a cabo pela Modelo/Continente em parceria com as Edições Asa e a revista Visão, com o livro “A Moura e o Cruzado”. No ano seguinte publicou, com a editora Ésquilo, o seu segundo romance histórico “Afonso Henriques - o Homem”, a que se seguiu uma reedição da sua primeira obra, que recebeu o título “A Cruz de Esmeraldas”, e “D. Dinis - a quem chamaram o Lavrador”. Em 2014 publicou, sob a chancela da Poética, “Os Segredos de Jacinta”, o percurso de uma jovem no século XII português.

Para comprar, basta seguir o link. 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Poemas Perdidos (Francisco Luís Fontinha)

De amor e de melancolia. De imagens traçadas no mais profundo da estranheza e da crueza das coisas tal como elas são. Da complexidade de um sentimento que se quer infinito e que talvez exista - ou talvez não. De tudo isto e de outros labirintos da alma são feitos os poemas que constituem este livro. E um pouco mais.
Quase todos bastante extensos e com uma estrutura que parece moldar-se ao ritmo do pensamento, estes são poemas que cativam, em primeiro lugar, pela peculiaridade do tom que lhes dá voz. É como se não houvesse uma linha clara de pensamento, mas antes uma sequências de imagens a afluir à mente do sujeito poético. E, contudo, dessa sequência de imagens, às vezes contraditórias, mas que acabam por fazer sentido no seu encadeamento, surge uma impressão global - uma ideia, um sentimento, um alguém que existe do outro lado das palavras. É fácil, por isso, passar da estranheza inicial para a assimilação de algo que nunca fica completamente definido, mas que, no contorno dos sentimentos que evoca, desperta uma certa familiaridade.
Também a própria estranheza faz parte do que torna esta leitura interessante. É certo que, nalguns poemas, o estranho fluxo das ideias pode, por vezes, tornar-se demasiado confuso. Ainda assim, resulta desta estranheza um interessante contraste: ora a construção de um cenário quase que de fantasia, ora a realidade pura e dura. Ora amor, ora nada. E é esta dualidade que sobressai do conjunto dos poemas e que faz com que mesmo aqueles em que parece que fica alguma coisa por esclarecer consigam, à sua maneira, cativar. 
E há ainda um último aspecto a destacar. É que, apesar de todos os poemas terem uma estrutura bastante livre, há ainda assim um ritmo nas palavras, uma certa fluidez que torna mais fácil assimilar as imagens evocadas. Além disso, a liberdade na forma acaba por transpor para a estrutura o tal ritmo do pensamento, fazendo com que a expressão das ideias pareça mais natural.
Feito de sentimentos e, por isso, pessoal quanto baste, mas evocando emoções e imagens com que é fácil criar uma certa empatia, este é, pois, um livro que cativa pela sua invulgar fusão de estranho e de familiar. E que, precisamente por isso, acaba por ficar na memória. Gostei.

Título: Poemas Perdidos
Autor: Francisco Luís Fontinha
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Topseller

Em 1558, após a morte da Rainha Maria, Isabel Tudor ascende ao trono. Brendan Prescott, o espião privado de Isabel, é chamado à corte inglesa, depois de um exílio de quatro anos na Suíça. A rainha incumbe-o então de investigar o desaparecimento de uma das suas aias, Lady Parry, que tinha ido visitar a família a uma aldeia distante e nunca mais foi vista.
Ao chegar ao destino, e após conhecer os familiares de Lady Perry, Prescott apercebe-se de que estes escondem um segredo que poderá pôr fim ao reinado de Isabel. O desenrolar dos acontecimentos leva-o também a ter a certeza de que alguém se quer vingar. Resta saber se o alvo da vingança é Isabel ou ele próprio.
Numa atmosfera repleta de segredos, Prescott lutará até ao fim para cumprir a sua missão, procurando nunca pôr em causa aquilo por que sempre lutou: a sua lealdade à rainha.

C. W. Gortner possui um mestrado em Escrita na especialidade de Estudos Renascentistas, pelo New College of California.
Os seus romances históricos, sempre fruto de intenso trabalho de pesquisa, têm-lhe granjeado elogios por parte da crítica internacional. Já foram traduzidos para 21 línguas. De ascendência espanhola, C. W. Gortner vive actualmente na Califórnia.

Divulgação: Novidade Quetzal

Romance inédito que conta a história de António Roque, homem atormentado, possesso do demónio de funestas memórias. As imagens do passado que regularmente se apoderam dele transformam-no num monstro capaz dos piores actos. No entanto, a obscura história da irmã e do homem abastado que se servia dela e que, apesar de morto, continua a instigar-lhe um ódio devastador, não é exactamente como ele pensa que se lembra.
Depois de anos emigrado na Alemanha, o Meças regressa à sua aldeia de origem. Com ele vivem o filho (a quem detesta) e a nora (a quem deseja, mas inferniza a vida), atemorizando de resto todos os que com ele se cruzam.

J. Rentes de Carvalho nasceu em 1930, em Vila Nova de Gaia. Obrigado a abandonar o país por motivos políticos, viveu no Rio de Janeiro, em São Paulo, Nova Iorque e Paris, trabalhando para vários jornais. Em 1956, passou a viver em Amesterdão, onde se licenciou e foi docente de Literatura Portuguesa, entre 1964 e 1988. Dedica-se, desde então, exclusivamente à escrita e a uma vasta colaboração em jornais portugueses, brasileiros, belgas e holandeses, além de várias revistas literárias. A sua extensa obra ficcional e cronista tem sido publicada na Holanda e recebida com grande reconhecimento, quer por parte da crítica, quer por parte dos leitores em geral, tendo alguns títulos chegado a alcançar o estatuto de best-seller. Os seus livros Com os Holandeses, Ernestina, A Amante Holandesa, Tempo Contado, La Coca, Os Lindos Braços da Júlia da Farmácia, O Rebate, Mazagran, Mentiras e Diamantes, Montedor, Portugal, a Flor e a Foice e Pó, Cinza e Recordações.estão actualmente disponíveis na Quetzal, que continuará a publicar o conjunto das suas obras.
J. Rentes de Carvalho foi galardoado, em 2012, com o Prémio APE para a Escrita Biográfica (com o livro Tempo Contado) e, em 2013, com o Prémio APE para a Crónica, com o livro Mazagran.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Divulgação: Novidades Planeta

Um thriller intenso e inquietante inspirado na extraordinária história real de três irmãos – os irmãos de um dos autores deste romance, Stefan Thunberg - que cometeram dez audaciosos assaltos a bancos na Suécia, em apenas dois anos. 
- Nunca nenhum cometera um crime. 
- Todos tinham menos de vinte e quatro anos. 
- Transformaram-se nos criminosos mais 
procurados da Suécia. 
- O seu vínculo foi forjado enquanto cresceram sob o jugo de uma família violenta. 
- E do homem que os moldou dessa forma: o pai. 
- Quando o seu incrível percurso chegou ao fim no turbilhão da imprensa internacional, todos mudaram para sempre como 
indivíduos e como família.
Baseado numa série de acontecimentos violentos e macabros que marcaram a Suécia na década de 1990, o livro é a história de um destino comovente de uma família, do amor que une três irmãos e da complexa relação entre pais e filhos. 
O livro é narrado a dois tempos: no passado, onde podemos perceber a dinâmica familiar, assim como a tirania e influência negativa do pai, e no presente, onde decorrem os assaltos.
A fuga durante meses do trio de assaltantes que ludibriava a polícia acaba com a sua prisão pelo detective John Bronk e com uma pena exemplar na história da Suécia.

Dê vida a estas magníficas ilustrações originais do arquivo da Warner Bros, e seja bem-vindo ao fantástico universo de Harry Potter! 
Os fãs da saga encontrarão as suas cenas preferidas, assim como as criaturas e personagens mais queridas: desde Dobby até ao dragão Norbert, jogos de Quidditch ou a batalha final entre Harry e Voldemort. 
Este livro é um convite ao mundo maravilhoso de Harry Potter, onde se podem pintar muitas cenas emblemáticas da saga.
Deixe que os fotogramas, as fotografias de rodagem e os desenhos que encontrará no fim deste volume lhe sirvam de guia e inspiração para explorar a cor dos filmes e da magia de Harry Potter.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O Número das Estrelas (Lois Lowry)

Dinamarca, 1943. Annemarie sabe que muita coisa mudou desde que os soldados chegaram, mas continua a dividir a vida entre a casa e a escola, na companhia da amiga, Ellen. Mas tudo muda com a chegada da notícia de que os soldados nazis se preparam para "transferir" os judeus. Annemarie e a família recebem Ellen na sua casa, dizendo aos soldados que é também um membro da família. Mas essa é apenas uma solução temporária e a única forma de ajudar os Rosen é encontrar uma maneira de os tirar da Dinamarca. E, nesse esforço, até a coragem de alguém tão jovem como Annemarie pode vir a ser fundamental.
Escrito para um público jovem e centrado também na coragem dos mais jovens, este é um livro que consegue, em toda a sua simplicidade, marcar, acima de tudo, pela força da mensagem que transmite. Ao falar da coragem dos membros da Resistência, mas também de todos aqueles que, de forma mais discreta, tiveram alguma intervenção na fuga dos judeus da Dinamarca, a autora mostra-nos uma imagem de força e de solidariedade nos mais terríveis dos tempos e isso nunca poder ser menos que memorável. Além disso, há algo de muito cativante numa história que, tendo uma protagonista tão jovem, nos mostra que também a coragem não tem idade.
É um livro relativamente breve e também por isso não há um grande desenvolvimento a nível do contexto histórico. Mas, se é certo que fica uma certa curiosidade em saber mais sobre esse aspecto, também é verdade que não é essencial ao desenvolvimento da história. A base de contexto está lá e é claríssima. Quanto ao resto, e tendo em conta o público a que se destina, a relativa simplicidade até acaba por fazer mais sentido, pois realça o essencial.
E se é, de facto, a mensagem o que fica, acima de tudo, na memória, importa, ainda assim, dizer que nem só da mensagem vive a história. Vive também de uma escrita fluída e envolvente, que reflecte na perfeição os pensamentos e emoções das personagens. De um enredo em que tudo é relevante, contribuindo para manter sempre viva a vontade de saber o que se segue. E em que a mensagem é passada mais pelo exemplo do que por palavras, o que lhe confere um maior impacto.
História de coragem inocente, ou da força necessária para fazer o que está certo, este é, pois, um livro que, apesar da relativa simplicidade, tem tudo o que é preciso para proporcionar uma leitura memorável. E que tem, em tudo isso - mensagem forte, personagens corajosas, escrita cativante -,  mais do que o suficiente para fazer com que valha a pena lê-lo. 

Título: O Número das Estrelas
Autora: Lois Lowry
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Guerra e Paz

O tema Opus Dei tem suscitado sempre curiosidade na opinião pública. Contam-se décadas de investigação, de reportagens jornalísticas e literárias, sem uma efectiva pacificação dos ânimos públicos, que se reacendem quando as questões surgem, de novo, nos meios de comunicação social. Este ensaio contém uma resposta objectiva, elaborada a partir de dentro, às diferentes perguntas que jornalistas têm feito ao longo dos anos à instituição.
Pautando-se por textos do fundador e do Magistério da Igreja, localiza e demonstra a origem dos atritos internos e desvios que se foram instalando entre a doutrina proclamada pelo fundador e a estrutura laical institucionalizada. Este livro contém um ensaio sobre a espiritualidade do Opus Dei nestas duas vertentes: a do carisma fundacional e a dos mecanismos que têm contribuído para o seu obscurecimento ao longo dos tempos.

Eugénia Tomaz: Nasceu em Lisboa a 1 de Setembro de 1957. Conjuga na sua actividade profissional a fisioterapia, as artes plásticas, a escrita e o ensino, num dinamismo multidisciplinar. Como pintora, realizou várias exposições individuais e colectivas. Frequentou o curso de Conservação e Restauro de Pintura no Instituto de Artes e Ofícios da Universidade Autónoma de Lisboa. Iniciou a sua actividade como ensaísta no ano 2000 e conta com algumas publicações literárias. Colaborou com a revista do Instituto de Artes e Ofícios da Universidade Autónoma de Lisboa, A Arte do Ofício. 
Na área da comunicação social, foi colaboradora do jornal diocesano de Lisboa Voz da Verdade e do jornal da Santa Sé L’Osservatore Romano de 2010 a 2013. Conta, ainda, com alguns artigos de opinião publicados na revista Grande Reportagem. Tem realizado várias conferências com o objectivo de promover uma renovação de linguagens entre Ciência e Religião.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Traidores e Traições na História de Portugal (Sérgio Luís de Carvalho)

Traidores por convicção e traidores por interesse. Traidores que o tempo transformou em heróis e traidores que, apesar da passagem dos anos, continuaram a merecer o desprezo da maioria. De todos estes - e de outros - fala este livro que, com o já habitual tom cativante que caracteriza a escrita do autor - nos leva numa viagem pelas traições da História... ou pela história da traição. E fá-lo com a mestria a que o autor já nos habituou.
Tal como acontece com outros livros do mesmo género (e do mesmo autor, mas não só), este não pretende ser um livro que aprofunde o contexto histórico das épocas em que decorrem os acontecimentos que nos fala. Também não parece que o objectivo seja traçar a história completa desses mesmos acontecimentos. Por isso mesmo, não surgem muitas referências nem uma extensa biografia e o texto também não se perde em pormenores desnecessários. O objectivo é falar das principais traições da nossa história, e fazê-lo de uma forma clara e acessível a todos. E esta não precisa de referir todos os detalhes, mas antes de apresentar uma visão global o mais esclarecedora possível.
Ora, partindo do princípio de que é este o objectivo, então está perfeitamente cumprido. De forma sucinta (mas não demasiado), o autor consegue apresentar cada um dos casos e das figuras que pretende abordar com toda a informação relevante e sem nenhuma que não seja essencial. E mais. Fá-lo num tom leve e cativante, em que as peculiaridades - caricatas, dramáticas ou simplesmente invulgares - sobressaem e dão mais vida à exposição do caso.
Mas há ainda uma outra peculiaridade que importa referir e essa é a escrita do próprio autor. Cativante, leve quanto baste, esclarecedora, surpreende ainda pelos sempre certeiros laivos de humor que não só acrescentam leveza ao texto como estabelecem com a actualidade alguns paralelismos muito bem captados. Também isso torna a leitura mais interessante, pois não só a torna mais divertida como reflecte, na medida certa, a maneira como os tempos mudam... mas nem tudo muda.
Tudo isto dá forma a um livro que, cativante e muitíssimo interessante, consegue apresentar uma visão envolvente, acessível e esclarecedora de uns quantos factos e figuras relevantes do passado mais ou menos longínquo do país. Com humor quanto baste e toda a informação relevante para se ficar com uma ideia geral dos episódios referidos, um bela leitura para se ficar a conhecer melhor um pouco mais da História de Portugal.

Título: Traidores e Traições na História de Portugal
Autor: Sérgio Luís de Carvalho
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Porto Editora

Um assassino em série aterroriza Estocolmo. Qual voyeurista, ele filma as suas presas, sempre mulheres, na intimidade das suas casas e depois coloca os vídeos no YouTube, enviando em simultâneo um link para o Departamento da Polícia Criminal.
Quando a primeira mulher aparece morta, vítima de um brutal homicídio, a Polícia começa as suas investigações, mas os vídeos que se sucedem não permitem identificar os alvos. Desconfiando de que o marido da segunda vítima, Björn Kern, traumatizado após ter encontrado o corpo da mulher, detém informações cruciais que podem ajudar o caso, a Polícia decide pedir ajuda ao hipnotista Erik Maria Bark. No entanto, aquilo que Björn lhe conta leva Erik a mentir à Polícia.
Se as luzes estiverem acesas, um stalker consegue ver a sua presa do lado de fora, mas, se estiverem apagadas, é impossível ver um stalker que já se encontre dentro de casa. Tranque as portas e corra as cortinas – os Lars Kepler regressaram com um novo thriller de cortar a respiração.

Lars Kepler é o pseudónimo de uma dupla de escritores de sucesso na Suécia: Alexander Ahndoril e Alexandra Coelho Ahndoril. O Hipnotista, primeiro volume da saga, alcançou um enorme sucesso internacional e foi adaptado ao cinema pela mão do realizador Lasse Hallström. Depois de O Hipnotista, O Executor, A Vidente e O Homem da Areia, chega-nos Stalker.

Divulgação: Novidade Elsinore

A 26 de Abril de 1986, Chernobyl foi palco do pior desastre nuclear de sempre. As autoridades soviéticas esconderam a gravidade dos factos da população e da comunidade internacional, e tentaram controlar os danos enviando milhares de homens mal equipados e impreparados para o vórtice radioactivo em que se transformara a região. O acidente acabou por contaminar quase três quartos da Europa.
Numa prosa pungente e desarmante, Svetlana Alexievich da voz a centenas de pessoas que viveram a tragédia: desde cidadãos comuns, bombeiros e médicos, que sentiram na pele as violentas consequências do desastre, até as forças do regime soviético que tentaram esconder o ocorrido. Os testemunhos, resultantes de mais de 500 entrevistas realizadas pela autora, são apresentados através de monólogos tecidos entre si com notável sensibilidade, apesar da disparidade e dos fortes contrastes que separam estas vozes.

SVETLANA ALEXIEVICH: Nasceu em 1948 em Ivano-Frankivsk, na Ucrânia, tendo crescido em Minsk, capital da Bielorrússia, onde vive actualmente. Jornalista e escritora, e autora de cinco livros e de vinte guiões de documentários. Entre muitos outros importantes galardões internacionais, recebeu o Prix Medicis Essai 2013, o premio Ryszard Kapuściński 2011 e o Book Critics Circle Award 2006 para não-ficção, antes da sua consagração definitiva com o Prémio Nobel de Literatura 2015.
Svetlana Alexievich criou um novo género literário de não-ficção que é inteiramente seu. Escreve «romances de vozes». Desenvolveu este género livro após livro, apurando a estética da sua prosa documental, sempre escrita a partir de centenas de entrevistas. Com uma notável concisão artística, a sua perícia permite-lhe enlaçar as vozes originais dos testemunhos numa paisagem de almas.
As cinco obras em prosa de Svetlana constituem o projecto literário Vozes da Utopia, que reúne a história do espírito universal das pessoas - e não apenas do povo soviético. Deste projecto fazem parte Vozes de Chernobyl, A Guerra não Tem Rosto de Mulher (Elsinore, Setembro de 2016), O Fim do Homem Soviético (Porto Editora, 2015), As Últimas Testemunhas e Rapazes de Zinco (ambos Elsinore, 2017).

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Amigas para Sempre (Ana Punset)

Uma das regras mais importantes do Clube dos Ténis Vermelhos é que serão amigas para sempre. E, por isso, mal podem esperar pelas férias de Verão, altura em que as quatro se voltarão a juntar. Mas há um problema. O tão cuidadosamente planeado acampamento de Verão não é propriamente barato e, por isso, tudo indica que Rita não poderá acompanhar as amigas. A não ser que... encontrem uma forma de juntar esse dinheiro. E, como vontade não lhes falta e ideias também não, tudo o que têm de fazer é deitar mãos à obra e garantir que o tão esperado reencontro acontece mesmo.
Dando continuidade à história do volume anterior e às aventuras do grupo de amigas que protagonizam esta série, este é um livro que apresenta basicamente as mesmas características do primeiro volume d'O Clube dos Ténis Vermelho. Mais uma vez, há um objectivo a alcançar, mas também um conjunto de dilemas e tribulações que podem não parecem tão terríveis como no pensamento das protagonistas, mas, tendo em conta a idade que têm, acabam por fazer todo o sentido. E, assim, o resultado é, mais uma vez, uma história que, sem ser especialmente surpreendente, consegue cativar pela fluidez da escrita, pela leveza do enredo e pela forma como, no fim de tudo, fica sempre a imagem global de uma boa e sólida amizade. 
Também o humor continua bem presente, a reflectir bem o ambiente de cumplicidade e provocação entre amigos - adolescentes e não só. Humor que compensa os ocasionais excessos de dramatismo, melhorando o equilíbrio do enredo e contribuindo para a tal leveza que mantém sempre viva a vontade de saber mais. E quanto ao objectivo das amigas? Não é difícil adivinhar como tudo se resolve, mas não deixa de ser, apesar disso, um final cativante e adequado.
Mais uma vez, importa também deixar uma nota sobre as ilustrações que, bem ajustadas à história, contribuem para lhe acrescentar algo mais, tornando também o livro mais bonito, equilibrado e apelativo. Nota-se que há um cuidado em corresponder ao mais possível ao que o texto descreve, e também isso acaba por cativar.
Leve e divertido, simples, mas cativante, trata-se, pois, de mais uma boa leitura, a fazer recordar os dramas da adolescência, mas também as coisas boas de tempos mais inocentes. Uma leitura agradável, portanto, que acaba por valer bem a pena. 

Título: Amigas para Sempre
Autora: Ana Punset
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A Tomada de Madrid (Mário Silva Carvalho)

Vivem-se os dias de (mais) uma guerra com Espanha e os avanços e recuos, tomadas e perdas, sucedem-se com impressionantes sucessos - e alguns erros flagrantes - para o lado de Portugal e dos seus aliados. E, algures entre todas estas movimentações, está Francisco de Brites, originário de Olinda e a combater por Portugal. É nesse percurso rumo a Madrid que as forças onde Francisco se encontra tomam Salamanca. E é aí que Francisco avista pela primeira vez a dona do seu coração. Chama-se Mariana, está prometida a outro homem e tudo indica que corresponde ao afecto do oficial português. Mas é também nobre e, por isso, de uma posição demasiado elevada para que Francisco possa aspirar a torná-la sua. E, entretanto, a guerra traz novos desencontros. E tudo pode acontecer.
Construído em forma de romance, mas centrado em grande medida nos elementos históricos, este é um livro que desperta sentimentos ambíguos. Primeiro, porque a história de amor associada ao protagonista parece, por vezes, assumir um papel claramente secundário relativamente aos desígnios da guerra. E depois porque o desenvolvimento de todos esses elementos, com todos os planos e movimentações associados, parecem conferir ao enredo um tom mais distante.
E, assim sendo, sentimentos ambíguos porquê? Porque a verdade é que, excepto na fase final, não é fácil sentir grande empatia para com as personagens, mas, apesar disso, o seu percurso não deixa de ser interessante. E é verdade também que a forma como alguns acontecimentos são narrados, de maneira muito sucinta e enfatizando acima de tudo os factos históricos, parece, por vezes, um pouco confusa, mas há, apesar disso, muito conhecimento a retirar. Junte-se a isto o facto de a narrativa crescer em envolvência com o evoluir dos acontecimentos, e o resultado é uma história que começa por parecer um tanto vaga, mas que, aos poucos, começa a cativar.
Há, além disso, alguma evolução em termos emocionais, se assim lhe podemos chamar. Não que chegue a haver propriamente muitos momentos emotivos (havendo, ainda assim, um ou outro na fase final). Mas as circunstâncias do protagonista, a forma como algumas personagens são tratadas e a forma como o amor de Francisco e a sua Mariana acaba por se expressar acabam por atenuar um pouco a tal sensação de distância, humanizando um pouco mais os indivíduos no centro de uma luta de forças maiores.
Ficam, portanto, os tais sentimentos ambíguos. Mas também a impressão de um livro que, apesar do início um pouco confuso, acaba por, com a sua vastidão de elementos históricos e o crescimento que, partindo das personagens, se estende ao próprio enredo, proporcionar uma boa leitura. E isso basta para que valha a pena conhecer esta história.

Autor: Mário Silva Carvalho
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Divulgação: Novidade Presença

O Filho Dourado – Alvorada Vermelha 2
Pierce Brown
Título Original: Golden Son
Tradução: Miguel Romeira
Páginas: 480
Colecção: Via Láctea Nº 131
PREÇO SEM IVA: 18,82€ / PREÇO COM IVA: 19,95€
ISBN: 978-972-23-5765-4

Nascido Vermelho, Darrow trabalhava nas minas de Marte, suportando a dureza do trabalho enquanto sonhava com um mundo mais justo, uma sociedade livre da intriga e dos jogos de poder. Os Dourados, que escravizam e oprimem os restantes, só podem ser derrotados por uma rebelião das castas. Mas para que tal aconteça foi necessário que Darrow se tornasse num Dourado e, uma vez infiltrado, promovesse a revolta. Neste tão esperado segundo volume da trilogia Alvorada Vermelha, Darrow, agora um Dourado, vê-se confrontado com novos desafios. O seu sucesso atrai inimigos terríveis que usam a intriga e a política como arma. Porém, Darrow está determinado a defender o amor e a justiça, ideais seguidos por Eo, apesar de se saber rodeado por adversários sem escrúpulos que pretendem eliminá-lo.

Pierce Brown é um jovem escritor norte-americano formado em Economia e Ciências Políticas. O Filho Dourado, o segundo livro da trilogia Alvorada Vermelha, foi considerado pelo Goodreads o melhor livro de 2015 na categoria de Ficção Científica e encontra-se entre os mais vendidos do New York Times. Os direitos de Alvorada Vermelha foram vendidos para mais de vinte países e o primeiro volume da trilogia será adaptado ao cinema.

Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui.

O Quarto de Jack (Emma Donoghue)

Jack tem cinco anos e o único mundo que conhece é o pequeno quarto onde nasceu e do qual nunca saiu. É lá que come, que dorme, que brinca com a mãe e onde ela lhe ensina tudo o que tem para transmitir. O que Jack não sabe é que o Quarto é na verdade uma cela à prova de som, onde a mãe é mantida presa desde que, sete anos antes, foi raptada. Jack não conhece o mundo exterior, mas a situação é delicada e a mãe precisa dele para os salvar a ambos. Mas será possível viver no mundo lá fora, quando tudo o que se conhece é a aparente segurança da vida entre quatro paredes?
Contado pela voz de Jack e em tudo semelhante ao que deverá ser a voz de uma criança daquela idade, este é um livro em que o primeiro traço marcante está precisamente na forma como Jack, enquanto narrador, realça na perfeição o equilíbrio entre a inocência da criança e o horror desconhecido das circunstâncias em que se encontra. O mundo de Jack é um mundo estranho, e a forma como a autora transmite esse mundo ao leitor, primeiro no que parece ser um ambiente invulgar, mas razoavelmente sereno, para depois ir revelando os contornos mais sombrios da situação, cria um crescendo emocional que se torna, a cada passo, mais comovente. Além disso, a emoção surge nos actos, e não nas palavras, o que faz com que tudo pareça mais natural. A tristeza, o medo, a ternura, a esperança... tudo surge de forma genuína. E é talvez isso o que mais contribui para fazer deste livro uma leitura memorável.
Se Jack, com todos os seus momentos de inesperado brilhantismo, é, por si só, mais que motivo suficiente para que a leitura valha a pena, há também, na sua história, todo um conjunto de momentos e de questões relevantes que, inevitavelmente, se entranham na memória e apelam à reflexão. O cativeiro de Jack e da sua mãe, desde logo, mas também a forma como as pessoas reagem ao sucedido quando a verdade é descoberta. O choque mediático, as diferentes reacções do público, a forma como a própria família lida com a situação. Há muito em que pensar, nesta história, e isso acaba por ser tão importante como os próprios acontecimentos.
E depois há a escrita e a forma como a autora consegue construir tão bem a voz do seu protagonista. Fluída, envolvente, dá corpo a uma personagem que tanto cativa pelos momentos de ternura como pela forma muito própria que tem de interpretar o que está a acontecer. E realça, na aparente simplicidade com que dá voz às coisas complexas, o impacto de uma história em que as pequenas coisas e as grandes revelações coexistem num equilíbrio quase perfeito.
Tudo isto contribui para fazer de O Quarto de Jack uma leitura memorável. Mas mais do que isso, até. Intenso e surpreendente, comovente em todos os momentos certos, mas leve e divertido, também, quando a invulgarmente brilhante personalidade de Jack a isso apela, este é um livro que cativa desde as primeiras linhas. E que fica na memória bem depois de chegar ao fim. Recomendo. 

Autora: Emma Donoghue
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Divulgação: Novidade Esfera dos Livros

Presentes de norte a sul do território português, os castelos e as cinturas de muralhas que serviram um dia para proteger vilas e cidades são, ainda hoje, testemunhos vivos de um dos períodos mais fascinantes e ricos da História de Portugal.  Apesar de detentoras de uma inegável carga simbólica, nomeadamente enquanto formas de ostentação do estatuto social, da riqueza e da autoridade dos seus senhores, as fortalezas medievais foram erguidas sempre com um propósito claramente militar. Em resultado da missão que desempenhavam, eram constantemente alvo dos exércitos inimigos, pelo que um estudo a elas dedicado não pode deixar de contemplar uma análise da guerra de cerco e da sua importância nessa época. Guerreiros de Pedra é um documento fundamental sobre as fortificações medievais portuguesas, dando-nos a conhecer as suas características arquitectónicas, os personagens que promoveram a sua edificação, os homens que as comandavam e vigiavam, o modo como eram atacadas e defendidas, bem como alguns dos episódios militares e acontecimentos mais marcantes da sua história.

Miguel Gomes Martins nasceu em Lisboa em Fevereiro de 1965. É licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e é mestre e doutor em História da Idade Média pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, grau que obteve com a dissertação intitulada Para Bellum. Organização e Prática da Guerra em Portugal durante a Idade Média (1245-1367), galardoada com o Prémio Defesa Nacional – 2009. É autor de diversos trabalhos de História Militar Medieval (entre monografias, artigos e actas de congressos), de entre os quais se destacam os livros Lisboa e a Guerra (1367-1411); A Vitória do Quarto Cavaleiro – O Cerco de Lisboa de 1384; A Alcaidaria e os Alcaides de Lisboa (1147-1433); As Cicatrizes da Guerra no Espaço Fronteiriço Português (1250-1450), em co-autoria com João Gouveia Monteiro e galardoado com o Prémio Cunha Serra, da Academia Portuguesa de História – 2011; e De Ourique a Aljubarrota – A Guerra na Idade Média; Guerreiros Medievais Portugueses; A Arte da Guerra em Portugal (1245-1367), galardoado com o Prémio Botelho da Costa Veiga, da Academia Portuguesa de História – 2014; e Guerra e Poder na Europa Medieval (em co-autoria com João Gouveia Monteiro e Paulo Jorge Agostinho). É técnico superior do Gabinete de Estudos Olisiponenses, colaborador do Centro de Estudos da História da Sociedade e da Cultura da Universidade de Coimbra; sócio fundador e membro da direcção da Associação Ibérica de História Militar e investigador integrado do Instituto de Estudos Medievais, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde lecciona a cadeira opcional de História da Guerra na Idade Média.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

No Silêncio da Guerra (James Riordan)

Com o início da guerra, começam a ouvir-se por todo o lado os apelos - e exigências - à participação no esforço e nos combates. E, sem saberem bem como, Jack Loveless e o amigo, Harry, dão por si a alistar-se com apenas dezassete anos. Imaginam, talvez, que o que têm pela frente é heroísmo e aventura. Mas o que os espera será bem diferente, na percepção de que do outro lado das barreiras de horror, medo e morte há humanos como eles. E que talvez possa haver paz, num momento único, mas que há muitos a querer que a guerra continue. 
Dirigida a um público jovem e contada com relativa brevidade, este é um livro em que o aspecto que mais se destaca é, sem dúvida alguma, a mensagem. Através de Jack e dos seus companheiros, da forma como vêem a guerra em que se envolveram e, acima de tudo, da forma como é narrado o episódio da trégua do Natal de 1914, há uma ideia muito clara a destacar: de ambos os lados do conflito, estavam pessoas, com vidas e famílias a que queriam voltar. E que, fossem quais fossem as razões que os levavam a estar ali, continuavam a ser pessoas. Esta ideia torna-se particularmente marcante porque ganha forma nas percepções do próprio protagonista, o que a torna mais viva, mais clara. E é verdade que pode parecer óbvia, mas os acontecimentos mostram que nem sempre é tanto assim. 
Apesar da relevância dos acontecimentos e da intensidade com que são descritos, este é um livro bastante simples, no sentido em que o contexto histórico dos acontecimentos é desenvolvido apenas na medida em que os protagonistas o conhecem. Mas há algo de muito cativante nesta simplicidade, que, associada à forma como tudo começa (e termina), acrescenta à narrativa um laivo de inocência que, tendo em conta os factos que lhe servem de base, acaba por se tornar estranhamente marcante. 
Ficam perguntas sem resposta. É inevitável, tendo em conta o ponto do conflito onde a história termina. E fica, por isso, uma certa curiosidade insatisfeita, sobre o que aconteceu depois a Jack ao longo dos anos que se seguiram àquele estranho momento do conflito. Mas, por outro lado, faz sentido que assim seja. E, sabendo que, no dia da trégua, a guerra estava ainda muito longe de terminar, deixar aquele momento como ponto alto da história acaba por ser a forma mais adequada de fechar a narrativa. 
Simples, mas marcante na sua simplicidade, este é, pois, um livro que, apesar da brevidade, passa, na forma de uma história cativante e comovente, uma mensagem que nunca deixará de ser relevante. E tudo isso - a força da mensagem, a envolvência do enredo e os sentimentos que desperta - é mais do que suficiente para que valha a pena conhecer esta história. Gostei. 

Título: No Silêncio da Guerra
Autor: James Riordan
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Amemo-nos uns aos outros (Catherine Clément)

Vivem-se tempos conturbados em Paris. O inimigo está às portas da capital, mas, postos perante a iminência de uma derrota humilhante, os franceses combatem-se uns aos outros. É o tempo da revolução, da luta contra os opressores, da vontade de dar aos mais fracos os direitos por que há muito anseiam. Mas é a guerra, também, e as consequências serão desastrosas. No centro de tudo, um grupo de revolucionários - nem todos franceses, nem todos filiados nos mesmos grupos - descobrem-se no centro do combate. E, em plena revolução, procuram encontrar-se nos valores que defendem. E no amor, também, se o puderem encontrar. 
Narrado, em grande parte, na primeira pessoa, mas centrado no papel de várias personagens no decorrer da revolução, este é um livro em que os acontecimentos são narrados ao ritmo da memória do narrador. Abel Gornick, protagonista e narrador da história, relata os dias da revolução seguindo, tanto quanto possível, a linha temporal dos acontecimentos, mas com avanços e recuos correspondentes ao fluxo das suas próprias memórias. Ora, isto faz com que a fase inicial da narrativa seja um pouco mais confusa, mas também lhe confere uma maior proximidade, como que permitindo acompanhar os acontecimentos pelos olhos de um dos seus participantes. E ver as marcas do que lhe ficou.
Também a vastidão de personagens referidas - e mais ou menos desenvolvidas - contribui para a impressão de alguma confusão inicial. Mas também isto faz sentido. Primeiro, porque, sendo uma história de tempos de caos, faz sentido que a narrativa reflicta, até certo ponto, esses tempos caóticos, dando a conhecer, aos poucos, a forma como todos os acontecimentos se encadeiam. Mas, além disso, se é verdade que grande parte da história se foca em Abel, Léo e os seus companheiros mais chegados, há todo um conjunto mais alargado de personagens que, apesar da sua presença mais discreta na narrativa, tiveram um papel fundamental. E, por isso, a sua presença é inevitável, além de tornar a história mais completa.
Tudo isto - o caos, os sonhos, a luta, a morte - é narrado num registo pessoal quanto baste, reflectindo em grande medida, os sentimentos e percepções do narrador, mas com um estranho equilíbrio entre emoção e crueza que torna tudo mais real. É este, aliás, o traço mais cativante da escrita da autora: a forma como consegue realçar todos os contrastes e contradições do tempo e da história que pretende apresentar. 
E, apesar de todo o caos e de toda a morte, a vida não acaba na revolução. É, por isso, também interessante ver a forma como a autora encerra a história das suas personagens, acompanhando-as para lá dos acontecimentos da Semana Sangrenta e mostrando-nos, assim, um pouco do depois. Também isto torna a história mais completa, pois funciona como uma recordação de que, afinal, a vida continua. 
História de tempos difíceis, e das revoluções que se fazem no coração dos homens, trata-se, pois, de um livro que, quer pela história das suas personagens, quer pela caracterização do tempo em que se movem, quer ainda pelo delicado equilíbrio entre todos os elementos que dão forma à narrativa, facilmente se torna cativante. E que talvez não apresente todas as respostas - ou todas as respostas desejadas - mas que, ainda assim, fica na memória. Vale a pena ler. 

Autora: Catherine Clément
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Os 100 - 21 Dias Depois (Kass Morgan)

Enviados para a Terra com o objectivo de descobrir se esta era já novamente habitável, os 100 julgavam estar sozinhos no planeta. Estavam enganados. E, ao que tudo indica, os terrestres não estão propriamente satisfeitos por receber visitantes da Colónia. Aos problemas e divisões dentro do grupo, com os segredos mais bem guardados de cada um deles a virem à superfície, junta-se agora um potencial inimigo. Ou será que não? E entretanto, na Colónia, o tempo está a esgotar-se, e talvez nem todos consigam voltar à Terra. Também aí há segredos a revelar. E escolhas - que podem muito bem ser definitivas.
Dando sequência aos acontecimentos do volume anterior, e continuando a acompanhar os pontos de vista das mesmas quatro personagens, este é um livro que tem, essencialmente, as mesmas características do livro anterior. Mais uma vez, são mais as histórias pessoais a sobressair, ainda que haja novos desenvolvimentos a nível de contexto, e é o percurso dessas personagens o cerne de grande parte do enredo. Mantém-se também o mesmo registo relativamente simples, em que a informação é apresentada à medida que vai sendo necessária e, assim, também a mesma aura de mistério que mantém viva a vontade de saber mais.
O que muda? Essencialmente, as circunstâncias das personagens, que, a cada revelação, descobrem novos elementos sobre a situação em que se encontram. E isto aplica-se tanto à sempre presente necessidade de sobreviver como às relações pessoais e sentimentais entre os diferentes intervenientes. É, aliás, neste aspecto, que surgem algumas das revelações mais surpreendentes, sendo nas memórias do passado que se encontram alguns dos melhores momentos do livro.
Ficam, mais uma vez, várias perguntas sem resposta e, por isso, a mesma ambiguidade de sentimentos. Por um lado, uma impressão de curiosidade insatisfeita, pois há ainda vários aspectos a esclarecer. Por outro, a vontade de saber o mais rapidamente possível o que vai acontecer a seguir a estas personagens que, com todas as suas qualidades e defeitos, já se tornaram familiares.
Leve e cativante, mas intensa em todos os grandes momentos, trata-se, pois, de uma história que, à semelhança do livro anterior, evolui ao ritmo de cada nova revelação, proporcionando uma leitura envolvente, intrigante e surpreendente. Ficam para o que se segue as melhores expectativas. 

Título: Os 100 - 21 Dias Depois
Autora: Kass Morgan
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Booksmile

Estamos em 1943. Para Annemarie, a vida em Copenhaga passa-se entre a casa e a escola, dificultada pela escassez de comida e pela presença constante de soldados nazis nas ruas. A coragem parece uma virtude distante, apenas ao alcance dos cavaleiros das histórias de príncipes e princesas que Annemarie conta à irmã Kirsti, antes de ela adormecer.
Quando as tropas alemãs intensificam a campanha para «transferir» todos os judeus da Dinamarca, os pais de Annemarie acolhem Ellen, a sua melhor amiga, fingindo que têm três filhas. As meninas vivem como irmãs até ao dia em que se torna evidente que algo mais precisa de ser feito para salvar Ellen e a respectiva família, assim como os restantes judeus da Dinamarca.
Vista pelos olhos de uma menina de 10 anos, esta é uma história baseada em factos reais que conta os esforços da Resistência dinamarquesa para salvar todos os judeus do país - perto de 700 mil pessoas -, fazendo-os atravessar o mar até à Suécia.
Um livro recheado de esperança e heroísmo, que nos mostra como a solidariedade é possível, mesmo em tempos de guerra e horror.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

A Corporação Invisível (Luís Sítima e Hugo V. Costa)

Carlos Anderson dos Santos, CEO de uma grande farmacêutica, está desaparecido. Ninguém sabe o que poderá ter acontecido, e as únicas pistas - as que o próprio Charlie deixou para trás - são um enigma difícil de decifrar. Muitas suspeitas recaem sobre os membros da administração, mas nem por aí a situação parece fácil de desvendar. E é por isso que um detective é contratado para, infiltrado entre os potenciais novos membros da empresa, seguir as estranhas pistas e descobrir o paradeiro de Charlie. Mas o que este detective está longe de imaginar é que o caminho que tem pela frente o conduzirá de enigma em enigma, rumo à resolução que menos espera.
Narrado, em grande parte, pela voz do protagonista e seguindo passo a passo as principais pistas na sua viagem de descoberta, este é um livro que surpreende, em primeiro lugar, pela forma algo inesperada como conjuga elementos que, à partida, não são propriamente novos neste género de livro. Temos A Divina Comédia, sociedades secretas, pecados e virtudes e um grande conjunto de elementos religiosos, filosóficos e mitológicos a servirem de base à investigação de um desaparecimento. E, contudo, nada na forma como o enredo evolui corresponde ao que seria de esperar dos thrillers que normalmente assentam neste tipo de elemento. Claro que continua a haver espaço para uma boa teoria da conspiração. Mas a forma como estas teorias são construídas - e o resultado que pretendem obter - é bem diferente do que se poderia, à partida, esperar. E isto torna a história muito surpreendente. 
Também bastante cativante é a forma como o livro está construído, assente, até certo ponto, na divisão entre os sete pecados mortais (elemento fulcral para a construção das grandes revelações do enredo) e narrado em capítulos curtos e directos quanto baste. Há, é verdade, algumas exposições mais longas, que, associadas à própria caracterização algo distante das personagens, quebram um pouco o ritmo do enredo. Mas são, apesar disso, informações necessárias e que permitem uma melhor percepção das revelações finais.
Tendo em conta a forma como tudo termina, e alguns dos passos dados pelo protagonista até lá chegar, é inevitável a impressão de que certos aspectos são deixados por explicar, não só relativamente à forma como foi possível levar a cabo aquilo que está na base de todo o mistério, mas também quanto à história de algumas das personagens. Fica, por isso, a ideia de que mais haveria a dizer sobre certos aspectos do enredo, mas o inesperado das respostas obtidas acaba por compensar, em certa medida, a sensação de insatisfação quanto ao que fica por dizer.
Trata-se, no fundo, de uma história com uma mensagem para transmitir. Uma mensagem forte, e que está sempre bem presente no enredo, mas que nunca se sobrepõe em demasia ao ritmo dos acontecimentos, o que permite assimilar as ideias sem que se perca o prazer de ler simplesmente a história de uma boa aventura. E também este equilíbrio entre o enredo e as ideias que lhe servem de base contribui para fazer com que, mesmo quando a intensidade dos acontecimentos abranda, a narrativa nunca perca a envolvência.
De tudo isto resulta uma história em que ideias, acontecimentos e personagens convergem para dar forma a um livro intrigante e surpreendente, e em que pode não haver respostas para tudo, mas o essencial está lá. Cativante, equilibrado e muito interessante na forma como conjuga todos os elementos que lhe dão vida, uma boa leitura. 

Título: A Corporação Invisível
Autores: Luís Sítima e Hugo V. Costa
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Planeta

Decidida a ultrapassar um passado difícil, Erica Hathaway aprende muito cedo a fazer tudo sozinha. Dias após a licenciatura a jovem vê-se perante um painel de investidores que poderão, ou não, influenciar o seu início incipiente. 
A única coisa para que não está preparada é o aparecimento de um investidor lindo e arrogante, que parece determinado a fazer-lhe a vida negra.
Bilionário e supostamente um hacker, Blake Landon, que fez fortuna com um software e que está habituado a conseguir aquilo que quer, atraído pelo dinamismo e pela beleza tímida de Erica, só pensa em possuí-la assim que a vê na sala de reuniões. 
Decidido a conquistá-la, o bilionário quebra-lhe as defesas e luta por ela, a ponto de quase perder o controlo de que tanto se orgulha.Mas, quando descobre um segredo no passado de Erica, Blake ameaça a confiança da jovem e também a vida que ela criou a tanto custo.

Steve foi convidado para participar num concurso para os melhores construtores, na Ilha dos Cogumelos. 
Os seus amigos, Max, Lucy e Henry, estão impressionados com um convite tão importante, e querem acompanhá-lo. 
A vizinha Kyra também vai, já que é uma excelente construtora de barcos, necessários para chegar à Ilha dos Cogumelos. 
Mas na ilha, depois de conhecerem o júri e os restantes 4 concorrentes – todos confiantes na vitória – e de se porem ao trabalho, dá-se uma invasão de endermen nunca vista!
A Ilha dos Cogumelos é famosa por não ter criaturas hostis, mas agora os ataques sucedem-se como autênticas pragas. 
Isto tem de ser obra de um griefer. Mas quem será? Um dos concorrentes? Ninguém sabe, mas todos terão de se unir para combater os endermen. 
Serão capazes de os vencer e de descobrir quem é, afinal o griefer? E quem vencerá o concurso? 
Descobre, neste trepidante episódio da Incrível Aventura de Minecraft!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Assim se Pariu o Brasil (Pedro Almeida Vieira)

Revoltas, conspirações, intrigas e traições, acordos de não muito boa fé e boas intenções que se transformaram em actos não tão bons. De tudo isto se fez a história do Brasil colonial, desde os tempos do descobrimento (ou achamento?) até ao dia da independência. E é também de tudo isto que é feito este livro, onde nomes e personalidades mais ou menos conhecidos surgem como protagonistas de um conjunto de acontecimentos que - do simplesmente bizarro ao potencialmente devastador - marcaram, de alguma forma, a história do Brasil.
Um dos primeiros aspectos a sobressair neste livro é a forma como está organizado, sendo que cada capítulo (se assim se lhes pode chamar) se dedica a um facto ou episódio concreto, mas em que as ligações entre os vários acontecimentos não deixam de estar bem presentes. E isso, desde logo, devido à categorização dos episódios através de várias tags (o que é, por si só, um traço invulgar do livro), mas também pelas várias referências que vão sendo feitas, em notas de rodapé ou no próprio texto, a acontecimentos narrados em outros capítulos.
Outro aspecto que é inevitável referir é a vastidão de conhecimento que é possível retirar deste livro. E, se é certo que a grande quantidade de nomes e o facto de muitos factos e figuras não serem propriamente do conhecimento geral faz com que haja muito a assimilar, o que exige tempo e concentração, também é verdade que há muito de interessante a retirar de tudo isto. Sejam as decisões mais peculiares de uma qualquer "personagem", sejam as implicações de um determinado conflito, seja ainda a mudança de perspectiva que o tempo lançou sobre um determinado assunto, há, em todos estes episódios, muito para descobrir. E isso é mais do que o suficiente para fazer com que os tais tempo e concentração exigidos valham a pena. 
Claro que um texto com tantas referências a nomes, datas e acontecimentos dificilmente poderá ser de leitura rápida e compulsiva. Mas há, ainda assim, algo de muito cativante na forma como o autor apresenta os factos, acrescentando, no momento certo, uma observação particularmente certeira ou um rasgo de humor especialmente apurado, que torna tudo bastante mais interessante. Além disso, quando tudo (ou quase) é novo ou relativamente desconhecido, o facto de haver muito para descobrir nunca pode deixar de ser motivo de interesse. 
E, assim sendo, o que fica da leitura deste Assim se Pariu o Brasil é a percepção de um livro cativante, esclarecedor e com muita informação interessante para transmitir. Uma boa leitura para ficar a saber mais sobre as aventuras - e desventuras? - de portugueses e não só em território brasileiro. 

Autor: Pedro Almeida Vieira
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Uma Questão Pessoal (Lee Child)

Um atendado falhado ao presidente francês, impedido apenas por um novo tipo de vidro à prova de bala, lança o caos entre as agências governamentais de diferentes países. O tiro foi disparado a mais de mil e quinhentos metros e há poucos atiradores capazes de algo assim. Mas um dos principais suspeitos é norte-americano e, caso seja ele o responsável, pode estar aí o início de um grave incidente. Ora, esse suspeito é também uma figura conhecida do passado de Jack Reacher. E é por isso que, de forma algo invulgar, o antigo polícia militar é chamado de volta a acção. Na companhia de uma analista novata, cabe a Reacher seguir a pista do seu suspeito e apanhá-lo, mais uma vez. Mas as coisas não são assim tão simples. E há várias pistas que não batem certo...
Uma das primeiras coisas que importa dizer sobre este livro é que, apesar de fazer parte de uma longa série de livros com o mesmo protagonista, não fica, em momento algum, a sensação de haver alguma informação em falta. Todo os factos pertinentes do passado de Reacher são referidos ao longo do enredo e, quanto ao caso propriamente dito, tudo o que aqui tem início encontra também o seu fim. Assim sendo, este é um livro que se lê perfeitamente sem qualquer conhecimento anterior da série e do protagonista.
Pode também funcionar como um bom ponto de partida, já que a missão implica que o protagonista conheça umas quantas personagens novas. E, ao dar-se a conhecer a essas personagens, Jack Reacher mostra-se também ao leitor em todas as suas peculiaridades. O que me leva, aliás, ao ponto mais interessante de todo o livro. É que, ao narrar a história pela voz do protagonista, o autor apresenta, nesse registo, alguns dos traços mais vincados da personalidade de Reacher, bem evidentes nas frases que repete e no muito cativante sentido de ironia que, em muitas das vezes, lhe está subjacente.
Quanto ao caso propriamente dito, há dois aspectos que se destacam e que, de alguma forma, se complementam. Por um lado, muitos dos avanços decorrem de alguma capacidade dedutiva do protagonista, o que cria um enredo bastante racional e em que a emoção surge muito espaçadamente. Ora, isto cria uma sensação de distância para com as personagens, retirando-lhes parte da possível empatia. Mas, se é verdade que os momentos mais emotivos são poucos, também o é que, quando acontecem, surgem com surpreendente intensidade. Intensidade essa que não implica dramatismo. Muito pelo contrário. Mas que, no seu registo discreto, mas eficaz, acaba por proporcionar, ainda assim, vários momentos memoráveis.
Da soma de tudo isto, fica a impressão de uma aventura que é feita em igual medida de acção e de dedução. E que, no seu registo invulgar, permite uma visão diferente das personagens, ao mesmo tempo que as conduz por uma sucessão de descobertas inesperadas. Intrigante e surpreendente, uma boa leitura.

Título: Uma Questão Pessoal
Autor: Lee Child
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Guerra e Paz

Ribadouro é uma aldeia do Douro Vinhateiro que tem como pano de fundo a vida austera dos cavadores de vinha, que, num espaço curto de tempo, passam de uma situação confortável a uma situação de pobreza envergonhada. As personagens marcantes desta história são a todo-poderosa Ana Francisca, que se torna amante de uma figura política de peso a quem paga luvas para que lhe facilite a construção de um resort de luxo numa área protegida; Bernardo Castela, enólogo e homossexual; e Imaculada, estudante universitária fogosa, comprometida com um rapaz da sua idade. A morte repentina dos pais deixa sem recursos a jovem, que aceita uma proposta de casamento de Bernardo Castela, que tem apenas o propósito de esconder a sua autêntica sexualidade. Mas a impotência do milionário, que tem o dobro da sua idade, conduz Imaculada à frustração. Desfazendo o enlace, procura emprego, mas espera-a uma segunda armadilha: sob promessa de uma vida esplendorosa em Angola, é levada ao engano para um bar de alterne na restinga de Luanda, onde acaba por ser resgatada pelo antigo namorado, o homem da sua vida.

Flávio Capuleto sempre quis ser escritor. Depois de conhecer a dura experiência da Guerra Colonial em Angola, teve vários ofícios, sem nunca deixar de ler e escrever. Só em 2012, porém, conseguiria ver publicado o seu primeiro romance, No Calor dos Trópicos, lançado pelo Clube do Autor. Mas o sucesso só chegaria em 2014 com a publicação pela Guerra e Paz Editores do romance Inferno no Vaticano, best-seller que viria a figurar no TOP 10 dos livros mais vendidos na área da ficção. Com o romance Corrupção, Flávio Capuleto aspira a seguir com sucesso o caminho trilhado.

Divulgação: Nova edição de O Quarto de Jack

Para Jack, de cinco anos, o quarto é o mundo todo. É onde ele e a Mamã comem, dormem, brincam e aprendem. Embora Jack não saiba, o sítio onde ele se sente completamente seguro e protegido, aquele quarto é também a prisão onde a mãe tem sido mantida contra a sua vontade. 
Contada na divertida e comovente voz de Jack, esta é uma história de um amor imenso que sobrevive a circunstâncias aterradoras, e da ligação umbilical que une mãe e filho.

Emma Donoghue é escritora de romances históricos e contemporâneos.
Nasceu em Dublin, onde viveu durante vinte anos, até ir viver para Inglaterra – para estudar em Cambridge – e depois para o Canadá. 
Mudou-se recentemente para França.
O Quarto de Jack é o seu título mais conhecido, mas Emma já escreve desde os vinte e três anos e a sua carreira como escritora conta com alguns bestsellers, como Slammerkin, The sealed letter, Landing, Life-Mask, Hood e Stir-Fry.
A título de curiosidade, refira-se que o pai de Emma Donoghue, que também era crítico literário, foi professor de Henry James na faculdade.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

As Grandes Cartas de Amor (Elizabete Agostinho)

Amor. O que redime e o que destrói, o que fundamenta as bases de uma relação duradoura e o que nunca alcança o coração de quem é objecto desse amor. O que não chega, o que não é possível, o que extasia e o que nunca morre. Amor, pela voz de vários grandes nomes da história que, mesmo não o reflectindo no legado que deixaram, puseram em cartas à pessoa amada a verdadeira dimensão do seu sentimento. 
Organizado - tanto quanto é possível fazer uma tal divisão - pelo que se poderiam considerar os diferentes tipos de amor, este é um livro que reúne um conjunto de cartas das mais diversas figuras históricas, tendo, em certos casos, como único ponto comum o tema dessas mesmas cartas. É de amor que é feito este livro e, portanto, há, inevitavelmente, essa presença recorrente. E é tendo em conta esse tema comum que o mais interessante neste livro acaba por ser a diferença. A diferença entre a forma como cada uma dessas figuras expressou o seu amor, como, nas cartas, se reflecte uma história e uma vivência diferentes para um mesmo sentimento.Tão diferentes que, em alguns dos casos, o amor é óbvio, arrebatado, sendo impossível deixá-lo por declarar, enquanto que, noutras, é discreto, quase questionável, ténue, mas, apesar de tudo, presente. 
Destas diferenças surgem claros contrastes para o que é, no fundo, um sentimento comum. E é, na verdade, isso o que mais contribui para tornar interessante esta leitura. É que, mesmo que, depois de ler umas quantas declarações mais ou menos claras de amor mais ou menos eterno, a leitura nunca se torna demasiado repetitiva, porque a forma como o autor de cada carta exprimiu os seus sentimentos é diferente da de todos os outros. E assim, seja uma faceta sobejamente conhecida do seu autor, seja algo de completamente inesperado, há sempre algo de novo a descobrir em cada carta.
Ainda um outro ponto que importa realçar neste livro é o aspecto visual. Se é certo que a organização das cartas, e as cartas em si, bastam para que a leitura valha a pena, a beleza da edição acrescenta-lhe algo mais, evocando, em certa medida, com os fragmentos das diferentes caligrafias e a forma como o texto é enquadrado, um pouco da sensação de ler uma carta. Também isto torna a leitura mais apelativa.
E eis, pois, uma viagem pelo amor através dos tempos - ou das mentes de vários grandes nomes. Uma viagem cativante - e, por vezes, surpreendente - em que do universal surge a diferença, num sentimento que, vivido de mil maneiras diferentes, continua, ainda e sempre, a ser apenas um. Muito interessante e muito bonito, um livro que vale a pena ler.

Título: As Grandes Cartas de Amor
Autora: Elizabete Agostinho (selecção e coordenação)
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

The Young World - O Mundo Novo (Chris Weitz)

Desde que uma misteriosa doença dizimou adultos e crianças, poupando apenas os adolescentes, o mundo mergulhou no caos e os sobreviventes dividiram-se. Alguns tentaram aguentar-se sozinho, mas grande parte organizou-se em tribos mais ou menos bem sucedidas. Jefferson é o (relutante) novo líder da tribo de Washington Square e acaba de lidar com a morte do irmão quando um dos seus companheiros lhe apresenta uma possibilidade irresistível. Descobriu o resumo de um artigo que pode ser a primeira pista para a descoberta de uma cura para a doença. Mas seguir essa pista implica expor-se - e aos companheiros - a um perigo mortal. Enquanto líder, cabe a Jefferson a decisão. Mas, sabendo que tudo o que tem pela frente são dificuldades, poderá ele viver com as consequências?
Narrado na primeira pessoa pela voz dos dois protagonistas, este é um livro que pega num clássico cenário pós-apocalíptico, transpondo para ele todos os inevitáveis dilemas da vida adolescente. Todas - ou quase - as personagens são adolescentes e isso significa que todas - ou quase - estão a passar pelos dilemas e descobertas típicos da idade. Mas isso em plena luta pela sobrevivência, o que significa que, ao mesmo tempo que descobrem sentimentos e afirmam - ou recusam - valores, estão numa luta sem tréguas com grupos rivais, os perigos da natureza selvagem e toda uma série de circunstâncias que podem revelar-se fatais.
A forma como o autor cria um equilíbrio entre estes dois aspectos é, talvez, o grande ponto forte deste livro, já que permite que haja os ocasionais momentos emocionais (mas não demasiado lamechas) sem perder o foco na acção constante que define a vida dos protagonistas. E se isto cria, em certos momentos, uma sensação de distância, também torna mais fortes os episódios em que essa distância se esbate. Além disso, há no desenvolvimento das personagens algumas peculiaridades que as tornam interessantes, mesmo se nem sempre é possível compreender as suas acções.
Grande parte do enredo é feito com base numa sucessão de perigos e obstáculos potencialmente mortais que as personagens têm de superar. Mas, se isto basta para conferir à história um ritmo bastante cativante, é, na verdade, nas pequenas coisas que está o lado mais interessante: na forma como os vários grupos se formaram a partir do caos, nas regras por que se regem e no valor dessas regras, e na forma como, em pleno caos, os fins podem, ou não, justificar os meios. Além disso, a forma como, de perigo em perigo, as personagens são conduzidas para um final bastante inesperado, cria um muito cativante crescendo de intensidade. Que culmina numa grande pergunta, é certo, o que deixa uma certa insatisfação. Mas que cria, também, grandes expectativas para o que poderá acontecer no próximo livro.
Da soma de tudo isto, fica a ideia de um início promissor, em que a acção é o elemento dominante, mas em que, gradualmente, os melhores traços das personagens começam a revelar-se no que promete ser ainda apenas o início de uma grande aventura. Uma boa história, portanto, e uma boa leitura.

Autor: Chris Weitz
Origem: Recebido para crítica

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terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

De Olhos Fixos no Sol (Irvin D. Yalom)

Viver uma vida consciente significa viver com o conhecimento de que, um dia, tudo termina. E se é verdade que há muitas formas de lidar com o medo da morte, também é certo que, para muitas pessoas, esse medo pode assumir a forma de um terror paralisante. Enquanto psicoterapeuta, Irvin D. Yalom dedicou muito tempo - e experiência - a este assunto. E, fruto dessa experiência e do seu próprio percurso pessoal, este é um livro que, sem respostas fáceis ou absolutas, mas de forma muitíssimo esclarecedora, nos encaminha para a necessidade de enfrentar esse medo olhos nos olhos.
Uma das primeiras coisas a cativar para este livro, e principalmente tendo em conta o tema que lhe serve de base, é o registo que o autor usa para expor as suas ideias. Assente na sua própria experiência e no vasto conhecimento que aqui revela, bem como no percurso dos seus pacientes e na sua própria vida pessoal, a percepção que o autor tem sobre a morte é algo de fascinante e a forma como a expõe aos olhos do leitor, tão clara nas ideias, mas, acima de tudo, reforçada por percepções e emoções vividas na primeira pessoa, é, em si mesma, um apelo à reflexão.
Também um aspecto interessante é o facto de, apesar de grande parte do livro assentar em exemplos vindos da terapia, havendo inclusive um capítulo orientado para terapeutas e futuros terapeutas, o tom do livro nunca deixa de ser acessível e envolvente, referindo as teorias e ideias que servem de base à perspectiva do autor, mas sem se perder em divagações e tecnicismos necessários. O autor tem uma mensagem a transmitir e fá-lo com a máxima clareza possível. E dessa mensagem - das ideias que transmite, das perguntas que evoca, até mesmo das emoções que consegue despertar - emerge um vasto conjunto de matéria para reflexão. E, quando falamos de um tema tão importante e inevitável, reflectir é preciso.
Ainda uma última particularidade surpreendente diz respeito à forma como, através das histórias que conta, quase parece ser possível ficar com uma ideia de como será o autor enquanto terapeuta, já que, ao mostrar alguns diálogos com pacientes, mostra também um pouco de si. E isto torna-se particularmente interessante quando se fala de convicções pessoais, sendo aqui especialmente relevante a questão da crença. Nas conversas com os seus pacientes, e também quando se dirige ao leitor, o autor assume com toda a clareza as suas posições sobre a fé, mas também a forma como lida com as crenças dos pacientes. E isto é interessante porque, assente na crença de uma vida finita ou numa possível existência após a morte, é a forma como se lida com o medo o que realmente importa. E esta é apenas uma ideia a destacar-se entre o muito de interessante que este livro tem.
Trata-se, portanto, de um livro para pensar, de uma viagem a um medo incontornável e sobre o qual, através do exemplo, das ideias e das emoções, o autor lança uma nova luz. Muitíssimo interessante no conteúdo, e muitíssimo cativante na escrita, eis, pois, um livro que não posso deixar de recomendar.

Autor: Irvin D. Yalom
Origem: Recebido para crítica