quinta-feira, 31 de março de 2011

Oscar Wilde e os Crimes do Vampiro (Gyles Brandreth)

Quando uma recepção organizada pelos duques de Albermale e que conta com a presença das mais relevantes figuras da sociedade acaba numa misteriosa morte, o príncipe de Gales pede a Oscar Wilde e ao seu amigo Arthur Conan Doyle que investiguem. A informação oficial é que a duquesa terá morrido de ataque cardíaco, mas isso não explica os pequenos e profundos ferimentos na garganta da morta. E há um estranho indivíduo que, em busca de protagonismo ou algo mais, afirma ser um vampiro... Será ele o assassino? Ou talvez o médico demasiado interessado na doença da duquesa? Ou outro qualquer indivíduo?
Um dos aspectos mais cativantes é a multiplicidade de pontos de vista que o autor cruza na construção do enredo. Entre cartas, telegramas, notícias de jornal e excertos de diários, o autor dá voz aos diferentes intervenientes para criar um rumo de investigação que, condicionado pelas opiniões e pontos de vista de cada personagem, levanta as mais diversas possibilidades. E quando os principais intervenientes são figuras tão intrigantes como Arthur Conan Doyle, Bram Stoker e, claro, Oscar Wilde, há um outro elemento a dar interesse a esta multiplicidade de vozes: a caracterização de cada um em termos de personalidade e forma de agir.
Tendo em conta os muitos elementos que se vão interligando ao longo da narrativa, é curioso notar que o livro nunca se torna confuso, havendo até uma certa simplicidade na forma directa e sem pormenores desnecessários com que o autor apresenta as circunstâncias. Por outro lado, e ainda que as partes contadas do ponto de vista de Rex LaSalle façam com que alguns dos enigmas se tornem algo previsíveis, essa forma directa de colocar as coisas, sem nada de demasiado rebuscado, apesar do tom enigmático com que Wilde conduz a investigação, levanta suspeitas secundárias, suspeitas estas que se tornam mais interessantes pela condicionante associada à realeza e sua necessidade de evitar escândalos.
Um livro cativante, com uma sequência de acontecimentos envolvente e intrigante e que, com as suas personagens invulgares, torna agradáveis de ler até os seus momentos mais previsíveis. Curiosa, divertida e estranhamente leve, uma boa leitura.

Convite

Novidade Porto Editora

Os vegetarianos e os nudistas. Os cães e os escritores vivos. Os telefones, o silicone e o socialismo. As raparigas demasiado magras. O Benfica. As mulheres infiéis. O cinema fantástico, os anos 80 e a bem-aventurança em geral. Joel Neto parece coleccionar inimigos ao mesmo ritmo a que vai escrevendo. E, no entanto, garante que tem coração – e que, no limite, até é capaz de comover-se. Neste volume reúnem-se as obsessões e os ódios, os delírios e os afectos daquele que é, hoje, um dos principais cronistas portugueses. Um livro que se lê como quem ouve um disco. A caminho de casa.
«Um casamento pode sobreviver a um homem infiel e pode sobreviver a uma mulher infiel também. Coisa diferente é o amor. Um homem pode ser
infiel à sua mulher e, no entanto, amá-la eterna e incondicionalmente. Uma mulher infiel já não ama o seu marido.»
«Para que serve um cão? Para que serve um bicho completamente estúpido, tantas vezes agressivo, que cheira mal, que ladra alto, que nos rouba duas horas por dia só por causa do cocó – e que, além de tudo, volta e meia está obstipado, fazendo-nos andar, não duas, mas quatro horas a subir e a descer a rua com um saquinho de plástico na mão?»
«Já não gosto de futebol. Deste futebol. O meu futebol é o futebol dos golos de bandeira e dos penáltis roubados, dos copos pela noite dentro e das zaragatas à segunda-feira de manhã. No meu futebol, vivem-se o ódio e o amor em doses iguais – e, quando alguém nos pergunta se é loucura o que isso é, nós erguemos bem alto o copo e citamos Goethe (não citamos nada) e bebemos a Bruno Paixão.»

Joel Neto nasceu em Angra do Heroísmo, em 1974. Publicou livros de ficção, de crónica e de reportagem, mas diz ver-se a si próprio sobretudo como um «escritor de jornais». Escreveu em quase todos os grandes jornais portugueses, ganhou vários prémios de reportagem e vem desenvolvendo há mais de vinte anos intensa actividade como cronista. O seu livro O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas (contos, 2002) foi adoptado como leitura obrigatória pela Universidade dos Açores. O volume anterior, O Terceiro Servo (romance, 2002) foi alvo de estudo na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, no Brasil. Esta é uma selecção das suas melhores crónicas, a maior parte delas publicadas na coluna Muito Bons Somos Nós, distribuída com os jornais Diário de Notícias e Jornal de Notícias.

quarta-feira, 30 de março de 2011

O Clube da Extinção (Jeffrey Moore)

Fugindo dos problemas (ou talvez de si próprio), Nile Nightingale dá por si a investigar uma velha igreja para venda quando um som estranho o afasta das suas explorações. O que encontra, contudo, é bem mais importante que quaisquer planos que tivesse e, ao decidir salvar a vida da rapariga gravemente ferida com que se depara, Nile colocar-se-á também numa posição delicada. Porque, naquele lugar remoto, são os interesses o que fala mais alto e não há lugar para inadaptados.
Há algo de perturbador na linha narrativa de todo este livro. Desde a situação em que Celeste foi abandonada a todas as circunstâncias relacionadas com a caça de animais selvagens (e, neste aspecto, há alguns detalhes particularmente macabros), passando por toda a história do passado de Nile, bem como pela estranheza que parece ser inevitável nos habitantes daquele lugar, é essencialmente entre apreensões, repulsa e perturbação que se movem as emoções associadas a este enredo. Há, por outro lado, todo um mundo interior escondido na relação entre Nile e Celeste: uma situação que começa por se constrangedora e até algo ameaçadora, mas que cresce progressivamente no sentido de uma confiança e de uma lealdade levadas até às últimas consequências.
São vários os elementos interessantes ao longo deste livro, ainda que fique a sensação de que alguns deles não tenham sido explorados em todo o seu potencial. Ao centrar-se na complicada relação de Nile com Celeste, e na sua necessidade de estabelecer um plano protector (para alguém que não deseja ser protegido), toda a situação em volta dos animais acaba por ficar para segundo plano e se há, de facto, detalhes mais que suficientes acerca do pior deste aspecto, fica, ainda assim, a vaga impressão de um assunto inacabado.
Não se trata de um livro de ritmo compulsivo. O autor demora-se na caracterização dos diferentes elementos e, mesmo naqueles que não conhecemos completamente (como os laços familiares de Nile), há muito que é dito sobre cada uma das questões abordadas neste livro. Ainda assim, há um crescendo de intensidade, impulsionado tanto pela mudança de voz narrativa (e aqui é interessante o contraste entre a necessidade redentora de Nile e a inocência devastada de Celeste) como pela força crescente da relação entre os protagonistas, uma relação com profundas insinuações de tragédia, com muito pouco de redentor nas personalidades de cada um deles e que culmina num final com muitas respostas... e uma grande questão em aberto.
Uma leitura interessante (ainda que algo exigente no que toca aos aspectos mais descritivos) e profundamente negra, onde o pior da natureza humana é amplamente explorado e a esperança é escassa... mas talvez seja, simplesmente, a possível.

Novidade Sextante

Praga, Primavera de 1942, Operação Antropóide: dois paraquedistas checoslovacos são encarregados de assassinar Reinhard Heydrich, o chefe dos Serviços Secretos nazis e da Gestapo, «o homem mais perigoso do Terceiro Reich». Heydrich era o braço-direito de Himmler e o chefe de Eichmann, e os nazis brincavam com o acrónimo HHhH: Himmlers Hirn heißt Heydrich, o cérebro de Himmler chama-se Heydrich.
Todos os personagens deste livro existiram ou existem ainda. Todos os factos relatados são autênticos. Mas por detrás dos preparativos do atentado, uma outra batalha tem lugar, a que a ficção romanesca trava com a verdade histórica. E é necessário levar a história até ao fim.

Laurent Binet tem 38 anos. Cumpriu o serviço militar na Eslováquia e viveu em Praga. É professor de língua francesa em Seine-Saint-Denis e encarregado de curso na universidade. Com HHhH venceu o Prémio Goncourt para 1.º romance.

Novidade Ésquilo

Vivências transformadoras que nos suscitam a reflexão sobre o verdadeiro sentido da vida e a grande pergunta: que “portas” abrirá a morte à nossa consciência? Uma coisa é certa: em termos científicos, já não se pode afirmar que a mente e a consciência dependem do cérebro e do corpo físico para permanecerem vivas e em pleno funcionamento.
É necessário que a morte deixe de ser um tema tabu. Esta obra fala da morte com a mesma naturalidade da vida: como um continuum que não causa qualquer aflição ou pavor. Margarida Rebelo Pinto, Adalberto Alves, Fernando Dacosta, Isabel Wolmar e Maya, são algumas das personalidades portuguesas que passaram por uma experiência de quase-morte (EQM). Em entrevista aos autores deste livro, contam aquilo que viram, o que sentiram, e até, por vezes, o desejo de ficar do lado de lá.
Relatos Verídicos - Experiências de Quase-Morte recolhe mais de duas dezenas de testemunhos de quem passou por este tipo de experiências e analisa, com rigor científico, a possibilidade de que a mente e a consciência existam independentemente do corpo físico, do cérebro. Esta análise científica foi coordenada pelo professor Manuel Domingos, presidente da Sociedade Portuguesa de Neuropsicologia, e teve o contributo do cardiologista holandês Pim van Lommel (cujo estudo sobre EQMs foi publicado na prestigiada revista de Medicina Lancet), para explicarem os pontos de vista e os limites da ciência, e darem a sua perspectiva, enquanto cientistas, sobre o fenómeno. De que forma a física quântica, os conceitos de Luz, de energia e de não-localidade podem ajudar a explicar as EQMs? O que vêem as pessoas que seja capaz de mudar para sempre a sua vida? Onde começa e onde termina o papel do cérebro? Estas e outras questões são respondidas em discurso indirecto e em entrevistas, numa linguagem simples, clara e acessível ao grande público.
A fechar o livro, um artigo do investigador Paulo Alexandre Loução vai às raízes históricas destas experiências e explora a sabedoria Antiga em relação ao tema da morte e da sua natural aceitação. Uma obra inédita que conjuga o lado humano, a ciência e a tradição de uma forma inovadora. Uma nova perspectiva de enfoque sobre o fenómeno natural a que chamamos morte.

“O nosso cérebro, é, na realidade, uma máquina fabulosa que consegue efectuar qualquer coisa como alguns muitos milhões de operações por segundo (…). Mas não tenhamos ilusões, (…) a essência do nosso ser não é apenas algo produzido por umas moléculas, por uns átomos.”
Manuel Domingos (Presidente da Sociedade Portuguesa de Neuropsicologia)

terça-feira, 29 de março de 2011

O Homem do Buick Azul (António Garcia Barreto)

O caso é o de um homem desaparecido. A cliente é Salete Dupront. Mas a sua história está muito mal contada. E Eneias Trindade, detective privado, terá não só de descobrir o paradeiro do homem que foi contratado para descobrir, mas também de desvendar os mistérios por detrás da sua estranha cliente. E dos interesses que a movem.
Parte história de detectives e parte retrato de época, este é um livro onde o mistério funciona principalmente como uma base para reconstruir um cenário bastante preciso do passado. E é com precisão e uma certa atenção ao pormenor que o autor apresenta o Portugal dos anos 30, tanto da perspectiva muito pessoal do seu protagonista como do ponto de vista dos que com ele interagem. Isto é particularmente evidente em Rosarinho que, ainda que escassamente presente ao longo do enredo principal, reflecte, na sua necessidade de se afastar, a visão de um país soturno e atrasado em comparação com outras metrópoles mundiais.
Quanto à investigação propriamente dita, há a referir as múltiplas surpresas de percurso. Que a história de Salete esconde muito mais que o que esta revelou ao contratar os serviços do detective é evidente desde muito cedo. Mas a teia de interesses por detrás deste seu acto, bem como as relações que vão sendo desvendadas por entre pistas erradas e métodos pouco ortodoxos é bastante mais complexa do que o início do livro deixaria antever.
Ainda de referir o lado pessoal associado ao facto de esta história ser contada na primeira pessoa. Ao acompanhar a investigação pela voz de Eneias Trindade, não são só os seus pensamentos associados ao caso que são dados a conhecer, mas também alguns aspectos da sua vida pessoal, particularmente no que toca a amizades e relações amorosas. Isto torna o detective numa figura mais humana e, portanto, mais próxima.
Uma leitura cativante, portanto, e onde as surpresas se sucedem para culminar num final que deixa a inevitável sensação de uma certa "justiça poética". O mais interessante, ainda assim, acaba por ser o retrato claro e preciso de uma época já algo distante... mas tão próxima em vários aspectos.

Novidade Planeta Júnior

Uma avó tão irrequieta que partiu uma perna a fazer esqui!
Uma amiga com o estranho nome de Galochas.
Uma irmã chanfrada.
Uma vizinha choramingona e um taxista apaixonado por ela.
Uma porteira que atrai as pulgas e um fantasma que resolve visitar a sua viúva.
Um primo que é tanso e uma namorada ucraniana que fala uma língua que nem ele entende.
Uma cabeça de esfregão ralado e uma tia Tábem.
Uns pais que arrulham como pombinhos e uma casa MESMO a deitar por fora onde a família não cabe mas não pára de entrar – Ufa! Não é nada fácil ser-se adolescente, chamar-se Maria Ana (não, não é Mariana, quantas vezes será preciso dizer?!) e sobretudo ter de observar os estranhos efeitos que o amor tem nas pessoas…

Alexandre Honrado, autor de referência da literatura infanto-juvenil, com vasta obra em Portugal e no estrangeiro, regressa ao convívio dos leitores com esta história. Um clássico da literatura juvenil em português que faz do humor a melhor arma para crescer num mundo cada vez mais parecido com um apartamento superlotado de emoções e problemas.

Novidade Porto Editora

O casamento de Cressida Forrest ia ser perfeito. Com o seu aspecto esbelto e inocente, Cressida daria a mais bela das noivas, e Oliver Bergin, um jovem médico em ascensão, o noivo ideal. Com tudo preparado para o seu dia de sonho, Cressida deitou-se serena e feliz. Mas, na manhã seguinte, tinha fugido – sem causa aparente e sem deixar rasto. E o pesadelo começou…
Chocadas, preocupadas e atónitas, as duas famílias enfrentam um longo e doloroso dia de revelações, à medida que uma complexa e frágil teia de segredos sexuais, conjugais e financeiros vão sendo conhecidos como consequência do desaparecimento de Cressida.
Por que razão abandonou ela tudo e todos? Para onde foi e o que teria a esconder? E se não era a pessoa perfeita que todos julgavam, então quem era verdadeiramente?

Penny Vincenzi é uma das mais populares e estimadas escritoras britânicas. Foi jornalista, colaborando em publicações como The Daily Mirror, The Times, Vogue e Cosmopolitan, entre outras, antes de iniciar uma carreira literária de sucesso – os seus livros já venderam em todo o mundo mais de quatro milhões de exemplares. O seu primeiro romance, Old Sins, foi publicado em 1989, tendo escrito depois muitos outros, dos quais se destacam Cruel Abandono e O Jogo do Acaso, já publicados pela Porto Editora.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Novidade Planeta

Jess, professora em Londres, é vítima de um ataque de que não consegue recordar-se. Tudo indica que o agressor é um homem que a conhece bem. Assombrada pelo medo e pela suspeita, Jess refugia-se na casa isolada da irmã, na fronteira do País de Gales. O silêncio que procura é, porém, interrompido pelo choro de uma misteriosa criança.
A casa, a floresta que a cerca e o vale mais abaixo transportam ecos de uma grande batalha, travada dois mil anos antes. Ali caiu Caratacus, liderando a resistência das tribos da Britânia aos invasores romanos. O rei foi capturado e levado para Roma como prisioneiro, juntamente com a mulher e com a filha, a princesa Eigon.
Sentindo-se impelida a investigar a história de Eigon, Jess segue os seus passos até à Roma de Cláudio e de Nero, onde a princesa assistiu ao grande incêndio, presenciou a perseguição movida aos cristãos e privou com o apóstolo Pedro. Aqui, talvez o mistério da extraordinária vida de Eigon se desvende, ou Jess se abandone progressivamente à sua obsessão, arriscando uma proximidade crescente com o seu. No limiar entre o sonho e a vigília, a loucura e a clarividência, duas mulheres separadas por dois mil anos de História partilham o mesmo segredo, nas encruzilhadas e labirintos de uma perseguição milenar.

Formada em História, Barbara Erskine é autora de nove romances que foram êxitos de vendas e que demonstram o seu interesse pelo passado e pelo sobrenatural. Publicou ainda três antologias de contos. O seu primeiro romance, Lady of Hay, já vendeu mais de dois milhões de exemplares no mundo inteiro. Os seus livros foram traduzidos em vinte e seis línguas. Barbara vive com a família numa antiga casa senhorial, perto de Colchester, passando uma parte do tempo numa casa de campo, perto de Hay-on-Wye.

Passion Play (Beth Bernobich)

Therez Zhalina é a filha de um importante comerciante, mas, aos olhos do seu pai, ela não passa de mais um objecto a negociar pelo preço adequado. Assim, quando Petr Zhalina anuncia que está em vias de assinar um acordo de casamento, sem o consentimento de Therez, esta não vê outra opção que não a de fugir. Mas o caminho para a liberdade nunca é fácil, e Therez encontrará dor, mágoa e vergonha na sua busca por um novo destino. E, por fim, encontrar-se-á entre a salvação e a intriga, e acabará por aprender que o amor nunca é fácil quando o mundo está rodeado de traições e conspirações.
É-me difícil explicar o quanto este livro significou para mim, já que, em muitos aspectos, me comoveu a um nível muito pessoal. Há alguns aspectos, ainda assim, que podem ser mencionados sem estragar o prazer desta fascinante leitura.
Primeiro, este é um livro que apresenta um mundo fascinante. Toda a abordagem à magia, com os seus múltiplos usos em diferentes locais e condições, bem como a relação entre vidas passadas e acontecimentos presentes, serve de base a um conceito deveras intrigante. Além disso, há a complexa relação entre a corte oficial do rei e a corte pessoal estabelecida por Kosenmark, com todos os seus espiões e mensageiros, traições e oscilações de lealdade. Tudo pode ser abalado por uma mudança brusca, e isto torna-se progressivamente mais claro com o evoluir do enredo.
É interessante reparar na forma como a história evolui de um conflito muito pessoal (Therez na sua luta pela liberdade) para uma crescente relação de confiança (a partir do aparecimento de Kosenmark) e, depois, para uma situação mais complexa, onde as acções e interesses de ambos se tornam influentes no futuro do reino. As potencialidades de todos estes elementos são vastas e bem exploradas, e a melhor parte em tudo isto é que é inevitável a sensação de que, com a continuação da série, estes aspectos ganharão ainda uma maior força.
Devo referir, ainda assim, que o que mais me marcou ao longo desta leitura foram as personalidades dos protagonistas, bem como a sua relação. Therez (ou Ilse) vive a mais dura das experiências, o que torna a sua confiança numa dádiva de grande valor quando ela a decide conceder. Quanto a Kosenmark… Kosenmark é fascinante em todos os seus aspectos. O passado turbulento e a sua natureza atormentada justificam tanto a sua ocasional arrogância como a necessidade de agir. E, ainda que tenha, de facto, as suas falhas, tem também consciência dessas fragilidades, e não recua ante a necessidade de um pedido de desculpas. A personalidade e as atitudes de Kosenmark são, pois, bastante diferentes das de Ilse, e é isso que torna a relação entre ambos tão especial. Porque não se trata do habitual “amor à primeira vista”, que contempla apenas o melhor de cada um, mas um gradual evoluir de sentimentos, uma força emotiva que vê tanto o melhor como o pior de ambos.
Ainda um último aspecto a referir. Há algo de particularmente intenso e comovente nos capítulos finais, não apenas pelo que é deixado por dizer ou pela curiosidade em saber o que virá a seguir, mas principalmente pelo nítido contraste entre sentimentos e lealdades. Entre uma vontade pessoal e aquilo que tem de ser feito.
Uma leitura maravilhosa, feita de intriga e tristeza, amor e emoção, morte, mas também esperança. Fica, sem dúvida, a vontade de ler mais desta autora.

Nota: Tive oportunidade de ler este livro graças à organização dos David Gemmell Legend Awards. Obrigada!

domingo, 27 de março de 2011

Flores de Outono (António Levi de Meireles)

Algo de simplicidade e muito de emotividade definem a grande maioria dos poemas que constituem este livro, onde os sentimentos são base para imagens ternas e sombrias, sentimentos de carinho e de solidão, evocações de amor e de vazio. E estes sentimentos parecem ganhar força ante a simplicidade estrutural dos poemas, do ritmo e da rima que, de uma forma suave e conhecida, dão voz a emoções intensas e profundas.
São sonetos muitos dos poemas que constituem este conjunto (ainda que não todos). E, sendo o soneto uma das minhas formas poéticas preferidas, será desnecessário dizer que foi entre estes que encontrei alguns dos que mais me agradaram nesta leitura. E isto principalmente pela força que vários deles contêm, pela intensidade com que uma imagem completa e marcante é projectada em tão poucos versos. Uma visão encerrada com chave de ouro, quer nos mais luminosos, quer nos mais tristes.
Trata-se de uma forma muito pessoal de poesia. Cada novo texto revela ao leitor um pouco mais sobre a alma e a natureza do sujeito poético. E talvez não seja a mais complexa das formas de poesia, já que as imagens são claras e as palavras dizem precisamente o necessário. Ainda assim, o sentimento está lá e há frases que comovem e imagens que fazem sorrir. E, no fundo, é aí que reside o melhor deste livro.

sábado, 26 de março de 2011

O Segredo de Afonso III (Maria Antonieta Costa)

Madragana ben Bekar é conhecida como sendo a concubina do rei, mãe de dois dos seus filhos. Mas talvez a verdade seja diferente e, quando Afonso III morre, balbuciando palavras sobre segredos e traições, é possível que a vida da moura esteja em risco. Entretanto, num tempo diferente, as investigações de Eunice Bacelar levam-na à descoberta inesperada da história de Madragana. Mas outros vêem no texto um segredo bem diferente e a sua vida pode estar ameaçada.
O Segredo de Afonso III é um livro que, ainda que a escrita se revele envolvente desde bem cedo, apenas aos poucos vai revelando as suas potencialidades. E, assim, numa fase inicial, o enredo parece decorrer a dois ritmos diferentes. Na história de Madragana, com todos os seus mistérios e intrigas, há algo de enigmático que desperta curiosidade praticamente desde o início. Já na história de Eunice, a fase inicial parece ser algo de invulgar, já que as revelações apenas mais tarde surgem e as relações que a investigadora estabelece parecem estabelecer-se, talvez, de forma um pouco precipitada.
Mas claro que isto tem uma razão de ser, ainda que apenas mais adiante na história esta seja revelada. E, a partir do momento em que também a história de Eunice se cruza com os segredos de Madragana, entrelaçando a já interessante intriga de corte com as temáticas da alquimia e do ocultismo, bem como com a questão da homossexualidade em pleno século XIII, a leitura torna-se, de facto, viciante, face à curiosidade de querer saber mais, tanto sobre as ameaças à vida de Madragana como sobre as descobertas de Eunice.
Ainda de referir uma certa simetria criada entre as histórias das duas mulheres, um elemento que, ainda que revele a sua força numa fase já muito avançada da narrativa, cria entre as duas linhas do enredo uma ligação mais forte, um toque de surpresa que confere ao final um maior impacto.
De intensidade crescente e ambiente misterioso, um livro interessante, que surpreende pela ligação a mistérios e intrigas mais vastos do que a fase inicial deixaria prever. Uma boa leitura.

sexta-feira, 25 de março de 2011

O Mago - Espinho de Prata (Raymond E. Feist)

Depois de uma longa viagem, é tempo de regressar. E as novas parecem ser de felicidade, já que Krondor floresce ante os preparativos para o casamento do príncipe Arutha. Mas a paz pode estar ameaçada. Um atentado contra a vida do príncipe é atempadamente impedido, mas os responsáveis não estão dispostos a parar. E quando a celebração do casamento se torna na morte iminente da princesa Anita, torna-se por demais evidente que o inimigo tem de ser descoberto. Tem de ser detido. E Arutha fará o que for necessário pela paz do reino e, principalmente, pela vida da sua amada.
O aspecto mais curioso deste livro é o tom quase descontraído da fase inicial, que evolui para um ambiente progressivamente mais sério e até sombrio à medida que as forças em conflito se revelam na sua dimensão. Mas este lado leve torna-se particularmente intrigante por estar associado a um protagonista que é, no seu estado normal, uma figura austera e quase soturna. Na verdade (e já o era nos dois volumes anteriores), Arutha é o meu incondicional favorito entre as personagens conhecidas deste vasto mundo, e é apresentado em toda a sua glória neste livro: na força dos seus valores, no seu lado mais pensativo e distante, na persistência inabalável perante o que tem de ser feito... e, acima de tudo, na dor e na necessidade de reagir perante essa dor.
Mas claro que nem só do príncipe vive esta história e é sempre um prazer reencontrar personagens que já se tornaram tão próximas e especiais. E também Jimmy se destaca neste livro, não só pelas mudanças operadas sobre a sua vida, mas pelo influxo de leveza que são, muitas vezes as suas intervenções. E ao reencontrar Jimmy, Martin, Lyam e, claro, Pug, encontramos também personalidades marcantes, aventuras e mistérios, tensões dolorosas, momentos de um humor delicioso e circunstâncias de grande emoção.
Contrariamente ao sucedido no final de O Mago - Mestre, aqui ficam muitíssimas perguntas sem resposta. Se as circunstâncias em redor do envenenamento de Anita encontram, de facto, o seu final, também é verdade que os verdadeiros poderes em marcha ao longo deste livro apenas começam a ser desvendados. E é, por isso, grande a curiosidade em saber que respostas se encontrarão para este enigma em A Darkness at Sethanon.
Uma última referência para o excelente trabalho de tradução de Cristina Correia. Num mundo onde os detalhes são muitos e, portanto, as descrições são de grande relevância, uma tradução bem feita é um factor crucial para preservar a envolvência do enredo.
De ritmo envolvente e com a medida certa de contraste entre leveza e solenidade, um livro feito de acontecimentos intensos e personagens marcantes. Cativante da primeira à última página.

Novidade Porto Editora

Um romance que nos dá um retrato impiedoso da utopia mais importante do século XXI.
Em 2004, com a morte da mulher, Iván, um aspirante a escritor, relembra um episódio que lhe aconteceu em 1977, quando conheceu um homem enigmático que passeava pela praia acompanhado de dois galgos russos. Após vários encontros, «o homem que gostava de cães» começou a confidenciar-lhe relatos singulares sobre o assassino de Trótski, Ramón Mercader, de quem conhecia pormenores muito íntimos. Graças a essas confidências, Iván irá reconstituir a trajetória de Liev Davídovitch Bronstein, mais conhecido por Trótski, e de Ramón Mercader, e de como se tornaram em vítima e verdugo de um dos crimes mais reveladores do séc. XX.
Através de uma escrita poderosa sobre duas testemunhas ambíguas e convincentes, Leonardo Padura traça um retrato histórico das consequências da mentira ideológica e do seu poder destrutivo sobre a utopia mais importante do século XX.

Leonardo Padura nasceu em Havana, em 1955. Licenciado em Filologia, trabalhou como guionista, jornalista e crítico, tornando-se sobretudo conhecido pela série de romances policiais protagonizados pelo detetive Mario Conde, traduzidos para inúmeras línguas e vencedores de prestigiosos prémios literários, como o Prémio Café Gijón 1995, o Prémio Hammett em 1997, 1998 e 2005, o Prémio do Livro Insular 2000, em França, ou o Brigada 21 para o melhor romance do ano, além de vários prémios da crítica em Cuba e do Prémio Nacional de Romance em 1993.

Os Contos Completos de Ambrose Bierce - quarta parte

Dando continuidade, ainda mais uma vez, a esta longa opinião, passo para o conto A Falsa Reputação, uma curiosa visão acerca das potencialidades de um rumor mal-intencionado, exploradas de uma forma breve, mas deveras intrigante. Ao qual se segue Um Tipo de Oficial, novamente uma história de guerra, desta vez centrada na inviolabilidade das ordens. Um conto interessante, que tem no final de impacto o seu principal ponto forte.
O Rastro de Charles Ashmore, breve história de um desaparecimento, surge como uma ideia interessante, mas que deixa bastante por explicar. E, também breve, mas marcado por um certo impacto e ambiente cativante, Presente num Enforcamento fala de uma aparição relacionada com uma morte misteriosa.
Obsessão pelo ouro, ligações invulgares e a profanação de um túmulo são os elementos na base de Uma Mulher Endiabrada, um conto bastante descritivo, mas de grande intensidade nos momentos de maior relevância.
Segue-se Uma Aventura em Brownville, a história de como uma paragem no caminho de um professor lhe proporciona uma visão inesperada. Misterioso, de ambiente sombrio e bastante surpreendente, um conto intrigante, também pelo que é deixado à imaginação do leitor.
O Salto Mortal de Mr. Swiddler apresenta o percurso de uma dura viagem para impedir uma execução. Intenso e com um final impressionante, um conto que deixa a sua marca. E, também surpreendente com o seu final inesperado, Mr. Mastead, Jornalista, uma curiosa história de jornalismo duvidoso, cativa pelo tom intrigante de toda a narrativa.
História de roubo e de morte motivada por algo tão simples como uma caixa de música, Uma Conflagração Imperfeita é um conto que, apesar da simplicidade talvez excessiva de alguns momentos, proporciona uma leitura envolvente e intrigante. O mesmo se aplica a Uma Identidade Reassumida, um difícil regresso à consciência e à memória de uma vida breve, numa interessante visão de recordações para além da morte, vistas pela mente do próprio morto.
A Falência de Hope & Wandel traz a história de um investimento mirabolante e suas consequentes desventuras, numa troca de correspondência breve, mas improvável e divertida. Já Um Diagnóstico de Morte adquire um tom mais sério, na história envolvente, intrigante e particularmente marcante na forma de expor a situação de uma aparição muito especial.
Mais um conto breve, mas com uma base interessante, Uma Emboscada Frustrada liga de forma intrigante uma cilada e uma visão.
Segue-se uma outra história de jornalismo duvidoso. Subornando a Imprensa é particularmente interessante pelo seu tom estranhamente divertido, apesar do final um pouco abrupto. Ainda outro breve relato, este de uma fuga e captura. Uma Detenção não é um conto muito desenvolvido, mas marca pela intensidade e pela surpresa final.
Um Filho dos Deuses apresenta a história de um herói em tempos de guerra, num conto que, apesar de bastante descritivo, ganha intensidade na expressiva admiração que se reflecte no tom do narrador. O Porquê de Não Estar a Editar o The Stinger, por sua vez, reúne um estranho, um jornal e uma confusa comunicação por bilhetes num conto peculiar, mas estranhamente interessante no seu cenário improvável.
E termino esta parte com O Segredo de Macarger's Gulch, onde um caçador num ambiente estranho encontra uma visão demasiado real. Pausado e misterioso, um conto envolvente.

A parte final desta opinião fica ainda para um futuro post.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Eu Mato (Giorgio Faletti)

Monte Carlo. O que parece ser apenas uma chamada de alguém perturbado para um programa de rádio de grande visibilidade revela-se como algo de bastante mais complexo. Há um louco à solta, alguém capaz de cometer múltiplos homicídios sem cometer o mais pequeno deslize. As pistas estão na música que o estranho deixa durante as suas chamadas. O seu percurso é pouco menos que imprevisível. E, para Frank Ottobre, agente do FBI com um passado sombrio, o caso que não desejava investigar tornar-se-á também um percurso de recuperação das suas próprias capacidades.
Eu Mato é um daqueles livros que, ainda que revele desde muito cedo a vastidão do seu potencial, não é propriamente de leitura compulsiva. Isto deve-se em grande parte às múltiplas ligações e mistérios que vão sendo interligados para criar um enredo de grande complexidade. A história de Frank e do seu passado, os momentos dedicados a cada vítima, os atritos e interesses políticos na hierarquia dos agentes da autoridade e até mesmo o aparecimento de uma figura vingativa que é tudo menos inocente vão sendo explorados num ritmo pausado, estabelecendo aos poucos ligações cuja importância só se torna clara com o desenrolar dos acontecimentos.
Em termos de personagens marcantes, o destaque está, como não podia deixar de ser, em Frank, com as sombras de um passado que, ainda que pudesse ter sido mais aprofundado, estabelece elos de profunda empatia, em Hulot, com a sua persistência e amizade dedicadas, apesar dos seus problemas pessoais, e, claro, no assassino, cuja verdadeira natureza se revela de uma complexidade impressionante. Mas também nos elementos mais secundários é possível encontrar aspectos fortes, sendo de referir, em especial, a história de Pierrot com a sua quase angustiante inocência.
Um livro que começa com um ritmo bastante lento, mas que, há medida que as múltiplas ligações se tornam mais evidentes, cresce em intensidade, mistério e também em força emotiva. Algo demorado em pormenores e aspectos secundários, é, ainda assim, uma leitura surpreendente e com momentos de grande impacto. Vale a pena ler.

Novidades BIS

É semana santa em Sevilha. Um empresário de renome é encontrado atado, amordaçado e morto em frente do seu televisor. As feridas auto-infligidas deixam perceber a luta que travou para evitar o horror das imagens que foi forçado a ver. Quando confrontado com esta macabra cena, o habitualmente desapaixonado detective de homicídios Javier Fálcon sente um medo inexplicável.

Sobre o autor: Robert Wilson nasceu em 1957. Doutorado pela Universidade de Oxford, trabalhou em navegação, publicidade e comércio em África, e viveu na Grécia e na África Ocidental. Divide o seu tempo entre Inglaterra (Oxford) e Portugal, sendo proprietário de uma pequena quinta no Alentejo.
É autor de 10 romances de sucesso, entre eles, para além do presente livro, os seguintes: A Companhia de Estranhos (2009); As Mãos Desaparecidas (2004); Assassinos Escondidos (2007); A Ignorância do Sangue (2009), obras que revelaram e celebrizaram o inspector jefe Javier Fálcon.

Em 147 a.C., alguns milhares de guerreiros lusitanos encontram-se cercados pelas tropas do pretor Caio Vetílio. Em princípio, trata-se apenas de mais um episódio da guerra que a República Romana trava há longos anos para se apoderar da Península Ibérica. Mas os Lusitanos, acossados pelo inimigo, elegem um dos seus e entregam-lhe o comando supremo. Esse homem, que durante sete anos vai ser o pesadelo de Roma, chama-se Viriato. Entre 147 e 139, ano em que foi assassinado, Viriato derrotou sucessivos exércitos romanos, levou à revolta grande parte dos povos ibéricos e foi o responsável pelo início da célebre Guerra de Numância.
Viriato foi um verdadeiro génio militar, político e diplomático. Mas, sobretudo, foi o defensor de um mundo que morria asfixiado pelo poderio romano: o mundo em que mergulham as raízes mais profundas de Portugal e de Espanha. É esse mundo, já então em declínio, que este livro tenta evocar.

Sobre o autor: João Aguiar (1943-2010). Licenciado em Jornalismo pela Universidade Livre de Bruxelas, iniciou a sua carreira literária em 1984, com a publicação deste A Voz dos Deuses, um dos seus romances mais emblemáticos.
Da sua obra fazem parte quinze romances, o livro de contos O Canto dos Fantasmas e a série juvenil O Bando dos Quatro, todos publicados na ASA.
Parte da sua obra está publicada em Espanha, Itália, Alemanha e Bulgária.

“Mario Jiménez, jovem pescador, decide abandonar o seu ofício para se converter em carteiro da Ilha Negra, onde a única pessoa que recebe e enviar correspondência é o poeta Pablo Neruda. Mario admira Neruda e espera pacientemente que algum dia o poeta lhe dedique um livro ou aconteça algo mais do que uma brevíssima troca de palavras ou o gesto ritual da gorjeta.
O seu desejo ver-se-á finalmente realizado e entre os dois vai estabelecer-se uma relação muito peculiar. No entanto, a conturbada atmosfera que se vive no Chile daquela época precipitará um dramático desenlace…”

Sobre o autor: Antonio Skármeta nasceu em Antofagasta (Chile). Viveu largas temporadas em vários países, foi embaixador do Chile na Alemanha e vive hoje no Chile, onde se dedica exclusivamente à sua actividade de escritor. Tem os seus romances traduzidos em trinta e cinco línguas. Recebeu alguns dos mais prestigiados prémio internacionais. O romance O Carteiro de Pablo Neruda é já uma lenda mundial: são incontáveis as edições deste livro quase no mundo inteiro, e o filme dirigido por Michael Radford foi nomeado para cinco Óscares. Antonio Skármeta foi distinguido pelo Governo de França como Cavaleiro das Artes e das Letras e pelo de Itália como Comendador das Artes. Em Portugal, O Carteiro de Pablo Neruda foi considerado pelo Diário de Notícias como o melhor livro de autor estrangeiro de 1996.”

“Desgraça é muito mais do que um relato social: é um relato de sobrevivência pessoal numa sociedade decadente. Passado na África do Sul pós-apartheid, este romance sincero e despudorado centra-se em David Lurie, professor universitário na Cidade do Cabo, de meia-idade, divorciado, que divide o seu tempo entre o desânimo das aulas e as satisfações momentâneas que encontra numa prostituta. Quando este o deixa de atender, David desvia as atenções para uma jovem aluna, começando uma aventura sexual que, quando tornada pública, o leva ao despedimento e à humilhação."

Sobre o autor: J.M. Coetzee nasceu em 1940 na Cidade do Cabo e estudou na África do Sul e nos Estados Unidos. As suas obras compreendem onze romances, bem como memórias, traduções e críticas literárias. Residindo na Austrália desde 2002, foi em 2003 galardoado com o Prémio Nobel de Literatura.
As Publicações Dom Quixote editaram em Portugal os seus livros No Coração Desta Terra, À Espera dos Bárbaros, (James Tait Black Memorial Prize, 1982), A Vida e o Tempo de Michael K. (Booker Prize, 1983), A Ilha, A Idade do Ferro, O Mestre de Petersburgo, Desgraça (Booker Prize, 1999), Elizabeth Costello, O Homem Lento, Diário de Um Mau Ano e Verão.

Novidade Porto Editora

Será que Jesus foi mesmo crucificado? Terá tudo acontecido como a Bíblia descreve?
Na noite da sua eleição para o Trono de São Pedro, o Papa Bento XVI, como todos os seus antecessores, tem de ler um documento antigo que esconde o segredo mais bem guardado da História – a Mentira Sagrada.
Em Londres, um Evangelho misterioso na posse de um milionário israelita contém informações sobre esse segredo. Se cair nas mãos erradas pode revelar ao mundo uma verdade chocante.
Rafael, um agente do Vaticano, é enviado para investigar o Evangelho… e descobre algo que pode abalar não só a sua fé mas também os pilares da Igreja Católica.
Que segredos guardará o Papa? E que verdade esconde o misterioso Evangelho?

Luís Miguel Rocha nasceu na cidade do Porto em 1976, onde mora actualmente, depois de passar dois anos em Londres.
Foi repórter de imagem, tradutor e guionista; hoje em dia dedica-se em exclusivo à escrita. A Mentira Sagrada é o seu quinto livro, depois de Um País Encantado (2005), O Último Papa (2006), Bala Santa (2007) e A Virgem (2009).
As suas obras estão publicadas em mais de 30 países e foi o primeiro autor português a entrar para o top do New York Times. O Último Papa, best-seller internacional, vendeu mais de meio milhão de exemplares em todo o mundo.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Novidades Casa das Letras para Abril

Raposas de Fogo
Joyce Carol Oates
Ficção Literária

América, anos 50. As famílias começam a dissolver-se e surgem gangues de adolescen­tes. Os membros das Raposas de Fogo, um gan­gue feminino liderado pela carismática «Legs» Sadovsky, têm entre treze e dezasseis anos,
defendem os fracos e os pobres, e visam con­quistar os direitos que lhes são negados por uma sociedade hipócrita. Possuem armas e, acima de tudo, um segredo que nunca pode­rão contar, porque isso significaria o fim do seu desejo de justiça.
Raposas de Fogo, a história secreta de uma irmandade de sangue marcada por uma fúria libertadora que arde com demasiada força para poder durar, é o ro­mance mais forte e mais impiedoso até agora escrito por Joyce Carol Oates.

Generosidade
Richard Powers
Ficção Literária

Quando Russell Stone, um autor frustrado de não ficção, se encontra a leccionar a cadeira de Escrita Criativa, conhece uma jovem argelina com uma presença perturbadoramente lumino­sa. A exuberância feliz de Thassadit Amzwar atrai e intriga Russell. Como pode irradiar tanta felicidade aquela refugiada do terror perpétuo?
Único, contagiante e mágico, Generosidade cele­bra simultaneamente a ciência e a imaginação libertada.
No seu livro mais exuberante até ao momento, Richard Powers pede-nos para con­siderar as grandes questões que a humanidade enfrenta, enquanto começamos a reescrever a nossa própria existência.

Contagem Decrescente
Ken Follett
Thriller

1958: a Guerra Fria está no auge, os Soviéticos ultrapassam os Americanos nos primeiros passos da corrida para a conquista do espaço. Claude Lucas acorda, uma manhã, na Union State de Washington. Vestido com roupas de vagabundo, está afectado por uma amnésia que o impede de se recordar, entre outras coisas, do seu estatuto profissional. Acontece que ele é uma personagem central do próximo lançamento do Explorer I, um foguetão do exército dos EUA. Anthony Carroll, agente da CIA e velho amigo de Lucas, anda a seguir o caso. E convém-lhe que a amnésia não passe tão depressa…

A Pior das Guerras
D.J. Goldhagen
História

Da Europa ao sul de África, da Guatemala à Indonésia, do Camboja ao Darfur, o genocídio tem sido mais mortífero que a própria guerra, sendo utilizado pelos seus perpetradores como estratégia política deliberada para acabar com milhões e milhões de vidas humanas.
Daniel Jonah Goldhagen põe em causa aquilo que julgamos saber sobre o genocídio, começando por questionar como o deveríamos definir: como apenas uma parte de um problema maior chamado «eliminacionismo».

No Rasto dos Desaparecidos
Susannah Charleson
Memórias

Depois do atentado na cidade de Oklahoma, Susannah Charleson recortou uma fotografia do jornal: um tratador de cães exausto, com a cara enterrada no pêlo da sua cadela de busca e salvamento. Susannah, que adorava cães e tinha experiência de buscas enquanto piloto de aviões, ficou tão comovida com esta imagem que decidiu trabalhar como voluntá­ria numa equipa cinotécnica local e depres­sa ficou a conhecer pessoalmente as longas horas de trabalho, o pagamento inexistente e os resultados, muitas vezes angustiantes, que obtinham.
No Rasto dos Desaparecidos é a história das aventuras de Susannah e Puzzle e da rela­ção forte que se estabeleceu entre ambas enquanto procuram os que se perderam — um adolescente desaparecido, uma doente com Alzheimer que vagueia perdida, no frio, vestígios da tripulação entre os destroços do vaivém espacial Columbia.

A Noite de Todas as Almas
Deborah Harkness
Ficção Fantasia

Num final de tarde de Setembro, quando a fa­mosa historiadora de Yale, Diana Bishop, abre casualmente um misterioso manuscrito medieval alquímico há muito desaparecido, o submundo mágico de Oxford desperta. Vampiros, bruxas e demónios farão tudo para possuir o manuscrito que se crê conter poderes desconhecidos e pis­tas misteriosas sobre o passado e o futuro dos humanos e do mundo fantástico.
Uma história arrebatadora que mistura História, magia, aventura e romance. Para os leitores de
Dan Brown, J.K. Rowling, Stephenie Meyer e Elizabeth Kostova.

terça-feira, 22 de março de 2011

Novidades Clube do Autor

Da alimentação à sexualidade, da higiene e do corpo até ao lufa-lufa da vida e os pontos de interrogação quotidianos, Consultório Médico é um guia bastante completo sobre muitas das dúvidas que, apesar de tanta informação, continuam por esclarecer. E a verdade é que mais informação não significa necessariamente melhor informação.
Como diz o autor, «é fácil, hoje, “clicarmos” e acedermos a sítios na internet.» Mas, por onde começar? Que critérios usar para seleccionar? Como escolher? Que fundamento têm muitas das ideias difundidas?
Ao longo das quase 400 páginas de Consultório Médico, Mário Cordeiro desfaz mitos, abala crenças, afasta mentiras, aponta as verdades com rigor. Muitas dessas crenças foram reproduzidas exaustivamente pela tradição popular ao ponto de se transformarem em verdades absolutas. E afinal, é ou não verdade que a laranja de manhã é ouro, à tarde prata e à noite mata? E a vacina da gripe, confirma-se que causa gripe?
Numa linguagem simples e acessível, o autor desmistifica muitas das lendas que mais não são do que um legado que foi passando de geração em geração. Sem entrar em grandes explicações científicas, Mário Cordeiro procurar informar o leitor acerca da origem de determinada ideia mas, sobretudo, dá dicas e sugere comportamentos que podem contribuir para uma melhoria efectiva da qualidade de vida do leitor. Palavra de Médico.

O reconhecimento unânime com que o público e a crítica receberam os primeiros livros de David Baldacci não lhe deixaram margem para dúvidas e hoje este advogado de formação dedica-se apenas à escrita. Presença assídua nos Top de Vendas das principais livrarias do mundo inteiro e #1 do New York Times sempre que lança um novo romance, o autor de Camel Club «é um mestre do thriller», diz o Daily Express.
Fascinado pelos temas da política internacional, da espionagem, do terrorismo e da natureza humana, David Baldacci apresenta no seu mais recente livro, A Conspiração do Silêncio, uma intriga apaixonante e verosímil a confirmar, uma vez mais, o seu enorme talento para a escrita e o seu nome como um dos mais marcantes no panorama do thriller actual.
No livro, Evan Waller é um criminoso sem escrúpulos. Às ordens de Estaline, esteve envolvido na tragédia conhecida por Holodomor, que custou a vida a quase 10 milhões de ucranianos.
Mais tarde, fugiu do seu país e, sob nova identidade, construiu um império graças à sua arte em comprar e vender qualquer coisa – e qualquer pessoa.
Agora, Waller aumenta a parada e coloca em risco milhões de vidas por todo o mundo ao negociar armas nucleares com terroristas islâmicos. As suas movimentações levam o misterioso agente Shaw a seguir no seu encalço, apostado em impedir o perigoso negócio de Waller, ainda que a sua única hipótese para derrotar o criminoso surja no mais improvável dos lugares: uma aldeia bucólica da Provença onde, de resto, Shaw se vai aproximar perigosamente de Reggie Campion, uma mulher determinada que pertence a um grupo secreto de vigilantes. Shaw e Reggie encontram-se atrás do mesmo homem, mas sem saberem da existência um do outro. Já na Provença, na tranquila localidade de Gordes, os dois agentes acabam por se aproximar demasiado, colocando em risco a respectiva missão…

Convite

Novidade Porto Editora

Ela tinha uma vida, um marido, um lar. O que a fez abandonar o seu mundo?
Edith Lutz, Agnes Morales, ou Agnes McBride… da Escócia, de Nova Iorque, da América do Sul, ou de Londres… mulher de um académico, dactilógrafa, recepcionista, ou governanta… passou grande parte da vida a reinventar-se num esforço para evitar o passado.
Com uma nova identidade e uma nova imagem, Edith aceita um emprego como governanta na casa do editor de sucesso Adam Davenport, recém-divorciado e pai de dois filhos adolescentes, com o intuito de levar uma vida despercebida. Porém, contra todas as expectativas, a relação com Adam torna-se algo mais íntimo, e ela ousa sonhar com um futuro tranquilo.
Mas o passado de Edith está no seu encalço e poderá bater-lhe à porta a qualquer momento…
Em Uma Mulher em Fuga, seu primeiro romance, Marion McGilvary envolve-nos numa história de amor que é também uma história de traição – e de segredos fechados a sete chaves.

Marion McGilvary estudou Árabe na Universidade de Westminster eDesign Gráfico e Ilustração no Camberwell College of Arts.
Colaborou com a Vogue, com o The London Financial Times – tendo sido nomeada para o prestigiado Glenfiddich Food & Drink Award na categoria de Restaurant Critic of the Year -, com o The Observer, e escreve agora regularmente para o The Times.
É autora de três livros de não ficção (Things Your Mother Never Told You, Seduce me! e Aphrodisiac), sendo Uma Mulher em Fuga o seu primeiro romance.

Novidades Dom Quixote para Abril

Liberdade
Jonathan Franzen
Ficção Universal

No seu primeiro romance depois de Correcções, Jonathan Franzen dá-nos um épico contemporâneo do amor e do casamento.
Liberdade capta, cómica e tragicamente, as tentações e os fardos da liberdade: a excitação da luxúria adolescente, os compromissos abalados da meia-idade, as vagas da expansão suburbana, o enorme peso do império. Ao seguir os erros e alegrias dos personagens de Liberdade, enquanto lutam para aprender a viver num mundo cada vez mais confuso, Franzen produziu um retrato inesquecível e profundamente comovente dos nossos tempos.

Nas livrarias a 25 de Abril

Os Buddenbrook
Thomas Mann
Ficção Universal

Em Os Buddenbrook, o primeiro romance de Thomas Mann, o autor descreve a ascensão e a decadência de uma família burguesa alemã através de quatro gerações. Mais do que uma crónica em torno da vida e costumes dos seus personagens, este romance é um paradigma das contradições e dilemas de uma classe cujo poder e domínio se constroem sobre a fraude, a hipocrisia e a alienação.

Nas livrarias a 11 de Abril

Quarto Livro de Crónicas
António Lobo Antunes
Autores Língua Portuguesa

Neste quarto volume estão reunidas 79 das crónicas que o autor regularmente publica na revista Visão. Ao longo destes textos, António Lobo Antunes evoca lugares, personagens, relatos do quotidiano e memórias de infância.

Nas livrarias a 11 de Abril

Lisboa. Um Melodrama
Leopoldo Brizuela
Ficção Universal

17 de Novembro de 1942. Lisboa. Portugal. Numa única e interminável noite, enquanto refugiados de toda a Europa esperam a partida do navio Boa Esperança para se porem a salvo dos nazis, a gesta do Cônsul argentino é o crivo em que se entrecuzam, como num folhetim, as “histórias mais secretas” de um período sem par na História.
Pode uma longa e intensa noite marcar e mudar irreversivelmente a história de um conflito? Podem a fadista Amália, o casal Tânia e Enrique Santos Discépolo, o Cônsul argentino, o misterioso Ricardo De Sanctis que assegura ser banqueiro e «refugiado pessoal» do Patriarca de Lisboa, ser personagens principais do momento em que tudo parece mudar?

Nas livrarias a 30 de Abril

O Violino de Auschwitz
Maria Angels Anglada
Ficção Universal

É Dezembro de 1991 e, num concerto de homenagem a Mozart em Cracóvia, a primeiro violinista impressiona o seu colega de trio com um instrumento rústico e humilde. No dia seguinte, quando ele lhe pergunta como é que ela o obteve, uma notável história se revela: A da vida de Daniel, um luthier, que sobreviveu passando por grandes dificuldades em Auschwitz, como carpinteiro e trabalhando às tardes na fábrica IG Farben.

Nas livrarias a 18 de Abril
Rabos de Lagartixa
Juan Marsé
Ficção Universal

Numa linguagem objectiva e translúcida, que contrasta com uma profunda carga emotiva e moral, Rabos de Lagartixa revela uma estrutura narrativa tão hábil quanto imaginativa, e mostra como são frágeis e ambíguos os limites entre a realidade e a ficção, a verdade e a mentira, o bem e o mal, o amor e a indiferença. Com esta obra, que obteve o Prémio Nacional da Crítica 2000 e o Prémio Nacional de Narrativa 2001, em Espanha, Juan Marsé reafirma-se como um dos mais importantes escritores, não só da literatura espanhola como da contemporaneidade europeia.

Nas livrarias a 11 de Abril

Teia de Cinzas
Camilla Läckberg
Ficção Universal

Outono em Fjällbacka. Um pescador que acabou de recolher os covos de lagosta que lançara ao mar está em estado de choque. No deck do barco jaz agora à sua frente o corpo inerte de uma menina. Depois de A Princesa de Gelo e Gritos do Passado, Camilla Läckberg volta, neste terceiro volume, a demonstrar toda a mestria com que nos prende da primeira à última página. Uma teia de mistério e intriga que justifica o sucesso de uma das autoras mais lidas na Europa.

Nas livrarias a 18 de Abril
Menos por Menos – Poemas Escolhidos
Pedro Mexia
Poesia

Nesta antologia pessoal, Pedro Mexia oferece-nos uma selecção de poemas retirados dos seus seis livros de poesia escritos entre 1999 e 2007.
Cem poemas que reúnem o que de melhor existe na obra de um dos mais conceituados autores da nova geração da poesia portuguesa contemporânea.

Nas livrarias a 11 de Abril

segunda-feira, 21 de março de 2011

Mary Reilly (Valerie Martin)

Um cavalheiro reservado, mas atento e bondoso. É esta a visão que Mary tem do seu amo, um médico fervorosamente dedicado ao trabalho que realiza no seu laboratório e cuja verdadeira natureza ninguém conhece completamente. Mas há algo de sombrio e de misterioso em Harry Jeckyll e, à medida que a relação de confiança entre este e Mary se torna bem mais profunda que a normalmente estabelecida entre senhor e criada, Mary pressente no seu Amo algo de obscuro e de tormentoso, pressentimento este que se agravará com a admissão de um novo assistente, do estranho e perturbador Edward Hyde.
É por demais conhecida a estranha história do Dr. Jeckyll e do Sr. Hyde. Mas este livro apresenta-a de uma perspectiva bastante diferente, vista pelos olhos de uma criada particularmente dedicada ao seu senhor. E, apesar do ambiente sombrio, da presença quase palpável do impossível e do monstruoso, não é na explicação dos processos de transformação ou nas monstruosidades associadas a Hyde que a autora se demora. É, sim, na dualidade entre bem e mal, bem como na ténue linha que separa estes dois conceitos na massa de um mesmo indivíduo, quando vistos pelo olhar de alguém que, mesmo não compreendendo por completo a situação que a envolve, se torna, pela sua devoção inabalável, a mais próxima e confiável de entre todos os intervenientes.
É na intensidade com que a autora dá voz a Mary, por vezes com uma inocência enternecedora, por vezes com toda a violência do medo, que se revela a grande força deste livro, já que, ao mesmo tempo que, pela sua visão do mundo, Mary é caracterizada como uma figura simultaneamente forte, dedicada e meiga, também a sua visão de Jeckyll o apresenta como uma figura fascinante na sua serena bondade, e tanto mais impressionante pelo contraste com a quase irracional malevolência de Hyde.
Com uma história intensa e envolvente, personagens cativantes e de impressionante força empática e um final de profunda beleza, um livro marcante e que reflecte, no melhor e no pior, a vasta complexidade da natureza humana. Afinal, de médico e de louco, todos temos um pouco.

domingo, 20 de março de 2011

A Odisseia de Homer (Gwen Cooper)

Quando a veterinária lhe ligou a contar a história de um gatinho cego que ninguém queria adoptar, Gwen não estava propriamente a pensar em levar para casa um terceiro gato. Ainda assim, a história de Homer abalara-a de tal forma que não se sentia confortável com uma recusa directa, pelo que se decidiu a conhecer o gatinho. E, desde o primeiro momento em que o viu, Gwen soube que, apesar de todas as dificuldades, não podia deixar que aquela criatura pequenina e tão estranhamente confiante ficasse sem um dono. E assim começou a sua história.
Qualquer pessoa que esteja habituada a lidar com gatos ou que tenha conhecimento de histórias com eles relacionadas, encontrará neste livro muitos pontos em comum a tantas outras histórias de felinos. E, ainda assim, não deixa de ser impressionante a história deste gato, tão frágil nalguns aspectos, mas tão activo e tão forte noutros. Um gato cego, com as dificuldades associadas à sua condição, mas também um animal terno e capaz de viver em relativa normalidade.
Há pontos de particular intensidade nesta história, nomeadamente nos capítulos dedicados ao 11 de Setembro. Em evidente contraste com as pequenas tragédias da vida quotidiana descritas nos primeiros capítulos, a intensidade quase dolorosa com que a autora descreve as suas vivências da situação transmite toda uma visão pessoal de como toda uma vida pode ser abalada em poucos minutos.
Se a leitura deste livro é, de forma geral, bastante envolvente, com os momentos divertidos associados às aventuras e desventuras de Homer, bem como com as circunstâncias mais emotivas, há, por outro lado, alguns momentos em que a autora acaba por se perder a falar mais da sua vida pessoal que propriamente dos seus gatos. E isto torna-se particularmente evidente na explicação das suas relações amorosas, revelando alguns aspectos não tão agradáveis do ponto de vista da autora perante o mundo.
Fica, portanto, como essencial ponto marcante deste livro a história de um gatinho inesperadamente forte, com uma intuição impressionante e uma relação muito particular com as pessoas em seu redor. E é esta sua história, apesar de um ou outro elemento mais repetitivo ou de menor interesse, que faz com que esta leitura valha a pena. Gostei.

Même Literário


1 - Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (J.K. Rowling). Poderia escolher muitos outros. Mas, para os devidos efeitos, deve haver um bom motivo para eu ter lido este livro SETE vezes.

2- É uma escolha dura... Mas vou responder O Terceiro Deus (Ricardo Pinto). Não houve muitos livros que me marcassem de uma forma tão pessoal.

3 - O Jardim dos Segredos (Kate Morton). Vale a pena. A sério!

4 - Em jeito de batota, deixo o desafio de responder a todos os que acharem interessante fazê-lo.


sábado, 19 de março de 2011

A Promessa de Kushiel (Jacqueline Carey)

Prisioneira e no limiar da loucura, Phèdre não vê grande solução para a situação desesperada em que se encontra. Mas há demasiadas forças de olhos postos no seu percurso e nem só os deuses se preocupam com a salvação da sua eleita. Assim, eis que, mais uma vez, o caminho de Phèdre é o de terras distantes, gentes desconhecidas e uma luta aparentemente insuportável para deter as sempre elaboradas conspirações de Melisande. E entre aliados improváveis, manifestações para lá do humano e sentimentos que unem, talvez, o melhor e o pior, a jovem anguissette tem, mais uma vez, uma dura missão pela frente.
Há algo de mágico e de fascinante em cada novo regresso a este mundo. A criação de Jacqueline Carey marca não só pelo seu mundo complexo, habitado por personagens fascinantes e onde a acção de alguns pode mudar as vidas de todos, mas pela intensidade de acontecimentos e sentimentos, pela força emotiva inerente às mais intensas e dolorosas situações e pela forma como passado e futuro se entrelaçam numa vida demasiado dura para, no fim de contas, quebrar.
A história de Phèdre atinge, neste livro, o seu ponto mais sombrio... mas também uma nova iluminação. La Dolorosa e o Thetalos são ambientes de particular força, tanto pelas emoções que evocam como pela forma como representam o efeito de um passado imutável nos passos e decisões de toda uma vida. E, por outro lado, a tensão progressiva que se estabelece entre personagens, os momentos de dor e de dúvida, em contraste com os momentos de tranquilidade, de amor e até as pequenas situações divertidas que vão surgindo, conferem a este mundo tão diferente e tão vasto algo de próximo ao leitor. Algo que deixa uma marca bem depois de terminada a leitura.
Apesar da sua ausência durante uma parte significativa do livro, continuam a estar associados a Joscelin, personagem profundamente fascinante, muitos dos momentos mais marcantes do livro. E isto aplica-se tanto às suas intervenções directas como ao lugar especial que este ocupa na vida de Phèdre, numa relação que só se torna verdadeiramente clara numa fase bastante adiantada deste livro e que culmina num final verdadeiramente delicioso. E também as novas figuras a surgir nesta história, com especial ênfase para Kazan, dão a todo este universo uma nova sensação de maravilhoso, com a certeza de que há sempre mais a descobrir.
Belo, tocante, intenso e envolvente, mais um livro impressionante de uma autora que já conquistou nas minhas predilecções um lugar muito, muito especial.

sexta-feira, 18 de março de 2011

O Caso do Colar Desaparecido (S.S. Van Dine)

Com o objectivo de acalmar as apreensões de Carrington Rexon, Philo Vance é convidado a passar uns dias na sua mansão, onde uma recepção terá lugar com o objectivo de mostrar as famosas esmeraldas da colecção de Rexon. Os presentes são, todos eles, indivíduos peculiares. Mas a situação só se torna realmente preocupante quando um homem encontra a morte numa queda... não muito acidental.
Sendo uma história que segue as linhas essenciais do policial clássico - um detective que reúne pistas para descobrir, entre múltiplos suspeitos, quem é o responsável por determinada(s) morte(s) - existem alguns elementos neste livro que não são, de todo, inesperados. Desde as suspeitas que recaem sobre os trabalhadores da casa (ainda que não exactamente o mordomo) às perguntas essenciais de quem, como e com que arma, este livro segue a linha base de muitos outros livros do género. E, contudo, há alguns elementos peculiares, desde o facto de Rexon convidar o detective para a sua casa antes do crime às múltiplas ligações entre as diferentes personagens.
A ideia tem, portanto, os seus pontos de interesse. O problema está na forma como a história é concretizada, onde tudo parece acontecer demasiado depressa e, talvez pelo seu pouco desenvolvimento, o comportamento das personagens é, muitas vezes, inexplicável. Além disso, resumindo-se a interacção com cada personagem aos assuntos necessários à investigação, não há nenhuma que se torne conhecida ao ponto de criar um maior interesse no leitor, ficando, por isso, um global tom de distância que diminui a envolvência de um livro que, sendo breve, nunca chega a fascinar por completo.
Um mistério interessante, em suma, mas que, talvez pela brevidade ou talvez pela distância com que, durante a maior parte do livro, os acontecimentos e relações são tratados, deixa a sensação de que muito mais poderia ser explorado. Intrigante o suficiente, não foi, ainda assim, leitura que me cativasse por completo.

Novidade Planeta

Vinte e cinco anos após a primeira edição, só a citação de Eça envelheceu um século neste resumo, pois Hotel Lusitano continua a retratar-nos por inteiro e, se algumas rugas de expressão tiver, só lhe dão mais charme: são do sorriso.
Os quartos terão agora televisão, haverá um terraço-bar na cobertura, como observa, no prefácio à presente edição, esse americano que quase poderia ser protagonista chamado Richard Zenith. Mas neste Hotel Lusitano, o primeiro romance de Rui Zink, continuamos em casa, ao espelho.

Rui Zink nasceu em Lisboa em 1961. É escritor e professor no Departamento de Estudos Portugueses na Faculdade da Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Estreou-se como ficcionista em 1986 com a novela Hotel Lusitano e desde então publicou mais de duas dezenas de obras, entre ficção, ensaio, literatura para a infância, BD e teatro. Alguns dos seus livros encontram-se traduzidos para inglês, alemão, hebraico, japonês, romeno, italiano, sérvio, croata e francês. É autor dos seguintes romances e novelas: Apocalipse Nau (1996), A Espera (1998), O Suplente (1999), Os Surfistas (2001,romance interactivo), Dádiva Divina (2004, Prémio Pen Club), A Espera (2007), O Destino Turístico (2008, Prémio Ciranda), O Anibaleitor (2010), e, em co-autoria com António Jorge Gonçalves, as novelas gráficas A Arte Suprema (1997, Prémio do Amadora BD para melhor livro) e Rei (2007).
Para saber mais sobre o autor, consultar: http://www.ruizink.com/

quinta-feira, 17 de março de 2011

A Profecia do Juízo Final (Scott Mariani)

Atormentado pelo passado e cansado do rasto de morte que parece deixar à sua passagem, Ben Hope decide renunciar à sua antiga vida e concluir o há muito abandonado curso de teologia. Mas o passado não se afasta assim tão facilmente e, quando a filha de um dos seus professores desaparece sem deixar rasto, Ben acaba por se ver envolvido numa busca perigosa, onde interesses consideráveis estão em jogo e onde um simples artefacto pode ser a base para o colapso do mundo.
Tal como já acontecera em O Segredo do Alquimista, a grande força deste livro está no seu protagonista. E isto não se aplica necessariamente às suas reacções e relações com o enredo principal, mas acima de tudo com a sua personalidade e história passada. Benedict Hope é um indivíduo profundamente humano, mas marcado por uma vida dura, onde a perda parece ser uma constante. E, pior que isso, o facto é que, por melhores que sejam as suas intenções, por mais que tente minimizar os estragos, o facto é que a morte floresce por onde ele passa. E, numa figura que (apesar de ser particularmente hábil nisso) não gosta de matar, acabam por ser as mortes involuntariamente causadas, aquelas que se revelam também desnecessárias, as que lhe marcam uma consciência viva e dolorosa que é, sem dúvida, o elo mais forte de todo este livro.
Quanto à linha principal desta história, é curioso notar que o autor foge às exaustivas aplicações de informação histórica e mitológica associadas a vários livros deste género. Há toda a profecia do livro do Apocalipse, é claro, e o artefacto a ela associado, mas estes elementos são explorados apenas na medida em que são necessários ao enredo, permitindo um ritmo envolvente e viciante, à medida que acontecimento atrás de acontecimento vão tomando lugar, sem que explicações desnecessárias quebrem a intensidade da leitura.
Há alguns momentos em que não é difícil prever o que acontecerá a seguir, nomeadamente na intervenção do agente especial Callaghan. Ainda assim, estes pontos mais previsíveis na linha narrativa são compensados pela força de personagens, já que a personalidade forte característica de Ben não é a única a marcar ao longo desta história. Também Zoë e, principalmente, Alex, têm uma natureza surpreendente a ser revelada no decorrer deste livro.
Intrigante, viciante e com um protagonista de grande força mental e emocional, uma leitura de ritmo intenso, mas sem descurar uma certa dose de emoção que torna o leitor quase próximo a cada personagem. Fica a curiosidade em ler novos livros deste autor... porque ainda há muito a dizer sobre Ben Hope.