Izzy Goodnight deixou de acreditar em contos de fadas. Apesar da fama conquistada pelas histórias do pai, que lhe trouxeram a adulação de muitos e uma fama que lhe perpetuou o retrato de menina inocente, Izzy está mais desamparada que nunca. Todas as suas esperanças estão, por isso, na novidade inesperada de lhe ter sido deixada uma herança. O que Izzy não sabe é que a herança não é o dinheiro de que tanto precisa, mas um castelo decrépito com o dono anterior ainda lá dentro. Um dono que, isolado do mundo e disposto a tudo para manter a sua solidão, não está, de forma alguma, disposto a aceitar uma mudança na ordem das coisas.
Tendo como protagonistas uma jovem inocente e um duque atormentado, este é um livro que, à primeira vista, segue bastante as linhas habituais do género. Izzy é a clássica jovem ingénua em circunstâncias difíceis, resignada à ausência de amor por alegada falta de atractivos físicos e no limiar da penúria. E Ransom é o expectável anti-herói atormentado, disposto a tudo para afastar a visitante indesejada que lhe desperta sentimentos desconfortáveis. Não é uma história particularmente nova, é verdade e, talvez por isso, o início seja um pouco hesitante (ainda que as circunstâncias peculiares das personagens sejam mais que suficientes para despertar a curiosidade em saber mais).
Mas a história evolui e é precisamente dessa evolução que surgem os vários aspectos que acabam por fazer deste livro uma boa leitura. É que, partindo de elementos familiares, a autora consegue acrescentar-lhes algo de próprio e de diferente. Se é certo que é fácil prever de que forma vão terminar as coisas no que diz respeito à relação entre os protagonistas, já não é tão fácil assim adivinhar por que caminhos terão de passar. E, ao complementar o aspecto romântico com algumas revelações interessantes sobre o passado dos protagonistas, um toque de intriga que, ainda que discreto, contribui para o impacto do final, e um muito agradável equilíbrio entre emoção e humor, a autora dá a uma história já conhecida uma identidade própria.
Tudo isto é narrado num registo leve e agradável, cativante sem ser demasiado simplista, e equilibrando uma faceta mais sombria com a luminosidade crescente do romance. Izzy e Ransom estão a descobrir uma vida diferente e é essa descoberta, não só no que diz respeito um ao outro, mas principalmente àquilo que os rodeia, que está na base dos momentos mais marcantes - e também de alguns dos mais divertidos.
Por último, uma nota para o muito interessante desenvolvimento da questão... literária. Moranglia e as histórias do pai de Izzy podem, na fase inicial da história, parecer apenas um aspecto acessório, mas têm, sem dúvida, um papel relevante na forma como tudo se desenrola. Além disso, também estas - e umas quantas personagens algo bizarras - proporcionam bons momentos de humor, o que contribui em muito para equilibrar o tom mais sombrio de elementos como o passado de Ransom.
Leve e divertido, com surpreendentes laivos de emoção e um muito agradável equilíbrio entre o familiar e o inesperado, trata-se, portanto, de um livro que cativa desde o início, surpreende com as revelações que vão surgindo e culmina num final particularmente intenso. Uma boa história, pois, e uma boa leitura.
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