Charlie nunca teve uma vida fácil e, apesar de, por entre as dificuldades, ter conseguido licenciar-se em Harvard e conseguir um lugar numa grande empresa, as reviravoltas da vida acabaram com ele no papel de traficante de droga. Envolvido em negócios duvidosos, nunca teve grandes escrúpulos, porque sempre se sentiu como uma torre isolada. Mas, numa noite, tudo muda, quando a filha do seu sócio é atacada e o irmão dela, responsável pelo sucedido, foge para parte incerta. Charlie sabe que também tem culpas, ainda que indirectamente, e por isso, o mínimo que pode fazer é ir à procura de Zaul. O que não sabe é que a sua viagem o levará direitinho ao passado - e à descoberta de que, para lá da indiferença, reside o amor... e a redenção.
Traço central na história deste livro e, sem dúvida alguma, a maior das suas forças, é na história de Charlie rumo à redenção que está a verdadeira alma deste livro. Charlie, que, nos primeiros capítulos, surge como um espertalhão sem escrúpulos, mas em que, desde logo, as sombras que o perseguem despertam alguma simpatia. E que cresce, que evolui, que se redime - pois é esta à palavra-chave - com o desenrolar dos acontecimentos. Sim, Charlie é um homem imperfeito. Sim, é difícil justificar parte das suas acções. Mas é humano, é vulnerável, tem um fundo bom... e isso, a capacidade de construir uma personagem que está longe de ser admirável, mas que, ainda assim, desperta sentimentos fortes, é o que de mais fantástico à neste livro.
Claro que nem só de Charlie vive a história, ainda que o seu percurso - e o desvendar dos seus verdadeiros sentimentos - sejam o que esta tem de mais marcante. Há as outras personagens, algumas igualmente carismáticas, e a forma como os seus caminhos se cruzam. E há o cenário, claro, todo feito de contrastes entre pobreza e privilégio, entre ambição e necessidade... e, de certa forma, entre o que se tem e o que se é. Tudo isto é relevante. Tudo isto torna a história mais intensa. Tudo isto comove e faz pensar.
E depois há a escrita. Descritiva quanto baste, confere ao enredo um ritmo relativamente pausado, mas que vai crescendo em intensidade a cada nova revelação. Além disso, ao narrar a história de Charlie na primeira pessoa, o autor cria uma maior proximidade, pois, nos sentimentos e pensamentos do protagonista, a natureza dos seus demónios interiores torna-se mais nítida e mais próxima. Também isso é parte do que impressiona nesta história.
O que fica, pois, deste Água do Meu Coração? Ficam emoções fortes, numa narrativa intensa, com um protagonista complexo e carismático e uma muito marcante história de redenção. Tudo isto num equilíbrio quase perfeito, sempre cativante e com momentos comoventes. Somando tudo isto, o resultado não podia ser outra coisa, senão muito bom.
Título: Água do Meu Coração
Autor: Charles Martin
Origem: Recebido para crítica
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