sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Todos Iguais, Poucos Diferentes (Morais de Carvalho)

Há muito tempo que sabe ser diferente e, por isso, vive uma vida bastante isolada. Mas também muito calma. Tendo como única amiga a velha vizinha, ele passa os dias a deambular, visitando os jardins para dar de comer ao gato que por lá anda e observando um mundo em que a normalidade é um fardo. Em tempos, chamaram-lhe anormal e esse peso ficou com ele a vida inteira. Mas eis que algo lhe desperta a curiosidade: uma mulher que parece ter uma vida perfeita e que, porém, é intensamente infeliz. Sente-se atraído pelo que julga ter em comum com ela. Mas não sabe que será essa mulher o seu ponto de viragem, rumo a uma verdade impossível de ignorar.
Não é muito fácil falar sobre este livro sem revelar demasiado da história, até porque o final lança uma nova luz sobre todos os acontecimentos anteriores. Mas o impacto desta revelação final já diz muito sobre o livro: uma história com bastante de estranheza e o que parecem ser algumas pequenas incongruências, que ganham um novo sentido com o desvendar da verdade. História de um homem que se sente diferente, que se sabe diferente, e que, através dessa mesma diferença, lança todo um novo olhar sobre a normalidade.
Narrado na primeira pessoa e centrado no que distancia o protagonista do resto do mundo, é um livro em que domina a introspecção. Mas é interessante notar que, apesar deste mergulho nas profundezas do pensamento do protagonista (com o qual é fácil, por vezes, concordar, e noutras discordar), o ritmo da narrativa nunca se torna demasiado denso. Há um mistério em torno do protagonista, bem como da mulher que ele tanto observa. E esse mistério mantém sempre viva a vontade de saber mais, de descobrir a verdade, de questionar as verdadeiras raízes da diferença. E essas, quando reveladas, mas também quando apenas insinuadas, despertam sentimentos bastante impressionantes.
Com pouco mais de 140 páginas, é um livro bastante breve. Mas, se tivermos em conta a história e a forma como tudo se desenrola, entrelaçando em medidas iguais pensamentos e acontecimentos, a verdade é que tudo parece ter a medida certa. E este equilíbrio torna-se ainda mais importante se se tiver em conta que grande parte do enredo se tece na fina linha que separa a realidade da alucinação.
A soma de tudo isto é, claro, uma muito boa surpresa. Um livro que se lê rapidamente, mas que se entranha na memória bem depois de terminada a leitura, e que, no seu olhar sobre a diferença, questiona o próprio conceito da normalidade que rege (ou não) a vida de cada um. Muito interessante, muito bonito... e muito bom. 

Título: Todos Iguais, Poucos Diferentes
Autora: Morais de Carvalho
Origem: Recebido para crítica

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