segunda-feira, 14 de novembro de 2016

O Evangelho de Sangue (James Rollins e Rebecca Cantrell)

Massada. Um terramoto liberta uma estranha nuvem de fumo que mata dezenas de pessoas, deixando um único sobrevivente e revelando um túmulo nas profundezas da montanha. Para o explorar, uma arqueóloga é arrancada à sua escavação, uma equipa de soldados americanos é chamada à pressa e um enigmático padre chega ao local em representação do Vaticano. Há história para descobrir naquele local, isso é certo. Mas o que nenhum deles sabe é que, na base dessa história, há um segredo muito antigo. Naquele túmulo, foi em tempos selado um evangelho, escrito pelo punho do próprio Cristo e capaz de conferir poder a quem o encontrar. E há forças poderosas há sua procura - nem todas humanas. O que começa por ser apenas uma investigação algo invulgar cedo se transforma numa questão de vida ou morte. Caberá ao padre Korza, ao sargento Stone e à professora Granger encontrar um caminho para a esperança no meio do caos.
Imaginem uma fusão entre o Código Da Vinci e A Rainha dos Malditos. Difícil, não é? À primeira vista, são livros de géneros completamente diferentes. Mas um dos grandes pontos fortes deste livro é precisamente a forma como estas duas facetas tão distintas parecem conjugar-se na perfeição. Sim, é um thriller histórico, com ordens secretas e artefactos antigos - e, sim, também é um livro de vampiros. E a verdade é que estes dois aspectos se complementam num equilíbrio tão delicado como fascinante. 
Um dos aspectos mais intrigantes na construção desta história tem a ver com o mistério em torno dos strigoi e da Ordem dos Sanguinistas. Por um lado, o factor religioso cria uma aura sobrenatural bastante diferente da que espera, à partida, dos vampiros. Por outro, é possível reconhecer nas características dos sanguinistas (e de Rhun Korza em particular) algumas influências dos livros de Anne Rice: a personalidade atormentada, a forma de lidar com o peso dos séculos, as alterações sofridas pelos sanguinistas com o passar do tempo. Tudo isto é cativante, acrescentando uma nova aura de mistério ao enredo. Além disso, o contraste entre factos históricos e elementos sobrenaturais torna-se particularmente forte tendo em conta as posições da professora Granger.
Num enredo que, apesar de bastante extenso, decorre no espaço de poucos dias, é inevitável que haja sempre algo a acontecer e, apesar das necessárias descrições que tornam o ritmo mais pausado, a história nunca perde a envolvência. Mas é da natureza das personagens, ainda assim, que surgem os melhores momentos - e as maiores vulnerabilidades. Dos segredos de Rhun Korza, e da sua sempre fascinante natureza atormentada e misteriosa. De Erin Granger, com a sua luta entre lógica e fé. E de Jordan Stone, cujo instinto protector se eleva, por vezes, acima de tudo o resto. Cativantes nos melhores momentos, não deixam, ainda assim, de revelar as suas falhas e, por isso, nem sempre é fácil sentir empatia. Mas se, por um lado, Jordan sobressai pelo carisma, revelando depois a faceta ligeiramente irritante que cria uma certa distância, já Korza, com o seu tormento interior, cresce em força e fascínio a cada nova revelação.
Ficam, é claro, perguntas em aberto, ou não fosse este o primeiro volume de uma trilogia. Mas, com a sua teia de mistérios, as suas personagens intrigantes e o inesperado, mas muitíssimo interessante, cruzamento entre histórico e sobrenatural, a impressão que fica deste O Evangelho de Sangue não poderia ser outra que não a de um início bastante promissor. E que cria grandes expectativas para os volumes seguintes.

Título: O Evangelho de Sangue
Autores: James Rollins e Rebecca Cantrell
Origem: Recebido para crítica

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