Clare passou anos a procurar a irmã que o pai levou para a América quando eram ambas crianças. Em vão. Mas agora, no momento em que um novo aniversário da partida se aproxima, é Alice quem as encontra. A uma primeira carta a estabelecer contacto, segue-se uma breve troca de correspondência e depois o emotivo reencontro. Só que, apesar das boas intenções e do objectivo de fazer com que Alice se sinta em família, há algo que parece não bater certo. Alice parece estar a infiltrar-se insidiosamente na vida da irmã, como se pretendesse substituí-la. E, embora Clare comece a desconfiar, até porque os comportamentos de Alice são cada vez mais suspeitos, só ela parece vislumbrar a verdade. As intenções de Alice não são boas. E, caso não faça alguma coisa, Clare pode muito bem ver-se subitamente expulsa da sua própria vida.
Parte do que torna este livro tão cativante é a forma como a autora conjuga a complexidade dos laços familiares com uma intriga também ela muito complexa. Bastam alguns vislumbres para perceber que o reencontro não ver tão simples e inofensivo como seria de esperar. Mas quanto ao que realmente se passa... bem, é preciso continuar a ler para descobrir. E é assim que a leitura se torna viciante, com a sua mistura de intriga e manipulação psicológica, levada a tal ponto que, às vezes, nem a própria protagonista - e muito menos o leitor - parece saber de que lado está realmente a verdade.
Tudo ganha uma maior intensidade devido ao facto de toda a história se passar num contexto bastante íntimo. Alice é a irmã desaparecida, o que implica que grande parte dos acontecimentos envolvam a vida familiar de Clare. Mas também as relações profissionais e de amizade acabam por ver-se abaladas pela chegada de Alice e por todas as mudanças por ela operadas. Além disso, o facto de grande parte da manipulação ser invisível a quase todos cria uma aura de tensão e de mistério que, além de gerar uma empatia bastante forte relativamente a Clare, mantém em suspenso a possibilidade de nem tudo acabar bem.
Quanto ao final, é previsível o facto de que a verdade virá ao de cima. Já o resto - que verdade é essa, quem está envolvido e que outros segredos poderão também ser revelados - é totalmente inesperado. Além de que a fase final é todo um crescendo de perigo e de acção, o que confere às derradeiras revelações um impacto ainda maior. No fim, tudo acaba como deve ser. Mas o caminho até lá é tão intrigante quanto atribulado.
Conjugando na perfeição as melhores facetas de um thriller e de um drama familiar, trata-se, pois, de uma leitura intensa, viciante e cheia de surpresas. Uma história de irmãs e de um reencontro tardio... mas também de como a verdade nem sempre é óbvia e nem todos são exactamente o que parecem ser. Muito bom.
Título: Irmãs
Autora: Sue Fortin
Origem: Recebido para crítica
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