O mundo mudou. Uma doença misteriosa que, na primeira vaga, matou demasiados, e na segunda transformou as suas vítimas numa espécie de zombie, fez com que o planeta mergulhasse no caos. E é no centro deste caos que a semente da mudança começa a germinar. Uma mulher dá início a uma fuga desesperada para salvar a sua filha das mãos de um impiedoso captor que não hesitará em usá-las as duas para os seus propósitos sombrios. Do outro lado, um homem leva a sua equipa para o Sul de Portugal, na esperança de resgatar os camaradas desaparecidos. E, sem saber, ambos convergem para o mesmo ponto: um ponto de protecção, de salvação... e, talvez, do primeiro vislumbre do que o futuro poderá trazer.
Um bom indício do quanto eu gosto dos livros deste autor é que, não sendo propriamente fã da leitura em formato digital, aqui estou eu, a falar do quarto livro lido neste formato. E vale a pena abrir esta excepção? Vale, pois. E outro bom indício disso é que, apesar de ser muito mais lenta a ler neste formato, a primeira palavra que me ocorre para descrever este livro é viciante.
Uma das primeiras coisas a destacar neste início de série é o conjunto de diferenças e paralelismos com as The Dark Sea War Chronicles. Não na história propriamente dita, não, mas talvez na experiência de leitura. As qualidades são, aliás, comuns: viciante, intenso, com grandes e poderosas batalhas e um certo rasgo de crueldade que parece ser característico do autor. O que me leva à diferença inicial. J.J. Berger é uma personagem surpreendente menos atormentada do que, digamos, um Byllard Iddo, o que faz com que o impacto emocional dos primeiros acontecimentos não seja tão dramático. Mas, por outro lado, há a fuga de Maria, à qual não falta dramatismo. E, se a fase inicial parece menos devastadora no sentido emocional, à medida que o enredo evolui, essa impressão vai mudando. E o que começa por ser uma empatia inicial para com as personagens evolui para preocupação profunda.
Depois há o contexto em si, com a questão da doença e todas as mudanças que esta trouxe ao mundo a criar um certo ambiente de desolação. Além, é claro, do delicado equilíbrio de poderes que isto implica. Além disso, é este contexto delicado a base para tudo o que acontece a seguir, o que faz com que cada desenvolvimento tenha um maior impacto por se enquadrar perfeitamente no mundo em que as personagens se movem. Sejam os grandes momentos de combate, as estranhas trocas de palavras (e há uma personagem que tem um sentido de humor particularmente delicioso) ou os rasgos de emoção e de crueldade, tudo encaixa perfeitamente no cenário global. Sem perder de vista, claro, o impacto pessoal que cada desenvolvimento tem nas personagens - e que torna a história tão próxima e intensa.
Sendo este apenas o primeiro volume, não surpreende que muito seja deixado em aberto. Das capacidades de Laura ao futuro do mundo e das personagens, tudo é possível a partir daqui. Mas, mais do que curiosidade insatisfeita, o que fica é uma vontade irresistível de deitar a mão ao próximo volume o mais cedo possível.
A impressão que fica é, pois, a de um livro mais do que à altura das expectativas. Intenso, viciante, cheio de acção e com uns quantos rasgos de emoção particularmente poderosos, cativa do início ao fim e promete ainda mais para o que se seguirá. A soma das partes é, naturalmente, algo de muito bom.
Título: Laura and the Shadow King - The Pink Glove
Autor: Bruno Martins Soares
Origem: Recebido para crítica
Muito obrigado, Carla! Prometo que o próximo não vai desiludir!
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