Duke McQueen foi em tempos um piloto de testes que foi acidentalmente parar a outro planeta, onde viveu muitas aventuras, salvou aquele mundo do ditador que o governava e tornou-se um herói para todos os seus habitantes. Depois, regressou à Terra, contou a sua história... e ninguém acreditou nele. Agora, quarenta anos passados, Duke perdeu o amor da sua vida e os filhos não estão muito interessados em conviver com ele. Mas, quando parece que só lhe resta a nostalgia, Duke recebe a visita de um habitante do planeta que em tempos salvou. Aparentemente, estão novamente em dificuldades, e só uma lenda do calibre de Duke McQueen os pode ajudar!
Sendo essencialmente a história do herói que, sozinho (ou quase...) salva um planeta inteiro, seria, à partida, de esperar que esta leitura pudesse ser um pouco previsível, mas, na verdade, não é essa a sensação que fica. Bastam as primeiras páginas e a quase imediata sensação agridoce de se estar perante alguém que viveu muito de bom, mas que, sem saber como, parece ter perdido tudo, para entender que a grande resolução pode não ser surpreendente, mas o caminho está certamente repleto de surpresas. Duke McQueen, herói galáctico, e Duke McQueen, homem enlutado e sozinho, são uma e a mesma pessoa, e a forma como a história põe em evidência estas duas facetas, tanto a nível dos diálogos mais dolorosos, como de contraste entre a cor das diferentes sequências, é algo de muito poderoso.
Também há um contraste bastante vincado entre as cenas do quotidiano terrestre e as do outro planeta, com a indumentária peculiar a trazer à memória não só os filmes de ficção científica, mas também uma certa nostalgia terrestre. O que acaba por, de certa forma, pôr também em evidência uma certa universalidade das coisas: afinal, Duke pode estar a caminho de salvar outro planeta, mas é um planeta que, embora com hábitos e cenários diferentes (cenários, diga-se, magnificamente construídos), parece povoado pela mesma ambição, resignação, coragem, sentido de lealdade (ou falta de) e inclusive espírito de sacrifício e instinto protector.
Mas, claro, importa ainda dizer isto: pode haver muito espaço para a emoção e a nostalgia, mas acção é também coisa que não falta. Seja num breve vislumbre de acontecimentos passados ou nas sequências das grandes batalhas, há ritmo e movimento até no mais pequeno dos confrontos, e isso faz com que, mesmo que não seja assim tão difícil adivinhar quem sairá vencedor, não se perca nenhum do impacto desses momentos mais intensos.
Tudo somado, fica a impressão de uma história cativante e intensa, com um herói com o coração e a consciência nos sítios certos e um enredo que é muito mais do que apenas a luta pela liberdade de um planeta: é também a redescoberta da força de um homem quebrado. Intenso, viciante e notável no seu equilíbrio de contrastes, um livro que não posso deixar de recomendar.
Autores: Mark Millar e Goran Parlov
Origem: Recebido para crítica
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