sábado, 20 de julho de 2013

D. Teresa de Távora - A Amante do Rei (Sara Rodi)

Desde sempre prometida ao sobrinho e destinada a honrar o nome da família onde cresceu, esperava-se de Teresa de Távora que fosse uma esposa exemplar e uma mulher devota, a Deus e à família. Mas nada disso era o que ela desejava. Sonhava o amor pelo amor, o prazer pelo prazer, a simples conquista da liberdade. E, tão ousada em alguns dos aspectos da vida, era, contudo, ingénua ao ponto de não ver que cada escolha traria as suas consequências. Para se tornar amante do rei, perderia a ligação à família. E, depois da catástrofe do terramoto e do atentado que devastaria os Távora, Teresa sobreviveria para ver o preço das suas escolhas - e viver com isso.
Narrado na primeira pessoa e num registo, por vezes, confessional, este livro cativa, em primeiro lugar, pelo retrato que traça para a sua protagonista. Teresa está longe de ser o modelo da mulher admirável e muito menos a figura que a História perpetuou por grandes feitos. É, ainda assim, uma mulher completa e os traços que lhe são atribuídos, tão invulgares face às ideias do seu tempo, tornam-na uma figura fascinante. Este retrato é um dos pontos fortes deste livro, já que, criando uma voz segura e pessoal para a sua protagonista, a autora apresenta uma personagem completa, com uma história tão vasta quanto a complexidade do seu pensamento.
Outro ponto forte é precisamente a forma como esse pensamento leva a questionar ideias e temas universais, colocados no contexto da época em que decorre o enredo. A predestinação e o livre arbítrio, analisados nas profecias de Malagrida, nas interpretações para as causas do grande terramoto e até nos principais acontecimentos da vida pessoal de D. Teresa, são analisados quer no desenvolvimento do contexto histórico, quer nas reflexões da própria protagonista. A este grande tema juntam-se ainda questões relativas ao papel da mulher na sociedade, às diferenças (e ligações) entre fé e religião e à necessidade de desenvolver um pensamento próprio face à moralidade instituída. Tudo isto é explorado ao longo da narrativa e a autora fá-lo de forma gradual, mas precisa, sem que o enredo se torne maçador, mas também sem minimizar a relevância das questões. Também isto torna a leitura interessante.
E depois há os acontecimentos, os grandes episódios da História e os momentos de revelação da história pessoal da protagonista. Todos eles narrados de uma forma muito próxima e muito marcante, com o tal tom de confissão a conferir ainda mais emotividade a momentos que são, por si mesmos, muito intensos. É fácil sentir com as personagens e pelas personagens, e, em alguns casos, ter por elas sentimentos contraditórios. E esse impacto emocional, tão gerador de ódios como de empatias, acaba também por reforçar essa intensidade e proximidade emocional que tornam a história tão envolvente.
Interessante no contexto histórico e nas questões que levanta, cativante pelo impacto emocional e pelo rumo sempre envolvente dos acontecimentos e, principalmente, marcante pelo retrato preciso e completo da sua protagonista, este é, pois, um livro que fica na memória. Cativante, surpreendente... Muito bom.

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