sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A Caldeira do Diabo (Ângelo de Carvalho)

Bastou um código aparentemente simples, mas ao alcance de poucos, para despertar reacções em diferentes partes do mundo. Um físico nuclear iraniano passou informações para o exterior e são muitos, desde os mais poderosos aos intervenientes aparentemente inócuos, os interessados em desvendar o mistério. Mas, na corrida às respostas, há um homem que, sem querer, está prestes a tornar-se no centro de uma aventura. Para salvar a família do irmão, Alessandro Ferratti precisa de viajar para o Irão, acompanhado apenas de algumas escassas pistas e de uma agente que lhe mexe com os nervos, e de encontrar o caminho para a solução do mistério. Mas nem as respostas serão as que espera nem os que o rodeiam são quem dizem ser...
Com uma história que se dispersa entre diferentes lugares e múltiplas personagens, este é um livro que dificilmente se tornará de leitura compulsiva, mas que, apesar disso, consegue ser bastante interessante. Isto deve-se essencialmente a um conjunto de pontos fortes: a escrita agradável, apesar de algo elaborada, a vastidão de conhecimentos que está na base do enredo e a capacidade de construir momentos intensos, mesmo com personagens que nunca se tornam próximas. 
Esse vasto conhecimento é, aliás, o traço mais característico de algumas personagens e particularmente do protagonista.E, ainda que nem seja um elemento particularmente abonatório da personalidade de Alessandro, já que este consegue ser de um exibicionismo cansativo, é um bom ponto de partida para a muita informação relevante que vai sendo apresentada ao longo da história. A situação política e a ponderação sobre a influência dos interesses dos poderosos, bem como o ocasional tom de teoria da conspiração, aliam-se a um interessante desenvolvimento do contexto histórico e de algumas ideologias a ele associadas. Assim, pode ser que nem sempre o percurso das personagens seja marcante, mas o lado informativo nunca deixa de cativar.
Quanto ao impacto dos tais momentos mais intensos, é particularmente relevante devido à impressão de distância que, a princípio, se sente. A história particular das personagens é secundária relativamente ao cenário global e, por isso, não se sente grande empatia. Mas há situações pontuais, grandes revelações ou simples situações de medo, que, subitamente, humanizam as personagens. Também isto contribui para tornar a história mais interessante.
Em termos de escrita, fica a impressão de que a vontade de conferir mais realismo à expressão das personagens (usando os seus respectivos idiomas) quebra um pouco o ritmo da narrativa. Ainda assim, uma vez assimiladas as particularidades, a leitura torna-se mais fluída, permitindo uma maior concentração no enredo. Enredo esse que deixa umas quantas pontas soltas, mas também várias respostas interessantes.
A soma de tudo isto é uma história que, apesar da distância e do ritmo pausado, se entranha, aos poucos, com os seus momentos surpreendentes e a muita informação interessante. Uma leitura cativante, portanto.

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