sábado, 17 de janeiro de 2015

O Contador de Estórias (DeMoura)

Improváveis ou pessoais, caricatas, por vezes, mas com um toque de melancolia que as aproxima do leitor. Assim são as histórias deste livro, histórias de personagens normais em circunstâncias pouco normais, ou de esperanças que se transformam em algo de diferente.
Logo na introdução, O Contador de Estórias, o autor conta a ideia e as experiências na base deste livro, denunciando, desde logo, uma impressão de proximidade às histórias que se seguirão. E assim, em poucas páginas, desperta curiosidade para a leitura.
Segue-se o primeiro conto, Miúra, história de uma tourada vista pelos olhos do touro. Algo descritivo, mas cativante na forma como, através dos acontecimentos, consegue levar à reflexão, deixa algumas dúvidas no ar, mas, apesar disso, fica na memória.
O Ciúme conta como um mal-entendido destrói a promessa de um grande amor; de ritmo pausado e bastante descritivo, entranha-se gradualmente no pensamento do leitor, abrindo caminho a algumas revelações surpreendentes que culminam num final marcante. 
Em O Velho Marinheiro, um homem melancólico encontra o rosto ideal para a sua obra-prima e está disposto a tudo para o eternizar na tela. Pausado, bastante descritivo, este é um conto que passa uma primeira impressão de distância, mas que, com as mudanças no pensamento do protagonista, se vai tornando progressivamente mais cativante.
O Plágio conta a história de um pintor que, sem saber bem como nem porquê, dá por si a escrever dois contos de uma qualidade inexplicável. Também de ritmo pausado, mas bastante intrigante no que diz respeito à origem dos contos, uma história algo improvável, mas cativante e com uma explicação surpreendent para o mistério. 
Tia Rosa fala de uma viagem muito aguardada que se transforma na mais atribulada aventura das vidas dos protagonistas. Aqui, o que começa por ser um conto pausado e um tanto introspectivo acaba por dar lugar a uma história caricata, com o seu quê de improvável e, precisamente por isso, estranhamente cativante.
Segue-se Professor Napoleão, história de um homem que julga estar a perder a memória e que, por isso, se sujeita à cura inovadora proposta por um neurologista. Também construído num estranho equilíbrio entre o melancólico e o improvável, este conto apresenta uma história envolvente e surpreendente, que culmina num final especialmente intenso, ainda que sem dar todas as respostas.
Zuluaga conta a história de um empreendedor de outro tempo e das inesperadas possibilidades que caem nas mãos de um dos seus aliados. Também caricato, mas cativante, este conto sobressai ainda pela forma como reflecte, ainda que de forma improvável, os perigos de dar as coisas por garantidas.
Una Birra Presto fala da ascensão de um jovem de parcos meios e da presença do seu constante protector na sua vida. Interessante, ainda que inicialmente um pouco distante, torna-se em algo diferente com a entrada em cena de um novo elemento. Particularmente cativante no retrato que traça para a implementação de um sistems capitalista no mundo animal, leva também a reflectir sobre o que realmente importa.
Segue-se O Pesadelo, história de amor e de vidas passadas. Também um conto de ritmo pausado, mas sempre intrigante pelo mistério da estranha familiaridade entre os protagonistas, torna-se progressivamente mais intenso com o aproximar da revelação do mistério, num final especialmente emotivo.
O Prisioneiro relata as tribulações de um preso político, num registo muito pessoal e emotivo, em que são quase palpáveis os sofrimentos do protagonista. Intenso e marcante, apela também à reflexão.
E, em complemento à introdução, Finalmente parte ainda de outra memória de um passado possível para ponderar sobre as possibilidades do futuro.
A soma de tudo isto é uma leitura agradável e cativante, com alguns contos especialmente memoráveis, mas todos eles com algo de interessante para oferecer. Uma boa leitura, em suma.

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