sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

O Intruso (Stephen King)

Embora horripilante em todos os aspectos, a morte de Frank Peterson, de onze anos, parece ser um caso fácil de resolver. Todas as provas - testemunhas, impressões digitais, ADN - apontam inquestionavelmente para o mesmo suspeito: Terry Maitland, um dos pilares da comunidade. São tão evidentes as provas que o detective Ralph Anderson não hesita em levar a cabo uma detenção muito pública. Mas nem tudo é tão simples como parece e cedo as provas aparentemente inabaláveis esbarram contra algo de inexplicável: Terry estava bem longe dali no momento do crime, tendo, aliás, sido filmado no local onde se encontrava. Como explicar então a presença de alguém em dois locais ao mesmo tempo? Bem, se o natural deixa de ser possível... Mas Ralph não pode aceitar uma explicação dessas e, seja como for, o que está feito, está feito. E o intruso que se move nas sombras alimenta-se da descrença de todos... e da dor causada pela sua presença.
Há certas características que são, à partida, expectáveis de um livro de Stephen King, e não será decerto este a excepção. Grandes reviravoltas, mistérios inexplicáveis, um enredo cheio de momentos sombrios e uma história que se torna ainda mais empolgante devido à empatia que as personagens despertam são alguns dos aspectos fulcrais para tornar este livro tão viciante e memorável. Mas desengane-se quem pensa que isto torna as coisas previsíveis. Nada neste livro é previsível - nem o enredo, nem o percurso pessoal das personagens e muito menos o impacto emocional que algumas fases despertam. E escusado será dizer que o resultado é um livro muito difícil de largar.
Outro aspecto a destacar tem a ver com a transição praticamente perfeita entre o que começa por ser a investigação de um crime "normal", mas acaba por ganhar contornos mais sobrenaturais. Inicialmente, o que marca é a situação de Terry. É difícil não sentir empatia para com os injustamente acusados, e a forma como autor desenvolve esta faceta, explorando a dúvida na mente das várias personagens gera sentimentos muito fortes. Depois, as circunstâncias alteram-se, é Ralph a assumir um papel de destaque, e eis que uma das personagens aparentemente menos marcantes revela toda uma nova faceta ao tornar-se o centro das atenções. E, à medida que os enigmas se sucedem, com as manifestações do sobrenatural a crescerem em impacto, novas figuras vão aparecendo, novas histórias vêm juntar-se à trama e o enredo vai-se intensificando, para culminar num final impressionante.
Não é propriamente novo nos livros deste autor, mas importa ainda fazer uma breve menção entre a ligação entre esta história e alguns outros livros. O nome de Bill Hodges será familiar mesmo para quem, como eu, ainda não leu a trilogia, e a presença de Holly tem o condão de despertar uma vontade ainda maior de a ler. E, para quem já a leu, imagino que será um novo ponto de familiaridade, como a que se sente ao encontrar uma discreta referência ao termo ka, tão dominante na série Torre Negra.
Intenso, empolgante, cheio de surpresas. Viciante pela história, emocionante pelo percurso das personagens, assustador pela fina teia traçada entre o natural e o sobrenatural. Fortíssimo nas personagens, brilhante no desenvolvimento, poderosíssimo na conclusão. É preciso acrescentar mais elogios? Pois ficam estes: imperdível. Genial.

Título: O Intruso
Autor: Stephen King
Origem: Aquisição pessoal

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