quarta-feira, 20 de julho de 2022

Moonshine, Vol. 4 - Embarrilado (Brian Azzarello e Eduardo Risso)

Incapaz de controlar aquilo em que se transformou, exceto com recurso ao álcool, Lou Pirlo afoga as suas tristezas num bairro de lata em Cleveland, sem imaginar que aquilo que deixou para trás continua por perto. É que, além da sua nova natureza e dos fantasmas que o acompanhou, também a sua antiga vida de mafioso persiste em assombrá-lo. Entretanto, há um assassino em série à solta - e Lou não tem bem a certeza de que não possa ser ele. Mas, quando o seu caminho se cruza com o de um velho conhecido, novas questões começam a emergir...
Parte do que torna esta série tão intensa - e também parte do que deixa, por vezes, deixa alguma curiosidade insatisfeita - é a velocidade alucinante com que tudo progride. Há sempre algo a acontecer, novas surpresas a emergir, e não há verdadeiramente descanso para nenhuma das personagens. Neste volume, a história divide-se entre os planos de vingança de Tempest e a... bem, falta de planos de Lou. Mas que Lou Pirlo tenha falta de planos não significa que a vida não tenha planos para ele. E a evolução frenética deste volume, com o poderoso crescendo de intensidade da fase final, é prova disso.
Outro ponto interessante é o persistente entrelaçado de crime e horror, que espalha enigmas por ambas as facetas ao mesmo tempo que levanta novas perguntas para cada resposta dada. Lou continua tão perdido em relação àquilo que é como quando a mudança aconteceu. E, ainda assim, a história vai muito além das suas disputas interiores. Fica, aliás, uma certa curiosidade em conhecer um pouco mais desta faceta, pois o cenário global acaba por fazer com que passe, por vezes, para segundo plano. Ainda assim, quando se manifesta, fá-lo com a máxima intensidade... e nos momentos mais delicados.
Finalmente, importa referir o que é, provavelmente, o traço visual mais marcante: os contrastes de cores e de expressões. É como se o cenário se ajustasse aos ritmos da ação e dos estados de espírito, com a luz dos dias e a escuridão das noites a acompanhar as diferentes vertentes da história. Há, aliás, um contraste particularmente interessante: o de uma decisão de uma das personagens que não é realmente mostrada na sua execução, mas que transparece das expressões de outras personagens.
Deixa a ligeira impressão de que poderia ser uma história um pouco mais longa. Mas não lhe faltam, ainda assim, qualidades: intensidade, ritmo, expressividade e mistério. E basta isso - aliás, é mais do que suficiente - para que valha sempre a pena regressar a esta série. Onde o mistério persiste no natural e no sobrenatural.

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